A vereadora Mônica Morandi, conhecida por sua atuação na causa animal em Valinhos, concedeu uma entrevista exclusiva à Folha de Valinhos, detalhando sua trajetória e as iniciativas em prol dos pets. Na conversa, Mônica compartilha a motivação pessoal que a levou a abraçar essa bandeira, impulsionada por uma promessa feita ao seu próprio cão, Goku. Ela aborda o impacto de leis de sua autoria, como o Banco de Ração e a Política Municipal de Proteção Animal, além de discutir os desafios na fiscalização de maus-tratos e a importância da posse responsável. A entrevista também revela a inspiração por trás das “patinhas brancas” nas faixas de pedestres e a necessidade de políticas públicas mais eficazes para o bem-estar animal. Para conferir a entrevista completa, acesse o Portal de Conteúdo da Folha de Valinhos.
FOLHA DE VALINHOS: Vereadora, a senhora é amplamente reconhecida em Valinhos pela sua incansável defesa da causa animal. Poderia nos explicar o que a motivou a abraçar essa bandeira e qual a sua visão para o futuro da proteção e bem-estar animal no município?
MÔNICA Desde pequena eu aprendi com a minha mãe a olhar pelos animais. Lembro que ela sempre carregava alimentos na bolsa pra dar de comer aos que encontrava na rua… esse carinho foi crescendo comigo.
Mas foi com o Goku, meu companheirinho de quatro patas, que tudo se transformou. Ele teve câncer, e na época eu não tinha condições financeiras de dar o tratamento que ele merecia. Foi um momento muito difícil, e eu fiz uma promessa pra ele: que ajudaria todos os animais que cruzassem meu caminho e precisassem de ajuda. Desde então, nunca mais parei.
Juntei outros protetores que também tinham esse amor no peito, e assim nasceu o Grupo Cãoscientização Animal Valinhos. E hoje, como vereadora, sigo tentando cumprir essa promessa todos os dias.

Meu sonho é ver Valinhos cada vez mais consciente e comprometida com o bem-estar animal. Já temos o programa de castração gratuita, que foi uma conquista importante, mas ainda temos muito a avançar: precisamos ampliar esse acesso, fortalecer a fiscalização contra maus-tratos e garantir políticas públicas que respeitem a vida em todas as formas. Porque quando a gente cuida dos animais, a gente cuida de todos nós.
FV A senhora é autora de leis importantes como o Banco de Ração, a Política Municipal de Proteção e Atendimento aos Direitos dos Animais e o Programa Farmácia Veterinária Popular (POUPAPET). Qual o impacto prático dessas leis na vida dos animais e de seus tutores em Valinhos? Há planos para ampliar esses programas ou criar novas iniciativas legislativas?
MÔNICA Essas leis foram pensadas com muito carinho e responsabilidade, porque nasceram da escuta de quem vive a causa animal no dia a dia — especialmente os protetores independentes e as famílias em situação de vulnerabilidade.
O Banco de Ração, por exemplo, já existe, mas está passando por uma alteração importante. Quando foi sancionado, o então prefeito vetou alguns artigos essenciais, que justamente garantiam mais apoio aos protetores que tiram do próprio bolso pra cuidar de tantos animais. Estamos trabalhando pra corrigir isso e fazer com que a lei funcione da forma como foi pensada: justa e acessível.
Já o Poupapet é uma lei linda, mas que ainda está no papel. Lutamos muito por ela, porque sabemos o quanto faz falta um programa que ofereça medicamentos e itens básicos a quem não tem condições de arcar com os custos de um tratamento veterinário. A regulamentação ainda não aconteceu, mas a nossa cobrança continua firme, porque essa é uma demanda urgente e real.
A Política Municipal de Proteção e Atendimento aos Direitos dos Animais, por sua vez, já é um marco. Ela estabelece diretrizes que ajudam a nortear as ações do poder público e reforça que a causa animal precisa, sim, ser prioridade.
A verdade é que essas leis só têm valor quando saem do papel e chegam até quem precisa. E é isso que sigo buscando todos os dias como vereadora: fazer valer o que foi conquistado e continuar avançando em novas iniciativas que tragam mais dignidade pros nossos animais e pra quem cuida deles com tanto amor.
FV Sabemos do seu envolvimento direto no resgate de animais em situação de abandono ou maus-tratos, inclusive com investimento de recursos próprios. Como a senhora enxerga a estrutura atual de atendimento a esses casos em Valinhos e quais os maiores desafios que se apresentam para quem, como a senhora, atua na linha de frente?
MÔNICA Infelizmente, a estrutura pública de Valinhos ainda é muito limitada quando o assunto é atendimento a animais em situação de abandono ou maus-tratos. Quem está na linha de frente sabe: a maior parte dos resgates é feita por protetores independentes, que usam seus próprios recursos, tempo e muita força de vontade pra salvar vidas.
