ENTREVISTA

Valinhos

Yoshida defende projetos e cobra prioridade para direitos humanos

Com uma trajetória que une o Direito, a História e a docência, o vereador Marcelo Yoshida (PT) detalhou sua visão sobre o trabalho legislativo em entrevista à Folha de Valinhos no projeto “Fala Vereador”. Yoshida explica que sua formação e a experiência como professor e fundador do Cursinho Popular Contexto o mantêm próximo das necessidades da população, moldando uma atuação baseada na representatividade e nos limites legais.
O vereador, em seu segundo mandato, abordou a urgência de políticas ambientais, destacando o conceito de “Cidade-esponja” e cobrando o envolvimento firme do Executivo na destinação orçamentária. Questionado sobre pautas de inclusão, Yoshida lamentou a falta de avanço em políticas para a população LGBTQIA+ e apontou a violência contra mulheres e crianças como principal violação a ser combatida na cidade, sugerindo o fortalecimento do Conselho Tutelar.

FOLHA DE VALINHOS Considerando sua formação em Direito, História, e sua atuação como professor, como essas diferentes áreas do conhecimento e sua experiência no Cursinho Popular Contexto influenciam e moldam sua abordagem e prioridades no trabalho legislativo em Valinhos?
MARCELO YOSHIDA A minha formação em direito me ajuda a entender os limites e as possibilidades de atuação no legislativo. Tive experiências de estágio em alguns órgãos públicos que me permitiram entender melhor as necessidades da população.

Como professor de história da rede municipal de Valinhos e como fundador do Cursinho Popular Contexto, tenho contato diário com a população fazendo com que a minha atuação seja muito próxima das pessoas com as quais convivo.

FV O senhor propôs projetos importantes sobre conservação ambiental, gestão urbana sustentável e o conceito de “Cidade-esponja”. Diante desse desafio, qual o maior desafio prático para tirar essas ideias do papel e modernizar a infraestrutura de drenagem, e como o Executivo deve ser envolvido para garantir o sucesso dessas políticas?
MY Existem grandes desafios, como a regulamentação de projetos já aprovados e a destinação de orçamento público para as necessidades ambientais da cidade. O Executivo tem papel central na concretização dessas políticas, pois a destinação orçamentária é feita pela Prefeitura. Além dos gestores, a população também precisa reconhecer a importância dessas ações. Diante dos impactos frequentes das enchentes, é essencial que todos compreendam que um meio ambiente equilibrado é direito de todos e garante dignidade e sobrevivência, especialmente das futuras gerações. Devemos fazer a nossa parte em Valinhos.

FV Especificamente sobre o projeto “Cidade-esponja”: entre as ações propostas (pavimentos permeáveis, teto-verde, jardins de chuva), qual o senhor considera que teria o impacto mais rápido e eficaz na redução de enchentes em pontos críticos da cidade?
MY É importante destacar que as políticas de Cidade-esponja só funcionam se aplicadas em conjunto; adotar apenas uma proposta é insuficiente para gerar impacto relevante. Toda política pública é mais efetiva quando envolve diversos setores, e com o meio ambiente não é diferente. Como propor pavimentos permeáveis sem diálogo com as secretarias de Obras, Serviços e Mobilidade? É essencial que haja integração entre as pastas e condução política firme, priorizando o meio ambiente — caso contrário, vira ação apenas para “sair na foto”. Um exemplo de oportunidade perdida é o estacionamento ao lado da Festa do Figo, que poderia ter recebido pavimento permeável sem prejuízo ao objetivo da Prefeitura, especialmente porque o cruzamento entre a Av. Joaquim Alves Corrêa e a R. Raimundo Bissoto é um ponto recorrente de alagamentos.

FV O senhor participou da Comissão da Diversidade Sexual e de Gênero da OAB de Valinhos e atua em defesa dos Direitos Humanos. Qual é o maior avanço que a cidade de Valinhos alcançou recentemente em termos de políticas de diversidade e inclusão, e quais são os próximos passos legislativos que o senhor pretende dar para proteger e garantir os direitos da população LGBTQIA+ e de outras minorias na cidade?
MY Infelizmente, a cidade não tem avançado em políticas de diversidade e inclusão para a população LGBTQIA+, e as iniciativas existentes ainda são incipientes. O primeiro passo seria implementar uma política de formação contínua para todos os servidores, para que compreendam melhor a temática e se sensibilizem, garantindo um atendimento mais adequado. Assegurar o acesso humanizado da população LGBTQIA+ ao serviço público significa garantir saúde, educação e assistência social — pilares da cidadania.

FV O senhor presidiu a Comissão de Direitos Humanos da Câmara por quatro anos e atua na defesa dos Direitos Humanos. Qual é a principal violação de direitos que a Câmara Municipal precisa enfrentar urgentemente em Valinhos?
MY Valinhos tem registrado aumento de notificações de violência contra a mulher e crimes contra crianças e adolescentes. A Câmara já enfrenta esse tema há anos, mas é preciso que o Executivo o priorize. Fortalecer o Conselho Tutelar — incluindo a criação de uma segunda unidade, já permitida pelo porte da cidade — é um caminho.

Também é necessária uma casa de acolhimento para mulheres vítimas de violência, com apoio psicológico, social e jurídico. São medidas pontuais, que devem estar articuladas a outras políticas públicas de prevenção à violência e ao abuso.

FV O senhor está em seu segundo mandato e apresentou um volume expressivo de proposituras (65 projetos de lei, 701 requerimentos, etc.). Qual dessas proposições, já aprovadas ou em tramitação, o senhor considera o maior legado de seu primeiro mandato ou a maior prioridade para este novo mandato, e por quê?
MY Minha atuação como parlamentar trouxe a Valinhos uma política mais inclusiva e representativa. No primeiro mandato, destaque para a Lei Municipal nº 6.456/2023, que reconhece cultos e liturgias de religiões de matriz africana como patrimônios culturais imateriais. Mesmo sem professar fé, busco ampliar vozes historicamente excluídas do debate público. Outra iniciativa, apresentada anualmente, é o Projeto de Lei que institui o Dia Municipal de Combate à LGBTfobia (17 de maio), muitas vezes arquivado. Esses exemplos mostram o quanto Valinhos ainda precisa avançar na inclusão de grupos que construíram e vivem na cidade, pagando impostos e sofrendo violência cotidiana.

FV A moção de apoio contra a violência política de gênero é um tema relevante. Como a Câmara Municipal de Valinhos, por meio de legislação ou fiscalização, pode atuar de forma mais contundente para criar um ambiente político mais seguro e equânime para mulheres e grupos minoritários?
MY A violência política, seja de gênero ou contra grupos minorizados, reflete desigualdades sociais. Participar da política significa entrar em espaços tradicionalmente ocupados por homens cisgênero, brancos e de classe média-alta. Quando outros grupos acessam esses espaços, enfrentam assédio moral, sexual e até violência física. A diversidade na política deveria ser vista como positiva, trazendo novas ideias e soluções, além de evidenciar problemas antes invisíveis.

FV Sua trajetória é marcada pela descendência japonesa e a participação na Associação Nipo-Brasileira. De que forma a herança cultural de seus pais e avós, baseada em valores como disciplina e comunidade, se reflete em seu estilo de fazer política?
MY Como a maioria dos descendentes de imigrantes japoneses, a minha educação foi rígida e pautada no trabalho duro. Valores como disciplina, honestidade e honra são trabalhados desde muito cedo e são incorporados no nosso modo de vida. Esses são elementos que eu carrego dessa formação. Não há atalho para se ter um bom resultado. É através da disciplina, do trabalho duro e numa relação honesta com as pessoas que os frutos do trabalho aparecem.

FV O senhor foi reeleito pelo PT, um partido com forte presença na política nacional. Como o senhor avalia a relação entre a política municipal e a política estadual/federal, e de que forma essa articulação partidária pode beneficiar diretamente os cidadãos de Valinhos?
MY Não há outro caminho para uma política que beneficie a população que não passe pelo diálogo entre os representantes dos entes federativos. Os recursos e repasses do governo federal são essenciais para a manutenção e implementação de políticas em benefício da população. Hoje, no atual governo federal, há disposição e abertura para o diálogo e tenho certeza de que o prefeito tem tido portas abertas para tratar de assuntos importantes da nossa cidade.

FV Como vereador de oposição, qual a sua avaliação atual sobre a gestão do Prefeito Franklin? Como o senhor tem conseguido conciliar sua atuação fiscalizadora e de defesa das pautas do seu partido com a necessidade de diálogo e cooperação com o Executivo para garantir que projetos importantes para a população, como os de saúde humanizada e resiliência climática, sejam efetivamente implementados?

MY O governo municipal está prestes a completar 1 ano e, mesmo sendo oposição, é possível perceber o ímpeto em cumprir o que foi prometido na campanha. Por fazer parte de outro grupo político com visões ideológicas distintas, tenho discordâncias sobre a condução de algumas políticas, prioridades e metodologia. No entanto, com esforço e diálogo, é sempre possível encontrar caminhos e objetivos comuns pelo bem da população, buscando garantir os direitos básicos dos cidadãos e cidadãs de Valinhos.

FV Olhando para o futuro de Valinhos, qual o objetivo a longo prazo (além do mandato atual) que o senhor tem para a cidade? Qual é a “bandeira” que o Vereador Marcelo Yoshida espera deixar hasteada na história política de Valinhos?
MY A cidade de Valinhos precisa honrar a história das pessoas que a construíram, sem apagar e ignorar a existência de determinados grupos. Precisamos olhar para o nosso passado, entender e reconhecer um passado escravocrata, racista, misógino. Negar essa história é esconder o problema debaixo do tapete, significa não sermos honestos conosco. A partir desse reconhecimento, caminhar para a construção de uma sociedade que se direcione para a igualdade, sem preconceitos, sem racismo, sem machismo, sem LGBTfobia.

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Terceiro Setor

FEAV 10 Anos: Foco na unidade e transparência

O Fórum das Entidades Assistenciais de Valinhos (FEAV) completa 10 anos de fundação com foco em fortalecer o Terceiro Setor. A presidente Eliane Macari ressalta que a organização evoluiu, tornando-se um negócio social que assessora e representa as instituições, gerando emprego e acolhimento. A conquista da sede própria no Casarão impactou a comunidade, servindo como polo de projetos e capacitações. O lema “Juntos Somos Mais” se mantém como estratégia principal na atuação com as 11 Organizações Sociais.

FOLHA DE VALINHOS — A FEAV nasceu do ideal de pessoas como Paulo Sérgio Paschoal, Fernando D’Ávila e Wanda Dini, com o objetivo de fortalecer o Terceiro Setor. Após 10 anos, como a senhora avalia que a FEAV conseguiu cumprir essa missão inicial e qual é o maior legado deixado pelos fundadores, como o saudoso Marcos José Vedovato?

ELIANE MACARI A FEAV evoluiu com o passar dos anos… É notório o reconhecimento e a importância junto às instituições, que são os protagonistas dessa organização.

A FEAV existe para e pelas instituições que executam um trabalho essencial no território. Essa evolução se dá pela importância do 3º Setor e também pelas demandas geradas pelas próprias instituições, através de uma escuta ativa.

O assessoramento é vital para essa parceria e temos que considerar que o 3º Setor é um negócio social, gera empregos e seu produto final é o atendimento, o acolhimento e a diminuição ou redução da vulnerabilidade social dos assistidos. Ressalto ainda que, além das instituições associadas, a FEAV apoia alguns coletivos, que são projetos existentes no território e que também executam um trabalho social importante.

Esses voluntários — Paulo, Fernando e Wanda — continuam nesse processo de atuar, influenciar e colaborar com a causa no município, muitas vezes de forma quase anônima… tudo pela causa!

Marcos Vedovato deixou sua marca com o Instituto Esperança, e teremos a oportunidade de homenageá-lo in memoriam, assim como Anélio Zanuchi, que é um exemplo para todos nós!

Isso é a FEAV: a construção de um todo e com todos, juntos! São 10 anos com foco na unidade, credibilidade e transparência!

 

FV — De que maneira o papel da FEAV mudou ou se ampliou nestes 10 anos? O lema “Juntos Somos Mais” ainda reflete a principal força e estratégia do Fórum na atuação atual com as 11 Organizações Sociais?

