Alimentação

Saúde

Ultraprocessados são necessários para garantir o consumo proteico de veganos?

Estudo da USP mostra que, muitas vezes, esses indivíduos recorrem a itens poucos saudáveis para assegurar o aporte de proteínas; saiba quais são os pontos de atenção

Por Thais Szegö, da Agência Einstein

Seja por questões ambientais, seja para se alimentar de forma mais saudável, o número de vegetarianos é crescente no mundo todo. De acordo com uma pesquisa da Sociedade Vegetariana Brasileira, entre 2012 e 2018, houve um salto de 75% dessa população no país — incluindo aqueles que excluem apenas carnes, os vegetarianos, e os que não consomem qualquer produto de origem animal, os veganos.

Por isso, a oferta de produtos voltados a esse público nos supermercados também é crescente. “É fato que a alimentação vegana tem se tornado mais comum, e discute-se muito se os adeptos são capazes de atingir as necessidades diárias de proteína e aminoácidos essenciais”, diz o nutricionista e fisiologista clínico do exercício Hamilton Roschel, que liderou uma pesquisa na Universidade de São Paulo (USP) publicada no Jama Network Open.

O trabalho avaliou o consumo alimentar de 774 pessoas veganas a partir de um recordatório alimentar, que registra tudo o que se consome ao longo de um dia típico. Com esses dados em mãos, os pesquisadores puderam quantificar não apenas os nutrientes ingeridos, mas também a contribuição calórica por grau de processamento (alimentos in natura e minimamente processados, processados e ultraprocessados).

Os resultados mostraram que a maioria dos participantes atende às recomendações de ingestão de proteínas e aminoácidos essenciais – moléculas que formam as proteínas, mas que não são produzidas pelo corpo e têm funções específicas no metabolismo.

Observou-se, ainda, que a maioria da energia diária – 66% das calorias ingeridas – dos veganos é proveniente de alimentos in natura, ou seja, que não sofrem alterações para ser consumidos; e minimamente processados, aqueles que passaram apenas por processos que não envolvem adição de sal, gordura, açúcar ou outras substâncias.

Outro achado é que os que ingeriam menos ultraprocessados eram mais propensos à inadequação do consumo de proteínas. “O fato de o estudo ter apontado que muitas pessoas com esse tipo de alimentação atingem a quantidade recomendada de proteínas, mas com a dependência de alimentos ultraprocessados, faz sentido em um contexto em que fontes vegetais integrais, embora ricas em nutrientes, podem ter uma densidade proteica mais baixa em relação às de fonte animal, exigindo porções maiores para alcançar as metas nutricionais”, afirma Serena del Favero, nutricionista do Espaço Einstein, unidade de esporte e reabilitação do Hospital Israelita Albert Einstein.

Segundo a pesquisa, os principais ultraprocessados consumidos pelos veganos analisados são a proteína texturizada de soja e os suplementos proteicos à base de plantas. “Embora tenhamos encontrado valores de consumo de alimentos ultraprocessados menores entre veganos quando comparados a dados populacionais, esses itens parecem assumir algum grau de relevância no atendimento à necessidade nutricional de proteínas desses indivíduos”, observa Roschel.

Os ultraprocessados têm sido investigados pelo número crescente de evidências de que seus altos teores de açúcar, sódio, gordura e aditivos químicos têm relação com o aumento de casos de obesidade, diabetes, câncer e outros males.

No dia a dia do consultório, a nutricionista do Einstein tem observado o maior consumo desses produtos por pacientes veganos para garantir o aporte proteico necessário. “Isso é particularmente comum em quem busca praticidade, já que ultraprocessados são mais fáceis de preparar e podem ser consumidos rapidamente”, conta del Favero.

Embora a proteína texturizada de soja e os suplementos à base de planta sejam considerados ultraprocessados, não há evidência de que eles possam causar os mesmos efeitos negativos que os ultraprocessados típicos — caso de salgadinhos, biscoitos recheados e bebidas prontas, por exemplo.

Outros alimentos proteicos consumidos frequentemente foram os substitutos de produtos cárneos, como bifes, hambúrgueres e linguiças veganas. Esses costumam — embora não seja uma regra — ter um perfil nutricional desbalanceado e podem ser deletérios para a saúde se consumidos em excesso”, diz o professor da USP.

Como fazer boas escolhas

Apesar de os ultraprocessados funcionarem como atalhos, uma alimentação mais natural, com ingredientes que também são boas fontes de proteínas — como leguminosas, grãos integrais, sementes e oleaginosas —, oferece uma qualidade nutricional superior.

Tofu e tempeh são excelentes opções à base de soja, menos processadas e versáteis para uso culinário. Outras alternativas incluem a farinha de grão-de-bico, a levedura nutricional, as algas e os vegetais verdes-escuros, que complementam a ingestão proteica e de nutrientes importantes, como o ferro.

A combinação de diferentes fontes vegetais ao longo do dia ajuda a garantir todos os aminoácidos essenciais de forma equilibrada e natural. Se mesmo assim a inclusão de ultraprocessados for necessária, a orientação é checar o rótulo com cuidado, analisando os ingredientes e a composição nutricional do produto.

“O objetivo é incentivar um consumo mais equilibrado, reduzindo a dependência dos ultraprocessados sem ignorar completamente seu papel em uma rotina vegana moderna”, afirma Serena del Favero.

Na hora da compra, siga as seguintes dicas:

  1. Priorize produtos com listas de ingredientes curtas e simples

É ideal que ingredientes como soja, ervilha e grão-de-bico apareçam entre os primeiros itens, indicando ser o componente principal. Evite aqueles que têm muitos nomes desconhecidos ou complicados, que indicam maior nível de processamento.

  1. Fique de olho no sódio

Alimentos ultraprocessados frequentemente têm níveis elevados desse ingrediente para conservar e realçar o sabor.

  1. Atenção às gorduras

Cheque sempre a quantidade de gorduras e evite itens com gorduras trans e altos níveis de saturadas.

  1. Aposte nas fibras

Escolha produtos que também sejam ricos em fibras, já que muitos ultraprocessados podem perder essa substância no processo de fabricação.

  1. Prefira alimentos fortificados com vitaminas e minerais

Produtos com doses extras de vitamina B12, ferro, cálcio e vitamina D podem ser boas escolhas para veganos, pois esses nutrientes são mais difíceis de se obter em uma dieta baseada em plantas.

