Tabagismo

Saúde

Obesidade e tabagismo na adolescência indicam saúde cardiovascular no futuro

Presença desses fatores e da hipertensão seria suficiente para avaliar risco e dispensaria dosagem de colesterol no sangue, sugere estudo

 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Hipertensão, obesidade e tabagismo em adolescentes podem predizer o risco de algum problema cardiovascular no futuro, mesmo sem conhecer as taxas de colesterol, revela um novo estudo publicado no periódico Pediatrics.

A dosagem de colesterol permite sinalizar precocemente a probabilidade desses males aparecerem, mas também pode ser menos acessível em certos lugares ou para grupos sociais. Por isso, dizem os autores, seria importante criar estratégias de avaliação em situações em que a testagem no laboratório não seja possível.

Segundo os pesquisadores, avaliar o risco cardiovascular nessa faixa etária sem fazer exames de laboratório não é menos eficiente e pode facilitar a identificação dos jovens que se beneficiariam de uma investigação mais detalhada.

“Esse achado é importante porque demonstra que, com informações simples, como peso, pressão arterial e histórico de tabagismo, podemos identificar adolescentes em risco para doenças cardiovasculares na vida adulta”, comenta o cardiologista Humberto Graner, do Hospital Israelita Albert Einstein em Goiânia. “Isso facilita a prevenção, reduz custos e dispensa exames laboratoriais iniciais. Também possibilita intervenções precoces, como mudanças no estilo de vida, antes que problemas mais graves surjam.”

Os autores chegaram a essa conclusão após avaliar dados do International Childhood Cardiovascular Cohort, que inclui sete estudos longitudinais — ou seja, que acompanharam um grupo de pessoas ao longo do tempo —, totalizando 11.550 participantes nos Estados Unidos, na Austrália e na Finlândia. Eles cruzaram as informações de saúde coletadas na faixa etária dos 12 aos 19 anos com a ocorrência de desfechos cardiovasculares como infarto, acidente vascular cerebral (AVC), isquemia, angina e doença arterial periférica depois dos 25 anos.

A presença de pressão arterial elevada, sobrepeso e obesidade, tabagismo e colesterol alto na adolescência foi significativamente associada à incidência de eventos cardiovasculares na vida adulta. E, após levar em conta os parâmetros não laboratoriais, a dosagem de lipídeos não foi essencial para apontar quem tinha maior risco.

A doença cardiovascular pode começar na infância, e a prevenção primordial deve ser dirigida a crianças e adolescentes com fatores de risco modificáveis. Condições como obesidade e pressão alta impactam negativamente a saúde vascular ainda nos primeiros anos de vida, pois aumentam o risco de desenvolver aterosclerose, que predispõe a infarto e AVC na vida adulta.

“A obesidade na juventude está associada a um aumento precoce da inflamação sistêmica, resistência à insulina e disfunção endotelial [camada que reveste internamente os vasos], condições que aceleram o processo de aterosclerose”, explica Graner.

O excesso de peso em adolescentes leva frequentemente a elevações na pressão arterial e no colesterol, aumentando o risco de eventos cardiovasculares no futuro. Além disso, jovens com obesidade têm grande probabilidade de se tornarem adultos obesos, perpetuando essas ameaças à saúde.

Segundo o especialista, o primeiro check-up cardiovascular deve ser feito na pré-adolescência, entre 10 e 12 anos, principalmente naqueles com histórico familiar de doenças cardíacas ou fatores de risco.

A avaliação inclui medidas simples, como peso, altura, pressão arterial e questionário sobre hábitos de vida e alimentares. Para aqueles que têm estilo de vida saudável, o foco deve ser na manutenção de práticas como boa alimentação, exercícios regulares, sono de qualidade e não fumar.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

OMS lança diretrizes inéditas para tratamento contra o tabagismo

© AbsolutVision/Pixabay

Proposta é ajudar mais de 750 milhões de usuários

 

Por Paula Laboissière – Repórter da Agência Brasil – Brasília

A Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou nesta terça-feira (2) um conjunto de intervenções contra o tabagismo, incluindo apoio comportamental a ser oferecido por profissionais de saúde, intervenções digitais e tratamentos farmacológicos. Esta é a primeira vez que a entidade apresenta diretrizes para o tratamento contra o tabagismo.