ELIANE Criamos esse slogan “Juntos somos +++” na pandemia e ele é válido até hoje — e com mais intensidade! A FEAV se fez representar nesses 10 anos junto às instituições, à sociedade civil e ao poder público, com transparência, relevância e propósito, buscando a atuação nos eixos de assessoramento, representação, mobilização e parcerias, com toda atenção às necessidades das OSCs e do território. Um ponto importante nos últimos anos foi dar visibilidade ao que é feito, e a comunicação foi essencial para o processo de contar quem somos, o que fazemos e para quem fazemos.

Uma parceria que aconteceu em 2021 com o IDIS, organização social sediada em São Paulo e que apoia instituições no Brasil através do programa Transformando Territórios, proporcionou à FEAV um crescimento em relação à governança e gestão, através de treinamentos, seminários, assessoria e troca de experiências com outras organizações do Brasil e do exterior.

FV — A conquista do Casarão, doado pela FEAC, foi um marco. Qual é a importância simbólica e prática desta sede para o fortalecimento das entidades associadas e para a comunidade de Valinhos, servindo como “polo social” e centro de capacitações?

ELIANE A doação do espaço e do Casarão FEAV tem um impacto significativo para o município e para a FEAV, uma vez que por mais de 30 anos funcionou ali uma creche, cuja importância e história todos reconhecem. Por outro lado, a FEAV tem uma sede e permite utilizá-la de diferentes formas: as OSCs têm acesso direto para suas reuniões e eventos; o bazar da ACESA está instalado lá e com sucesso; os grupos de artesanato Margaridas e GAVV têm seu próprio espaço; o salão social recebe reuniões corporativas, capacitações e treinamentos; as feiras de Natal e Dia das Mães… Enfim, um espaço pronto para receber, acolher, reunir e proporcionar interação, novos projetos e, claro, o pertencimento.

FV — A FEAV tem projetos notáveis como o JovemTEC e o acolhimento de refugiados em parceria com a ACOVIDAS. Qual desses projetos a senhora considera ter gerado o impacto social mais significativo para a população atendida em Valinhos?

ELIANE Entendo que o JovemTEC traz para Valinhos um marco histórico: preparar o jovem para entrar e cursar uma escola técnica, com uma profissão aos 18 anos, considerando o parque industrial que Valinhos tem! Acompanhamos o grupo de jovens desde a 1ª edição, sem evasão da escola técnica, e queremos ver esse jovem empregado, construindo seu futuro. A partir de 2025 o projeto JovemTEC está sendo aplicado pelo Círculo do Amigo dos Patrulheiros.

A ACOVIDAS precisa participar de uma política pública, tendo em vista o número de refugiados em Valinhos e atendidos pelo Cesar e pela sociedade civil. A FEAV orienta e apoia a transformação do projeto ACOVIDAS em uma OSC, e trabalhamos no último mês na preparação e assessoramento junto ao Cesar para que isso aconteça.

FV — O “Projeto Devolva” (coleta de eletrônicos) e o “SOS AVC Valinhos” estão em andamento. Como eles se integram à visão de sustentabilidade e saúde da FEAV, e quando a comunidade poderá ver os resultados mais palpáveis dessas iniciativas?

ELIANE O Projeto DEVOLVA está alocado no pilar de meio ambiente da FEAV e já apresenta resultados consideráveis, com a arrecadação de 12 toneladas em um período de 10 meses. A comunicação junto à população e os pontos de coleta ampliam a consciência sobre o descarte correto de itens eletrônicos, e as escolas têm um papel fundamental nesse processo, que deverá ser a próxima ação do projeto.

O Projeto SOS teve início com rodas de conversa e informações sobre os riscos do AVC, os cuidados e a prevenção. Durante 2025 trabalhamos com alguns grupos de pessoas que tiveram AVC e criamos uma rede com a Secretaria da Saúde para entender a demanda e como executar o serviço. O Projeto SOS AVC deixará de ser um projeto e, no início de 2026, será uma OSC — Associação de Cuidados e Prevenção SOS AVC — em andamento e finalizando os registros necessários, ocupando ainda um espaço no Casarão FEAV que já foi adequado para esse fim pelo idealizador do projeto e presidente da OSC, Paulo Sérgio Paschoal.

FV — O programa “Valinhos Solidária”, em parceria com a Atados, tem mobilizado um grande número de voluntários. Qual é a estratégia da FEAV para manter o engajamento e transformar esse alto interesse em contribuições contínuas e estruturais para as entidades?

ELIANE A disponibilidade de vagas mediante a necessidade das OSCs e a comunicação são pontos fundamentais desse projeto. A partir da entrada do voluntário na OSC, há todo um cuidado em receber, acolher, treinar, acompanhar e valorizar o trabalho — seja pontual ou contínuo. Entendemos que existe uma janela enorme de possibilidades e, maior ainda, um número de pessoas que podem dedicar-se ao trabalho voluntário, colocando seu tempo e talento a favor do outro. Um exemplo é um grupo de voluntários que se reúne às quartas-feiras na FEAV e trabalha na revisão de estatutos, regimentos e CEBAS das OSCs, entre outros.

FV — Em maio de 2025, a FEAV apresentou uma pauta unificada ao Executivo, destacando a necessidade de maior apoio à saúde mental e o reconhecimento das OSCs. Qual foi o avanço mais importante alcançado junto à Prefeitura e ao Legislativo desde aquela reunião?

ELIANE Para compor essa pauta ouvimos as OSCs e temos como principal ponto o relacionamento e a parceria com o poder Executivo e Legislativo. O reconhecimento e a relevância são cruciais nas demandas, e isso podemos considerar, tendo em vista as emendas impositivas que estão em andamento e um novo edital para o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos no território, serviço esse que contempla o atendimento de crianças e jovens. Outras demandas estão encaminhadas, com o acesso e diálogo com o poder público.

FV — Em sua terceira gestão, a senhora lida com desafios constantes, como a manutenção do Casarão e as demandas das 11 entidades. Qual é o principal desafio que a FEAV precisa superar nos próximos anos para continuar crescendo e sendo relevante?

ELIANE O maior desafio é a captação de recursos para manter o custeio do Casarão e novos projetos que possam impactar o território através das OSCs, atendendo à missão da FEAV.

FV — A celebração de 10 anos incluirá o “Prêmio Solidariedade”. Qual o critério principal para a escolha dos homenageados e qual a mensagem que a FEAV deseja transmitir à comunidade ao reconhecer esses parceiros?

ELIANE Para essa edição vamos fazer diferente do que aconteceu em 2020, quando as OSCs elegeram os homenageados. Criamos uma comissão e elegemos os voluntários que contribuíram com a FEAV e com a causa social ao longo desses 10 anos. Esse trabalho tem continuidade, destacando que outras pessoas precisam e podem se engajar, colaborando e se colocando a favor de uma causa.

FV — Olhando para os próximos 10 anos, qual a maior ambição da sua gestão para a FEAV e para o Terceiro Setor de Valinhos? Existe um novo projeto grandioso que a senhora sonha em concretizar?

ELIANE O meu maior sonho e propósito é fazer uma sucessão e diretoria que tenham olhar para o futuro e, mais que continuidade, que tenham sucesso e ampliem o fortalecimento das OSCs; que garantam a sustentabilidade financeira da FEAV e, dessa forma, novos projetos para o território.

FV — Qual a mensagem que a senhora gostaria de deixar para os valinhenses sobre a importância de apoiar ativamente a FEAV e as entidades associadas neste momento de celebração dos 10 anos?

ELIANE Pessoalmente, recebi um grande presente ao liderar a FEAV nos últimos anos, apoiada por pessoas que acreditam no bem comum e que praticam o verdadeiro valor do amor ao próximo e à causa. Executamos ações que chegam a inúmeras pessoas e, na maioria das vezes, não sabemos quem é… O mais importante é chegar na ponta, no assistido!

A FEAV é única: tem que amar a causa, entregar o seu melhor — é desafiador. O apoio, a participação, o envolvimento da sociedade civil e, consequentemente, o pertencimento permitirão o crescimento e a evolução de todo esse trabalho que é feito, atendendo à missão e ao propósito da FEAV: orquestrar as entidades sociais e coletivos nos eixos de assessoramento, mobilização, representação e governança, impactando a transformação territorial de Valinhos.

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Vereador Conti vê “horizonte aberto” para novos projetos

Com 25 anos de experiência e sete mandatos na Câmara de Valinhos, o vereador Henrique Conti (Republicanos) avalia a “nova dinâmica” da administração municipal. Segundo ele, os principais diferenciais da gestão atual são a “vontade política, criatividade e agilidade para resolver os problemas” mais antigos da cidade. Em entrevista exclusiva à Folha de Valinhos, o vereador da base do governo afirmou que as propostas de campanha estão sendo transformadas em ações concretas, com foco na escuta da população. Conti destacou ainda que a gestão já atua nos principais gargalos, como as demandas represadas na saúde, o resgate de benefícios do funcionalismo público e as soluções viárias para a mobilidade urbana, como na Rua Campos Salles. O vereador também celebra que está em andamento a regulamentação da APA da Serra dos Cocais e o incentivo à economia verde.

FOLHA DE VALINHOS Com seus 25 anos de experiência e sete mandatos, o senhor é a voz mais longeva na Câmara. O Prefeito Franklin implementou uma ‘nova dinâmica’ na gestão municipal. Em sua visão, quais são os três principais diferenciais ou mudanças de paradigma que essa nova gestão trouxe em relação aos governos municipais anteriores que o senhor acompanhou?
VEREADOR HENRIQUE CONTI Vontade política, criatividade e agilidade para resolver os problemas. Alguns problemas muito antigos tiveram solução rápida.

FV O senhor, como vereador da base do governo, como avalia a eficácia da ‘nova dinâmica’ em transformar as propostas de campanha em ações concretas? E qual o papel da atual gestão na modernização e fortalecimento da Feira do Produtor Rural e de outras iniciativas voltadas ao desenvolvimento rural e à economia local?
VEREADOR CONTI De fato, faço parte da base de sustentação do atual governo, pois, essa nova dinâmica tem mostrado resultados positivos. As propostas estão sendo gradualmente transformadas em ações concretas, com foco na escuta da população. Portanto, estamos tendo uma abertura real para o debate e para o aprimoramento das políticas públicas.

FV Com mais de 280 Projetos de Lei e 3.700 requerimentos ao longo de sua carreira, o senhor tem uma visão ampla das necessidades de Valinhos. Sob a ‘nova dinâmica’ de gestão, quais são os principais gargalos ou desafios que persistem na cidade, e como a atual administração está atuando (ou não) para resolvê-los?
VEREADOR CONTI Os gargalos que persistem são as demandas represadas na saúde, funcionalismo público que foi judiado nas administrações anteriores com perdas diversas e mobilidade urbana. Ele já está atuando nas três. Revendo procedimentos na saúde para dar maior agilidade. Resgatando benefícios dos servidores e iniciando as soluções viárias para o trânsito, como exemplo a Rua Campos Salles.

FV O senhor foi o autor da Lei que criou a APA da Serra dos Cocais e defende a agricultura há 25 anos. Como a ‘nova dinâmica’ da Prefeitura tem priorizado e investido na preservação da APA e na economia agrícola local, especialmente em face da pressão do crescimento urbano?

VEREADOR CONTI Com tratativas para a Regulamentação da APA da Serra dos Cocais para enfim tornar a região um polo turístico gastronômico. Com o incentivo aos agricultores, como revitalização das feiras, pagamento por serviços ambientais e de fruticultura, tal como, com a busca para Valinhos se tornar oficialmente a Capital do Figo Roxo e conquistar seu “selo de origem”.

FV O Fórum Permanente do Ribeirão Pinheiros é uma iniciativa sua, central para as questões hídricas. Com a preocupação constante de abastecimento, como o senhor avalia as ações e o planejamento de longo prazo da gestão atual para garantir a segurança hídrica de Valinhos, e qual o papel do Fórum nesse processo?
VEREADOR CONTI “O Fórum Permanente do Ribeirão Pinheiros” nasceu do nosso compromisso com a segurança hídrica e a preservação ambiental de Valinhos. Junto com a Frente Parlamentar em Defesa do Meio Ambiente, criada por lei de minha autoria, a ideia é transformar o debate em ações concretas. A gestão atual tem demonstrado sensibilidade para o tema, com investimentos em saneamento, recuperação de áreas e fortalecimento das políticas ambientais. É importante destacar também o papel do agricultor, que é o verdadeiro guardião do meio ambiente — ele preserva as nascentes e o solo, garantindo água e produção sustentável. Com uma Serra de preservação consolidada, nosso desafio é manter esse equilíbrio: desenvolvimento com responsabilidade, sempre pensando na sustentabilidade e na segurança hídrica das próximas gerações.

