SAÚDE OCULAR

Saúde

Presbiopia: por que ainda é impossível escapar da ‘vista cansada’?

Novo colírio aprovado nos Estados Unidos mostra avanços no tratamento, mas a perda da acomodação ocular é inevitável com o envelhecimento

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

Se você tem mais de 40 anos, provavelmente já percebeu que ler um cardápio no restaurante ou enxergar mensagens no celular exige um pequeno esforço: afastar o braço, buscar mais luz ou até recorrer aos óculos de leitura. Essa dificuldade é causada pela presbiopia, popularmente conhecida como “vista cansada”. Trata-se de um processo natural do envelhecimento, em que o cristalino – a lente natural dos olhos – perde elasticidade, dificultando o foco para perto.

Recentemente, um novo colírio aprovado pela FDA (Food and Drug Administration), agência regulatória dos Estados Unidos, chamou a atenção para a discussão em torno do problema. O medicamento, que age por até 10 horas, é de uso diário e oferece alívio da visão turva. Para funcionar, ele atua modificando temporariamente o diâmetro da pupila e aumenta a profundidade de foco. Dessa forma, é criado um efeito semelhante ao de um pequeno orifício (“pin-hole”), que facilita o foco em objetos próximos e melhora temporariamente a visão de perto sem necessidade de óculos.

“A visão de longe e de perto depende de um mecanismo chamado acomodação, que é a capacidade do cristalino de mudar de forma”, explicou o oftalmologista Mauro Plut, do Einstein Hospital Israelita. “Nas crianças, a acomodação é muito forte, mas, com o passar dos anos, o cristalino vai ficando mais rígido e perdendo essa flexibilidade. É aí que surge a presbiopia”, disse o médico.

Segundo Plut, a presbiopia é um processo natural do envelhecimento ocular e não se trata de uma doença, mas de uma transformação fisiológica inevitável. “A maioria das pessoas, mais cedo ou mais tarde, vai precisar de óculos para perto”, ressalta o médico.

Tem prevenção?

Essa inevitabilidade da presbiopia ajuda a entender por que ainda não existem estratégias eficazes de prevenção do problema, diferentemente de condições como catarata ou glaucoma. No caso da catarata, por exemplo, é possível operar e substituir o cristalino por uma lente artificial. Já no glaucoma, há tratamentos que retardam a progressão.

Mas, no caso da presbiopia, a rigidez do cristalino está diretamente ligada ao envelhecimento das fibras e proteínas da lente ocular, um processo que, até agora, a medicina não conseguiu reverter.

O colírio aprovado pelo FDA mostra como a ciência vem buscando alternativas que vão além dos óculos convencionais. Mas, Plut ressalta que se trata de um efeito limitado. “Ele não evita a presbiopia, apenas melhora a nitidez da visão. As limitações dependem do grau de refração que a pessoa tem. Para alguns, pode funcionar bem, mas para outros, pode não substituir os óculos.”

Nos consultórios, o que se observa é que, mesmo com avanços tecnológicos, os óculos continuam sendo a forma mais simples, acessível e eficaz de lidar com a presbiopia. Existem as lentes específicas para perto e as multifocais, que permitem enxergar bem em diferentes distâncias. As lentes de contato multifocais também são uma opção, embora exijam adaptação.

Cuidados essenciais

Cuidar dos olhos ao longo da vida é essencial para preservar a visão de forma geral. Evitar o excesso de exposição às telas, manter os olhos lubrificados, usar óculos escuros para proteger contra a radiação ultravioleta e manter hábitos saudáveis, como uma dieta balanceada e prática regular de exercícios, são medidas que ajudam a reduzir o risco de problemas oculares, como olho seco, degeneração macular e catarata precoce.

Um dos mitos que costuma circular é o de que o uso excessivo de telas poderia acelerar a presbiopia. “O uso intenso de computadores e celulares não piora a presbiopia. O que acontece é que pode agravar a lubrificação dos olhos, causando irritação e ressecamento, o que dá a sensação de dificuldade para enxergar. Mas isso é diferente de alterar o cristalino”, ressalta o oftalmologista.