  1. Maneire no açúcar

Cuidado com açúcares ocultos e evite os produtos com açúcar adicionado. Muitos ultraprocessados têm açúcar ou xaropes para melhorar o sabor.

  1. Nem todos os ultraprocessados são iguais

Varie as marcas e as opções e compare ingredientes e tabelas nutricionais, optando sempre pelas mais simples e com melhor perfil nutricional.

Fonte: Agência Einstein

COMPARTILHE NAS REDES

Saúde

Excesso de frutose favorece a inflamação, aponta pesquisa brasileira

A substância também é associada com o aumento do risco cardiovascular. Ao contrário do que muitos pensam, o perigo não está nas frutas, e sim nos industrializados

Um estudo realizado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e recém-publicado no periódico Nutrition chega para comprovar os prejuízos atrelados ao consumo excessivo de frutose. Esse tipo de açúcar é encontrado naturalmente nas frutas, mas tem sido adicionado em produtos como refrigerantes, sucos, cereais matinais, bolos, achocolatados, sorvetes, entre outros itens industrializados.

Após conduzir pesquisas com animais de laboratório, que apontaram uma associação entre o exagero na substância e processos inflamatórios, a equipe mineira realizou um ensaio clínico com 22 mulheres saudáveis, com idades entre 20 e 47 anos. Em ambiente ambulatorial, no complexo do Hospital das Clínicas da UFMG, as participantes receberam café da manhã padronizado e foi incluída uma bebida, desenvolvida para o estudo, rica em frutose.

Amostras de sangue foram coletadas em jejum e após 30, 60, 120 e 240 minutos da refeição. Para comparação, foram oferecidos preparados de glicose e depois de sacarose, com intervalos de alguns dias entre cada um. Os exames de sangue também se repetiram nas duas ocasiões. “Observamos que a frutose leva a um aumento mais significativo nas concentrações de triglicérides e de leucócitos quando comparada com a glicose e a sacarose”, relata a nutricionista Ana Maria S. Rodrigues, autora principal do trabalho.

Sobre os triglicérides, sabe-se que taxas elevadas dessas moléculas de gordura estão relacionadas com aumento do risco cardiovascular. Já os leucócitos, nossas células de defesa, ajudam a sinalizar inflamações.

Outros trabalhos também demonstraram um elo entre o exagero na frutose e danos à saúde. “Há uma relação com a síndrome metabólica”, comenta Rodrigues. A nutricionista refere-se ao distúrbio marcado por taxas elevadas de glicose e de colesterol, além de hipertensão arterial e gordura abdominal.

Gabriela Mieko, nutricionista do Espaço Einstein de Reabilitação e Esporte, do Hospital Israelita Albert Einstein, acrescenta mais itens à lista. “Existem evidências sobre o aumento no risco do diabetes tipo 2, além da esteatose hepática não alcoólica, que é o acúmulo de gordura no fígado, e ainda, com a elevação dos níveis de ácido úrico no sangue”, comenta.  Esse último pode levar ao desenvolvimento de gota, mal por trás da inflamação nas articulações.

Açúcar das frutas x açúcar dos refrigerantes

A frutose também aparece em diversos trabalhos pela relação com a obesidade. E é justamente por esse motivo que já tem até gente excluindo as frutas do cardápio, sem a menor necessidade. Por isso, é fundamental alertar sobre as diferenças entre a frutose que vem da natureza e aquela que tem aparecido nas gôndolas dos supermercados.

Pela classificação química, a frutose é um monossacarídeo. Significa que se trata de uma combinação de moléculas que forma um carboidrato simples, que apresenta absorção rápida pelo organismo.

Esse açúcar aparece nas frutas, no mel e até em algumas hortaliças. Mas, devido ao seu alto poder de adoçar e à capacidade de reter água, despertou a atenção de cientistas que o isolaram em laboratório, no século 19.

Sua popularidade aumentou mesmo com o surgimento do xarope de milho, na década de 1960. E foi a partir daí que passou a competir com a sacarose, oriunda da cana-de-açúcar, na formulação de produtos industrializados. Nesses itens, especialmente refrigerantes, sucos e afins, o que se vê é uma alta concentração da substância.

Já nas frutas, os teores são muito menores e há uma porção de vitaminas, sais minerais, antioxidantes, compostos bioativos e fibras, num mix benéfico. “A interação entre todas essas substâncias atenua a velocidade de absorção da frutose”, explica Mieko.

Não bastasse favorecer o equilíbrio glicêmico, essa mistura ajuda a combater processos inflamatórios. Inclusive, uma sugestão ao consumir frutas é não dispensar bagaço ou cascas, sempre que possível. Assim ocorre maior ingestão de fibras e se garante ainda mais os tais benefícios.

A nutricionista do Einstein chama a atenção para uma triste realidade do nosso país.  “As últimas Pesquisas de Orçamento Familiar (POF) mostram que os brasileiros têm consumido cada vez menos frutas, verduras e legumes”, lamenta. Por outro lado, observa-se o crescimento na ingestão de produtos classificados como ultraprocessados, que são ricos em todos os tipos de açúcar, incluindo a frutose.

Não custa reforçar a recomendação de diversos órgãos de saúde: abra mais espaço no cardápio para alimentos in natura e de origem vegetal.  Outra dica, sempre bem-vinda, é esmiuçar todos os detalhes dos rótulos de itens industrializados.

Embora a frutose apareça com seu próprio nome na lista de ingredientes, também pode vir com outras designações. “Xarope de milho, açúcar de fruta ou a sigla HFCS (do inglês High Fructose Corn Syrup) sinalizam a presença da substância”, ensina a nutricionista. Um olhar atento ajuda a evitar o excesso de frutose e os prejuízos atrelados e comprovados pela ciência.

Fonte: Agência Einstein

COMPARTILHE NAS REDES

Saúde

Beber café ao acordar faz mal? Sem comprovação, dúvida se espalha nas redes

A bebida tem sido associada com efeitos negativos ao equilíbrio do cortisol, o hormônio do estresse; saiba quanto é seguro consumir e os horários ideais

Por Regina Célia Pereira, da Agência Einstein

Embora diversos estudos tragam evidências sobre os benefícios atrelados ao consumo moderado de café, vira-e-mexe ele está na berlinda, acusado de danos à saúde. Há quem tenha deixado de bebê-lo ao acordar porque, há alguns anos, se disseminou a ideia de que a cafeína afeta negativamente o processo natural que leva ao despertar, propiciando, inclusive, uma maior tolerância à substância.

