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Prefeitos debatem o desfinanciamento da saúde e cobram o Governo Federal

Crédito CArlos Bassan/ PMC

O repasse federal para a saúde caiu mais de 10% em 22 anos, gerando pressão financeira e atrasos na habilitação de novos serviços

A Comissão de Saúde da Frente Nacional de Prefeitas e Prefeitos (FNP) se reuniu na última quarta-feira, 17 de setembro, para debater o crescente desfinanciamento da atenção básica em saúde. Os prefeitos questionam a queda nos repasses do governo federal e a demora do Ministério da Saúde em habilitar novos serviços, o que poderia aliviar a pressão financeira sobre os municípios e melhorar o atendimento aos usuários do SUS.

Um estudo da FNP, com dados do Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde (SIOPS), mostra uma mudança significativa na última década. Em 2002, a União era responsável por 52,4% do financiamento da saúde, mas esse percentual caiu para 41% em 2024. Por outro lado, a participação dos municípios subiu de 25,5% para 33,8% no mesmo período.

Essa situação agrava-se com a disparidade entre o aumento das receitas municipais e o crescimento constante das demandas e custos na área da saúde. Além disso, a demanda reprimida pela pandemia de COVID-19 pressiona ainda mais os cofres das cidades.

Diante desse cenário, o presidente da Comissão de Saúde da FNP e prefeito de Campinas, Dário Saadi, enviou um ofício para solicitar uma audiência com o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. O objetivo é apresentar o diagnóstico e pedir mais repasses federais para a área.

A Pressão nos Cofres Municipais

Os municípios investem valores acima do mínimo constitucional de 15% de suas receitas próprias na saúde. Em 2024, por exemplo, eles aplicaram uma média de 23,1% de suas receitas, o que representa um acréscimo de R$ 58,5 bilhões a mais do que o exigido pela Constituição. Esse valor equivale a 80% do total de IPTU arrecadado em todas as cidades brasileiras.

A atenção básica, que funciona como a porta de entrada do SUS, oferece serviços essenciais como promoção, prevenção, tratamento de doenças e reabilitação. Portanto, fortalecer esse setor é fundamental para ampliar o acesso da população à saúde e reduzir o impacto sobre os atendimentos de média e alta complexidade.

No ano passado, os municípios com mais de 500 mil habitantes concentraram 69,2% dos gastos com atenção básica, enquanto o governo federal contribuiu com apenas 27,7%. Nas capitais, a participação local chegou a 71%, contra 26,7% da União. Em Campinas, por exemplo, a cidade investiu R$ 663,7 milhões na Secretaria de Saúde e na Rede Mário Gatti no primeiro quadrimestre deste ano. Deste total, R$ 486,9 milhões (73,36%) vieram de recursos municipais.

“Apresentamos os dados históricos que mostram essa queda relativa de repasses de recursos do Ministério da Saúde para os municípios no que diz respeito à atenção básica”, afirmou o prefeito Dário Saadi. Ele também destacou a morosidade do Ministério da Saúde para habilitar e repassar verbas para os serviços credenciados pelos municípios. Saadi ponderou que parte dos investimentos das cidades poderia ser direcionada para outras áreas essenciais, como assistência social e infraestrutura.

Aumento de Custos por Faixa Populacional e Região

A participação relativa dos municípios no custeio da atenção básica tende a aumentar com o tamanho da população. Veja como o financiamento se distribuiu em 2024 de acordo com a faixa populacional:

  • Até 20 mil habitantes: Municípios (50,7%), Governo Federal (41,3%), Governo Estadual (5,3%)
  • De 20 mil a 50 mil habitantes: Municípios (45,2%), Governo Federal (48,5%), Governo Estadual (4,1%)
  • De 50 mil a 100 mil habitantes: Municípios (50%), Governo Federal (43,6%), Governo Estadual (5%)
  • De 100 mil a 120 mil habitantes: Municípios (53,5%), Governo Federal (39,6%), Governo Estadual (5,2%)
  • De 200 mil a 500 mil habitantes: Municípios (61,4%), Governo Federal (32,6%), Governo Estadual (3,4%)
  • Acima de 500 mil habitantes: Municípios (69,2%), Governo Federal (27,7%), Governo Estadual (2,2%)

O custeio da atenção básica também varia por região. Os municípios do Sudeste e do Sul têm os maiores índices de participação, com 65,1% e 68,6%, respectivamente. O Censo de 2022 do IBGE mostrou que o Sudeste foi a região com maior crescimento populacional nos últimos 12 anos, com um aumento de mais de 4,4 milhões de habitantes. O Sul registrou o segundo maior crescimento, com um acréscimo de 2,5 milhões de moradores.