FV O senhor defende o ‘incentivo à participação da comunidade’ e um ‘crescimento planejado’ de Valinhos. Em que projetos ou instâncias a população tem sido efetivamente incluída na discussão sobre o futuro da cidade sob essa nova gestão, e o que pode ser aprimorado nesse diálogo?
VEREADOR CONTI A participação da comunidade foi um marco do governo Vitório. O Executivo quer resgatar esta prática, através da reativação de conselhos, comunidades de bairro e associações da sociedade civil.

FV Após 25 anos e no seu sétimo mandato, o que ainda o motiva a seguir na vida pública e qual a principal lição que o senhor aprendeu sobre a política municipal nesse período?
VEREADOR CONTI O que me motiva, após vinte e cinco anos, é ter um horizonte aberto para implantar projetos que há muitos anos lutei e agora finalmente tenho a chance de tornar realidade. Graças a uma situação nova, onde o Poder Executivo trabalha a favor do povo com vontade de fazer coisas novas e boas para o município. Uma realidade muito diferente daquilo que eu vivi na Câmara durante 25 anos. Isso motiva muito. Sinto-me renovado e animado. Exemplo recente desta motivação é a criação de novos espaços para a feira do agricultor.

FV Mais de 280 Projetos de Lei é um número expressivo. Qual é o tema que mais dominou sua atuação legislativa no último ano e qual projeto, em sua opinião, teve o maior impacto positivo imediato na vida do cidadão de Valinhos?
VEREADOR CONTI O tema que mais dominou minha atuação legislativa, além da preservação do meio ambiente e sustentabilidade, foram ações de melhorias e valorização do agricultor. De imediato foi implementada a “Feira do Povo”, precisamos melhorar as atuais e expandir a feira para os bairros da cidade atingindo mais consumidores.

E com o aumento das feiras novos agricultores poderão participar, alcançando um número significativo de agricultores locais, com objetivo de melhorar a renda dos agricultores e garantir maior sustentabilidade para a fruticultura.

FV Quais serão as três pautas prioritárias que o senhor pretende levar para o debate e para a votação da Câmara nos próximos anos?
VEREADOR CONTI Atuar em conjunto com o Poder Executivo na regulamentação da APA Serra dos Cocais e na regulamentação do pagamento por serviços ambientais e de fruticultura. Colaborar no fortalecimento de conselhos municipais, conselhos comunitários de saúde e associações de bairro.

FV O senhor é um dos criadores da Feira do Produtor Rural no Parque Municipal, que completou em 2025, 23 anos. Qual o legado social e econômico dessa iniciativa para as famílias de produtores de Valinhos ao longo dessas mais de duas décadas? E qual tem sido o papel da ‘nova dinâmica’ da gestão municipal no suporte, na ampliação e na modernização desse e de outros espaços de comercialização local?
VEREADOR CONTI Há 23 anos a Feira do Produtor Rural, que acontece aos sábados, se transformou em um espaço de convivência e de orgulho. O objetivo da feira era gerar renda e aproximar o produtor da população. É um projeto que ajudou muitas famílias a permanecer no campo, valorizando o trabalho rural e garantindo alimentos frescos e de qualidade à nossa cidade.

O maior legado, sem dúvida, é o impacto social e econômico e a preservação da nossa identidade agrícola. Como bem dito, a atual gestão tem trazido uma nova dinâmica, investindo na modernização, no apoio técnico e na ampliação dos pontos de comercialização, fortalecendo tanto a Feira do Produtor quanto outras iniciativas voltadas ao desenvolvimento rural e à economia local.

FV O agroturismo é um pilar de desenvolvimento que o senhor incentiva. Valinhos tem um potencial enorme para combinar sua história com a produção rural. O senhor vê a atual gestão municipal trabalhando de forma integrada — entre Turismo, Cultura, Agricultura e Meio Ambiente — para transformar o agroturismo em uma matriz econômica mais forte? Quais projetos o senhor defende para alavancar esse setor na cidade?
VEREADOR CONTI O agroturismo funciona como vitrine da fruticultura de Valinhos. O governo atual está atuando para capacitar mais propriedades para receber o turista e criando novas opções de circuito. O agroturismo e o ecoturismo em propriedades rurais ajudam a consolidar as áreas rurais e fortalecê-las. Valinhos foi pioneira do agroturismo no Circuito das Frutas. Precisamos retomar a liderança da nossa região produtora de frutas. A ‘Região de Valinhos’ é o nosso polo da fruticultura.

FV Para encerrar, qual a sua principal mensagem ou compromisso para os eleitores e para a comunidade de Valinhos, especialmente em relação ao papel do vereador dentro da ‘nova dinâmica’ do governo municipal?
VEREADOR CONTI O vereador tem que estar conectado com a comunidade, promovendo debates e dando espaço para a comunidade se manifestar. Nós temos que ser os porta-vozes dos anseios populares.

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Alternativa

De Valinhos para a COP 30: O protagonismo da advocacia local na crise climática global

Neste domingo, dia 9, Valinhos ganha representatividade no maior fórum climático do mundo. A Dra. Elza Cláudia dos Santos Torres, presidente da Comissão Especial do Clima (COMCLIMA) da OAB Valinhos, embarca para Belém como embaixadora e representante da subseção na COP 30. Em entrevista à Folha de Valinhos, Dra. Elza destaca que sua participação tem um “simbolismo muito especial”, pois reafirma que o protagonismo climático “nasce nos municípios”. A missão da COMCLIMA é trazer de volta para a região ferramentas práticas de governança local, legislações e experiências que fortaleçam a economia verde e a capacidade da cidade de enfrentar eventos climáticos extremos. A advogada enfatiza que o Direito e a atuação local são essenciais para transformar compromissos globais, como o Acordo de Paris, em realidade para Valinhos. Leia a entrevista completa no Portal da Folha de Valinhos.

FOLHA DE VALINHOS A senhora embarca para a COP 30 como representante da COMCLIMA (Comissão Especial do Clima) da OAB Valinhos. Qual é a importância e o significado desta representação de uma Subseção do interior de São Paulo em um evento de dimensão global como a COP?

DRA. ELZA Em primeiro lugar, gostaria de agradecer por minha participação neste espaço e parabenizar o FV pela interessante pergunta e pelo destaque da observação, quanto à representação de uma subseção do interior de São Paulo em um evento de dimensão global como a COP.

Pois bem, essa representação carrega um simbolismo muito especial. Estar na COP 30 como presidente da Comissão Especial do Clima (COMCLIMA) da OAB Valinhos e como Embaixadora da ANAMMA e do movimento Mulheres pelo Clima e Biodiversidade significa levar para um fórum global a voz da advocacia de uma subseção do interior de São Paulo, comprometida com a transformação climática global, a partir do território local do município. Representar Valinhos e a OAB em um evento dessa magnitude é reafirmar que o protagonismo climático não é exclusivo das grandes capitais ou das instâncias federais — ele nasce nos municípios, na atuação cotidiana de pessoas e instituições que fazem a diferença.

FV  Quais foram os principais temas e pilares da COP (mitigação, adaptação, financiamento, tecnologia, capacitação) que foram priorizados pela OAB Valinhos na preparação para o evento, e qual a principal contribuição que a senhora espera trazer de volta para a nossa região?

DRA. ELZA A OAB Valinhos, por meio da COMCLIMA, tem como pilares de atuação a mitigação, a adaptação, a capacitação técnica para trabalharmos com as SBNs (SOLUÇÕES BASEADAS NA NATUREZA), o engajamento da sociedade, e, de forma especial, da comunidade escolar. Trabalhamos para fomentar políticas públicas que reduzam emissões, mas, sobretudo, para fortalecer a capacidade dos municípios de se adaptarem aos impactos da crise climática.

Na volta da COP, espero trazer instrumentos práticos de cooperação e de governança climática local — modelos de legislação, incentivos à economia verde e experiências exitosas que possam inspirar ainda mais a advocacia valinhense e regional, os gestores, e os cidadãos da nossa região.

FV Como o Direito e a atuação da advocacia podem ser ferramentas eficazes para a implementação dos compromissos climáticos (como as NDCs do Acordo de Paris) no nível municipal e estadual, e como essa discussão se insere no contexto da COP?

DRA. ELZA Penso que o Direito é o alicerce da ação climática. Ele transforma compromissos internacionais em normas, planos e instrumentos executáveis. A Advocacia tem um papel essencial na tradução técnica dessas metas — como as NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas)— para a realidade dos municípios, por meio de leis, contratos sustentáveis, licitações verdes e instrumentos de planejamento territorial urbano e rural. Na COP, levaremos a mensagem de que a Advocacia Climática no município de Valinhos é uma ponte entre a ciência, a política pública e a cidadania.

FV A COP 30 será sediada no Brasil, na Amazônia. Quais são as expectativas e os desafios únicos de ter uma Conferência focada em clima e desenvolvimento sustentável realizada no bioma amazônico, e como isso impacta os debates sobre os temas “povos indígenas” e “perdas e danos”?

DRA. ELZA A Amazônia, s.m.j., é o coração climático de nosso lindo Planeta Azul. Realizar ali a COP 30 é um convite à reflexão sobre os limites do nosso modelo de crescimento econômico. É também uma oportunidade de ouvir os povos indígenas e as comunidades tradicionais, guardiãs de um conhecimento ancestral indispensável à preservação dos ecossistemas.

O tema de “perdas e danos” é uma das pautas centrais da COP 30, pois tem o objetivo de passar da fase das promessas acordadas nas COPs anteriores (Paris, Baku, entre outras) para a implementação efetiva do Fundo de Perdas e Danos. O denominado “Roteiro de Baku a Belém”, propõe um montante de pelo menos US$ 1,3 trilhão anuais em financiamento climático global até 2035, com o objetivo de ampliar o acesso a recursos para os países em desenvolvimento e às áreas mais vulneráveis aos impactos da Crise Climática, incluindo para as perdas e danos.

Penso, ainda, que o tema de “perdas e danos” ganha um sentido ainda mais profundo quando discutido na Amazônia, porque nos lembra que os impactos climáticos não são apenas econômicos, mas, sobretudo, sociais, culturais e que tocam a dimensão da dignidade da pessoa humana.

FV O princípio da “responsabilidade comum, porém diferenciada” exige que países desenvolvidos liderem o financiamento climático. Quais são as expectativas em relação aos avanços nas negociações de financiamento e tecnologia na COP 30, especialmente em benefício dos países em desenvolvimento como o Brasil?

DRA. ELZA Esperamos que a COP 30 avance na definição de mecanismos mais transparentes e eficazes de financiamento climático, garantindo recursos para adaptação, mitigação e tecnologia nos países em desenvolvimento. O Brasil tem um papel estratégico como mediador entre o Norte e o Sul globais. Precisamos mostrar que investir em natureza é investir em economia, e que o financiamento climático não é caridade — é uma questão de justiça e sobrevivência coletiva.

 

FV O tema da “Transição Justa” tem ganhado destaque nas negociações. Como a senhora entende a aplicação desse conceito, que busca garantir que a mudança para uma economia de baixo carbono seja equitativa e inclusiva, no contexto brasileiro?

DRA. ELZA A Transição Justa significa garantir que a mudança para uma economia de baixo carbono não deixe ninguém para trás. No Brasil, isso envolve qualificação profissional, inovação tecnológica e inclusão social, mas também, respeito aos territórios e às vocações locais.

Defendemos que essa transição precisa ser territorializada, incorporando as realidades dos municípios, que podem servir de laboratórios vivos para políticas públicas climáticas integradas — como Valinhos — que possui Unidades de Conservação (Estação Ecológica, ARA – Área da Reforma Agrária e a APA da Serra dos Cocais), além de suaszonas ruraisde grande importância para o desenvolvimento econômico e socioambiental sustentável, cooperando efetivamente para a descarbonização regional, bem como para atrair segurança hídrica e alimentar.

 FV Valinhos, inserida na RMC, sofre com eventos climáticos extremos. De que forma a senhora avalia a vulnerabilidade climática de Valinhos e como as discussões sobre Adaptação e resiliência na COP 30 podem oferecer modelos ou insights para a gestão pública municipal?