De acordo com essa corrente, o hábito estimularia ainda mais a secreção de cortisol, hormônio que já apresenta níveis elevados no nosso corpo logo cedo. E o resultado seria um desequilíbrio nesse mecanismo. Será mesmo?

“Ainda que exista alguma correlação indireta entre a ingestão de cafeína e a produção de cortisol, não há evidências de impactos importantes ao organismo”, afirma a endocrinologista Cláudia Schimidt, professora da pós-graduação do Hospital Israelita Albert Einstein. Os possíveis efeitos da substância sobre o hormônio estariam ligados apenas a pessoas sensíveis e com a ingestão exagerada.

“Trata-se de um movimento conhecido como terrorismo nutricional”, comenta Schimidt, lembrando que diversos alimentos são apontados como vilões da saúde. Num contexto saudável, o café tem sido associado à proteção cardiovascular e contra o diabetes, sem contar os ganhos cognitivos. Também há indícios de que ajude a combater a depressão e distúrbios neurodegenerativos.

Já o exagero esse, sim, traz prejuízos. “A cafeína, quando em demasia, pode causar taquicardia e, em alguns casos, arritmia, além de estar relacionada com a ansiedade”, destaca a nutricionista Letícia Ramalho, doutora pelo Laboratório de Cronobiologia e Sono, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e membro do Conselho de Nutrição da Associação Brasileira do Sono (ABSONO). Inclusive, vale destacar o uso indiscriminado da suplementação de cafeína, que é cada vez mais comum, e pode desencadear todos esses distúrbios.

Ramalho observa que, mesmo com todos esses sintomas, ainda assim não dá para estabelecer associação direta entre a bebida e a produção de cortisol. “Não se trata da mesma via de liberação”, diz.

Benefícios hormonais

Embora o cortisol seja lembrado, sobretudo, como o hormônio do estresse, ele desempenha funções essenciais ao organismo. “É liberado pela glândula suprarrenal, na corrente sanguínea, em resposta à ativação do sistema nervoso simpático, que é aquele acionado quando existe luta ou fuga”, explica a nutricionista. Assim, interfere na irrigação sanguínea, na pressão arterial, preparando o corpo para “correr ou atacar”.

Mas também está envolvido com o sistema imunológico, ajudando a combater inflamações, e atua no metabolismo da glicose, por exemplo. E, por contribuir para manter o organismo em estado de alerta, a regulação desse hormônio segue o nosso relógio biológico. “Sua produção começa a se elevar ainda na madrugada, atingindo o pico por volta das 8 horas da manhã e apresentando os menores níveis em torno das 11 horas da noite”, explica a endocrinologista do Einstein.

Ao anoitecer, com menor incidência de luz, entra em cena outro hormônio, a melatonina, que favorece o adormecer. Essas flutuações hormonais costumam ser ditadas pelo ritmo circadiano. “Não sofrem influência da alimentação, mas podem ser modificadas de acordo com os hábitos de sono, como nos trabalhadores noturnos”, comenta Letícia Ramalho.

Café e sono

Ao contrário da polêmica relacionada ao consumo de café logo cedo, ninguém questiona que saborear a bebida perto da hora de ir para a cama pode resultar em insônia. Apesar de o café não se resumir à cafeína – a bebida concentra compostos protetores, além de vitaminas e sais minerais –, a substância é sempre a mais destacada.

Pela classificação, a cafeína é um alcaloide e, mesmo que apresente ação antioxidante e anti-inflamatória, seu papel mais estudado é o de estimulante do sistema nervoso central.

A explicação por trás dessa atuação é a de que a substância bloqueia o efeito da adenosina. A adenosina, por sua vez, é uma molécula definida como neuromodulador, que reduz descargas nervosas, tornando mais lenta a liberação de neurotransmissores – os mensageiros químicos responsáveis pela comunicação entre os neurônios.

Em resumo, com a chegada da cafeína, as sensações de cansaço e a sonolência são suprimidas, dando lugar à disposição e agitação. Daí a dica de evitá-la à noite ou mesmo durante a tarde. Os últimos achados da literatura científica recomendam consumir café, no máximo, entre sete e nove horas antes de ir dormir. “Em geral, o limite para a última xícara seria por volta das 15 horas”, orienta a nutricionista.

Tudo vai depender, claro, da rotina de cada um. Quanto à quantidade de cafezinhos, algumas diretrizes sugerem três ou até quatro xícaras diárias para um adulto saudável. Indica-se ainda não ultrapassar a marca de 400 mg de cafeína por dia.  Em média, uma xícara (150 ml) de café coado costuma apresentar 100 ml da substância. O tipo expresso concentra a maior quantidade, numa xícara (75 ml) há cerca de 150 mg.

Não custa reforçar que, sem excessos, o café pode ser um grande aliado da saúde.

Fonte: Agência Einstein

COMPARTILHE NAS REDES

Saúde

Por que o leite não deve ser banido do seu cardápio, segundo a ciência

Novo estudo absolve os laticínios do risco de pré-diabetes; outros trabalhos mostram que leite e seus derivados não favorecem males cardiovasculares e inflamações

 Por Regina Célia Pereira, da Agência Einstein

Relatos históricos dão conta de que o ser humano começou a beber leite em 5000 a.C., período em que se originou a prática da ordenha. Ultimamente, porém, essa convivência milenar tem sido abalada por um movimento conhecido como terrorismo nutricional, que coloca diversos alimentos como vilões.

Por outro lado, despontam pesquisas mostrando que os lácteos não devem ser banidos do cardápio sem respaldo médico. Afinal, eles oferecem muitos benefícios. Um dos estudos mais recentes, publicado em novembro no periódico científico Clinical Nutrition, absolve grande parte dos laticínios de favorecer o surgimento do pré-diabetes.

O trabalho traz, inclusive, um elo entre o consumo de leite desnatado e a redução do risco da doença. Mas mostra, por sua vez, que o excesso de lácteos ricos em gordura pode ser prejudicial.