Diversas autoridades participaram da reunião da FNP, incluindo a prefeita de Lages (SC), Carmen Zanotto, e a secretária de Saúde em Aracaju (SE), Débora Cristina Fontes Leite. Ambas manifestaram preocupação com o baixo investimento do governo federal e a necessidade de agilizar a habilitação de novos serviços.

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Americana salta de 10% para 60% de cobertura na rede básica de Saúde

Audiência Pública da Saúde sobre o último quadrimestre de 2024

A Prefeitura de Americana continua arcando com a maior parcela de investimentos na pactuação geral do SUS (Sistema Único de Saúde)

 

A cobertura das ações da Atenção Primária em Saúde (APS) em Americana, em relação à população cadastrada na rede municipal, subiu de 10%, em 2021, para 60%, em 2024. O dado mais recente foi apresentado pela Prefeitura, por meio da Secretaria da Saúde, nesta quarta-feira, dia 26, na audiência pública referente às contas do último quadrimestre do ano passado, realizada na Câmara Municipal.

A ampliação do alcance da rede básica nos últimos quatro anos foi influenciada por diferentes fatores, como a reorganização do sistema municipal de saúde, replanejamento de territórios, adequação do quadro de servidores, com a contratação de profissionais e a habilitação de novas equipes, assim como a reabertura, ampliação e inauguração de novas unidades de saúde.

“Nosso compromisso é sempre o de garantir um atendimento a toda população. Mesmo com os desafios, seguimos investindo e priorizando ações que atendam às necessidades reais e emergenciais dos moradores de Americana”, ressaltou o secretário municipal de Saúde, Danilo Carvalho Oliveira.

A administração municipal investiu 27,53% das receitas de 2024 na Saúde. Foram realizadas 230.694 consultas médicas e 415.969 procedimentos gerais de enfermagem em toda a rede, de acordo com dados apresentados na audiência.

“A audiência pública é uma das mais importantes ferramentas para o controle social do SUS (Sistema Único de Saúde), pois ela é aberta a todo cidadão que queira se inteirar sobre os assuntos relativos à assistência em saúde do município”, observou o presidente do Conselho Municipal de Saúde, Márcio Massaharu Yokota.

Receitas e despesas

A Prefeitura de Americana continua arcando com a maior parcela de investimentos na pactuação geral do SUS (Sistema Único de Saúde). Entre setembro e dezembro de 2024, foram R$ 85.675.490,82 (74,26%) destinados à área. Com os juros e aplicações, o montante chegou a R$ 116.913.772,16, o que representa 27,53% da receita municipal.

No mesmo período, o Governo Federal contribuiu com R$ 19.204.952,44 (16,65%), enquanto o Estado de São Paulo repassou R$ 10.497.231,48 (9,10%). Na somatória geral dos recursos, foram R$ 115.377.674,74 de receita provenientes das três esferas de governo.

“Cada centavo investido na Saúde tem um impacto direto na vida da população. Trabalhamos com responsabilidade para que os recursos sejam bem aplicados e tragam melhorias efetivas”, destacou a gerente do Fundo Municipal de Saúde e diretora da Unidade Financeira, Juliana Toso Chagas Cantelli.

Os mandados judiciais lideraram os gastos com materiais de consumo. Somente para a compra de medicamentos e insumos por ordem judicial, foram destinados R$ 6.167.563,91. A aquisição de materiais farmacológicos somou R$ 1.937.020,75, enquanto os materiais hospitalares custaram ao município R$ 876.151,96. Outros itens de consumo ainda demandaram R$ 912.712,96.

Texto: Amauri de Souza (MTb 27.493)

Fotos: Marilia Pierre

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