Saúde

Dengue, coronavírus, influenza, chikungunya: de onde vêm os nomes dos vírus e doenças

Com diversas origens, palavras podem remeter a características específicas da doença; referências a locais ou povos não são recomendadas pela OMS

Você já parou para pensar como são escolhidos os nomes dos vírus? Para além de características como sintomas, causas e formas de prevenção, a própria palavra que utilizamos para nos referir a um vírus ou a uma doença infecciosa pode gerar grandes impactos sociais e econômicos. É o que foi visto recentemente no caso da Mpox, antes chamada de Monkeypox ou varíola dos macacos, que influenciou discursos racistas na internet e levou pessoas a matarem os animais. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou a troca do nome da doença em novembro de 2022, alguns meses após o surto.

Um recurso muito comum no passado era referenciar o local onde o vírus havia sido identificado pela primeira vez ou os primeiros povos a serem acometidos pela enfermidade. Outra motivação era o uso de palavras e expressões de origens diversas, como latim, grego e italiano, para descrever o patógeno de acordo com os sintomas que ele causava.

Em nota publicada em 2015 sobre as melhores práticas na nomenclatura de novas doenças infecciosas humanas, a OMS ressaltou a necessidade de se adotar nomes “cientificamente sólidos e socialmente aceitáveis” para futuras doenças a serem descobertas. É recomendado, principalmente, não associar o nome a um local ou a um povo específico para evitar estigmatizações.

No caso das zoonoses (doenças que migram dos animais para humanos), fazer referência aos próprios animais também é prejudicial. A gripe suína, por exemplo, resultou em abates de porcos e proibição da importação de carne de porco em diversos países, embora o problema estivesse na transmissão entre humanos.

Conheça a origem dos nomes de alguns vírus que circulam no Brasil:

Influenza

Em italiano, “influenza” significa “influência”. O Dizionario etimologico storico dei termini médici, de Enrico Marcovecchio, afirma que a palavra foi empregada pela primeira vez como termo médico pelo historiador italiano Matteo Villani, em 1358, com base na crença popular de que se tratava de uma enfermidade causada por uma “influência oculta dos céus”. Na Itália, até o século XV, a palavra era usada para definir a transmissão de qualquer doença, ou seja, a influência que uma pessoa doente exercia sobre outra. Depois, o termo passou a se referir somente à gripe.

A palavra “influenza” foi internacionalizada em 1743, a partir de uma epidemia iniciada na Itália. Em inglês, o nome foi empregado pela primeira vez em 1750 e, mais tarde, foi abreviado para “flu”. Em 1782, o termo passou para o francês e, em 1890, para o português.

Já o termo “gripe” vem do francês “grippe”, usado desde o século XVII. Segundo o Breve diccionario etimológico de la lengua castellana, “grippe” relaciona-se ao termo alemão “grüpi”, que significa “tremer de frio”, “sentir-se mal”.

Chikungunya

De acordo com a OMS, chikungunya significa “aqueles que se contorcem” ou “aqueles que se dobram” na língua Makonde, do sudeste da Tanzânia. O vírus foi descrito pela primeira vez em 1950 após um surto naquela região, inicialmente confundido com dengue. A justificativa do nome é a dor intensa nas articulações causadas pela infecção, que acomete principalmente punhos, tornozelos e cotovelos, e chega a debilitar o paciente.

Dengue

São Paulo já investiu mais de R$ 20 milhões em medidas de enfrentamento à doença. Foto: Divulgação/Governo de SP

O uso da palavra para se referir à doença surgiu no século XVIII na Espanha. A palavra “dengue”, de origem espanhola, remete a “delicado”, “frágil” ou “meticuloso”, “cuidadoso”, o que pode estar relacionado ao estado das pessoas infectadas, que sofrem de dores no corpo e ficam muito debilitadas, movimentando-se com cautela. Outra origem descrita é “ndenge”, da língua africana quimbundo, no sentido de “recém-nascido, choradeira, manha”. Existe, ainda, a teoria de que a palavra seja derivada da frase em suaíli “Ka-dinga pepo”, que significa “cãibra de início súbito”.

Zika

O vírus Zika recebe o nome da floresta onde foi encontrado, em Uganda, na África. Ele foi isolado pela primeira vez em 1947 a partir de amostras de um macaco Rhesus (Macaca mulata), mesma espécie afetada pelo vírus da febre amarela. No Brasil, o vírus é transmitido pela picada do mosquito Aedes aegypti, mesmo vetor da dengue e da chikungunya. Detectado em humanos pela primeira vez em 1952, o Zika é conhecido por causar microcefalia em recém-nascidos infectados durante a gestação.

A palavra “influenza” foi internacionalizada em 1743, a partir de uma epidemia iniciada na Itália. Foto: Instituto Butantan

Febre amarela

A doença caracterizada por uma febre de início súbito, assim como a dengue, ganhou esse nome devido à icterícia que se manifesta em alguns pacientes – coloração amarelada da pele, olhos e mucosa. Essa alteração é causada por níveis elevados de bilirrubina no sangue, pigmento amarelado liberado quando os glóbulos vermelhos se desmancham, em um processo natural do organismo, e que é metabolizado no fígado. Geralmente, níveis elevados de bilirrubina indicam problemas nesse órgão.

Coronavírus

O nome dessa família de vírus tem relação com a sua aparência: corona vem do latim “coroa”, e os coronavírus são caracterizados por uma estrutura de “pontas” em sua superfície, que lembra uma coroa quando observada no microscópio. Esses “espinhos” são as proteínas que envolvem o vírus. Já o nome da doença Covid-19 vem da união de letras contidas na expressão “Coronavirus Disease”, ou “Doença do Coronavírus”, com “2019”, ano em que o SARS-CoV-2, o tipo de coronavírus que a causa, foi descoberto.

O nome SARS-CoV-2 remete a “Coronavírus que causam Síndrome Respiratória Aguda Grave” – o número 2 se deve ao fato de outro vírus semelhante ter sido descrito em 2003, o SARS-CoV-1. Outro coronavírus que causou doença em humanos foi o MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio, em português), nomeado de acordo com o local onde as primeiras infecções foram registradas.

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