O pré-diabetes é um distúrbio metabólico marcado por níveis alterados de glicose no sangue, mas que não ultrapassam os limites da classificação para o diabetes. É diagnosticado por meio de exames laboratoriais. Se detectado ainda no estágio inicial, mudanças no estilo de vida – prática de exercícios e alimentação saudável – podem reverter a situação e normalizar a glicemia. No entanto, quando não é identificado precocemente, tende a evoluir para o diabetes tipo 2, doença vinculada a males circulatórios, renais e oculares.

Para chegar à conclusão, pesquisadores europeus avaliaram dados de 7.521 participantes oriundos de um grande estudo britânico, o Fenland.  Ainda que se trate de uma associação, que não estabelece uma relação de causa e efeito, o trabalho levanta hipóteses promissoras.

Já sobre o elo dos laticínios com males cardiovasculares, há evidências de que, dentro do equilíbrio, não aumenta o risco — inclusive, um estudo nacional, o Elsa-Brasil, aponta benefícios às artérias. E quanto à relação com processos inflamatórios, ainda não há comprovação científica de que a ingestão sirva de estopim.

“Entretanto, para quem apresenta alergias ou intolerâncias, o leite pode, sim, favorecer inflamações”, comenta a nutricionista Daniela Boulos, da Unidade de Check-Up do Hospital Israelita Albert Einstein. Além disso, segundo a nutricionista, a caseína – principal proteína da bebida – pode estar por trás de desconfortos, sobretudo em organismos mais sensíveis. “Ela costuma ser difícil de digerir”, diz.

Mas nada de agir por conta própria. “Antes de restringir lácteos no dia a dia, é fundamental buscar o diagnóstico certeiro”, orienta Carla Muroya, nutricionista do Programa Obesidade e da Unidade Check-up do Hospital Israelita Albert Einstein.

Alergia x intolerância

No caso de alergia, o que ocorre é uma resposta diferenciada do sistema imunológico frente à proteína e que dispara a produção de uma série de mediadores inflamatórios responsáveis por reações exacerbadas. Sintomas como vômitos, diarreia e até falta de ar são comuns. Os exames laboratoriais, assim como o teste de provocação, ajudam a bater o martelo.

Já a intolerância à lactose se dá porque o organismo produz pouca enzima lactase, a responsável pela quebra da famosa substância, que é um tipo de açúcar. Distensão abdominal, flatulência e desarranjos intestinais são exemplos de distúrbios desencadeados. Aqui, além de avaliação clínica, testes respiratórios, de glicose e até genéticos são indicados para flagrar o problema.

Afora essas situações e quando não há nenhum mal-estar decorrente da ingestão de lácteos, não existem motivos para excluí-los. A restrição pode até trazer prejuízos.

Um mix de nutrientes

O leite e seus derivados concentram nutrientes essenciais à saúde, tanto que as diretrizes alimentares recomendam três porções diárias. Um dos maiores destaques é o cálcio, mineral reconhecido pelo seu papel no esqueleto. Trata-se do principal nutriente da mineralização dos ossos, contribuindo para fortalecê-los.

O cálcio ainda está envolvido nas contrações musculares, daí ser indispensável, especialmente aos praticantes de atividade física. E há evidências de que favorece o controle da pressão arterial.

Laticínios também ofertam proteína, sobretudo a já citada caseína. Proteínas, em geral, são fundamentais para a formação de tecidos, manutenção dos músculos e colaboram para a sensação de saciedade.

Vale mencionar que lácteos são fontes de vitaminas: oferecem vitamina A, algumas integrantes do complexo B, além de pequenas quantidades da vitamina D, numa mistura que, entre outros atributos, beneficia a saúde óssea e a imunidade.

A lista ainda não acabou. “Outro nutriente que marca presença é a gordura, sobretudo a saturada”, aponta Daniela Boulos. E esse tipo, quando consumido em excesso, pode cooperar para o aumento nas taxas de colesterol e prejudicar as artérias.

Para indivíduos adultos, a sugestão é optar pelo leite na versão desnatada. Queijos mais magros, como o minas frescal, o cottage e a ricota, também estão entre os lácteos recomendados.

Um olhar atento aos rótulos é mais um conselho das especialistas. Ainda assim, a parcimônia é sempre bem-vinda. Exageros podem pôr tudo a perder — assim como para diversos outros alimentos.

Fonte: Agência Einstein

Clique aqui para seguir o Canal FV Conecta da Folha de Valinhos 

COMPARTILHE NAS REDES

Saúde

Saiba como evitar refluxo após a ceia de Natal

Médico dá dicas para quem sofre com a doença

As delícias das ceias de Natal e Ano novo podem se tornar um grande problema para quem sofre com refluxo. Pratos mais gordurosos, bebidas com gás e nossa tendência ao exagero podem ativar o problema.

Segundo o Ministério da Saúde, neste ano, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou atendimento de 62 mil pacientes com sintomas na Doença do Refluxo Gastroesofágico. Mais de 3.200 tiveram que ser internados.

Quem tem refluxo precisa ter uma atenção maior com pratos como tender, pernil, salpicão com muita maionese, espumante, chocolate, especialmente em excesso, conforme o médico endoscopista Hugo Guedes.

“Esses alimentos acabam piorando o refluxo porque, de alguma forma, ou eles aumentam a demanda de produção de ácido para serem digeridos ou podem potencializar em grande volume o retorno do ácido que está no estômago para o esôfago. Então, a gente tem que tomar cuidado com esse tipo de alimento na ceia de Natal”.

Não é preciso deixar de aproveitar a ceia. O médico recomenda comer em menor quantidade, não beber durante a refeição, dar um intervalo de 30 minutos, pelo menos, antes ou depois de comer.

Se a pessoa passar mal, a orientação é dar tempo para a digestão.

“Tente aí manter um tempo de jejum para que possa ter a passagem do alimento para a intestino e a digestão possa acontecer. Não deite logo após se alimentar. Fique um tempo sentado, caminhadas leves ou atividades leves podem ajudar. E, caso os sintomas não melhorem, você pode recorrer aos medicamentos, inicialmente com os antiácidos, e, em casos mais sintomáticos, os protetores gástricos propriamente ditos”, afirma Hugo Guedes.

Sintomas

Os sintomas típicos do refluxo são queimação no estômago, azia, dor no peito, enjoo, regurgitação, tosse, pigarro e sensação de garganta arranhada.