DRA. ELZAValinhos já sente os efeitos das mudanças climáticas, como: chuvas intensas, inundações, ondas de calor, estiagens muito secas que favorecem incêndios, em áreas de vital importância para a biodiversidade e regulação climática, a exemplo, da Serra dos Cocais e de áreas verdes e rurais nas regiões da Fonte Mécia, do Macuco, Capivari e Reforma Agrária. Isso exige um olhar sistêmico sobre adaptação e resiliência.

O Lançamento do Fórum Permanente sobre Mudanças Climáticas de Valinhos e Região, em 6 de outubro, último, nasceu justamente para responder a esse desafio, reunindo poder público, academia, setor privado, sociedade civil, e as comunidades escolares. Na COP 30, buscarei experiências internacionais de resiliência territorial nos municípios (englobando suas zonas urbanas e rurais), formação de corredores ecológicos, microflorestas e soluções baseadas na natureza, que podem inspirar e fortalecer a gestão pública local.

FV Existe algum modelo de legislação ambiental ou de clima, debatido ou apresentado na COP, que a senhora considera urgente e viável de ser adaptado e proposto para os municípios da nossa região (Valinhos/Campinas)?

DRA. ELZA Sim. É urgente que os municípios adotem leis municipais que abranjam ações climáticas, alinhadas ao Acordo de Paris, prevendo metas de redução de emissões e planos de adaptação. Para tanto, entendo que tais ações, deveriam estar contempladas e previstas nas leis orçamentárias, como o PPA (Plano Plurianual), a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) e a LOA (Lei Orçamentária Anual), tendo como fundamento a Lei do Plano Diretor, que, em meu modo de ver é a base, inclusive, para obtermos verbas e financiamentos (nacionais e/ou internacionais), inclusive dos fundos climáticos que serão trabalhados nesta COP.

Outro ponto é a integração entre planejamento climático e o planejamento territorial municipal (urbano/rural), incluindo incentivos fiscais verdes e diretrizes de revitalização verde — como o que estamos a implementar em Valinhos por meio do Projeto Primavera Municipal, com a multiplicação das microflorestas urbanas e dos corredores ecológicos.

FV O Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima, IPCC, ressalta a importância dos relatórios científicos para a tomada de decisão. Na sua opinião, como a OAB pode ajudar a mobilizar a sociedade civil, especialmente os jovens, para que a ciência do clima e os resultados da COP influenciem as políticas locais?

DRA. ELZA Eu sempre digo que a OAB é o grande ícone da sociedade civil, pois foi a responsável pela redemocratização do Brasil. Além disso, a OAB é uma instituição com credibilidade e capilaridade. Portanto, penso que podemos e devemos usar essa força para promover educação climática cidadã.

Por meio de outra importante Comissão da OAB Valinhos, que é a OAB Vai à Escola, são trabalhados com os estudantes, vários temas, entre eles: meio ambiente, sustentabilidade e mudanças climáticas, despertando-os desde cedo o senso de responsabilidade e pertencimento. Os jovens são agentes de transformação — e tenho minhas convicções que a Advocacia possa abrir caminhos para que a ciência se converta em ação.

FV  O que, na visão da Dra. Elza, seria considerado um resultado de sucesso para o Brasil na COP 30?

DRA. ELZA Um resultado de sucesso será aquele que alinhe a Justiça Social com a denominada  “Ambição Climática” (que significa alcançar a diminuição das emissões dos gases de Efeito Estufa e as remoções desses gases da atmosfera  – responsáveis pelo Aquecimento Global – através, por exemplo, do papel desempenhado pelas áreas verdes – rurais e florestais – na captura de carbono.   Queremos ver o Brasil reafirmando seu compromisso com o desmatamento zero, com a economia de baixo carbono e com o necessário fortalecimento da governança municipal, especialmente, por meio dos representantes da sociedade civil nos Conselhos Municipais. Mas, sobretudo, queremos que o país se veja como potência climática, reconhecendo que proteger nossos biomas é proteger a todos – nos dias presentes, e nos dias vindouros, com as futuras gerações.

FV  Qual é a mensagem mais importante que a senhora trará da COP 30 para a comunidade de Valinhos e, em especial, para os advogados e estudantes de Direito da nossa subseção, sobre o papel de cada um na agenda climática?

DRA. ELZA Minha mensagem é de fé, esperança e corresponsabilidade. A Advocacia tem o poder de transformar princípios em políticas, leis em práticas e compromissos em resultados concretos. A Agenda Climática não é uma pauta distante — ela começa localmente, no município, no escritório, na escola, na praça, na igreja, na casa de cada cidadão. Voltarei da COP 30 com o propósito renovado de fortalecer essa consciência: agir localmente é influenciar globalmente. E é isso que move o trabalho da COMCLIMA e da OAB Valinhos.

 

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Valinhos

Vereador Fábio Damasceno analisa crescimento de Valinhos e prioriza saúde

O vereador Fábio Damasceno, em seu quarto mandato, discutiu na proposta “Fala Vereador” o impacto do crescimento populacional de Valinhos, que exige maior fiscalização e investimento em saúde, creches e trânsito. O parlamentar, que também é pastor, afirmou que sua fé e sua formação em Gestão Pública orientam suas decisões com base na justiça social, na ética e no combate à corrupção. Damasceno ressaltou que, na prática, seu trabalho é guiado pelas necessidades dos munícipes, com prioridade para o atendimento básico. Ele destacou ainda a aprovação de leis voltadas a valores cristãos e à proteção da família, como o Maio Laranja e ações de combate ao abuso infantil. O vereador elegeu a saúde como seu principal desafio atual.Fábio Damasceno confirmou apoio integral ao prefeito Franklin Duarte, destacando o alinhamento político do Republicanos e a preocupação da gestão com a população mais vulnerável.

FOLHA DE VALINHOS O senhor está em seu quarto mandato, sendo o primeiro em 2004, o segundo em 2008, e eleito nas duas últimas eleições, 2020 e 2024. O que o motivou a retornar à vida pública em 2020 e quais são as principais diferenças que o senhor nota entre a Valinhos de 2008 (início do primeiro mandato) e a Valinhos atual?

VEREADOR FÁBIO DAMASCENO De 2004 para 2024, a principal mudança observada é o aumento populacional da cidade, que em 20 anos teve um acréscimo superior a 30 mil pessoas, gerando maior demanda nas áreas de saúde, creches e trânsito. Esse crescimento populacional desenfreado requer mais fiscalização e cobrança dos vereadores, além de ações efetivas para atender toda essa demanda.

FV O senhor tem uma longa trajetória como pastor e atualmente está licenciado do ministério para se dedicar integralmente à vida pública. Como a sua experiência pastoral e os princípios de sua fé influenciam o seu trabalho e as suas decisões como vereador?

VEREADOR FÁBIO DAMASCENO A experiência pastoral e os princípios de fé fornecem uma base de valores, como justiça social, compaixão e ética, que norteiam as decisões do vereador. Isso se traduz em um compromisso com a transparência, a responsabilidade e o combate à corrupção na administração pública.

FV Com formação em Gestão Pública e MBA em Administração Pública e Gerenciamento de Cidades, de que maneira o seu conhecimento acadêmico tem sido aplicado na elaboração de projetos de lei e na fiscalização das ações do Executivo em Valinhos?

VEREADOR FÁBIO DAMASCENO O conhecimento acadêmico ajuda muito no planejamento da cidade como um todo, com visão a médio e longo prazo. Porém, é fundamental atrelar esse conhecimento ao dia a dia da população. A necessidade das pessoas que mais precisam é o que me direciona na apresentação de projetos, indicações, fiscalização e solicitações. Entendo que os municípios devem sempre priorizar o investimento no atendimento básico da sociedade, como saúde e educação.

FV O senhor é conhecido por suas posições cristãs e conservadoras, e por defender firmemente a família, a luta contra as drogas e o combate ao abuso e exploração sexual infantil. Na prática, quais são os projetos ou ações que o senhor considera mais impactantes em Valinhos relacionados a essas bandeiras?

VEREADOR FÁBIO DAMASCENO E sem dúvida, os valores cristãos e da família são o alicerce da minha gestão. Entre os projetos de lei aprovados, destaco: a proibição de banheiros unissex, a proibição da linguagem neutra no município, o “Maio Laranja” contra o abuso e exploração infantil — inclusive com eventos anuais realizados pelo nosso gabinete —, a lei que proibiu em Valinhos a contratação de qualquer pessoa condenada pela Lei Henry Borel (que institui medidas de proteção à criança e adolescentes vítimas de violência doméstica e familiar) e a lei que promove o combate ao acesso das crianças a conteúdo pornográfico. São algumas das leis que luto incansavelmente, visando uma cidade que forme cidadãos de bem.

FV O senhor é autor de leis como a proibição de banheiros unissex e do uso da linguagem neutra nas escolas. Poderia explicar a motivação e o impacto que o senhor espera que essas leis tenham na comunidade escolar e na sociedade de Valinhos?

VEREADOR FÁBIO DAMASCENO Apesar de algumas divergências com decisões do Supremo, exerci meu papel como vereador e, principalmente, como cidadão. Ter pessoas de bem passa pela educação e pelo conceito de ética, disciplina e respeito à família.

FV A instituição da Marcha para Jesus e a criação do “Maio Laranja” são leis de sua autoria com focos diferentes. Qual é a importância da Marcha para Jesus para a comunidade evangélica da cidade e qual é a relevância do “Maio Laranja” no contexto da proteção das crianças e adolescentes de Valinhos?

VEREADOR FÁBIO DAMASCENO A Marcha para Jesus é um evento que une as igrejas, gerando um momento de confraternização entre os povos e celebração da fé e do amor em Cristo. É um evento que já existe em inúmeras cidades, e Valinhos não poderia ficar de fora, atraindo pessoas de toda a região.
O “Maio Laranja” é uma lei voltada à luta contra o abuso e exploração sexual infantil. É um tema que me preocupa cada vez mais, pois os noticiários mostram o aumento desses graves crimes. Anualmente, são realizadas palestras, eventos na cidade e ações nos semáforos, conscientizando a população sobre o disque 100, que pode ajudar a prevenir esses crimes, que deixam marcas profundas e inesquecíveis.

FV No seu quarto mandato, quais são os principais desafios que o senhor enxerga para a Câmara Municipal na atual legislatura (2025-2028) e quais temas urgentes precisam ser priorizados pelo Poder Legislativo?

VEREADOR FÁBIO DAMASCENO Neste quarto mandato, meu desafio é atender a população com prioridade na saúde. Não posso aceitar que uma pessoa com dor ou sofrimento não consiga ser atendida, não realize um exame no prazo adequado ou espere anos por uma cirurgia. Já fui autor de inúmeras moções nesse sentido, como o pedido de uma AME para Valinhos, Poupatempo da Saúde e Carreta da Mamografia, entre outros. Também já consegui diversas emendas para a saúde.

FV O senhor foi reeleito em 2024 com 1.114 votos. Como avalia o aumento da votação e o que esse resultado representa para o seu trabalho e para a base de eleitores que o senhor representa?

VEREADOR FÁBIO DAMASCENO É resultado de um trabalho de muita proximidade com a população. Entender genuinamente suas necessidades e fazer o possível — e o impossível — para atendê-la. Pedidos como Refis (anistia fiscal), isenção do ISSQN, redução na tarifa de água e desconto na conta para aposentados são vertentes de um trabalho de quem compreende o momento econômico da população e o quanto cada real faz diferença na felicidade das famílias.

FV Como o vereador Fábio Damasceno mantém um canal aberto de comunicação e escuta com os moradores de Valinhos para identificar demandas e transformá-las em indicações ou projetos de lei?

VEREADOR FÁBIO DAMASCENO Tenho meu próprio celular, que muitos munícipes usam para me acionar diretamente, além das minhas redes sociais (Facebook e Instagram), onde também atendo a todos. Temos ainda o telefone da Câmara, com contato direto com nosso gabinete, um celular específico para a população e os celulares dos meus assessores. Todos juntos priorizam o atendimento ao munícipe, mantendo as portas sempre abertas.

FV Atualmente, qual é a sua posição — de apoio, oposição ou independência — em relação ao governo municipal liderado pelo prefeito Franklin? Quais são os pontos que o senhor elogia e quais merecem maior atenção ou críticas?