A proposta, segundo a OMS, é ajudar mais de 750 milhões de usuários de tabaco que desejam abandonar o consumo de diversos derivados do tabaco, incluindo os tradicionais cigarros, narguilés, produtos de tabaco sem combustão, charutos, tabaco de enrolar e produtos de tabaco aquecido (HTP).

“Essas diretrizes representam um marco crucial na nossa batalha global contra esses produtos perigosos”, avaliou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. A estimativa da entidade é que mais de 60% dos 1,25 bilhões de usuários de tabaco em todo o mundo – mais de 750 milhões de pessoas – desejam parar de fumar, mas 70% não têm acesso a serviços eficazes.

Recomendações

De acordo com a OMS, a combinação de farmacoterapia com intervenções comportamentais aumenta significativamente as taxas de sucesso no abandono do tabagismo. “Países são incentivados a fornecer esses tratamentos sem custos ou com custos reduzidos para melhorar a acessibilidade, especialmente em nações de baixa e média renda”.

Dentre as diretrizes, a entidade recomenda o uso de vareniclina, medicamento que tem a função de diminuir o desejo intenso de fumar, além de aliviar crises de abstinência (sintomas mentais e físicos que ocorrem após a interrupção ou diminuição do consumo da nicotina).

Outra recomendação é a terapia de reposição de nicotina (TRN), que pode ser feita, segundo critério clínico, utilizando goma de mascar de nicotina, pastilha de nicotina ou adesivo transdérmico de nicotina.

As diretrizes incluem ainda medicamentos como bupropiona ou cloridrato de bupropiona (antidepressivo) e citisina (fármaco à base de plantas) no tratamento contra o tabagismo.

A OMS também recomenda intervenções comportamentais, incluindo aconselhamento breve com profissionais de saúde, com tempo médio de 30 segundos a três minutos, oferecido como rotina em ambientes de cuidados em saúde, além de apoio comportamental mais intensivo por meio de aconselhamento individual, em grupo ou por telefone.

Dentre as intervenções digitais sugeridas pela entidade estão mensagens de texto, aplicativos para smartphone e programas de internet a serem utilizados como “complementos ou ferramentas de autogestão”.

 

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Saúde

Parar de fumar reduz a hipertensão em apenas 12 semanas

Estudo realizado por pesquisadores do InCor envolveu 361 pacientes; 113 tinham pressão alta e conseguiram reduzir os níveis pressóricos após abandonar o vício

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

Que fumar faz mal à saúde não é novidade para ninguém. O tabagismo é uma doença crônica associada ao aumento de risco de uma série de outras doenças, entre elas, as cardiovasculares. Vários estudos demonstram que os fumantes hipertensos possuem pior prognóstico cardiovascular, mesmo quando tratados com medicamentos para a hipertensão. A novidade é que um estudo realizado no InCor (Instituto do Coração) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) mostrou que parar de fumar reduz a pressão arterial de fumantes hipertensos em apenas 12 semanas, mesmo entre aqueles que usam remédios para hipertensão.

“Nosso estudo concluiu que parar de fumar funciona como um remédio para tratar a hipertensão. Cerca de 40% dos pacientes do nosso ambulatório [de cessação do tabagismo] possuem comorbidades, entre elas, a hipertensão. Esse estudo constatou o que víamos na prática clínica, que eram pacientes hipertensos diminuindo a necessidade do uso do remédio porque pararam de fumar e alcançaram a meta do controle da pressão”, explicou a cardiologista Jaqueline Scholz, coordenadora do Programa de Tratamento do Tabagismo do InCor, orientadora do estudo e assessora-científica da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp). 