Se as dores ou os sintomas não melhorarem, é necessário procura um médico para o tratamento correto.

COMPARTILHE NAS REDES

Saúde

Anvisa divulga dicas para preparar e consumir alimentos das ceias de fim de ano

Objetivo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária é garantir segurança sanitária e saúde no prato

Nesta época do ano, a cozinha costuma ser um dos cômodos mais concorridos das casas. A ceia é uma tradição que reúne familiares e amigos ao redor da mesa. Então, para garantir que tudo corra bem, é essencial observar a segurança sanitária durante a preparação e o consumo dos alimentos.

Vamos começar do início? Estamos falando das compras! Veja se os produtos estão dentro da validade e conservados nas temperaturas e condições adequadas. É importante também verificar se as embalagens estão íntegras, sem sinal de danos, como umidade, furos e rasgos. Aproveite e espie os rótulos. A lupa na frente da embalagem chama a atenção para altos teores de açúcares adicionados, gordura saturada e sódio.

Em casa, guarde os produtos conforme as orientações do fabricante, que estão presentes no rótulo. Alimentos conservados em temperaturas superiores às necessárias podem ser foco de multiplicação de micróbios.

Higienização das mãos

Lave as mãos antes de iniciar a preparação dos alimentos. Essa dica também é válida após a realização de outras atividades, como abrir a porta, ir ao banheiro e utilizar eletrodomésticos, por exemplo. É fundamental higienizar também bancadas, superfícies e utensílios que serão utilizados, como facas e tábuas para corte. A higienização é importante porque os micróbios das mãos e do ambiente podem contaminar os alimentos e provocar as chamadas doenças de transmissão hídrica e alimentar (DTHAs).

Crus e cozidos: cada um no seu lugar

Evite o contato de alimentos crus com alimentos cozidos. Além disso, lave os utensílios usados no preparo de alimentos crus antes de utilizá-los em alimentos cozidos. Isso deve ser feito porque os alimentos crus podem conter micróbios perigosos. A intenção é não transferir os possíveis micróbios dos alimentos crus para os cozidos durante a preparação. Na hora de armazená-los, vale a mesma regra: guarde os alimentos crus e os cozidos em embalagens ou recipientes exclusivos e fechados.

Frutas e verduras costumam carregar micróbios do seu ambiente natural. Por isso, é importante lavar esses alimentos em água corrente para retirar as sujeiras visíveis (terra e insetos) e, depois, deixá-los de molho em uma solução própria para sanitização e enxaguá-los. Cuidado! Leia o rótulo do sanitizante, veja se o produto está regularizado na Anvisa, se há indicação para uso em alimentos e siga as orientações de diluição e tempo de contato.

Mexendo a panela

O cozimento dos alimentos é um ponto importante para garantir a sua segurança sanitária. A comida deve atingir uma temperatura que seja adequada para matar os micróbios mais nocivos. Por isso, recomenda-se cozinhar bem as carnes. Para ter certeza do completo cozimento, verifique a mudança na cor e a textura na parte interna do alimento. No caso de carnes bovinas e de aves, tome cuidado para que as partes internas não fiquem cruas (vermelhas). Os sucos dessas carnes devem ser claros e não rosados.

Ceia pronta e conservação

A tenção à temperatura e ao tempo para servir os quitutes. Os micróbios se multiplicam rapidamente em temperatura ambiente. Alimentos quentes devem ser mantidos até a hora de servir em temperatura alta (acima de 60ºC) e alimentos frios, em temperaturas mais baixas (abaixo de 5ºC).  Procure diminuir ao máximo o tempo entre o preparo e o consumo dos alimentos. Não dê chance para que os micróbios acabem com a sua festa.

Sobrou comida? Guarde os alimentos cozidos e os perecíveis na geladeira (abaixo de 5ºC). O prazo máximo de consumo do alimento preparado e guardado sob refrigeração deve ser de cinco dias. Não descongele alimentos à temperatura ambiente. O descongelamento deve ser realizado em condições de refrigeração, em temperatura inferior a 5ºC, ou em forno de micro-ondas, quando o alimento for submetido imediatamente ao cozimento.

Por que não pode tirar um alimento do freezer e colocar sobre a bancada da pia para degelar até a hora do preparo? Porque os micróbios se multiplica m rapidamente se os alimentos estiverem em temperatura ambiente. Mantendo a temperatura abaixo dos 5ºC e acima dos 60ºC, sua multiplicação é retardada e até evitada.

DTHAs

As doenças de transmissão hídrica e alimentar (DTHAs) são provocadas pelo consumo de alimentos ou água com micróbios prejudiciais à saúde, parasitas ou substâncias tóxicas. No geral, eles entram em contato com o alimento durante a manipulação e o preparo. Daí a importância de se manter os ambientes limpos e higienizados. Os sintomas mais comuns das DTHAs são vômito e diarreia, além de dores abdominais, dor de cabeça, febre, alteração da visão e olhos inchados, entre outros. No caso de adultos sadios, as DTHAs duram poucos dias e não deixam sequelas. Para crianças, grávidas, idosos e pessoas doentes, as consequências podem ser mais sérias. Por isso, é melhor prevenir do que remediar.

COMPARTILHE NAS REDES

Saúde

Carnes processadas elevam risco de hipertensão, mostra estudo brasileiro

Trabalho pioneiro aponta elo entre o consumo de embutidos e a doença cardiovascular. Confira o que não deve faltar no cardápio para ajudar a equilibrar a pressão arterial

Por Regina Célia Pereira, da Agência Einstein

O consumo moderado das chamadas carnes processadas é suficiente para aumentar o risco de hipertensão arterial, segundo estudo publicado no periódico científico Nutrition.  Entre os integrantes desse grupo estão linguiça, salsicha, mortadela, presunto, hambúrguer, copa, salame, bacon e, inclusive, itens considerados “inofensivos”, caso do blanquet e do peito de peru.

Para estabelecer a relação, foram utilizados dados vindos do ELSA-Brasil (Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto), pesquisa que acompanha, desde 2008, mais de 15 mil servidores públicos e aposentados de universidades e instituições localizadas nos estados da Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo.

Além de informações – obtidas por meio de questionários – sobre estilo de vida, com destaque para hábitos alimentares, foram esmiuçados dados de exames clínicos, como a medida da pressão arterial, e análises de níveis de colesterol, potássio e sódio, por exemplo.

