TRAMA GOLPISTA

Brasil e Mundo

Moraes proíbe uso de farda por réus em depoimento sobre golpe

Acusação não é voltada contra Exército Brasileiro, diz ministro
Felipe Pontes – Repórter da Agência Brasil
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) vedou o uso de uniforme militar durante o depoimento dos réus do núcleo 3 da trama golpista que teria tentado manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder após derrota nas urnas. 

Segundo o juiz auxiliar Rafael Henrique Janela Tamai Rocha, que atua no gabinete de Moraes, o ministro ordenou que os réus sejam interrogados com roupas civis porque “a acusação é voltada contra os militares, não contra o Exército Brasileiro como um todo”.

A determinação foi questionada pelas defesas de dois tenentes coronéis da ativa, Rafael Martins de Oliveira e Hélio Ferreira Lima, que foram solicitados a deixar o local em que seriam interrogados para que trocassem de roupa antes de poderem falar.

A defesa do tenente-coronel Rafael Martins, que está preso em uma unidade militar, argumentou que por obrigação ele fica de farda no local durante todo o dia. Os advogados reclamaram de constrangimento ilegal e violação da dignidade da pessoa humana, por exigir que o militar use uma roupa emprestada para que possa prestar depoimento na ação penal da qual é réu.

O advogado Luciano Pereira Alves de Souza, que representa Hélio Ferreira Lima, chamou a situação de “vexatória”, por exigir que o réu “retire a roupa que ele está vestindo e pegar uma roupa emprestada”. O defensor destacou que, por ser da ativa, o militar passa todo o horário comercial fardado, sendo que não houve nenhum aviso para que comparecesse ao interrogatório sem o uniforme.

“Não há previsão legal sobre o assunto”, afirmou a defesa de Lima. 

Os dois tenente-coronéis integram as forças especiais do Exército, grupo que é informalmente conhecido como “kids pretos”, por causa da tradicional boina utilizada por eles.

Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), os dois estavam na rua, em Brasília, monitorando a movimentação do próprio Alexandre de Moraes, em 15 de dezembro de 2022, ao aguardo de uma orientação para colocar em marcha o plano para sequestro e possível execução do ministro.

O plano só não teria ido à frente, sendo abortado já em andamento, diante da resistência do comandante do Exército à época, general Freire Gomes, disse a PGR com base nas investigações da Polícia Federal (PF).

Entre as provas apresentadas, estão conversas em aplicativos de mensagem e documentos segundo os quais Rafael Martins chegou a adquirir um aparelho celular “descartável” para ser utilizado na ação.

Réus 

O núcleo 3 é formado por nove militares e um policial federal. Eles são acusados de realizar ações de campo para consumar o golpe, colocando em marcha um plano para “neutralizar” adversários, e também de promover uma campanha para pressionar o alto comando das Forças Armadas a aderirem ao complô golpista.

Confira os réus que serão interrogados nesta segunda:

Bernardo Romão Correa Netto (coronel);

Estevam  Theophilo (general);

Fabrício Moreira de Bastos (coronel);

Hélio Ferreira (tenente-coronel);

Márcio Nunes De Resende Júnior (coronel);

Rafael Martins de Oliveira (tenente-coronel);

Rodrigo Bezerra de Azevedo (tenente-coronel);

Ronald Ferreira de Araújo Júnior (tenente-coronel);

Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros (tenente-coronel);

Wladimir Matos Soares (policial federal).

* Matéria corrigida às 12h46 para retirar os nomes de Cleverson Ney Magalhães e Nilton Diniz Rodrigues da lista de interrogados. Eles não são réus no processo.

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Brasil e Mundo

Ex-diretor da PRF nega blitzes ilegais no Nordeste

© Lula Marques/ Agência Brasil
Silvinei Vasques disse que ações eram para evitar crimes eleitorais
André Richter – Repórter da Agência Brasil
O ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, negou nesta quinta-feira, dia 24, ter ordenado blitzes ilegais. Certamente, essas operações visavam barrar eleitores de Lula no Nordeste durante as eleições de 2022. Atualmente, Vasques é réu no núcleo 2 da ação penal da trama golpista. O juiz Rafael Tamai, auxiliar do ministro Alexandre de Moraes do STF, o interrogou.

Conforme as investigações, Silvinei Vasques teria dado ordens para dificultar o trânsito de eleitores em 30 de outubro de 2022. Entretanto, na audiência, ele afirmou que as operações tinham outro objetivo. Segundo ele, visavam evitar crimes eleitorais, como transporte ilegal de eleitores e fechamento de rodovias. Além disso, as ações ocorreram em todo o país, não apenas no Nordeste. De fato, Lula obteve maior votação nesta região.

Assim, Vasques também negou qualquer determinação do ex-ministro da Justiça Anderson Torres. Aliás, Torres também é réu no processo. Enfim, Silvinei afirmou: “Tudo que a gente recebeu de determinação, eu entendi que a gente deveria acatar.” Ele acrescentou: “Não vi na fala do ministro nenhuma ilegalidade. Foi isso que a gente levou para a PRF.”

O interrogatório dos réus representa uma das últimas fases da ação penal. Portanto, o julgamento dos acusados do núcleo 2 deve ocorrer no segundo semestre deste ano. Anteriormente, o núcleo 1, incluindo Jair Bolsonaro e outros sete réus, foi interrogado. Essa parte do processo encontra-se nas alegações finais e a expectativa é de que o julgamento aconteça em setembro.

Em suma, dados da investigação revelam um efetivo maior da PRF no Nordeste no segundo turno de 2022. Por exemplo, em 30 de outubro, a região empregou 795 policiais. Em contrapartida, outras regiões utilizaram um número menor: 230 no Norte, 381 no Centro-Oeste, 418 no Sul e 528 no Sudeste. Igualmente, o número de ônibus parados excedeu a média nacional. Assim, o Nordeste registrou 2.185 veículos fiscalizados. Nos demais estados, foram: 310 no Norte, 571 no Sudeste, 632 no Sul e 893 no Centro-Oeste.

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