Consultas regulares com oftalmologistas são fundamentais para ajustar a correção visual e para diagnosticar precocemente outros problemas que podem comprometer a visão de maneira mais grave. Apesar de a presbiopia ser inevitável, a ciência segue investigando substâncias, colírios e técnicas que possam retardar ou mesmo reverter a rigidez do cristalino.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Fotofobia como de Ozzy Osbourne pode indicar doenças graves

No ‘príncipe das trevas’ o Parkinson gênico e os medicamentos estavam  por trás da condição

 A privação crônica de luz pelo vocalista Ozzy Osbourne, pai do Heavy Metal, renovou a atenção sobre o Mal de Parkinson quando tornou o diagnóstico público, mas seu caso  estava longe de ser típico. Foi decorrente de uma alteração gênica conforme relato dele mesmo em 2020Segundo o  oftalmologista, Leôncio Queiroz Neto, diretor executivo do Instituto Penido Burnier, a fotofobia ou aversão aguda à luz que fazia Osbourne usar óculos escuros o tempo todo, foi causada  pelo parkinsonismo e certamente pelo olho seco decorrente do tratamento da doença.

Queiroz Neto explica que o bloqueio contante da  luz afetou o relógio biológico do cantor. Isso porque,  todas as nossas funções biológicas, da temperatura corporal, à pressão arterial, níveis  hormonais, entre outras são comandadas pela luminosidade dia/noite no período de 24 horas. Por isso, no caso de Osborne a fotofobia foi além do desconforto em locais iluminados, atingiu  a saúde do cantor .

Grupos de risco e gatilhos da fotofobia

O oftalmologista ressalta que a fotofobia é mais frequente entre albinos, pessoas loiras e sobretudo nas que têm olhos claros porque a íris, parte colorida o olho, tem menos melanina. Por isso  uma quantidade maior de luz chega à retina e sensibiliza as células fotorreceptoras, embora o desconforto não ocorra com todos. Em alguns casos a fotofobia é idiopática, ou seja, uma sensibilidade maior à luz de causa desconhecida. Em outros, o oftalmologista afirma que pode ser causada por:

  • Olho seco, uma evaporação da camada aquosa do filme lacrimal ou diminuição da camada lipídica que mantém a lágrima suspensa no olho.
  • Astigmatismo,  alteração no formato da córnea que  normalmente é esférica  se torna ovalada;
  • Ceratocone,  enfraquecimento das fibras de colágeno da córnea  que toma o formato de um cone;
  • Enxaqueca, que pode estar associada a alterações na visão, na circulação, no sistema digestivo ou indicar doenças neurológicas .
  • Cicatrizes na córnea e doenças inflamatórias oculares às vezes relacionadas com reumatismo;
  • Doenças inflamatórias como conjuntivite, toxoplasmose, herpes e outras;
  • Doenças infecciosas como toxoplasmose, herpes e outras;
  • Doenças psicológicas, psiquiátricas e neurológicas, entre elas o Parkinson.

 Medicamentos fotossensibilizantes

Queiroz Neto afirma que diversos tipos de medicamentos têm como efeito colateral a fotofobia que desaparece quando a doença não é crônica e o tratamento é interrompido. São eles: anticolinérgicos utilizados no tratamento de Parkinson, anti-histamínicos, alguns antidepressivos, cloroquina, hidroxicloroquina, corticoides, alguns antibióticos como a tetraciclina e anti-hipertensivos.

Tratamento

O tratamento depende da análise do oftalmologista e varia de acordo com a causa do desconforto. Nos casos idiopáticos Queiroz Neto afirma que a única forma de reduzir o desconforto é usar óculos escuros com proteção ultravioleta, de preferência fechado na lateral. Em muitos pacientes a fotofobia desaparece espontaneamente, mas a recomendação é consultar um oftalmologista para prevenir complicações, conclui.

 

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Saúde

Síndrome do olho seco afeta jovens e é ligada ao uso excessivo de telas

Estudo mostra que a maioria dos participantes apresentava ao menos um sinal clínico da doença; além de mudança de hábitos, é recomendado visitas anuais ao oftalmologista

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

Uma condição até então mais associada a pessoas mais velhas está se tornando cada vez mais comum entre os jovens adultos: a síndrome do olho seco – um problema oftalmológico crônico que ocorre quando os olhos não produzem lágrimas suficientes ou quando as lágrimas têm qualidade inadequada para manter a superfície ocular bem lubrificada.

Um novo estudo conduzido por pesquisadores da Aston University, no Reino Unido, revelou que 90% dos participantes com idades entre 18 e 25 anos apresentavam ao menos um sinal clínico da doença, o que chamou a atenção dos cientistas. Isso porque existem vários fatores de risco para a síndrome do olho seco, incluindo estresse e uso de lentes de contato. Mas, esses resultados em adultos jovens evidenciam um problema crescente que já está sendo chamado por especialistas de “epidemia comportamental”, especialmente pelo excesso de uso de telas. Os resultados foram publicados no The Ocular Surface.

