VIDA SAUDÁVEL

Saúde

Como evitar a sarcobesidade, condição que ameaça o envelhecimento

Pesquisadores brasileiros investigaram quais medidas podem ajudar a prevenir a combinação de obesidade e perda muscular em idosos

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

Com o avanço da idade, o corpo humano passa por diversas transformações fisiológicas. Entre as possíveis mudanças estão a perda de massa e força muscular (sarcopenia) e o acúmulo de gordura corporal, o que pode levar à obesidade. Quando essas duas condições ocorrem simultaneamente, surge um quadro cada vez mais comum e preocupante: a sarcobesidade, também chamada de obesidade sarcopênica. Essa combinação tem chamado a atenção de pesquisadores, especialmente porque traz riscos à saúde física e metabólica da população idosa.

Preocupados com o envelhecimento populacional e os impactos desse quadro clínico, a nutricionista Gabriela Ortiz, pesquisadora do Laboratório de Fisiologia do Exercício e Metabolismo (LAFEM), da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EEFERP/USP), e sua equipe decidiram se aprofundar no tema por meio de uma revisão científica dos principais estudos sobre a doença.

Os resultados, publicados recentemente na revista Ageing Research Reviews, revelam a falta de critérios diagnósticos padronizados para a sarcobesidade e a complexidade do seu tratamento, que deve ser multifatorial e personalizado. “Dado o envelhecimento populacional, estudar condições que afetam majoritariamente a população idosa, como a sarcobesidade, é uma temática de grande interesse pela comunidade científica, a fim de investigarmos formas de prevenção e tratamento, garantindo suporte para essa população”, comenta Ortiz, em entrevista à Agência Einstein.

A condição é preocupante porque une duas doenças que ameaçam a saúde em diversos aspectos. “A sarcobesidade soma os riscos da obesidade – como diabetes tipo 2, hipertensão e doenças cardiovasculares – com os da sarcopenia, que incluem maior risco de quedas, fraturas e perda da independência”, explica o médico nutrólogo Diogo Toledo, coordenador do Departamento de Nutrologia do Einstein Hospital Israelita.

A função dos músculos, aliás, vai muito além de permitir mobilidade e equilíbrio. “O tecido muscular é fundamental para manter o metabolismo ativo. Ele ajuda o corpo a gastar energia de forma eficiente e a evitar o acúmulo excessivo de gordura”, pontua Toledo.

Os músculos também contribuem para a produção de hormônios e dão força ao sistema imunológico. “Com o envelhecimento, é natural haver perda de massa muscular e ganho de gordura, especialmente quando não há hábitos saudáveis. É por isso que a sarcobesidade se tornou uma preocupação crescente de saúde pública”, alerta o médico do Einstein.

Na revisão de estudos conduzida na USP de Ribeirão Preto, três estratégias terapêuticas se destacaram como promissoras contra a sarcobesidade: a suplementação de taurina, a modulação da microbiota intestinal e a prática regular de exercícios físicos. Saiba mais sobre elas a seguir.

Suplemento

A taurina é um aminoácido sulfonado, presente naturalmente em tecidos como cérebro, músculos, coração e retina. Embora o corpo humano produza uma pequena quantidade, a maioria precisa ser obtida por meio da alimentação – carnes, peixes, frutos-do-mar e laticínios são as principais fontes.

Os níveis de taurina diminuem com o envelhecimento, e esse declínio está associado a condições como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e envelhecimento celular. Por isso, a suplementação — geralmente em doses de 1,5 g a 3 g por dia — tem sido estudada como possível intervenção para melhorar a saúde muscular e metabólica de idosos.

No estudo, o suplemento demonstrou potenciais efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios, porém mais pesquisas são necessárias. “A maioria das evidências robustas vem de estudos com animais e experimentos in vitro. Ainda são necessários mais estudos clínicos em humanos”, pondera Ortiz.

De acordo com Toledo, a taurina pode ser uma aliada no combate à sarcobesidade, pois reduz o catabolismo muscular, processo pelo qual o corpo quebra as proteínas dos músculos para usar como fonte de energia. A substância também ajuda direta e indiretamente a minimizar a perda muscular. “Ela atua como potente antioxidante, melhorando o equilíbrio do organismo. Isso protege os músculos contra danos oxidativos, disfunção mitocondrial e fraqueza muscular. Além disso, desempenha um papel fundamental na manutenção da função mitocondrial”, explica.

Mas, assim como a pesquisadora da USP, o nutrólogo reforça que mais evidências são necessárias para entender o papel da suplementação de taurina. “Sua viabilidade clínica ainda não está consolidada. Faltam dados sobre doses ideais, mecanismos precisos e efeitos reais em idosos com sarcobesidade. Precisamos de ensaios clínicos bem controlados, com amostras maiores, para estabelecer sua eficácia e segurança como terapia padrão”, frisa o médico do Einstein.

