Valinhos
Paulo Paschoal: Do AVC ao ativismo pela saúde em Valinhos
Após um AVC que o deixou com sequelas, Paulo Sérgio Paschoal, fundador da FEAV, se tornou um defensor incansável dos direitos dos pacientes com a doença em Valinhos. Em entrevista exclusiva à Folha de Valinhos, ele conta como a experiência o motivou a criar o projeto SOS AVC, que busca conscientizar a população, oferecer suporte e transformar a realidade dos pacientes com AVC na cidade. Autor do livro ‘Anjos da Vida’, onde relata sua experiência com o AVC, Paulo fala sobre a importância da conscientização, da prevenção e do tratamento adequado para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas.
FOLHA DE VALINHOS Paulo, como sua experiência com o AVC te motivou a criar o projeto SOS AVC Valinhos?
PAULO PASCHOAL Quando sofri o AVC passei por momentos muito difíceis em minha recuperação e eu sempre refletia que eu nunca tinha tido informações sobre como era o AVC, a reabilitação e o que era afasia. Penso que o AVC pode acontecer com qualquer pessoa, independente da classe socioeconômica, sexo, idade etc. E eu precisava fazer alguma coisa para a cidade de Valinhos, aumentar o conhecimento e educação, pensando que nosso serviço de saúde poderia melhorar.
FV Quais foram os maiores desafios que você enfrentou durante a recuperação e como isso te inspirou a ajudar outras pessoas?
PAULO PASCHOAL Quando sofri o AVC tive como prejuízo a dificuldade de falar, eu sabia o que eu queria e tinha consciência do que eu estava passando, mas não conseguia falar as palavras. Com isso eu comecei a me isolar, sentir muita tristeza e me questionava o porquê eu estava passando por aquele momento. Fui orientado a buscar tratamentos, mas eu tinha dúvidas sobre quanto tempo eu levaria para me recuperar. Eu esperava que seria do dia para a noite, mas conforme eu passava o tempo, ficava inseguro se realmente eu iria voltar. Tinha muito Medo de não voltar. Minha Família sofria muito em me ver triste e querer me ajudar. A cada encontro de família eu observava que até os meus netos rezavam pela minha recuperação. Se mais pessoas soubessem como evitar o AVC, compreender a importância da reabilitação com profissionais especializados, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, médicos, psicólogos, psiquiatras, talvez pudéssemos evitar ou diminuir o sofrimento das pessoas e familiares que sofrem com AVC.
FV Você sempre foi um homem ativo na comunidade e cheio de projetos, em que o diagnóstico de AVC impactou e mudou sua vida?
PAULO PASCHOAL Eu passei quase cinquenta anos trabalhando em uma empresa privada e depois que aposentei, estava me dedicando com muita intensidade na FEAV e participava de alguns conselhos administrativos. Eu tinha como objetivo depois de aposentado, poder viajar mais e curtir a vida com a minha família e estar com meus netos.
O AVC impactou muito a minha vida e tive que me adaptar para poder dar conta meu tratamento. Diminuí o meu trabalho e estou focado na minha recuperação. Meus planos de viajar mais acabou ficando em segundo plano. Inclusive fiz uma viagem agora em outubro depois de um ano do AVC. A vida continua e estou tentando retornar aos meus planos gradativamente.
FV Qual a principal missão do SOS AVC Valinhos e como você enxerga o projeto contribuindo para a melhoria da qualidade de vida das pessoas que sofreram um AVC em Valinhos?
PAULO PASCHOAL O AVC é um problema de saúde pública que pode acontecer com qualquer pessoa. A FEAV quanto terceiro setor está comprometida com mais essa causa: SOS AVC Valinhos, ajudando na conscientização, orientando e divulgando ações de identificação do AVC, como prevenir e tratar depois do AVC. Educação a palavra principal, as pessoas precisam de informação. Eu enxergo Valinhos melhorando os hospitais, este assunto precisa circular, as pessoas precisam saber o que fazer para prevenir, como é a recuperação e os profissionais de saúde, os médicos precisam saber identificar e tratar o AVC. Vejo no futuro a nossa comunidade sofrendo menos com este problema.