VEREADOR FÁBIO DAMASCENO Sou o mais antigo integrante do Republicanos na cidade. O Republicanos é um partido de direita e faz parte do Governo Franklin, e hoje temos, ao lado do PL, a maior bancada no município. Desta forma, e principalmente pelo longo tempo de conhecimento que tenho do Franklin — cidadão, vereador e presidente da Câmara —, apoio integralmente o prefeito. Como ponto de destaque da nova gestão, ressalto a preocupação com a população que mais precisa, o que nos identifica, e sua disposição e dinâmica de trabalho, que farão a diferença para a cidade.

FV Pensando além do seu mandato, quais são os planos e aspirações políticas do vereador Fábio Damasceno para o futuro e como pretende continuar contribuindo para o desenvolvimento e a qualidade de vida em Valinhos?

VEREADOR FÁBIO DAMASCENO Teremos uma eleição muito importante no próximo ano, onde precisamos de menos polarização e mais foco na ajuda à sociedade. Temos o governador Tarcísio em nosso partido, que conta com nosso total apoio.
Minha missão pertence a Deus; pretendo continuar sempre próximo da população e melhorar a vida das pessoas. Fazer o dia a dia da população melhor é minha eterna missão.

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Economia

Haddad defende cortar financiamento do crime organizado no Brasil

Ministro da Fazenda alerta que combate só nas comunidades não basta; operação Fronteira apreendeu drogas, armas e mercadorias ilegais

Por Elaine Patricia Cruz

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu nesta sexta-feira, dia 31, em São Paulo, que o combate ao crime organizado deve ir além das operações em comunidades e focar em asfixiar suas fontes de financiamento.

“Não adianta apenas o chão de fábrica. Precisamos chegar nos CEOs do crime organizado, que precisam pagar pelo que fazem. Caso contrário, o dinheiro volta a abastecer a criminalidade”, afirmou Haddad.

Durante a entrevista, o ministro pediu ao governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, que convença a bancada do PL a aprovar a lei do devedor contumaz, que endurece as regras para quem usa a inadimplência fiscal como estratégia de negócio. Haddad alertou que muitos desses devedores contumazes têm ligação com a criminalidade organizada.

“O devedor contumaz é um tipo de sonegador que mistura recursos ilícitos com atividades lícitas para lavar dinheiro, como postos de gasolina e motéis interditados em São Paulo”, explicou.

Para combater essas práticas, a Receita Federal publicou uma portaria obrigando fundos a divulgar os CPFs dos beneficiários. Segundo Haddad, a medida permitirá identificar laranjas, residentes ou não-residentes e aumentar o poder fiscalizador do governo.

A Operação Fronteira, iniciada em 22 de outubro, teve como alvo rotas de contrabando, tráfico de drogas, armas e animais. Nos últimos 15 dias, foram registradas:

  • 27 prisões;

  • Mais de 3 toneladas de drogas apreendidas;

  • 213 mil litros de bebida adulterada retirados de circulação;

  • Mais de mil armas apreendidas;

  • R$ 160 milhões em mercadorias ilegais confiscadas;

  • Apreensão de aeronave com mais de 500 smartphones de alto valor.

A operação envolveu 60 municípios em 20 estados e integrou órgãos como Exército, Marinha, Polícia Federal, Polícias Estaduais, Ibama, Anac, Anatel e Anvisa. Haddad destacou que todas as ações ocorreram sem mortes, demonstrando cooperação entre as instituições federativas.

“Você vai à comunidade pensando que combate o crime, mas os verdadeiros líderes estão em outro lugar, usufruindo da riqueza ilicitamente e aliciando jovens. Precisamos atuar em todas as camadas do crime”, concluiu o ministro.

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Valinhos

Dra. Nayene fala sobre a odontologia como pilar da saúde integral

No Dia Nacional da Saúde Bucal e do Cirurgião-Dentista, celebrado em 25 de outubro, a Dra. Nayene Leocádia Manzutti Eid, diretora do Departamento de Odontologia da Prefeitura de Valinhos, detalha a visão estratégica que está transformando o cuidado público no município. Em entrevista à Folha de Valinhos, Dra. Nayene reforça a importância da saúde bucal como indicador de saúde geral — conceito que ganhou destaque com a recente Lei Municipal do Junho Pérola. A diretora explica que a descentralização do atendimento é o eixo principal dessa mudança. Confira os principais trechos da entrevista nesta página. A entrevista na íntegra pode ser lida no portal da Folha de Valinhos.

FOLHA DE VALINHOS O dia 25 de outubro celebra o Dia Nacional da Saúde Bucal e o Dia do Cirurgião-Dentista. Qual a importância desta data para reforçar a conscientização sobre a saúde bucal — que a Lei 10.465/2002 destaca como um indicador de saúde geral — e para valorizar o trabalho da odontologia na saúde pública de Valinhos?

DRA. NAYENE Essa data tem um significado relevante. Ela reforça que a saúde bucal é parte inseparável da saúde geral, como já reconhece a legislação nacional e, mais recentemente, a Lei Municipal nº 6.732, de maio de 2025, proposta pelo vereador Vagner Alves e sancionada pelo prefeito Franklin Duarte de Lima, que instituiu em Valinhos o Junho Pérola, mês de conscientização sobre a importância da saúde bucal para a saúde geral. Uma boca saudável reflete equilíbrio, qualidade de vida e bem-estar, e isso deve ser entendido como um direito de todos.

Também é uma oportunidade de valorizar o trabalho de cada profissional que atua na rede municipal. Nossas equipes estão em todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS) da cidade, no Centro de Especialidades Odontológicas (CEO) e nas ações itinerantes, levando cuidado, acolhimento e dignidade à população. O 25 de outubro celebra a nossa missão diária: garantir que a odontologia pública de Valinhos seja sinônimo de saúde integral e humanização.

FV O Departamento tem priorizado a descentralização do atendimento. Qual é a visão estratégica por trás dessa mudança e como ela impacta diretamente a vida dos valinhenses, especialmente das mães e das pessoas que têm dificuldade em se ausentar do trabalho para ir a uma Unidade Básica de Saúde (UBS)?

DRA. NAYENE A descentralização é um eixo estratégico no nosso plano de ação. A ideia é levar o cuidado odontológico para mais perto da população valinhense, reduzindo barreiras como deslocamento, trabalho, falta de tempo ou dificuldades logísticas; fatores que com frequência comprometem o acesso, especialmente para mães que trabalham, famílias com horário apertado, ou pessoas que não conseguem se ausentar da atividade profissional para ir até uma UBS no horário comercial. Ao levar o atendimento até os territórios, ampliamos o acesso e reduzimos desigualdades.

Essa visão busca transformar o cuidado em algo mais acessível, próximo e resolutivo. Quando o serviço vai até o munícipe, aumentamos a adesão, diminuímos faltas e fortalecemos o vínculo com a rede de saúde. É uma mudança que impacta diretamente o cotidiano das famílias valinhenses.

 

FV A aquisição de quatro conjuntos portáteis trouxe uma grande inovação para a logística de atendimento. Na prática, como esses equipamentos garantem a mesma qualidade e resolutividade do tratamento dentário que seria realizado em um consultório fixo?

DRA. NAYENE Os equipos odontológicos portáteis permitem que o dentista realize procedimentos clínicos com o mesmo padrão técnico de um consultório fixo, mas em locais remotos ou com baixa infraestrutura, onde antes isso não seria possível — como escolas, instituições e centros comunitários.

Cada conjunto possui os mesmos componentes de um consultório tradicional, com turbinas de alta e baixa rotação (o conhecido “motorzinho”), seringa tríplice (jato de ar) e sistema de sucção (sugador), e segue os mesmos protocolos de biossegurança, garantindo conforto e qualidade técnica. Assim, o atendimento deixa de estar restrito às UBS ou ao CEO e passa a ir até onde as pessoas estão.

Esses equipamentos são um marco de inovação e traduzem a política de inclusão e eficiência da gestão municipal: onde há necessidade, o cuidado chega. A iniciativa é fruto de emenda parlamentar do vereador Alécio Cau, que tem sido um parceiro importante da odontologia pública. Trata-se de um exemplo concreto de como políticas públicas efetivas, construídas com diálogo e compromisso, podem transformar realidades e ampliar o acesso à saúde.

 FV O foco no público infantil é evidente nas ações contínuas em escolas (como a EMEB Marli Borelli) e instituições (ACES, Casa da Criança, Cohcric). Qual é o objetivo principal dessas campanhas e qual o papel do diagnóstico precoce para o desenvolvimento saudável das crianças?

DRA. NAYENE Nosso foco no público infantil, por meio de campanhas contínuas em escolas da rede municipal e em instituições assistenciais — como a ACES, a Casa da Criança e do Adolescente, o Cohcric —, além da parceria com a ONG Acovidas, que acolhe crianças refugiadas, responde a um objetivo estratégico: intervir precocemente, fortalecendo o cuidado preventivo e identificando necessidades de tratamento logo nos primeiros sinais de cárie ou outras alterações bucais.

As visitas das equipes de saúde bucal a esses locais reforçam a importância de cuidar com carinho da saúde e do bem-estar das crianças. A promoção da saúde bucal na infância é determinante, pois hábitos adquiridos nessa fase — como a escovação correta e o acompanhamento regular ao dentista — impactam diretamente a qualidade de vida e o desenvolvimento saudável. Além das ações educativas e triagens clínicas, muitas vezes levamos também o tratamento odontológico in loco, o que permite que as crianças sejam atendidas no próprio ambiente escolar ou institucional, garantindo conforto, reduzindo faltas e evitando deslocamentos desnecessários.

A prevenção nessa fase evita dor, evasão escolar e tratamentos complexos no futuro. Tem se mostrado a forma mais eficaz e humana de promover saúde bucal e, quando associada ao diagnóstico precoce e ao tratamento imediato, forma uma geração mais saudável, confiante e consciente do valor do autocuidado.

 

FV Após as avaliações nas instituições, há um planejamento para retorno e tratamento das lesões de cárie, como o agendado para o Cohcric. Como o Departamento assegura que as crianças diagnosticadas recebam o tratamento adequado para que a prevenção se complete com a cura?

DRA. NAYENE Após as avaliações realizadas nas instituições, o Departamento de Odontologia estabelece um fluxo organizado para garantir que toda criança diagnosticada com lesão de cárie receba o tratamento necessário. As equipes registram os achados clínicos e, sempre que possível, realizam o tratamento diretamente no local, utilizando os equipamentos portáteis adquiridos pelo município. Além disso, mantemos contato constante com as escolas e instituições e programamos retornos regulares para cuidar das nossas crianças. Esse acompanhamento exige articulação entre profissionais, escolas, famílias e gestão, e tem sido possível graças ao comprometimento da nossa equipe e ao apoio da Prefeitura de Valinhos em transformar a prevenção em resultado concreto, assegurando crianças com saúde bucal restabelecida e melhor qualidade de vida.

 

FV A inauguração do consultório odontológico no Centro de Convivência do Idoso (CCI) marca uma atenção específica a essa faixa etária. Qual a importância desse atendimento focado (que inclui o uso de laser e diagnóstico precoce de doenças da boca) para a qualidade de vida e a saúde geral do idoso em Valinhos?

DRA. NAYENE O consultório odontológico do Centro de Convivência do Idoso (CCI) representa um avanço significativo na política pública de saúde de Valinhos. O espaço foi entregue à população idosa pelo prefeito Franklin antes de completar os 100 dias de governo, reforçando o compromisso da gestão municipal com o cuidado integral e humanizado desse público.

O CCI é um local de convivência ativa, onde as pessoas idosas participam de oficinas, ginástica, cursos, rodas de conversa e atividades recreativas. Levar o atendimento odontológico para dentro desse ambiente de acolhimento fortalece o vínculo com o serviço e facilita o acesso de quem, muitas vezes, enfrenta limitações de locomoção ou dificuldade para comparecer às UBSs. Essa aproximação entre o cuidado e o cotidiano das pessoas é uma marca da gestão municipal. Na prática, esse consultório representa respeito, cuidado e reconhecimento da trajetória de vida da pessoa idosa.

