Valinhos
Dra. Alexsandra dos Santos Parra, presidente do CMDM fala sobre a violência contra a mulher

A luta contra a violência de gênero em Valinhos exige ações concretas e imediatas. Em entrevista exclusiva, a presidente do CMDM, Dra. Alexsandra dos Santos Parra, apresenta um panorama da situação e propõe soluções para enfrentar o problema
FOLHA DE VALINHOS – A terceira edição do Relatório elaborado por membros e voluntários do CMDM com base em registros de ocorrência de violência contra a mulher na Delegacia dos Direitos da Mulher – DDM – e no Plantão Policial – trazem informações reveladoras e estarrecedoras no tocante a situação em Valinhos. Como as mulheres do CMDM receberam essas informações?
DRA. ALEXSANDRA Com tristeza, mas não com surpresa, é fato que a violência contra a mulher é uma questão social de relevância no país e na cidade de Valinhos, no entanto em que pese os esforços dos setores envolvidos é indispensável que o tema seja enfrentando com seriedade e políticas públicas eficientes.
FV Havia uma expectativa que a violência contra a mulher fosse diminuir no pós-pandemia, quando a rotina voltasse ao normal?
DRA. ALEXSANDRA Sim, havia uma expectativa. Acreditava-se que o retorno a uma rotina mais regular, os agressores tivessem menos oportunidades de isolar suas vítimas e cometer atos de violência e uma esperança a esperança de que a pandemia tivesse sensibilizado a sociedade e as autoridades para a gravidade do problema, levando a um fortalecimento da rede de apoio às vítimas e à implementação de políticas públicas mais eficazes
FV O Relatório do CMDM traz dados que corroboram com VIII Relatório Luz da Sociedade Civil da Agenda 2030, elaborado por 47 organizações da sociedade civil e 82 especialistas e que foi lançado nesta terça-feira, dia 22, em Brasília, e que trata especificamente do cumprimentou ou não dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU no Brasil, no que tange o 5º ODS – Igualdade de Gênero, sobretudo nos tipos de violência praticados contra a mulher. Você leu esse relatório?
DRA. ALEXSANDRA Sim, li. As conclusões do relatório corroboram os achados do estudo realizado pelo CMDM, indicando um subinvestimento e a implementação de medidas ineficazes para mitigar o problema.
FV O estudo mostra que a violência psicológica é a mais comum. Como o CMDM pretende conscientizar a população sobre essa forma de violência, muitas vezes invisibilizada?
DRA. ALEXSANDRA Nos estudos realizados pelo CMDM, foi constado um aumento nas denúncias de violência psicológica, sugerindo uma maior conscientização da mulher quanto esse tipo de violência. O CMDM no seu plano de trabalho vem promovendo na cidade de Valinhos, rodas de conversas nos bairros de forma disseminar informações de qualidade e fortalecer às mulheres.
FV A pesquisa destaca a importância da abertura da Delegacia da Mulher em tempo integral. Quais são os principais desafios para a implementação dessa medida e como o CMDM está trabalhando para viabilizá-la?
DRA. ALEXSANDRA O CMDM busca incansavelmente estabelecer um diálogo com o poder público e sociedade civil, defendendo políticas públicas que garantam os direitos das mulheres e o combate à violência de gênero. No entanto é fato, que para se avançar é necessário Recursos financeiros, capacitação dos profissionais, investimento em pessoal, infraestrutura e equipamentos, atos de competência do poder público.
FV O relatório menciona a necessidade de um trabalho preventivo com os agressores. Quais ações o CMDM está desenvolvendo nessa área?
DRA. ALEXSANDRA Infelizmente, ainda não obtivemos avanços significativos nesse aspecto. A dificuldade de conscientizar a população e implementar os serviços básicos para atender mulheres vítimas de violência é complexa e, no curto prazo, impede a viabilização de projetos efetivos de prevenção com os agressores.