Eu mesma, antes de ser vereadora e mesmo depois de eleita, sigo ajudando como posso — com resgates, lar temporário, alimentação, cuidados veterinários — muitas vezes tirando do meu bolso, como tantos outros fazem silenciosamente todos os dias.
Temos o programa de castração gratuita, que foi uma conquista importante, mas ainda assim os desafios são muitos. Falta um local de acolhimento emergencial, atendimento veterinário mais acessível e estrutura pra casos graves de maus-tratos, que exigem intervenção imediata.
O maior desafio é esse: a ausência de uma política pública mais estruturada. A gente precisa parar de enxugar gelo. Só quem já se deparou com um animal machucado, com fome, com medo, sabe o quanto dói não ter pra onde levá-lo ou como socorrê-lo.
Por isso, sigo lutando: pra que a causa animal não dependa só da boa vontade das pessoas, mas tenha estrutura, orçamento e respeito como qualquer outra área da gestão pública.
FV A recente iniciativa das “patinhas brancas” nas faixas de pedestres, parte da campanha Maio Amarelo, foi uma ideia sua para alertar motoristas sobre a presença de animais. Como surgiu essa inspiração e qual a sua expectativa em relação ao impacto dessa campanha na conscientização da população sobre a segurança dos pets nas vias públicas?
MÔNICA A ideia das patinhas brancas surgiu de uma dor que a gente vive com frequência: o atropelamento de animais nas ruas. Quem está na causa sabe o quanto isso é comum — e o quanto poderia ser evitado com mais atenção, respeito e empatia.
Aproveitei o Maio Amarelo, que é o mês de conscientização sobre a segurança no trânsito, pra lembrar que a negligência com os animais também é um reflexo da falta de responsabilidade e cuidado nas nossas atitudes — inclusive nas ruas. Pintar as patinhas junto às faixas de pedestres foi uma maneira simbólica e educativa de chamar a atenção dos motoristas: os animais também cruzam as ruas, também têm o direito à vida.
Minha expectativa é simples: que cada pessoa que passar por uma dessas faixas pense duas vezes antes de acelerar. Que olhe pro lado, reduza a velocidade e, quem sabe, se sensibilize ainda mais com a presença dos animais na cidade.
É um gesto pequeno, mas com potencial de gerar grandes mudanças. E é assim que a gente começa: um passo de cada vez, uma patinha de cada vez.
FV A posse responsável é um tema que a senhora defende com veemência. Na sua opinião, quais são as principais falhas na conscientização da população valinhense sobre esse assunto e que tipo de ações educativas poderiam ser mais eficazes para mudar esse cenário?
MÔNICA A posse responsável é a base de tudo. Se as pessoas entendessem, de verdade, o que significa assumir um animal, a gente teria muito menos abandono, maus-tratos e sofrimento.
Infelizmente, ainda falta muita conscientização. Muita gente adota por impulso, sem pensar nas necessidades reais do animal — alimentação, cuidados veterinários, tempo, amor, paciência. Quando percebe que não é tão simples, acaba descartando. E quem paga o preço é o bicho.
Em Valinhos, o que mais vejo são casos que poderiam ter sido evitados com informação. Por isso, acredito que a educação precisa começar cedo, nas escolas mesmo. Falar sobre respeito à vida, empatia, compromisso. Também precisamos de campanhas permanentes, não só nas redes sociais, mas nas ruas, nas feiras, nas unidades de saúde, nos bairros. Porque esse é um tema que precisa chegar em todo mundo.
E mais do que cobrar, é preciso acolher. Mostrar caminhos, oferecer apoio e reforçar que cuidar de um animal é, acima de tudo, um ato de amor e responsabilidade.
FV Além das ações legislativas e de resgate, a senhora também organiza bazares para arrecadar fundos para as despesas com animais. Como a comunidade de Valinhos tem respondido a essas iniciativas e de que forma a participação popular é fundamental para a manutenção desse trabalho?
MÔNICA As ações legislativas e os resgates são coisas diferentes, mas que caminham juntas no meu trabalho. Como vereadora, meu compromisso vai além de apenas ‘criar leis e cobrar políticas públicas’ — eu trabalho para garantir que essas leis sejam efetivas, que os direitos dos animais sejam respeitados de verdade, e que a causa tenha prioridade na gestão pública. É um trabalho de insistência diária, de diálogo, pressão e muita luta para que os recursos cheguem e que as políticas saiam do papel e façam diferença real na vida dos animais e das pessoas.
Já os resgates são um trabalho voluntário, feito com muito amor, mas que depende muito do apoio da comunidade. É um esforço enorme, e muitas vezes, grupos de pessoas se mobilizam para pedir por um animal abandonado, mas depois do resgate desaparecem! Não ajudam na divulgação, nem no cuidado continuado, o que torna tudo mais difícil para quem está na linha de frente.
Por outro lado, a solidariedade da comunidade de Valinhos tem sido uma luz no caminho. As doações para os bazares e a participação nas vendas são fundamentais para mantermos o suporte necessário: alimentação, tratamento, medicamentos, lares temporários, etc. Tudo isso depende dessa rede de apoio. Mas só o bazar não é suficiente. Por isso, temos ações diárias para arrecadar recursos e continuar ajudando: organizamos rifas, bingos, vaquinhas e campanhas de arrecadação de ração. Cada iniciativa conta, cada gesto de apoio faz diferença.