O estudo reuniu 361 participantes que faziam tratamento para parar de fumar no hospital – entre eles, 113 eram fumantes com hipertensão e tomavam remédio para controle da pressão arterial. O grupo foi dividido em dois e receberam duas medicações distintas. Os pacientes fizeram seis visitas ao ambulatório e os níveis pressóricos foram medidos no primeiro dia, após 4 semanas e após 12 semanas de tratamento.

Do grupo de pacientes fumantes hipertensos, 72 pessoas pararam de fumar (chamado grupo de cessação) e outros 41 não pararam, mas reduziram o consumo. Após o período de três meses, os níveis pressóricos reduziram entre aqueles que pararam de fumar (cerca de 10 mmHg na pressão sistólica, o valor mais alto que aparece quando medimos, e cerca de 4 mmHg na pressão diastólica, o valor mais baixo). Para a regulação da hipertensão arterial, o ideal seria uma pressão arterial diastólica menor que 85 mmHg e sistólica menor que 130 mmHg.

“Nós não interrompemos o uso da medicação hipertensiva, mas observamos uma melhora clínica considerável. Quando avaliamos novamente a pressão arterial desses pacientes vimos que ela estava dentro da meta, como se o fato de parar de fumar fosse um outro medicamento, pois ele potencializou os efeitos no controle da pressão arterial”, explica a cardiologista. Os participantes que pararam de fumar também reduziram a frequência cardíaca, outro marcador importante para doenças cardiovasculares.

 

O cigarro e a hipertensão

O tabagismo não é uma causa direta da hipertensão arterial, mas fumar é um fator de agravo na pressão arterial e esse público possui uma pior evolução no tratamento das doenças cardiovasculares. A relação entre fumar e o aumento da pressão envolve uma complexa interação entre fatores hemodinâmicos e sistema nervoso autônomo. De forma resumida, a nicotina presente no cigarro gera uma ativação do sistema nervoso simpático e aumenta a frequência cardíaca, a pressão arterial e, ao mesmo tempo, reduz a oferta de oxigênio aos vasos e ao coração.

Segundo a médica, existem poucos trabalhos com pacientes fumantes hipertensos que pararam de fumar porque a taxa de cessação num ambulatório de hipertensão é muito baixa. A ideia de fazer o estudo partiu da observação da evolução desses pacientes na prática clínica do ambulatório de tabagismo, já que muitos fumantes hipertensos que pararam de fumar relataram redução no uso de medicamentos hipertensivos.

“A literatura não coloca o tabagismo como causa da hipertensão, e realmente não é. Nesse aspecto podemos dizer que esse é um dos primeiros estudos que avaliam o impacto de parar de fumar no paciente hipertenso. Víamos isso corriqueiramente no ambulatório, mas ainda não havia um estudo controlado e randomizado para comprovar esse benefício”, disse a cardiologista.

 

Tabagismo mata mais de 440 brasileiros por dia

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 8 milhões de pessoas morrem todos os anos em consequência do tabagismo. No Brasil, mais de 440 pessoas morrem a cada dia por doenças associadas ao cigarro, segundo dados do Ministério da Saúde. Entre as mortes anuais atribuíveis ao cigarro, 37 mil correspondem à doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC); 33 mil às doenças cardiovasculares (entre elas infarto e AVC); 24.400 mil ao câncer de pulmão; 25.600 a outros cânceres; 18.600 ao tabagismo passivo, entre outras causas.

O trabalho, que foi realizado como parte de uma tese de doutorado, começou a ser realizado em 2017 e encerrou no final do ano passado. Os resultados foram apresentados em um congresso sobre tabagismo nos Estados Unidos e está em processo de submissão para publicação do artigo científico.

“A gente sabe que abandonar o tabagismo não é uma tarefa fácil, mas existe tratamento e ele é fundamental para melhorar a qualidade de vida e prevenir outras doenças, inclusive melhorar a performance da pressão arterial. Parar de fumar é o melhor que a pessoa faz para a saúde dela”, finalizou a cardiologista.

 

Fonte: Agência Einstein

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