Entre os grandes consumidores de carnes processadas, observou-se uma maior incidência de hipertensão arterial. “Também avaliamos a ingestão de carnes vermelhas, mas não encontramos essa relação”, comenta a autora do estudo, a enfermeira Michelle Izabel Ferreira Mendes, da Universidade Federal de Ouro Preto, em Minas Gerais.

Segundo Maria del Carmen Bisi Molina, nutricionista e orientadora do trabalho, trata-se do primeiro estudo longitudinal – que usa dados de indivíduos seguidos por longos períodos – a investigar tal associação no país. “As descobertas reforçam o papel da dieta na prevenção de doenças”, afirma Molina.

Sobre os mecanismos por trás do elo, a principal hipótese é a alta concentração de sódio encontrada nesses alimentos. Apesar de desempenhar funções essenciais, inclusive ao sistema nervoso, extrapolar a quantia desse mineral favorece a retenção de água e, quanto maior o volume líquido na corrente sanguínea, maior a probabilidade de a pressão arterial subir.

“E há indícios de que a ingestão crônica e excessiva favorece a disfunção endotelial”, relata Mendes. A pesquisadora refere-se ao revestimento celular envolvido na dilatação e relaxamento das artérias. Não bastasse o acúmulo de sódio, as carnes processadas costumam carregar gordura saturada, mais um nutriente que, em excesso, pode causar danos cardiovasculares.

Saindo das questões do coração, vale mencionar que o exagero, especialmente de embutidos – salsichas, linguiças, salames – está associado ao aumento no risco de câncer. “Existem evidências bem consolidadas, sobretudo em relação aos tumores de intestino”, avisa a nutricionista Giuliana Modenezi, do Espaço Einstein Esporte e Reabilitação do Hospital Israelita Albert Einstein.

Por tudo isso, não há recomendação de consumo segura. “A sugestão é degustar em eventos esporádicos, seja um pedaço de linguiça no churrasco ou um cachorro-quente na festa de aniversário”, exemplifica Molina.

Mas a população brasileira é bastante fã desses alimentos e, segundo as especialistas, pesquisas mostram um crescimento na ingestão desses produtos, até pela questão do preço, que tende a ser mais baixo.

Os aliados cardiovasculares

Voltando às artérias, além de evitar as carnes processadas, algumas estratégias alimentares são bem-vindas para combater a hipertensão e todos os prejuízos atrelados.

A nutricionista do Einstein aponta alguns nutrientes-chave, que se destacam em estudos. “O potássio ajuda no equilíbrio de níveis de sódio no organismo e promove a dilatação dos vasos sanguíneos”, explica. Banana, abacate e batata são fontes.  Magnésio e cálcio também são minerais envolvidos na regulação da pressão, e as castanhas, feijões, verduras, leite e seus derivados oferecem a dupla.

“A literatura científica aponta ainda a atuação dos antioxidantes”, lembra Modenezi. Compostos fenólicos, carotenoides, entre outras famílias de substâncias, presentes em frutas, verduras e legumes, aparecem em artigos pelo papel em prol das artérias. Fibras reforçam a proteção, isso porque existem evidências de que zelar pela microbiota intestinal afasta inflamações, feito essencial para a saúde cardiovascular.

E é possível juntar todos esses ingredientes protetores em algumas dietas. Saiba mais sobre algumas delas:

DASH
Trata-se da sigla para Dietary Approaches to Stop Hypertension ou Dieta para Combater a Hipertensão, em bom português. O plano alimentar foi desenvolvido por cientistas dos Estados Unidos há mais de duas décadas, justamente para ajudar no controle da pressão arterial.

Frutas e hortaliças têm lugar garantido. Grãos e cereais, nas versões integrais, além de oleaginosas, ou seja, castanhas e afins, bem como sementes, e a turma das leguminosas (feijões, ervilha, grão-de-bico) marcam presença. Há ainda espaço para queijos, iogurtes e leite, preferencialmente desnatados.

Na DASH, recomenda-se redobrar o cuidado com o sal, tanto o vindo de produtos industrializados quanto o que é colocado no preparo da comida. Uma sugestão saborosa é incrementar as receitas com ervas e especiarias.

Dieta mediterrânea
Aqui também há espaço privilegiado para vegetais em todas as formas. E, claro, um dos destaques é o azeite de oliva, cuja formulação acumula substâncias protetoras.

Mas não é preciso buscar opções estrangeiras para compor o prato. Afinal, dispomos de uma grande diversidade de frutos, verduras e legumes.

Vale ressaltar que a dieta vai muito além do cardápio: inclui atividade física ao ar livre, descanso e o controle do estresse.

Para ter à mão

Além do aclamado Guia Alimentar para a População Brasileira, o Ministério da Saúde desenvolveu uma cartilha que traz informações sobre alimentação cardioprotetora, baseada nas cores da bandeira do Brasil. Os itens do grupo verde são aqueles que podemos consumir em maior quantidade. “Entram frutas, hortaliças, leguminosas e lácteos desnatados”, diz Giuliana Modenezi, do Einstein.

Já no grupo amarelo, que pede moderação, estão pães, macarrão e doces caseiros. No azul, a recomendação é para ainda mais parcimônia: vale para queijos amarelos, farinhas, ovos, entre outros.

Há também a cor vermelha, que não consta na bandeira, e refere-se ao que deve ser evitado. “Aqui são os alimentos ultraprocessados”, avisa Modenezi. Salgadinhos, comida congelada pronta (lasanha, pizza etc.) e biscoitos recheados são exemplos. Aliás, manter distância de produtos desse tipo protege não só as artérias, mas todo o organismo.

Fonte: Agência Einstein

COMPARTILHE NAS REDES

Saúde

Dieta pode melhorar resposta ao tratamento de câncer com células CAR-T

Cientistas buscam formas de tornar essa terapia oncológica mais eficiente e evitar a recidiva do câncer; modelo alimentar com pouco carboidrato demonstrou bons resultados em camundongos

 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Alterações na dieta podem ser benéficas a pacientes oncológicos que passam por tratamento com células CAR-T, sugere um estudo inédito da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos. O trabalho foi destaque no 66º Encontro Anual da Sociedade Americana de Hematologia (ASH, na sigla em inglês), que aconteceu entre os últimos dias 7 e 10 de dezembro em San Diego, nos Estados Unidos.

