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Religiosa brasileira afastada de mosteiro na Itália alega injustiça

Freira brasileira Aline Pereira Ghammachi com o papa Francisco, durante audiência em 2022 — Foto: Divulgação/Vaticano

Freira Aline Pereira Ghammachi denuncia perseguição após perder liderança de comunidade religiosa perto de Veneza

A freira brasileira Aline Pereira Ghammachi, de 41 anos e natural de Macapá (AP), viu sua gestão à frente do Mosteiro San Giacomo di Veglia, situado próximo a Veneza, na Itália, ser interrompida em meio a alegações de maus-tratos e desvio de recursos. A remoção do cargo de madre-abadessa ocorreu no dia 21 de abril, coincidentemente na data da morte do Papa Francisco, e é veementemente negada pela religiosa.

Aline relatou acreditar ser vítima de perseguição, mencionando inclusive comentários depreciativos sobre sua aparência feitos pelo abade-chefe da ordem do mosteiro, frei Mauro Giuseppe Lepori.

O frei Mauro Lepori disse que se eu fosse ao Vaticano, ninguém iria acreditar em mim, porque eu sou mulher, brasileira, sou bonita e ninguém acredita nesse tipo de pessoa. E isso me feriu muito”, desabafou.

A religiosa informou que permanece na Itália, onde já iniciou um recurso contra a decisão de afastamento junto ao Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica, a mais alta instância judicial da Igreja Católica. Segundo Aline, as denúncias anônimas foram enviadas ao Papa Francisco em 2023. Ela afirma ter apresentado as contas dos cinco anos em que liderou o mosteiro, as quais foram aprovadas em auditoria pela diocese.

“O que mais pesava na carta era a questão dos maus-tratos, do abuso de poder e de desvio de recursos. A questão financeira foi fácil de resolver, porque foi feita uma auditoria no mosteiro pela diocese e demonstrou que toda a administração foi corretamente realizada. Só busco a Justiça”, enfatizou, negando as demais acusações.

Após o afastamento de Aline, a situação no mosteiro se tornou ainda mais tensa. Cinco freiras procuraram a polícia italiana para denunciar violência psicológica supostamente praticada pela nova gestora. Ao todo, 11 religiosas deixaram o mosteiro após a saída da brasileira.

A trajetória religiosa de Aline começou aos 15 anos, mas por orientação familiar, ela cursou Administração de Empresas em Macapá antes de seguir sua vocação. Em 2018, aos 34 anos, tornou-se a madre-abadessa mais jovem da Itália, implementando projetos sociais no mosteiro, como auxílio a vítimas de violência e pessoas autistas, além da criação de uma horta comunitária.

O Vaticano foi procurado para comentar o caso, mas não emitiu resposta até o momento. A história de Aline tem ganhado atenção internacional, com reportagens na mídia italiana e planos para uma produção cinematográfica alemã.

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Brasil e Mundo

Papa Francisco morre aos 88 anos

Papa Francisco faz sua primeira aparição pública em cinco semanas, no dia em que deve recebeu alta do Hospital Gemelli, em Roma, Itália. REUTERS/Remo Casilli/ Reprodução Proibida

Anúncio da morte foi feito pelo Camerlengo Farrell da Casa Santa Marta

Paula Laboissière* – Repórter da Agência Brasil

O Papa Francisco morreu às 7h35, horário de Roma, desta segunda-feira, dia 21, no Vaticano, em Roma. O anúncio da morte foi feito pelo Camerlengo Farrell da Casa Santa Marta.

 “Às 7h35 desta manhã, o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e da Igreja”.

O cardeal Farrell disse ainda que Francisco chegou a aparecer na sacada da Basílica de São Pedro para a mensagem de Páscoa, na manhã deste domingo (20).

“O Pontífice apareceu na sacada da Basílica de São Pedro para a mensagem de Páscoa Urbi et Orbi, deixando sua última mensagem para a Igreja e o mundo”.

Primeiro Papa das Américas

Francisco assumiu o papado em 2013, mas, ao longo dos últimos anos, começou a apresentar problemas de saúde, desde gripes e resfriados até ferimentos provocados por quedas em seu próprio apartamento, no Vaticano.

Com a saúde cada vez mais fragilizada, chegou a usar cadeira de rodas e bengalas para se locomover em eventos que exigiam maior esforço físico, além de limitar suas falas em razão de diversas infecções respiratórias.

Em fevereiro, foi internado para realizar exames e tratar um quadro de bronquite, inflamação dos brônquios geralmente provocada por vírus como o da influenza ou o vírus sincicial respiratório.