FV O projeto enfatiza a importância de uma equipe multidisciplinar. Como você vê a colaboração entre diferentes profissionais da saúde na recuperação de pacientes com AVC?
PAULO PASCHOAL Quando a pessoa sofre o AVC, ela precisa muito de profissionais especializados e atualizados, que passem segurança, que nos dê esperança, como neurologista, cardiologista, psiquiatra, fisioterapia, fonoaudiólogo e entre outros. Quando passamos por um problema de saúde, nos sentimos frágeis e precisamos de acolhimento, de profissionais que nos compreendam e nos forneçam o melhor. Não estou falando de condição socioeconômica, mas todos temos direito de receber um tratamento adequado e podemos encontrar excelentes profissionais tanto na rede pública como privada. Importante é termos informação e valorizar esses profissionais, pois parte da nossa recuperação depende desse trabalho multidisciplinar.
FV Além do tratamento, o projeto também aborda a prevenção do AVC. Quais as principais medidas que as pessoas podem tomar para reduzir o risco de sofrer um AVC?
PAULO PASCHOAL Os fatores de risco para o AVC são: ansiedade, estresse, obesidade, medicações, tabagismo, colesterol alto, álcool, pressão alta, sedentarismo, diabetes e doenças cardíacas. Ter informação sobre os cuidados com a saúde e a mente. Os cuidados para prevenir são fáceis, mas precisamos lembrar e colocar em prática, pois o AVC pode acontecer com qualquer um. Isso inclui cuidarmos da nossa alimentação, realizar exercícios físicos, fazer checkups, acompanhamento médico, não se estressar, cuidar da mente. A vida é importante e temos que cuidar.
FV Como surgiu a ideia de escrever o livro e qual a importância dele para o projeto? Quais as principais mensagens que você gostaria de transmitir aos leitores?
PAULO PASCHOAL O meu compromisso com o AVC veio 60 dias depois que tive o derrame. Meu filho Leandro me sugeriu que eu mobilizasse ações para cuidados com o AVC em Valinhos e foi daí que surgiu meu livro. No começo do meu tratamento fui orientado pela equipe a registrar o meu dia a dia para ajudar a lembrar as palavras, sem me dar conta eu já tinha um livro quase pronto relatando tudo que eu estava passando.
O nome desse Livro “Anjos da Vida” veio por causa dos médicos, fonos, fisio, psicólogo, psiquiatra, verdadeiros anjos da vida que me ajudaram a voltar. Quero que meu livro seja um abraço para as pessoas que sofreram o AVC e seus familiares que também sofrem. Quero que eles recebam as informações acreditando que é possível melhorarmos e que precisamos persistir a cada dia, valorizando a família, amigos e os profissionais. Valorizando os momentos simples da vida.
FV Como vc avalia a realização da primeira roda de conversa sobre saúde mental e prevenção do AVC realizada no último sábado, dia 30? Como você acredita que esse tipo de evento pode contribuir para a conscientização da população?
PAULO PASCHOAL A primeira Roda de conversa contou com profissionais voluntários, Amanda Hernandez Fonoaudióloga e Edilson Guarnieri Psicólogo que abordaram “Cuide da mente e previna o AVC”. Neste encontro foram pessoas que buscavam informações sobre como prevenir o AVC e pessoas que foram acometidas pelo AVC, foi muito interessante. Foi um momento de conversarmos sobre prevenção, tornarmos o assunto comum para todos e acolhermos as angústias de quem já sofreu o AVC. Ampliamos nosso conhecimento nessa conversa sobre outras formas de manifestações do AVC, como alterações na visão, equilíbrio e até o tratamento de ronco. Um fato interessante que foi discutido foi sobre o diagnóstico tardio do AVC. Isso é inadmissível! Um erro grave e que poderia ter sido fatal.
FV Quais são os próximos passos do projeto SOS AVC Valinhos? Quais outras ações vocês planejam realizar para fortalecer a rede de apoio aos pacientes com AVC em Valinhos?