Por isso, acredito que a participação popular precisa ser constante e engajada — não basta sentir pena, é preciso agir. Juntos, com políticas públicas fortes e com o apoio real da comunidade, podemos transformar a vida desses animais e construir uma cidade mais justa e compassiva para todos.
FV Apesar da sua paixão pela causa animal, sabemos que a senhora também atua na defesa dos direitos das mulheres e das crianças em Valinhos. Poderia nos detalhar quais são as suas principais bandeiras e projetos nessas áreas e como a senhora as conecta com a sua atuação geral como vereadora?
MÔNICA Sim, minha atuação como vereadora vai além da defesa dos animais. Essas bandeiras estão diretamente conectadas, pois acredito que a proteção dos animais, das mulheres e das crianças são pilares essenciais para construirmos uma sociedade mais humana e solidária.
Na defesa dos direitos das mulheres, tenho diversas iniciativas importantes, entre elas a Lei Ordinária nº 6.642/2024, que determina o fornecimento de material informativo sobre o combate à violência doméstica nas escolas da rede pública municipal. Essa ação busca esclarecer os diversos tipos de violência, ajudando a romper o ciclo de normalização que muitas vezes prende as vítimas e suas famílias, sensibilizando estudantes e suas comunidades sobre seus direitos e formas de prevenção e enfrentamento.
Além disso, trabalho para fortalecer políticas públicas que promovam a autonomia econômica e social das mulheres, como capacitação profissional e incentivo ao empreendedorismo feminino.
No que tange às crianças, atuo para garantir que políticas públicas voltadas à infância sejam efetivas e atendam às reais necessidades desse público. Acredito que investir na infância é investir no futuro da nossa cidade.
FV Olhando para os 25 anos da Praça Brasil 500 Anos, um espaço que se tornou um ponto de encontro para a família valinhense, como a senhora avalia a importância de espaços públicos de convivência como este para a qualidade de vida dos cidadãos, incluindo a possibilidade de interação com seus pets?
MÔNICA Esses espaços são fundamentais para a qualidade de vida das pessoas. Eles oferecem um respiro na correria do dia a dia, aproximam as famílias e tornam a cidade mais humana, mais acolhedora. E quando podemos levar nossos bichinhos junto, tudo fica ainda mais especial. Eles são parte da família, e ter um lugar seguro para passear com eles é uma alegria enorme.
Eu acredito que cuidar desses espaços é cuidar do que a gente mais valoriza: a nossa gente, nossa comunidade, nosso jeitinho de viver.
E muita gente pede — com razão — por mais ParCães na cidade. O povo ama, valoriza e faz uso desses espaços com carinho e responsabilidade. É um pedido recorrente que mostra o quanto esse tipo de área faz diferença no dia a dia de quem tem pet. Precisamos avançar nisso, ampliando o acesso e garantindo mais espaços públicos pensados para toda a família — de duas e de quatro patas.
FV Considerando os desafios orçamentários dos municípios, como a senhora avalia a possibilidade de novas parcerias entre o poder público e a iniciativa privada ou organizações não-governamentais para fortalecer as políticas de proteção animal em Valinhos?
MÔNICA Quando cada um faz a sua parte, conseguimos ir mais longe e atender mais vidas. Com todos os desafios orçamentários que os municípios enfrentam, as parcerias são fundamentais. O poder público nem sempre consegue dar conta de tudo, O que não pode é a causa animal continuar sendo deixada de lado por falta de recursos ou de vontade política, como já aconteceu aqui no Município. Se tiver abertura, como estamos tendo agora e boa vontade, dá pra fazer muito mais. E eu sigo aqui, sempre pronta pra lutar por isso.

FV Para finalizar, qual mensagem a senhora gostaria de deixar para os leitores da Folha de Valinhos, especialmente para aqueles que compartilham do amor e da preocupação com os animais, e para toda a população da cidade?
MÔNICA Antes de tudo, quero agradecer a cada pessoa que, de alguma forma, caminha ao nosso lado nessa luta. Quem acolhe, quem denuncia maus-tratos, quem doa, quem adota com responsabilidade… cada gesto faz diferença.
A causa animal é feita de amor, mas também de muita batalha, e ninguém faz nada sozinho. É a união da comunidade que transforma a realidade dos animais e também da nossa cidade.
Pra quem compartilha desse amor: não desista. Mesmo diante das dificuldades, vale a pena cada vida salva.
E pra toda a população de Valinhos, deixo meu compromisso sincero: seguir trabalhando com seriedade, empatia e transparência — pelos animais, pelas pessoas e por uma cidade mais justa, humana e consciente.
Eu não prometo nada além de muito trabalho. Mas quem me conhece, sabe que isso eu entrego todos os dias.