Apesar do agravamento da saúde no decorrer dos anos, o papa vinha mantendo grande parte de sua agenda diária de compromissos, participando, inclusive, de reuniões em sua própria residência.

Biografia

Francisco, nome escolhido por ele para seu pontificado, nasceu Jorge Mario Bergoglio. Argentino de Buenos Aires, foi o primeiro papa das Américas. Filho de imigrantes italianos, era o mais velho de cinco irmãos: dois homens e três mulheres.

Ainda jovem, chegou a formar-se técnico em química, mas, pouco depois, escolheu o caminho do sacerdócio. Licenciou-se em filosofia, foi professor de literatura e psicologia e, posteriormente, licenciou-se também em teologia.

Foi ordenado sacerdote em dezembro de 1969, prestes a completar 33 anos. Já como padre jesuíta, foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires e, posteriormente, em 2001, como cardeal, pelo então papa João Paulo II.

Como arcebispo de Buenos Aires, diocese com mais de 3 milhões de pessoas, elaborou um projeto missionário centrado na comunhão e na evangelização e com foco na assistência aos pobres e aos enfermos.

Francisco foi sucessor do papa emérito Bento XVI que, em fevereiro de 2013, aos 78 anos, renunciou ao pontificado em razão de problemas de saúde. Francisco chegou a presidir o funeral de Bento XVI, em janeiro de 2023, com uma homilia em que o comparava a Jesus.

Em meados de 2024, sobre a possibilidade de também ele renunciar, Francisco se referiu ao tema como “hipótese distante”, já que ainda mantinha saúde suficiente para seguir com seu papado. “Não tenho motivos sérios o suficiente para me fazerem pensar em desistir”.

Apelo por cessar-fogo

Ao longo de seu papado, Francisco lançou diversos apelos à comunidade internacional por cessar-fogo em conflitos na Europa e no Oriente Médio – incluindo a guerra entre Rússia e Ucrânia e, mais recentemente, os ataques do Hamas à Faixa de Gaza.

“Todas as nações têm o direito de existir em paz e em segurança e seus territórios não devem ser atacados ou invadidos. A soberania deve ser respeitada e garantida pelo diálogo e pela paz, não pelo ódio e pela guerra.”

Mulher em gabinete-chave da Igreja

Em janeiro de 2025, Francisco nomeou uma mulher para chefiar um importante gabinete do Vaticano, escolhendo a freira Simona Brambilla para dirigir o departamento responsável por todas as ordens da Igreja Católica.

Com a nomeação, pela primeira vez, uma mulher fica responsável por um dicastério ou congregação da Cúria da Santa Fé, órgão central de governo da Igreja Católica. Simona substitui o cardeal brasileiro reformado João Braz de Aviz.

Milagre na Amazônia

Em outubro de 2024, durante missa na Praça de São Pedro, Francisco proclamou a canonização do padre italiano José Allamano, fundador da congregação dos Missionários da Consolata, por um milagre que teria ocorrido na Amazônia brasileira.

Segundo a organização Consolata América, o milagre ocorreu em 1996, em Roraima, quando um indígena yanomami foi atacado por uma onça e apresentou um grave ferimento na cabeça. Um grupo de missionários teria invocado José Allamano pedindo a recuperação do rapaz, o que se realizou.

Mudanças climáticas

Em agosto de 2024, Francisco fez um de seus últimos alertas em prol da preservação do meio ambiente e exigindo uma ação global contra as mudanças climáticas. “Se medirmos a temperatura do planeta, isso nos dirá que a Terra está com febre. Ela está doente”.

“Precisamos nos comprometer com a proteção da natureza, mudando nossos hábitos pessoais e comunitários”, disse. “Os que mais sofrem com as consequências desses desastres são os pobres, aqueles que são forçados a deixar suas casas por causa de enchentes, ondas de calor ou secas”, completou.

Bênção para casais do mesmo sexo

Em dezembro de 2023, o Vaticano anunciou, em decisão histórica aprovada pelo papa Francisco, que padres podem administrar bênçãos a casais do mesmo sexo, desde que não façam parte dos rituais ou liturgias regulares da Igreja Católica.

Documento do escritório doutrinário do Vaticano destaca que tal bênção não legitima situações irregulares nem deve ser confundido com o sacramento do matrimônio, mas figura como um sinal de que Deus acolhe a todos.

O texto cita que padres “não devem evitar ou proibir a proximidade da Igreja com as pessoas em todas as situações em que elas possam buscar a ajuda de Deus por meio de uma simples bênção”.

*Com informações do Vaticano News

*Texto atualizado às 7h15 para acréscimo de informações

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