A população idosa muitas vezes enfrenta desafios específicos, como perda dentária, próteses mal adaptadas, dentes remanescentes, xerostomia, doenças da gengiva, até câncer de boca. Cuidar da saúde bucal desse público é fundamental, mesmo quando ele já não possui todos os dentes. Ao implantarmos, no CCI, um consultório odontológico dedicado, estamos dando um passo de grande valor para a saúde integral da pessoa idosa. Esse atendimento contribui para a melhora da mastigação, da nutrição, da fala, da autoestima, além da detecção precoce de doenças graves, como o câncer bucal. Também promove sociabilidade, pois o idoso que sorri se relaciona melhor. Mais do que um serviço odontológico, é um espaço de acolhimento, cuidado e valorização da dignidade da pessoa idosa.

 

FV  O programa “Odontologia de Ponta a Ponta” ampliou o atendimento de urgência e dor no CEO para os sábados e domingos. Qual foi o impacto dessa medida na demanda por socorro odontológico e como essa cobertura de 7 dias por semana alivia o sistema de saúde, evitando que casos odontológicos acabem nas UPAs ou prontos-socorros?

DRA. NAYENE Com o atendimento aos sábados e domingos no CEO, a Prefeitura de Valinhos passou a oferecer cobertura odontológica sete dias por semana — um avanço histórico. Com isso, os valinhenses têm acesso ao serviço de urgência odontológica que funciona também aos finais de semana, fora do horário comercial. O impacto foi imediato: redução do sofrimento de quem sente dor e, uma vez que o munícipe encontra alívio e conforto por meio da assistência em nosso serviço, há a redução do número de pessoas sobrecarregando as UPAs por dor de dente. Além disso, o atendimento é mais rápido, humano e especializado. Em saúde pública, garantir esse tipo de cobertura significa evitar que uma dor de dente se transforme em infecção grave, com complicações e internação hospitalar. Também representa economia para o sistema como um todo. Essa medida reforça a visão de que saúde bucal é um serviço essencial.

 

FV O Departamento administra diversas frentes de trabalho: UBSs, CEO (com atendimento de urgência estendido), CCI e ações itinerantes. Como a gestão coordena todos esses pontos de atendimento para garantir um fluxo eficiente e que nenhum público fique desassistido, desde o bebê até o idoso?

DRA. NAYENE  Coordenar múltiplas frentes de atendimento exige organização, processos bem definidos, equipe capacitada e uma articulação constante entre todos os pontos da rede e os programas autorais implementados e que são próprios do município de Valinhos.
Estruturamos aqui na cidade um modelo de gestão que integra programas específicos delineados para as diferentes faixas etárias e perfis da população, por exemplo: crianças e adolescentes, pessoas idosas, gestantes, servidores públicos, refugiados, famílias em assentamentos, pessoas que vivenciam o câncer, mulheres vítimas de violência doméstica e seus filhos menores de idade, dentre outros. Esse trabalho começa pela identificação clara dos públicos-alvo e pela definição de locais e horários de atendimento que realmente atendam às necessidades da comunidade, seja nas UBSs, no CEO, nos serviços itinerantes ou no Centro de Convivência do Idoso.

As agendas são integradas de forma que as avaliações realizadas em qualquer unidade de saúde ou outro lugar que as equipes de saúde bucal visitem resultem em tratamentos odontológicos in loco, ou em encaminhamentos para tratamento nas UBSs ou no CCI. Em todos esses pontos, adotamos protocolos clínicos padronizados, garantindo que a qualidade do atendimento seja a mesma, independentemente do local. Além disso, a gestão do Departamento de Odontologia mantém um acompanhamento extremamente próximo, participativo e atuante em todos os programas implementados, assegurando que ninguém fique desassistido. Esse conjunto de ações permitiu que Valinhos alcançasse um modelo inédito, moderno, resolutivo e humano de cuidado em saúde bucal, no qual cada cidadão encontra um caminho acessível e acolhedor para o seu atendimento.

 

FV A Sra. costuma destacar que a prevenção faz a diferença e que atitudes simples podem impactar a qualidade de vida. Na sua experiência, qual a principal barreira ou desafio cultural que o Departamento encontra em Valinhos para que a população adote a manutenção da saúde bucal como hábito regular?

DRA. NAYENE O desafio cultural é múltiplo, mas, se eu tivesse que apontar o principal, diria que é a subestimação da boca e da saúde bucal como parte integrante da saúde geral. Muitas pessoas ainda procuram o dentista apenas diante da dor. Essa postura reativa, e não preventiva, faz com que situações simples evoluam para problemas mais graves. Em Valinhos, temos trabalhado para superar esse desafio por meio da promoção e educação permanente em saúde bucal — nas escolas, nas comunidades, em cada grupo vulnerável e nas famílias —, fortalecendo uma cultura de cuidado contínuo e consciente por meio dos programas que implementamos e que realizam a busca ativa, levando o cuidado até onde a população está. A prevenção, o acesso facilitado e a descentralização dos serviços têm sido pilares dessa transformação.

 

FV Além da cárie, que é um problema frequente, quais são hoje os principais desafios de saúde bucal que a população adulta e idosa de Valinhos enfrenta, e quais as campanhas prioritárias para combatê-los, como, por exemplo, o combate ao câncer de boca?

DRA. NAYENE Além da cárie, que segue sendo uma demanda frequente, entre a população adulta e a idosa, identificamos desafios emergentes que merecem atenção prioritária. As doenças periodontais, como gengivite, periodontite e perda óssea, são mais comuns nessas faixas etárias e possuem forte relação com doenças sistêmicas, como diabetes e cardiovasculares. A perda dentária e a necessidade de reabilitação oral também são recorrentes.

A xerostomia, o uso contínuo de medicamentos e as alterações de mucosa exigem cuidado especializado, já que fatores sistêmicos podem agravar o quadro bucal. O câncer de boca é outro foco central: o consultório odontológico do CCI foi implantado também com o objetivo de ampliar o diagnóstico precoce de doenças da boca, incluindo o câncer.

Outro desafio importante é o acesso e a adesão ao tratamento, especialmente entre adultos que conciliam trabalho e cuidados pessoais ou idosos com mobilidade reduzida.

Para enfrentar esses cenários, Valinhos tem fortalecido uma rede de cuidado integral, que une promoção de saúde, prevenção e reabilitação. As ações incluem campanhas educativas contínuas, triagens de câncer bucal, ampliação do acesso ao serviço de odontologia e atendimentos voltados aos grupos mais vulneráveis, como idosos e trabalhadores com pouco tempo disponível. Também buscamos aproximar o cuidado da rotina das pessoas, levando o atendimento às instituições, lares de longa permanência de pessoas idosas, centros de convivência e espaços comunitários, de forma que a prevenção aconteça antes da dor e o tratamento se conclua com resolutividade.

 

FV Olhando para o futuro, e considerando o legado de modernização e ampliação do acesso que o Departamento tem construído, quais são os próximos passos ou grandes projetos para os anos seguintes em termos de tecnologia, expansão de serviços ou novos programas preventivos?

DRA. NAYENE

O futuro da odontologia pública em Valinhos é, ao mesmo tempo, promissor e desafiador. O foco do Departamento permanece na consolidação do legado de modernização e na ampliação do acesso, sempre guiado por tecnologia, inovação e humanização no cuidado. A curto prazo, trabalhamos para viabilizar o acesso ao serviço de urgência de forma centralizada e com horário estendido. A médio prazo, estudamos a possibilidade de implementar a teleconsulta odontológica, e, a longo prazo, de ampliar gradualmente a capacidade de atendimento do CEO com a possível implementação de novos equipos, além de incorporar recursos de radiologia e próteses digitais; iniciativas que podem ampliar o acesso, a resolutividade e otimizar o tempo de atendimento.

Essas perspectivas estão sendo analisadas com responsabilidade técnica e em consonância com a realidade orçamentária e estrutural do município. Nosso compromisso é seguir aprimorando a rede de saúde bucal de forma sustentável, mantendo a qualidade do atendimento e o cuidado humanizado que se tornaram marcas da odontologia pública de Valinhos.

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Brasil e Mundo

Nasa aposta em missões espaciais para buscar vida em luas e planetas

© Arte Nasa
Em entrevista exclusiva, astrônoma brasileira falou sobre os projetos
Adrielen Alves – repórter da TV Brasil
Sessenta anos após a primeira missão para Marte, a Mariner 4, que tinha o objetivo de registrar imagens do planeta vermelho, a expedição envolvendo o veículo rover Perseverance já é considerada a mais animadora pela comunidade científica e a mais próxima de localizar vida fora do planeta Terra.

Esta é a constatação da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) que, no último dia 10, anunciou possíveis indícios de bioassinatura em uma rocha, localizada na cratera de Jezero.

Na região marciana, onde há bilhões de anos correram rios e lagos, uma combinação de minerais e material orgânico localizados em uma rocha, chamada de Chevaya Falls, pode indicar a existência de vida antiga.

Seria uma espécie de microfóssil, resultado do metabolismo microbiano expelido após se “alimentarem’’ de material orgânico, explicaram cientistas da agência espacial.

A notícia, que já circulava em laboratórios da Nasa há cerca de um ano veio a público agora, após a revisão por pares de cientistas e com a publicação de um artigo na renomada revista Nature.

Os achados foram considerados relevantes por uma equipe internacional de cientistas, mas não são conclusivos, aponta o artigo. Isso porque também existe a possibilidade de se tratar de uma ação abiótica, decorrente de um processo químico não biológico, ou seja, sem presença de vida.

Para a astrônoma brasileira Rosaly Lopes, vice-diretora de Ciências Planetárias do Jet Propulsion Laboratory (Laboratório de Propulsão a Jato, em tradução livre) da Nasa, embora os resultados das análises do Perseverance sejam animadores, eles só serão conclusivos após a checagem da amostra em laboratórios terrestres.

O administrador interino da Nasa, Sean Duffy, informou que trazer a amostra de volta para a Terra depende ainda da avaliação de orçamento, do tempo e da tecnologia que seria empregada na missão de resgate.

Planeta Marte em foto do telescópio espacial Hubble da Nasa
Planeta Marte em foto do telescópio espacial Hubble da Nasa – NASA/Direitos reservados

Corrida Espacial

Mesmo com os desafios para confirmar a existência de vida em Marte, a Nasa está a todo vapor na corrida espacial, no páreo com países como China, Índia e Rússia.

Estes países se unem ao jogo para ver quem desvenda primeiro a grande questão sobre o Universo: estamos sós nesta imensidão?

Em entrevista exclusiva à TV Brasil a astrônoma brasileira Rosaly Lopes abordou temas como as futuras missões espaciais lideradas pela Nasa, onde ela trabalha há mais de 30 anos, e sobre o quão próximo estamos de respostas de vida no nosso Sistema Solar.

“Um dos maiores objetivos agora da Nasa, da nossa comunidade científica, é saber se existiu vida em outros mundos.” 

Confira trechos da entrevista:

Brasília (DF), 18/09/2025 – Personagem Rosaly Lopes. Após descoberta em Marte, Nasa aposta em missões espaciais em busca de vida em outros mundos. Foto: Rosaly Lopes/Arquivo pessoal
A astrônoma brasileira Rosaly Lopes falou com exclusividade à Empresa Brasil de Comunicação – Rosaly Lopes/Arquivo pessoal

Agência Brasil: O recente anúncio da Nasa, sobre a missão envolvendo o rover Perseverance e a potencial bioassinatura em rocha no planeta Marte, animou a comunidade científica sobre a possibilidade de descoberta de vida fora da Terra. Qual era o clima entre os colegas astrônomos e cientistas envolvidos na pesquisa e em outras missões espaciais às vésperas e após o anúncio público desta notícia, considerada pela Nasa a mais próxima de achar vida fora da Terra?
Rosaly Lopes:  Esse resultado já tinha sido anunciado entre os cientistas assim que descobrimos a rocha, há pouco mais de um ano, e os instrumentos do robô Perseverance fizeram as primeiras análises da amostra, chamada Cânion Safira.
A diferença, agora, é que o artigo científico foi publicado. E isso quer dizer que, no princípio, antes de todas as análises terem avançado, ainda se tinha muita dúvida.
Isso porque o resultado encontrado na rocha talvez possa ser abiótico [decorrente de processos químicos, mas sem presença de vida], já que as análises ainda não foram finalizadas. Mas agora, a publicação do artigo em uma revista científica como a Nature demonstra que a comunidade científica diz que as análises são boas.
Isso faz com que esse resultado não seja considerado, ainda, como prova de vida fora da Terra, mas é mais aceito, agora, como grande possibilidade de ser um sinal de vida – que chamamos de uma bioassinatura em Marte.
É importante trazer essa rocha de volta porque as análises que o robô pode fazer e a que a gente pode fazer aqui nos laboratórios da Terra não se comparam. Realmente, para fazer uma análise profunda e demonstrar que isso é um sinal de vida, tem que ser feito aqui na Terra.