Microbiota intestinal

Outro destaque da revisão foi a importância da microbiota intestinal, que sofre alterações significativas com o envelhecimento. A perda de diversidade do microbioma e o aumento da permeabilidade intestinal favorecem a inflamação crônica e comprometem a síntese de proteínas musculares, especialmente nas pessoas idosas.

“A microbiota intestinal tem papel central na saúde. Na obesidade, ocorre um padrão típico de disbiose, com aumento de algumas bactérias e redução de outras espécies protetoras. Esse desequilíbrio gera um ambiente inflamatório que afeta a absorção de nutrientes e o funcionamento do organismo como um todo”, explica Toledo. “Isso pode comprometer inclusive o ganho e a preservação da massa muscular.”

A conexão entre intestino e músculos, segundo Ortiz, é mediada por compostos produzidos por bactérias benéficas, que estimulam a síntese proteica, reduzem a inflamação e melhoram a sensibilidade à insulina. Nesse contexto, a modulação da microbiota – com alimentação rica em fibras e fontes de prebióticos e probióticos – surge como uma abordagem promissora.

Exercício físico

A terceira estratégia apontada pela pesquisa brasileira é o exercício físico. É comum que idosos tenham dificuldade em aderir à prática por questões como limitações físicas, motoras, dores articulares, doenças crônicas e até medo de se machucar. “Também enfrentam obstáculos psicológicos, como falta de motivação, baixa autoestima e receio de não dar conta das atividades propostas”, alerta Gabriela Ortiz.

Segundo a nutricionista, o treinamento de força é particularmente eficaz, pois estimula a síntese de proteínas, contribuindo para o aumento da massa muscular. A recomendação é que esse treino seja feito de duas a três vezes por semana, com intensidade moderada a alta, sempre com supervisão.

“Os exercícios aeróbicos, como caminhadas ou bicicleta, também são importantes, pois ajudam a reduzir gordura corporal, melhoram a capacidade cardiorrespiratória, aumentam a sensibilidade à insulina e favorecem o bem-estar psicológico. A combinação dos dois, força e aeróbico, tem mostrado efeitos ainda mais promissores”, afirma a pesquisadora.

Os especialistas concordam que o tratamento da sarcobesidade deve ser multifatorial e integrado. “As ações combinadas, como exercícios resistidos, ingestão adequada de proteínas, dieta com leve restrição calórica e modulação da microbiota, são mais eficazes para melhorar a composição corporal e a qualidade de vida dos idosos”, afirma Toledo. “Precisamos tratar o envelhecimento muscular e metabólico de forma sistêmica”, reforça Ortiz. “Os achados atuais são promissores. Ao integrar diferentes estratégias, podemos oferecer um envelhecimento mais saudável e funcional”, conclui a autora.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Alimentação saudável: chave para prevenção de doenças crônicas não transmissíveis

Alimentação saudável: chave para prevenção de doenças crônicas não transmissíveis

Guia Alimentar para a População Brasileira completa 10 anos e destaca estratégias nutricionais para reduzir riscos de doenças causadas pela alimentação inadequada

Fonte: Agência Gov | Via Ministério da Saúde

Em 2024, a segunda edição do Guia Alimentar para a População Brasileira completa 10 anos. Para marcar a data, o Ministério da Saúde lança, nesta terça-feira (20), uma série especial de notícias que abordará diversos aspectos do documento. Desde sua primeira edição, o objetivo do guia é apoiar e incentivar práticas alimentares saudáveis que promovam o bem-estar da sociedade e ajudem na formulação de políticas públicas que permitam às pessoas colocar em prática as orientações alimentares recomendadas.

A 2ª edição do guia destaca a alimentação saudável como uma ferramenta essencial na prevenção de doenças crônicas, como diabetes , hipertensão e doenças cardíacas. Essas condições estão diretamente associadas ao consumo de alimentos ultraprocessados e à oferta desequilibrada de nutrientes. Com base em evidências e recomendações práticas, o guia oferece um caminho claro para melhorar a saúde e reduzir o risco dessas doenças por meio de escolhas alimentares adequadas.

Para a coordenadora geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Kelly Poliany Alves, adotar uma alimentação saudável é uma das formas mais eficazes de prevenir doenças crônicas. “O guia alimentar oferece orientações baseadas em evidências que podem ajudar a população a fazer escolhas alimentares que promovem a saúde e reduzem o risco dessas condições ”. E acrescenta: “É fundamental reduzir o consumo de alimentos ricos em gordura e adotar os alimentos in natura e minimamente processados, como cereais integrais, frutas, legumes e verduras”.

Para proteger a saúde dos brasileiros, o guia apresenta quatro recomendações principais e uma regra de ouro:

  • Fazer dos alimentos in natura ou minimamente processados a base da alimentação;
  • Utilizar sal, açúcar, óleos e gorduras em pequenas quantidades;
  • Limitar o consumo de alimentos processados;
  • Evitar alimentos ultraprocessados;
  • Regra de ouro : prefira sempre alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias a alimentos ultraprocessados.