A terapia celular CAR-T é um dos principais avanços em imunoterapia – aquela que utiliza células do próprio paciente para estimular o combate a um câncer. No caso, são usados linfócitos T, um tipo de célula de defesa que, em laboratório, recebe informações genéticas de um receptor localizado na superfície dos tumores. Isso promove uma “reprogramação” celular que gera células chamadas de CAR-T. Ao serem “recolocadas” na pessoa, conseguem reconhecer o câncer com mais facilidade e destruí-lo.

No entanto, muitos pacientes param de responder ao tratamento e o câncer pode voltar. Por isso, cientistas buscam formas de torná-la mais eficaz. No trabalho dos pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, eles compararam a resposta ao tratamento em camundongos com linfoma que receberam diversos tipos de alimentação.

A conclusão foi de que aqueles que receberam uma dieta cetogênica (pobre em carboidratos e rica em gordura) tiveram melhor resposta e maior sobrevida em relação aos ratinhos alimentados com outros modelos alimentares: mais carboidrato, mais proteína ou mais colesterol, por exemplo.

Ao induzir cetose – processo em que o organismo utiliza gordura, e não glicose, como fonte de energia –, esse tipo de dieta gera como metabólito o beta-hidroxibutirato (BHB), que é uma fonte energética e mantém o metabolismo das células.

Em comunicado da Faculdade de Medicina da Universidade da Pensilvânia, o coautor Puneeth Guruprasad conta que a equipe trabalhou com a hipótese de que as células CAR-T preferem usar o BHB como combustível em vez da glicose. Com isso, ao aumentar a quantidade da substância no organismo, as CAR-T atuariam com mais energia contra o tumor.

Para testar essa ideia na prática, os cientistas administraram um suplemento de BHB em camundongos com tumores e que receberam as CAR-T. Na maioria desses animais houve uma melhor performance das CAR-T contra as células malignas, levando à completa destruição dos tumores.

Numa última análise, os estudiosos avaliaram exames de sangue de pessoas que estavam recebendo esse tratamento oncológico e constataram que aquelas com níveis mais altos de BHB também tinham uma expansão das CAR-T, sugerindo uma melhora funcional e quantitativa dessas células no enfrentamento ao câncer.

Especialistas da área veem com animação esses achados. “[O BHB] É um metabólito que pode servir de fonte de energia mais eficiente que a glicose, melhorando a atividade antitumoral e a proliferação das CAR-T”, analisa a hematologista Lucila Kerbauy, coordenadora médica de terapia celular avançada do Hospital Israelita Albert Einstein. “Mas somente os estudos clínicos poderão mostrar se isso vai resultar em melhor atividade antitumoral e melhores taxas de resposta nos pacientes.”

Para o hematologista Nelson Hamerschlak, coordenador do Programa de Hematologia e Transplantes de Medula Óssea do Einstein, que lidera pesquisas com CAR-T, esse é um estudo promissor. “Pode apontar uma forma muito simples e barata de tornar a terapia mais efetiva, seja modificando a dieta, seja usando [o BHB] como suplemento alimentar”, observa Hamerschlak, que esteve no encontro da ASH em San Diego. “No entanto, ainda falta avaliar se a melhora na resposta poderá causar mais efeitos colaterais também.”

A equipe dos EUA já começou um estudo clínico de fase 1 para estabelecer a segurança e, posteriormente, a eficácia da suplementação com BHB em pessoas com câncer.

 Fonte: Agência Einstein

COMPARTILHE NAS REDES

Saúde

Café é um aliado do coração e contra o diabetes, afirma estudo

Cheio de substâncias benéficas, ele aparece em nova pesquisa que associa o consumo moderado com a redução do risco de males cardiovasculares e de diabetes tipo 2

Por Regina Célia Pereira, da Agência Einstein

A cafeína é conhecida como a culpada pela associação entre o consumo excessivo de café e a maior propensão a problemas como insônia e até mesmo o aumento da pressão arterial. Entretanto, como a bebida não se resume à cafeína e, sim, a uma soma de compostos protetores, a literatura científica coleciona evidências sobre seus benefícios.

Uma recente revisão, publicada no periódico GeroScience, relaciona a ingestão do café com a redução do risco de males cardiovasculares, diabetes tipo 2 e síndrome metabólica – distúrbio marcado pelo acúmulo de gordura abdominal, hipertensão, além de taxas elevadas de glicose e de alterações nos níveis de colesterol. Doenças renais também são destaques no artigo.

Para estabelecer as associações, os pesquisadores se debruçaram em 284 estudos. “O trabalho traz várias evidências de que o cafezinho faz bem para a saúde, mas, ainda assim, vale frisar que mais pesquisas são necessárias”, avalia o nutrólogo Celso Cukier, do Hospital Israelita Albert Einstein.

O especialista chama a atenção para as diferentes versões de grãos e as distinções na forma de preparo e mesmo para a quantidade e maneira como a bebida é ingerida. “Os indícios referem-se ao consumo moderado”, comenta o nutrólogo. Algumas diretrizes médicas sugerem entre três e quatro xícaras diárias para um adulto saudável.

Recomenda-se ainda não ultrapassar a marca de 400 mg de cafeína por dia. Em média, uma xícara (150 ml) de café coado contém 100 mg da substância. Já o tipo expresso tende a apresentar 150 mg da substância estimulante em 75 ml, que é a quantidade que se costuma beber por xícara nessa versão.

Exageros, especialmente, no período da tarde, podem atrapalhar o sono. Isso porque a cafeína interfere com neurotransmissores – mensageiros químicos responsáveis pela comunicação entre os neurônios – envolvidos com o aumento da disposição e redução da sensação de fadiga.

Fórmula protetora

Além dessa função estimulante, há indícios de que a cafeína oferece proteção cardiovascular. A substância faz parte da família das xantinas e apresenta ação antioxidante e anti-inflamatória, feitos que ajudam a resguardar o endotélio – tapete celular que recobre os vasos.

Mas outros componentes da bebida são mencionados no novo estudo pelos mesmos benefícios. É o caso dos polifenóis, com destaque para o ácido clorogênico, que combate o estresse oxidativo e blinda as artérias.

Demais componentes do grupo, como enterodiol e enterolactona, também são citados no trabalho, mas pelo potencial na modulação dos níveis de glicose no sangue. O que ajuda a explicar o elo com a redução do risco de diabetes tipo 2.