Agência Brasil: Embora os estudos continuem sendo realizados, há limites para atuação do rover Perseverance em Marte. Qual a principal complexidade para o avanço das pesquisas?
Rosaly Lopes: É porque muitos sinais, como este, podem ter explicações abióticas. Isso quer dizer que não tem ação ou registro de vida, são processos químicos que podem ter ocorrido. Então é difícil provar, principalmente com essas medidas que o robô fez, que são muito limitadas. Você não pode mandar um grande laboratório para Marte, porque seria muito grande, muito pesado. Então, ainda tem a possibilidade de isso ser abiótico, e para saber com certeza mesmo nós temos que trazer a amostra de volta para a Terra.

Agência Brasil: A amostra recolhida pelo Perseverance, Cânion Safira, vem de uma rocha localizada em um vale onde há bilhões de anos passavam rios e lagos. E a comparação com os minerais decorrentes do metabolismo de vida microbiana nos leitos de rios aqui na Terra foram essenciais para os parâmetros de comparação com a amostra de Marte. Como estudar a origem da vida no nosso planeta pode nos ajudar com as missões em outros planetas e luas?
Rosaly Lopes: As pesquisas na Terra nos ajudam muito a pesquisar a possibilidade de vida em outros planetas. Então, por exemplo, as rochas antigas na Terra que mostram sinais de vida, que mostram que existiu vida naquela época antiga da Terra, todos os sinais estão lá nas rochas. Mas a aplicação para outros planetas realmente não é fácil, porque as condições são diferentes.
É muito importante que a gente pesquise se a vida evoluiu em outro planeta, porque até hoje nós não sabemos se a evolução da vida em um planeta é uma coisa muito fácil ou muito difícil. Porque nós só temos um exemplo e esse exemplo é a Terra. E você não pode fazer nenhuma estatística com só um exemplo.
Então, é um dos maiores, digamos, objetivos agora da Nasa, da nossa comunidade científica, é saber se existiu vida em outros mundos. Mas provar, principalmente sem trazer material de volta para a Terra, é difícil, porque existem, na maior parte do tempo, explicações, que o processo pode ter sido abiótico, quer dizer que não foi causado por vida.

Agência Brasil: Vamos falar um pouco sobre as próximas missões da Nasa. Estamos a caminho de missões importantes, como a Dragonfly, que vai sobrevoar Titã, com uma espécie de super drone. Essa lua de Saturno é formada por lagos e tem geologia muito semelhante à da Terra. Em que etapa dos preparativos estamos desta que é considerada a primeira missão aérea para outro mundo?
Rosaly Lopes:  A missão Dragonfly é uma missão com drone que vai a Titã e tem dentro desse drone vários instrumentos, como se fosse um pequeno laboratório para procurar material orgânico e possibilidades que a vida evoluiu em Titã, uma das luas de Saturno.
A missão foi confirmada e agora está sendo preparada para ser lançada por volta de 2028, 2029. Isso depende muito de orçamento, mas a missão já está confirmada. Isso quer dizer que a Nasa vai dar recursos para essa missão.
O objetivo principal da Dragonfly é achar sinais de que talvez a vida tenha evoluído em Titã. Será uma missão muito interessante, mesmo não achando esses sinais de vida, porque vai estudar muito sobre a geologia de Titã, que é uma das luas mais fascinantes do sistema solar.

Agência Brasil: Já a missão Psyque, lançada em 2023, pretende investigar um asteroide, entender a origem desse objeto rico em metais a orbitá-lo. Recentemente, tivemos informações de um objeto interestelar com comportamento considerado atípico em relação à trajetória e velocidade, o 3I/Atlas. Mas mesmo com características raras, e até teorias sobre um possível objeto não identificado, segundo artigos científicos trata-se de um cometa vindo de outro sistema solar. Existe algum tipo de preocupação com estes objetos celestes? Por que precisamos conhecê-los melhor?
Rosaly Lopes: Isso é muito interessante. Não é o primeiro objeto interestelar que nós achamos [antes, já foram localizados Oumuamua, em 2017; e 2I/Borisov, em 2019]. E pelas observações, achamos que realmente é um cometa. Mas seria muito interessante estudar esse objeto, porque ele vem de outro sistema solar. E isso nos daria a possibilidade de saber se os cometas em outros sistemas solares são realmente iguais aos do nosso sistema solar, ou se têm características diferentes.
O problema é que nós não temos ainda um jeito de lançar rapidamente uma missão para estudar esses objetos interestelares. Quando eles aparecem, é questão de meses e não, de anos para nós prepararmos uma missão. Mas nós vamos usar todas as missões possíveis que nós temos, que a Nasa tem, para tirar imagens do 3I/Atlas.
Inclusive a missão Psyche está se preparando para fazer imagens distantes, claro, desse cometa. Já se falou, entre os colegas cientistas, sobre a possibilidade de fazer uma nave que possa ser lançada rapidamente, caso um desses objetos interestelares venha de novo, mas ainda não se obteve os recursos para isso. A nave ficaria armazenada até um objeto interestelar vir e mesmo assim a trajetória pode ser difícil. Então, realmente há estes problemas que dificultam o lançamento de uma missão para um objeto interestelar como este.

Agência Brasil: A missão Artemis volta às incursões na Lua, inclusive com a presença, pela primeira vez, de uma astronauta, a Cristina Koch. Prevista para 2026, a missão vai sobrevoar o nosso satélite, mas segundo Sean Duffy, o administrador interino da Nasa, a ideia é voltar a deixar a pegada norte-americana na Lua. Como a senhora percebe a importância dessa representatividade das mulheres neste momento? Acredita que este é um impulsionamento para atrair mais meninas e mulheres dedicadas às ciências espaciais?
Rosaly Lopes:  A missão Artemis II, que a Cristina Koch vai, ela não vai pousar na Lua, ela vai sobrevoar ao redor da Lua. Eu acho a presença de uma mulher nesta missão muito importante, porque inspira mulheres, meninas, a seguir carreiras em ciência e tecnologia. Eu já tinha muito interesse em astronomia, mas uma coisa que foi uma grande inspiração para mim foi ler, em um jornal brasileiro, um artigo sobre uma moça que trabalhava em Houston, no Centro Espacial de Johnson, durante o programa Apollo. O nome dela é Poppy Northcutt, e eu a encontrei pela primeira vez em 2019, porque ela deixou a Nasa e se tornou advogada. Só  de ver uma foto e um pequeno artigo de jornal sobre uma mulher trabalhando no centro de controles da Nasa foi uma grande inspiração para mim.
Então, é muito importante porque é uma coisa que as mulheres têm que saber que elas podem fazer. É o caso também da primeira mulher astronauta, a Sally Ride, que infelizmente já faleceu, mas eu acho que ela inspirou muitas outras jovens na época. E uma coisa ainda sobre essa questão que eu sempre digo é que mulheres são, pelo menos, 50% da população. Então, não se deve excluir mulheres, 50% da população, de qualquer área, porque isso representa 50% dos talentos e da inteligência que pode ser usada para o bem da humanidade.

Clique aqui e leia mais sobre a missão Artemis

Agência Brasil: Por fim, o supertelescópio James Webb lançado em 2021 tem revelado imagens do Universo até então nunca vistas. Na sua avaliação, qual imagem ou descoberta é considerada a mais surpreendente até o momento?
Rosaly Lopes:  As imagens do James Webb são maravilhosas e é muito difícil escolher uma. É bom lembrar que, quando o James Webb foi proposto e depois construído, ele custou muito, muito caro e o orçamento foi lá em cima, triplicou (custo estimado de US$10 bilhões).
Muitos cientistas estavam contra fazer isso porque era muito caro e iria tirar recursos de outras possíveis missões. Mas, realmente, foi um enorme sucesso. Eu acho que, hoje em dia, todos os cientistas concordam que realmente valeu à pena. Valeu pelos recursos e pelo dinheiro investido nessa missão.
Às vezes, para realizar as missões que causam maiores avanços na ciência é necessário gastar bastante dinheiro. Então, eu acho que o James Webb foi uma história incrível de sucesso, tudo deu certo e os resultados são maravilhosos.

Clique aqui e leia mais sobre o supertelescópio James Webb

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Valinhos

Diretor da Defesa Civil fala sobre a Operação Estiagem em Valinhos

Com o avanço do período de estiagem, Valinhos intensifica suas ações para combater a crescente ameaça de incêndios. A Operação Estiagem, coordenada pela Defesa Civil, atua de maneira integrada com o Corpo de Bombeiros, a Guarda Civil Municipal e outras secretarias, para responder as ocorrências de incêndio neste período. Em entrevista à Folha de Valinhos, o diretor da Defesa Civil, Eduardo Matias, esclarece como a gestão de crises está sendo conduzida, desde a resposta a grandes ocorrências, como o incêndio na Mata da Tapera, até as estratégias de prevenção para a Operação Estiagem de 2025. Matias aborda a importância da conscientização da população, as medidas de alerta em períodos de baixa umidade, a comunicação entre os órgãos de segurança e as principais formas de a comunidade colaborar para prevenir desastres. A conversa detalha os esforços da prefeitura e a vulnerabilidade da região, especialmente após a tragédia na Serra dos Cocais, reforçando que a proteção da cidade é uma responsabilidade de todos.

FOLHA DE VALINHOS A respeito dos incêndios recentes, incluindo o que atingiu a Estação Ecológica Mata da Tapera, como a Defesa Civil e os outros órgãos de segurança estão lidando com a intensidade e a frequência desses eventos no início da Operação Estiagem?

EDUARDO A Operação Estiagem já prevê esse aumento na ocorrência de incêndios no período mais seco do ano. Temos atuado em conjunto com o Corpo de Bombeiros, a Guarda Civil Municipal, secretarias municipais, DEAV, através do Sistema Municipal de Proteção e Defesa Civil do município, bem como com órgãos de apoio da região e do Estado, além de contar com o apoio da comunidade.
A resposta tem sido integrada, com esforço e mobilização das equipes e campanhas de conscientização para reduzir o risco de novas ocorrências.

FV Estamos fechando agosto e entrando em setembro, com a mudança de estação, qual a sua expectativa em torno dessa mudança? Qual é a avaliação da operação até o presente momento?

EDUARDO Julho e Agosto costumam ser os meses mais críticos em relação à baixa umidade e ventos fortes. Com a chegada de setembro e a proximidade das chuvas, esperamos uma redução gradativa dos riscos. Até aqui, nossa avaliação da Operação Estiagem é positiva em comparação ao mesmo período do ano passado.

FV A tragédia do incêndio de 2024 na Serra dos Cocais e os recentes focos de incêndio mostram a vulnerabilidade da região. Que ações específicas foram reforçadas ou incluídas na Operação Estiagem 2025 para prevenir que eventos como o da Serra dos Cocais não se repitam?

EDUARDO Após aquele incêndio de grandes proporções, reforçamos o Plano de Contingência, ampliamos treinamentos com brigadistas, intensificamos rondas preventivas e melhoramos a integração entre Defesa Civil, Bombeiros, proprietários rurais e demais órgãos, criando estratégias de prevenção e respostas, orientando para a feitura de aceiros, formação de grupos de WhatsApp, capacitação com treinamento teórico e prático e novas estratégias de comunicação para agilizar a tomada de decisão.

FV A baixa umidade e os ventos fortes são fatores que aceleram a propagação do fogo. A Operação Estiagem prevê medidas adicionais de alerta para a população e ações de resposta rápida quando as condições climáticas são mais críticas?

EDUARDO Sim. Trabalhamos com alertas emitidos pela Defesa Civil do Estado e pelo INMET, bem como com o monitoramento da estação Meteorológica Automática instalada aqui no município, a qual nos aponta, além de outros dados, a Umidade Relativa do Ar. Quando identificamos risco elevado, divulgamos avisos preventivos em nossas redes e grupos de comunicação. Além disso, mantemos equipes em sobreaviso para resposta imediata.
Neste período de estiagem existem critérios estabelecidos sobre a URA, sendo: acima de 30% estado de Observação; de 30% a 20% estado de Atenção; 20% a 12% estado de Alerta; abaixo de 12% Emergência.