O consumo excessivo de sódio e gorduras saturadas está associado a um aumento no risco de doenças cardíacas, enquanto o excesso de açúcar pode elevar a probabilidade de cáries dentárias, obesidade e outras doenças crônicas. Alimentos processados, embora preservem parte dos nutrientes do produto original, muitas vezes comprometem a qualidade nutricional devido aos ingredientes e métodos de processamento, frequentemente contendo quantidades de sal ou açúcar muito superiores às usadas na preparação caseira.

O guia também recomenda evitar alimentos ultraprocessados, como biscoitos recheados, salgadinhos de pacote e refrigerantes. De acordo com o documento, esses alimentos possuem uma composição nutricional desbalanceada e o consumo excessivo de calorias que contribuem para a obesidade e favorecem o desenvolvimento de doenças cardíacas, diabetes e vários tipos de câncer.

Referência desde 2006

Publicado em 2006, o Guia Alimentar para a População Brasileira, desenvolvido pelo Ministério da Saúde em parceria com Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (USP), apresentou as primeiras diretrizes alimentares oficia i s para a população. Com as transformações sociais que impactaram as condições de saúde e nutrição da sociedade , foi necessário atualizar as recomendações.

A segunda edição, disponível desde 2014, foi elaborada após um processo de consulta pública que envolveu um extenso debate com diversos setores da sociedade. Essa versão, de acordo com a coordenadora, permanece atual após 10 anos. “As evidências científicas mostram que os problemas de saúde que estavam presentes na época da revisão, como as doenças crônicas não transmissíveis, continuam avançando e estão diretamente relacionados à alimentação inadequada”, conclui Kelly.

Acesse o Guia Alimentar na íntegra

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Saúde

Estudo mostra que fatores que protegem coração também ajudam a prevenir doença renal crônica

Estilo de vida saudável protege o coração e os vasos dos rins; diabetes e
hipertensão são as principais doenças que prejudicam a função renal 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Os mesmos fatores que protegem a saúde cardiovascular também podem ajudar a prevenir a doença renal crônica, segundo um artigo publicado no American Journal of Clinical Nutrition. Os pesquisadores avaliaram oito comportamentos que protegem o coração estabelecidos pela Associação Americana do Coração e concluíram que as pessoas que têm um estilo de vida mais saudável também têm menos risco de desenvolver problemas nos rins.

Os pesquisadores investigaram se as recomendações da associação para o coração também poderiam ser um indicativo da saúde renal. São elas: alimentação saudável, prática de atividade física, não fumar, higiene do sono, controle do Índice de Massa Corporal (IMC), da taxa de lipídios, da pressão arterial e da glicemia. Cada um desses fatores, isoladamente ou em conjunto, contribui para uma pontuação que avalia o estado da saúde cardiovascular.

O estudo selecionou quase 150 mil participantes do Biobanco, um banco de dados britânico com informações de milhares de pacientes para fins de pesquisa, e acompanhou essas pessoas durante dez anos. Nenhum deles tinha doença cardiovascular ou renal no início do estudo.

Depois de analisar os dados, os pacientes avaliados com boa saúde cardiovascular a partir da pontuação fornecida pelas recomendações tinham 57% menos risco de desenvolver doença renal em relação àqueles com níveis baixos. Níveis moderados resultaram em uma possibilidade 39% menor de apresentar problemas nos rins.

“Há uma forte associação entre a saúde cardiovascular e a dos rins”, explica o nefrologista Marcelo Costa Batista, do Hospital Israelita Albert Einstein. Isso porque os glomérulos – a unidade funcional do rim – contém uma rede de pequenos vasos sanguíneos que filtram o sangue e dependem em boa parte do débito de sangue procedente do coração. 

“Por isso, problemas que eventualmente acometem o sistema circulatório afetam os vasos dos rins, prejudicando a microcirculação”, diz o médico. “Em boa parte das vezes, são doenças de vasos sanguíneos, com mecanismos de doença inter-relacionados”, explica sobre as chamadas doenças cardiorrenais. 

A doença renal crônica é causada principalmente pelo diabetes e pela hipertensão, que prejudicam o funcionamento dos vasos. Ela leva a uma falha na capacidade de filtrar o sangue pelos rins, facilitando o acúmulo de resíduos chamados de toxinas urêmicas. Nos estágios iniciais, a doença pode não apresentar sintomas, mas à medida que progride, pode levar à falência irreversível dos rins, tornando o paciente dependente de diálise, um tratamento que remove resíduos e excesso de fluidos do sangue, ou de um transplante renal.

A obesidade está frequentemente associada ao diabetes e a problemas de pressão arterial, contribuindo para a inflamação dos vasos sanguíneos. Por essa razão, a prevenção envolve mudanças no estilo de vida, incluindo atividade física e uma alimentação saudável com baixa quantidade de sal.

Fonte: Agência Einstein

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