FV O estudo também aponta a importância da formação de profissionais que atuam no atendimento às vítimas de violência. Quais iniciativas o CMDM está tomando para garantir a qualificação desses profissionais?
DRA. ALEXSANDRA A capacitação dos profissionais compete ao poder público, ou seja, depende do investimento do poder público, o CMDM dentro de suas atribuições pode desenvolver e apresentar projetos ao poder publico de forma a viabilizar essa capacitação
FV Quais são as principais políticas públicas que o CMDM considera essenciais para combater a violência contra a mulher em Valinhos?
DRA. ALEXSANDRA Inicialmente – Implementação de um Núcleo de Atendimento à Mulher, para prestação de acolhida, apoio psicossocial e orientação jurídica às mulheres em situação de violência.
Uma Casa Abrigo, consistente em local seguro e que ofereça abrigo protegido e atendimento integral a mulheres em situação de violência doméstica sob risco de morte iminente, de caráter temporário e sigiloso, no qual as usuárias poderão permanecer por período determinado de no mínimo três meses, durante o qual deverão reunir condições necessárias para retomar o curso de suas vidas;
A Casa de Acolhimento Temporário (Casa de Passagem), consistente em serviço de abrigamento temporário de curta duração (até quinze dias), não sigilosos, para mulheres em situação de violência, acompanhadas ou não de seus filhos, que não correm risco iminente de morte.
FV Como o CMDM avalia a articulação entre os diferentes órgãos e instituições envolvidos no atendimento às mulheres vítimas de violência?
DRA. ALEXSANDRA A boa vontade e a receptividade dos órgãos e instituições são inegáveis, porém a implementação das medidas necessárias tem se mostrado desafiadora.
FV Quais são os principais desafios para a implementação de políticas públicas eficazes no combate à violência contra a mulher em Valinhos?
DRA. ALEXSANDRA Conscientização e Mudança Cultural; Recursos Financeiros e Humanos; Falta de integração entre os diferentes órgãos envolvidos no atendimento às vítimas o que dificulta a criação de uma rede de proteção eficaz; Atendimento fragmentado: O atendimento às vítimas costuma ser fragmentado, com cada profissional ou instituição atuando de forma isolada, o que prejudica a integralidade da assistência.
FV Como o CMDM pretende fortalecer a rede de proteção às mulheres vítimas de violência, garantindo o acesso a serviços essenciais como abrigos, assistência jurídica e psicológica?
DRA. ALEXSANDRA Inicialmente para viabilização e eficiência, o CMDM entende como necessária a implantação do Centro de referência. Infelizmente a fragmentação dos serviços oferecidos no município dificultam um mapeamento completo dos serviços já existentes, identificando suas fortalezas e fragilidades, bem como a definição de protocolos de atendimento e encaminhamento das vítimas, garantindo a fluidez e a eficiência do processo.
FV Quais são as principais expectativas do CMDM para os próximos anos no combate à violência contra a mulher em Valinhos?
DRA. ALEXSANDRA Fortalecimento da rede de atendimento; Empoderamento das mulheres; fortalecimento da participação social e implementação políticas públicas eficazes.
FV Quais são os principais desafios que o CMDM enxerga para o futuro e como a sociedade pode contribuir para a construção de um município livre da violência contra a mulher?
DRA. ALEXSANDRA Transformação cultural e conscientização de que a violência contra a mulher é um problema social que impacta a coletividade.
FV O trabalho de vocês mostra um aumento na violência contra crianças e adolescentes. Quais as principais causas desse aumento e quais medidas o CMDM pode ajudar a adotar para enfrentar essa situação?
DRA. ALEXSANDRA É possível que estejamos observando um aumento na notificação de casos, o que não necessariamente indica um crescimento da violência. O CMDM compartilhará esses dados com o CMDCA e continuará promovendo rodas de conversa com a população para enfatizar a importância de prevenir a violência na infância, como forma de evitar problemas na vida adulta