FV Além do risco de incêndios, as queimadas têm um impacto direto no clima, na qualidade do ar e na saúde pública. Como a Defesa Civil de Valinhos tem trabalhado na conscientização da população sobre as consequências a longo prazo das queimadas urbanas e florestais?

EDUARDO Temos atuado em campanhas educativas como palestras nas escolas, mídias locais e redes sociais, explicando os efeitos das queimadas na saúde, como problemas respiratórios, e no meio ambiente. Também reforçamos que a queimada urbana é crime ambiental e pode ser denunciada pelos telefones 193, 199 e 153.

FV O Sr. Eduardo Matias mencionou que “Defesa Civil somos todos nós”. Na prática, quais são as formas mais eficazes para a sociedade civil colaborar com a Defesa Civil na prevenção de incêndios?

EDUARDO A principal forma é a conscientização e a prevenção: não fazer queimadas, não soltar balões, descartar (anteriormente “descartar”) corretamente o lixo e não jogar bitucas de cigarro em áreas de vegetação. Realizar a limpeza de terrenos. Além disso, a população pode colaborar acionando o 193, 199 e 153 diante de qualquer princípio de incêndio ou situação de risco.

FV Com o Plano de Contingência (PLANCON) e os canais de comunicação, como o telefone 199, como a Defesa Civil pretende aumentar o engajamento da população para que as denúncias e informações cheguem mais rapidamente? Existe alguma campanha ou iniciativa de educação planejada para esse fim?

EDUARDO Sim. Estamos intensificando a divulgação do 199 através de palestras em empresas e escolas, distribuição de panfletos e cartazes, participação em Podcasts (anteriormente “PodCast”), jornais e redes sociais.

FV A atuação do Corpo de Bombeiros é essencial no combate aos incêndios. Qual é o nível de integração e coordenação entre a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros de Valinhos, especialmente durante eventos de grande proporção, como os que ocorreram na Serra dos Cocais e na Mata da Tapera?
EDUARDO A integração é total. Trabalhamos lado a lado, desde o monitoramento até a resposta. A Defesa Civil atua na coordenação e logística, enquanto o Corpo de Bombeiros comanda a linha de frente no combate. Esse trabalho conjunto garante maior eficácia e rapidez na resposta.

FV A parceria com órgãos como o Corpo de Bombeiros e a Guarda Ambiental e Polícia Ambiental é fundamental. Como a Operação Estiagem 2025 fortalece a comunicação e a logística entre essas equipes para garantir uma resposta mais ágil e eficaz?

EDUARDO Implementamos um sistema de comunicação direta entre os órgãos, agilizando o despacho de equipes. Também definimos pontos de apoio logístico, com água e equipamentos, próximos a áreas críticas, para reduzir o tempo de resposta.

FV Recentemente, o comando do Corpo de Bombeiros alertou sobre o perigo de bitucas de cigarro e outros resíduos. A Defesa Civil de Valinhos e o Corpo de Bombeiros têm alguma iniciativa conjunta para fiscalizar e conscientizar sobre esses pequenos atos que podem iniciar grandes incêndios?

EDUARDO Sim. Participamos de maneira integrada na Operação Corta Fogo do Estado de São Paulo, em reuniões de treinamento e capacitação para profissionais envolvidos nestes tipos de ocorrências. Realizamos campanhas conjuntas destacando justamente o impacto de pequenas atitudes. Também atuamos com a Guarda Civil Municipal e a Guarda Ambiental na fiscalização e na aplicação de penalidades previstas em lei, quando necessário.

FV Em um cenário de incêndios simultâneos ou de grande magnitude, como o que atingiu a Estação Ecológica Mata da Tapera e outros dois pontos na região, a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros de Valinhos possuem um plano de contingência para alocação de recursos e solicitação de apoio de cidades vizinhas ou de outros órgãos?

EDUARDO Sim, em caso de ocorrências de médio e grande impacto, tanto o Corpo de Bombeiros, quanto a Defesa Civil, além das secretarias municipais e DAEV, também contam com apoio de equipes de outros municípios e órgãos quando necessário. Com essa (anteriormente “mesmo”) rede de apoio em cenários críticos, temos condições de resposta coordenada.

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Alternativa

Roseline D’Avila: O legado da bibliotecária de Valinhos

A Câmara Municipal de Valinhos realizou, na última quinta-feira, dia 21, uma emocionante cerimônia para homenagear Roseline D’Avila com o título de Cidadã Honorária, a maior honraria concedida pela cidade. Aos 81 anos, Roseline é reconhecida como a primeira bibliotecária do município e uma das principais responsáveis por moldar a cultura literária local.
Em uma entrevista exclusiva à Folha de Valinhos, a homenageada relembrou sua jornada de 37 anos à frente da Biblioteca Municipal. Ela compartilhou os desafios de uma época sem internet e computadores, onde foi a responsável por catalogar e organizar o acervo para a população. Com toda a certeza, sua paixão pelos livros e a dedicação à educação transformaram o local em um refúgio para milhares de estudantes. A cerimônia na Câmara, por fim, marcou o reconhecimento oficial de sua trajetória e do impacto positivo que ela deixou na história cultural de Valinhos.

FOLHA DE VALINHOS A senhora está sendo homenageada com o Título de Cidadã Honorária, a maior honraria da cidade. O que significa, para a senhora, receber esse reconhecimento após tantos anos de dedicação à Biblioteca Municipal?

ROSE Jamais pensei trabalhar em Valinhos ou ainda morar nesta cidade. Mas o destino me trouxe a esta querida cidade que foi o meu “Porto Seguro”. Aqui me casei com o Fernando, tivemos dois filhos maravilhosos, família, amigos e durante 37 anos trabalhei com todo o meu afinco e dedicação para a formação de crianças e adolescentes. Foram certamente milhares que passaram pelas minhas mãos através da Biblioteca Pública Municipal Dr. Mário Correa Louzada.

FV A senhora foi a primeira bibliotecária de Valinhos em uma época em que não havia internet. Como era o trabalho de pesquisa e empréstimo de livros naquela época, e qual era a sua rotina para atender a população, especialmente os estudantes?

ROSE Na época não havia computadores e muito menos internet. Abrir um livro e folhear suas páginas era uma viagem maravilhosa. O trabalho era intenso uma vez que todos os livros eram catalogados para serem colocados nas estantes. Cada livro tinha o seu lugar e os alunos realizavam pesquisas e trabalho escolar, especialmente nas enciclopédias. Criamos também as carteirinha e o empréstimo domiciliar 10 dias para livros contos e romances e 15 dias para livros didáticos, com possibilidade de renovação. Caneta era proibida na Biblioteca, apenas lápis preto.

FV Conta a história que a inauguração da Biblioteca aconteceu de forma improvisada, com estantes emprestadas. Poderia nos contar um pouco sobre o desafio de montar a biblioteca do zero e como a senhora conseguiu superar essas dificuldades?

ROSE A Biblioteca foi inaugurada por ocasião da Festa do Figo pelo prefeito Luiz Bissoto em 17 de janeiro de 1971 e ficava em cima dos Correios. Como o tempo era exíguo conseguimos emprestar as estantes da Escola de Cade tes do Exercito para a inauguração.

FV A Biblioteca Municipal foi nomeada em homenagem ao Dr. Mário Correa Lousada, idealizador do projeto. A senhora teve a oportunidade de trabalhar com ele ou conhecer sua visão para a biblioteca? Como o legado dele influenciou o seu trabalho?
ROSE Dr. Mário Louzada liderava a comissão de Literatura e Biblioteca criada no final do governo do prefeito Vicente Marchiori e tendo como membros Dunga Santos, Alcides Acosta, Ademir Fazani, Amélio Borin, Telmo Marchiori, dona Zélia Louzada e José Bertarello. Com a morte do dr. Mário esta comissão resolveu homenagea-lo com a sua denominação, uma enorme conquista, uma vez que Valinhos não contava com uma biblioteca.

FV A campanha para a criação da biblioteca mobilizou a sociedade valinhense. Como a senhora percebia esse engajamento da comunidade e a importância da imprensa local, como a Folha de Valinhos, nesse processo?

ROSE A Folha de Valinhos, único semanário da época, através do jornalista Aparecido Portela, teve um papel primordial na divulgação da Biblioteca com várias reportagens , mobilizando as empresas na doação de recursos para a compra de livros e enciclopédias. Antes da inauguração este semanário publicava em destaque “Industrias doam 8 mil cruzeiros para a Biblioteca Pública”.

FV A senhora foi responsável pelos grandes concursos de prosa e poesia que revelaram talentos literários na cidade. Como esses eventos surgiram e qual era o impacto deles na vida cultural de Valinhos?

ROSE Na realidade foi o prof. Antonio Stopiglia que teve a idéia do concurso de Prosa, Poesia e Desenho da Capa e que com a participação das Escolas e toda a equipe da Biblioteca houve uma mobilização geral com enorme sucesso. Foram 12 anos com a publicação de livros em 10 edições, dentro das comemorações da Semana Nacional do Livro e da Biblioteca. Uma equipe de professores liderada pelo professor Muller julgava os trabalhos, livros impressos e a Noite de Autógrafo era especial

FV A biblioteca já funcionou em diferentes locais. Qual a sua lembrança mais marcante de cada um desses espaços e como a mudança de endereço afetou a experiência dos leitores e a dinâmica da biblioteca?

ROSE O primeiro local no Largo São Sebastião foi marcante pela sua referência. Mas a ida em 2001 para a Rua Itália para o antigo prédio da Casa da Cultura foi especial. Local amplo. Com várias salas, inclusive a criação da Biblioteca Infantil com um acervo de 17 mil livros, 600 vídeos, hemeroteca com as inúmeras pastas de recortes de jornais e um atendimentos de até 250 usuários diariamente, principalmente jovens estudantes.

FV Qual era a maior dificuldade em formar e manter um acervo relevante para a comunidade, e como a senhora trabalhava para resolver essa questão?

ROSE Como Bibliotecária precisava ficar muito atenta aos novos lançamentos de livros, revistas e jornais. Apesar da verba ser escassa, bem pouca, procurávamos comprar obras atuais já que a busca era intensa pelos usuários ávidos por leitura e pesquisa de trabalhos escolares.

FV A Biblioteca de Valinhos completa 55 anos no dia 16 de janeiro. Qual a sua principal lembrança sobre o aniversário da biblioteca e o que essa data significa para a senhora?

ROSE São muitas lembranças ao longo dos 37 anos à frente da Biblioteca como a presença do internacional Flávio de Carvalho no prédio do Largo São Sebastião, do Palhaço Arrelia, a parceria com a Secretaria de Cultura e Turismo para a escolha do Concurso do Hino Oficial de Valinhos, além da implantação da Hora do Conto, e tantos outros inúmeros eventos. Vale salientar que as primeiras reuniões da Nova Escola, hoje Colégio Inovati aconteceram na Biblioteca e fomos nós, Pedro Celso Alves e eu que pedimos o terreno onde está a escola para a querida e saudosa Heloisa de Carvalho.

FV A senhora acompanhou a evolução da biblioteca por décadas. Na sua visão, quais foram as mudanças mais significativas ao longo dos anos e como a biblioteca se adaptou à chegada da tecnologia e da internet?

ROSE Quando me aposentei foi a época que chegaram os primeiros computadores. Assim foi muito pequena a minha participação nessas novas tecnologias. Minha grande companheira foi a boa e velha máquina de escrever. Muitos afirmaram que a chegada da era digital iria acabar com os livros impressos. Apesar da diminuição considerável do prelo, o livro impresso é maravilhoso, folhear suas páginas, sentir o cheiro do livro novo e percorrer as estantes das bibliotecas e até mesmo bons sebos, só nos deu grandes alegrias.

FV Qual a mensagem mais importante que a senhora gostaria de deixar para os jovens de hoje, que têm acesso a um universo de informações digitais, sobre a importância da leitura e do livro físico?

ROSE Antes de encerrar quero agradecer aos vários funcionários e patrulheiros que passaram ao longo dos anos pela Biblioteca Pública Municipal Dr. Mário Correa Louzada. Não vou citar nomes, pois certamente irei esquecer de alguns, mas tenham certeza uma equipe maravilhosa ao logo dos anos nos acompanhou.

O mundo passou por inúmeras transformações, especialmente na era digital, mas somente a educação transforma as pessoas e diminui as desigualdades sociais. “A leitura é para o intelecto o que o exercício é para o corpo“ Josep Addison.

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