PAULO PASCHOAL Nós temos uma Sala na FEAV especialmente para esta causa e pretendemos fortalecer o projeto SOS AVC Valinhos para a comunidade por meio de encontros, eventos e ações:
iremos colocar em prática o disk SOS AVC, que consiste em um número de telefone para nortear as pessoas sobre como detectar o AVC e auxiliar na busca por serviços especializados. Para isto contamos com a ajuda de uma pessoa supercompetente para ajudar e orientar;
Continuaremos contando com a colaboração de voluntários, pois eles são de extrema importância para ajudar nas divulgações e ajuda nas arrecadações;
Temos como prioridade fazer um plano estratégico com a Santa Casa e Secretaria da Saúde para encampar a causa do AVC;
Em 2025 já temos programada a segunda roda de conversa, prevista para 22/02/2025 com Dr. Cláudio Pinho Cardiologista. Tenho convicções que ocorrerão grandes melhorias para nossa cidade.
FV Quais parcerias são fundamentais para o sucesso do projeto? Como você pretende fortalecer a relação com a comunidade, com outras instituições e com o poder público?
PAULO PASCHOAL Em primeiro lugar a comunidade precisa se fortalecer e assim podermos conquistar o apoio e atenção do setor público, terceiro setor, vereadores, prefeitura, deputados estaduais e inclusive nossos hospitais. Atualmente a Santa Casa é responsável por 60% da população que utiliza o SUS e precisamos melhorar tanto os hospitais públicos como privados. Pretendemos continuar os encontros com equipe profissionais da saúde, discutindo sobre temas importantes na prevenção, diagnóstico e tratamento do AVC. Iremos incentivar investimentos na educação também dos profissionais que recebem os pacientes nos hospitais e centros de saúde. A população também é parceira quando participa ativamente desses projetos!
FV Quais os principais desafios que você enxerga para a implementação do projeto e como pretende superá-los?
PAULO PASCHOAL Nosso maior desafio é tornar o AVC um assunto urgente e de conhecimento geral, para isso precisamos de voluntários e mais profissionais envolvidos nessa causa.
Pretendemos superar os desafios por meio do conhecimento e a concretização de todo aprendizado e isso envolve comunidade, profissionais de saúde e setores públicos e privados de Valinhos.
FV Na sua opinião qual o impacto do AVC na qualidade de vida do paciente e da família e o papel dela na recuperação do paciente.
PAULO PASCHOAL O impacto do AVC na minha vida foi muito grande, mudou completamente a minha rotina, meus planos, e da minha família e acredito que o mesmo acontece com outras pessoas.
Eu tive que começar do zero e fazer mais. Aprender coisas nova, estudar e treinar diariamente. Acredito que existem fatores importantes para enfrentar o AVC: persistência, cuidar do emocional e conexão com Deus. A fé é a base da competência emocional o que contribui para a resiliência. Aceitar que precisamos de ajuda é essencial. É preciso procurar o que é bom e agradecer. É preciso aprender todos os dias, nós temos nossos limites e precisamos conhecê-los. A família é muito importante, eles são nossos “cuidadores” que Deus nos presenteou. Muito aprendizado, muita fé, muita vontade e muita união de família.
FV Qual mensagem você gostaria de deixar para as pessoas que sofreram um AVC e para aqueles que desejam contribuir com o projeto SOS AVC Valinhos?
PAULO PASCHOAL Não desista, continue, persista, mesmo que a vida nos leve para um caminho diferente do qual havíamos planejado, precisamos lutar por nós e pelas pessoas que nos amam. À todas as pessoas e familiares que sofrem com o AVC, sintam-se abraçados por mim. A vida vale a pena! Sempre há esperança de melhorar, cada dia um pouco melhor, como tudo na vida. Para ajudar no SOS é possível comprar o livro R$50,00 e até ajudar com outros tipos de doações, até o tempo como voluntário é muito precioso para nós. Contribuam com a divulgação das informações, participe de nossos eventos e ajude-nos a lutarmos por serviços melhores. SOS AVC Valinhos, acredito esse ser um dos mais importantes projetos da minha vida, o que de fato vou contribuir para melhorar a vida, ajudando a população que precisa do setor público. Deixo meu legado nesta vida por meio do projeto e o livro, para que os cuidados de prevenção, detecção e tratamento do AVC não terminem. Tenho um conselho para amigos e minha família, dê valor as coisas simples, dê valor para as pessoas e a família. Dê valor para valor para o que realmente importa.