O café oferta ainda sais minerais, caso do potássio e do magnésio, além da niacina, uma vitamina do complexo B. Esse trio de micronutrientes se mostra aliado da saúde cardiovascular.

Formas de consumo

Toda essa riqueza costuma se manter nas diferentes maneiras de preparo, mas o tipo expresso – que é obtido a partir de alta pressão por meio de uma máquina específica – tende a concentrar mais dos compostos.

Já o coado, em filtro de papel ou coador de pano, tem uma vantagem. É que, nesse tipo de preparação, a filtragem retém moléculas gordurosas presentes nos grãos, caso do cafestol, que podem elevar os níveis de colesterol.

A maneira de adoçar pode comprometer as benesses da bebida. Para alguns apreciadores, que conhecem todas as sutilezas de sabor, o certo é tomar o café puro. Para quem não tem o paladar treinado, o açúcar pode ser um parceiro, desde que com moderação.

“Pacientes com diabetes devem redobrar a atenção”, ressalta o médico. O ideal é seguir as orientações do profissional de saúde que faz o acompanhamento. Cukier lembra ainda que cada grama de açúcar oferece quatro calorias, daí que extrapolar nas colheradas acaba contribuindo para o ganho de peso. “Os adoçantes artificiais podem ser utilizados, eventualmente, mas sem exagero”, sugere o médico.

Fonte: Agência Einstein

COMPARTILHE NAS REDES

Saúde

Cuidar da microbiota pode ajudar a combater a fragilidade entre idosos

Estudo destaca fibras especiais, responsáveis pelo equilíbrio das bactérias no intestino, como aliadas contra distúrbios de mobilidade e desnutrição nessa população

 

Por Regina Célia Pereira, da Agência Einstein

Há algumas décadas na mira da ciência, a microbiota intestinal coleciona evidências de sua relação com a imunidade, o bem-estar emocional e até contra a obesidade. Agora, um estudo publicado na revista científica The Journal of Clinical Investigation aponta mais um possível benefício: contribuir para a qualidade de vida dos idosos.

Cientistas chineses realizaram uma análise observacional de 1.693 pessoas idosas, que foram separadas em três grupos, conforme a presença ou não de fragilidade (não frágil, pré-frágil e frágil). Para a classificação consideraram características como a perda de peso, o declínio físico, a lentificação na caminhada, a diminuição da força de preensão palmar e maior exaustão. Na segunda etapa do estudo, foram avaliados aspectos biológicos e metabólicos entre as turmas, inclusive com investigações sobre a microbiota.

Já o terceiro estágio, consistiu em um ensaio clínico randomizado, duplo-cego. Nessa etapa, uma parte dos participantes consumiu, durante 12 semanas, um preparado de fibras especiais com ação prebiótica, ou seja, que contribuem para a proliferação e a atividade de bactérias benéficas. A outra recebeu placebo para controle e comparação ao final do estudo.

Após a intervenção, por meio de testes, observou-se uma melhora na velocidade de caminhada e na força das mãos entre os que ingeriram os prebióticos. Exames de fezes, de sangue, entre outros, mostraram ainda alterações benéficas na microbiota, além de redução de marcadores inflamatórios.

“O estudo traz indícios muito promissores”, opina a nutricionista esportiva Gabriela Mieko, do Espaço Einstein de Reabilitação e Esporte do Hospital Israelita Albert Einstein. Esses achados reforçam a importância de zelar pela saúde intestinal, especialmente em uma fase da vida em que a composição da microbiota é modificada pelo uso de certos medicamentos, pela presença de doenças e por hábitos alimentares.

Segundo Mieko, os avanços da nutrigenômica – campo científico que avalia a interação entre os genes e os nutrientes – estariam por trás do aumento e do aprofundamento de pesquisas sobre a microbiota, mas que ainda é uma área nova. “Começa-se a compreender melhor o papel dos micro-organismos que povoam o cólon e suas inter-relações com os diversos sistemas do nosso corpo”, observa.

 

Ecossistema em equilíbrio

Diversos trabalhos mostram danos atrelados à disbiose, que é o desequilíbrio nas populações de bactérias, com maior concentração de bactérias patogênicas em comparação com as “do bem”. Nesse cenário, a permeabilidade do intestino acaba prejudicada, permitindo que micro-organismos nocivos viajem pela circulação, o que pode desencadear inflamações, entre outros distúrbios.

Apostar em um cardápio recheado de frutas, hortaliças, grãos integrais e leguminosas é uma das estratégias para manter tudo em harmonia. Tais alimentos oferecem as chamadas fibras prebióticas. “Dentro desse grupo, há os fruto-oligossacarídeos (FOS), presentes na cebola, na batata yacon, no aspargo, no tomate, entre outros”, explica a nutricionista do Einstein.

Destacam-se ainda os galactos-oligossacarídeos (GOS), presentes no leite, inclusive o materno. Outro exemplo é a inulina, da alcachofra e da chicória. “Também existem estudos mostrando que substâncias chamadas de flavonoides, vindas do cacau, podem ter efeitos prebióticos”, acrescenta Gabriela Mieko.

Por fim, soma-se à lista o psyllium. “É uma fibra natural extraída das sementes de uma planta, a Plantago ovata, e tem sido muito utilizada em estudos”, conta. Requer a orientação profissional para o consumo, já que o exagero pode causar desconfortos abdominais, como gases e constipação.

Outros grandes aliados da microbiota são os probióticos. Pela definição da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), probióticos são “micro-organismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefício à saúde do indivíduo”.

Eles aparecem em alimentos fermentados, como iogurtes especiais, no kefir, na kombucha, entre outros. Um cuidado é o de se atentar às informações dos rótulos e privilegiar produtos com menores teores de açúcar, aditivos e com a lista de ingredientes enxuta.

Zelar por esse ecossistema garante a produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs) – butirato, acetato e propionato –, o que propicia um melhor aproveitamento de sais minerais e outros nutrientes. Essas substâncias ajudam a reduzir o risco de deficiências e também teriam ação anti-inflamatória, segundo alguns estudos.

Independentemente da idade, não faltam bons motivos para redobrar os cuidados e manter a microbiota intestinal sempre saudável.

Fonte: Agência Einstein

COMPARTILHE NAS REDES