Segundo a oftalmologista Claudia de Paula Faria, do Hospital Israelita Albert Einstein, na síndrome do olho seco (ou doença do olho seco), a qualidade das lágrimas é comprometida, com consequente baixa concentração de lipídios ou mucina. Isso resulta em uma película lacrimal instável, que evapora rapidamente, levando a sintomas como sensação de areia nos olhos, ardência, vermelhidão, visão embaçada e sensibilidade à luz.

“Essa é uma condição comum e complexa, que afeta a capacidade dos olhos de se manterem adequadamente lubrificados. É uma doença multifatorial que causa desconforto, problemas visuais e inflamação da superfície ocular. A condição pode impactar significativamente a qualidade de vida e é cada vez mais prevalente em todo o mundo”, disse Faria, ao ressaltar que a condição se diferencia do ressecamento ocular ocasional quando se torna um problema crônico, geralmente mais grave, com sintomas persistentes, causando importante inflamação e possíveis danos à superfície do olho.

O impacto das telas nos olhos

Para alcançar os resultados, os pesquisadores acompanharam, durante um ano, um grupo de 50 jovens adultos. Ao final do período, constataram que 56% dos participantes já apresentavam o diagnóstico de síndrome do olho seco, enquanto 90% tinham pelo menos um sintoma relacionado à condição.

Ao longo do ano de acompanhamento, os pesquisadores também observaram uma progressão significativa da doença em muitos dos participantes. Um dos principais fatores associados à piora foi o tempo diário de exposição às telas – em média, os jovens passavam cerca de oito horas por dia em frente a dispositivos digitais. Esse hábito influencia diretamente o padrão de piscadas (que se tornam menos frequentes e incompletas), dificultando a distribuição uniforme da lágrima sobre a superfície do olho e facilitando sua evaporação, o que intensifica o ressecamento ocular.

“O uso prolongado de telas digitais está fortemente relacionado ao surgimento e à piora da síndrome do olho seco”, explica Faria. “O tempo excessivo diante das telas altera o comportamento de piscar e desestabiliza o filme lacrimal, aumentando o risco e a intensidade dos sintomas. Piscar menos e de forma incompleta impede a lubrificação adequada da superfície ocular, tornando os olhos mais suscetíveis ao ressecamento e à irritação.” Mesmo uma exposição considerada moderada (entre duas e seis horas por dia) já está associada a taxas mais elevadas de sintomas da doença em comparação com quem passa menos tempo diante das telas.

Detecção precoce

O estudo também ressalta a importância da detecção precoce. Isso permite identificar indivíduos que, mesmo sem sintomas evidentes, já apresentam alterações nos olhos e podem desenvolver a doença de forma mais severa no futuro. Muitos casos evoluem de forma silenciosa e só são diagnosticados quando os sintomas se tornam limitantes, prejudicando atividades cotidianas e a qualidade de vida.

Além dos fatores comportamentais, a síndrome do olho seco tem causas multifatoriais. Está associada ao sexo feminino, idade avançada, uso de lentes de contato, cirurgias oculares, doenças autoimunes, uso de medicamentos como antidepressivos e anti-histamínicos, além de condições ambientais como poluição e ar seco.

O distúrbio também pode afetar crianças e adolescentes, especialmente aqueles expostos precocemente e por longos períodos às telas. Por isso, medidas preventivas, como limitar o uso de tela ao tempo máximo de três horas por dia; incentivar a realização de atividades ao ar livre e exercícios físicos; usar a regra “20-20-20” (a cada 20 minutos diante da tela, olhar para algo a 6 metros de distância por 20 segundos); educar crianças e pais sobre a importância de piscar corretamente durante o uso de telas e realizar consultas oftalmológicas anuais de rotina são fortemente recomendadas.

Atualmente, não existe cura definitiva para a síndrome do olho seco. Os tratamentos disponíveis buscam controlar os sintomas e evitar o agravamento da condição, com uso de lágrimas artificiais, colírios anti-inflamatórios, suplementos alimentares, além de abordagens personalizadas conforme o caso de cada paciente. A oftalmologista do Einstein reforça que a adaptação do estilo de vida é fundamental para frear a progressão da doença, que exige acompanhamento contínuo e tratamento a longo prazo.

“A síndrome é uma condição crônica que requer estratégias de tratamento personalizadas e de longo prazo, adaptadas aos mecanismos específicos da doença e às flutuações dos sintomas de cada paciente. O alívio completo e permanente é raro. A maioria dos pacientes precisa ajustar os tratamentos ao longo do tempo e pode necessitar de múltiplas terapias para controlar os sintomas de forma eficaz”, concluiu.

Fonte: Agência Einstein

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