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Campinas inicia estudo para tombar ruas históricas da Vila Industrial e do Cambuí

O processo conta com apoio de secretarias municipais e entidades públicas e poderá redefinir o modo como Campinas preserva sua identidade urbana
O Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc) deu um passo importante para a preservação da história urbana da cidade. Na última quinta-feira, dia 23, o órgão aprovou a abertura do processo de estudo para o tombamento de 54 ruas nos bairros Vila Industrial e Cambuí.
A decisão marca o início de uma análise técnica detalhada sobre o valor histórico, ambiental e urbanístico desses trechos — que guardam parte da memória viva de Campinas.
Entre as vias em avaliação estão nomes icônicos: Mestre Tito, Alferes Raimundo e Barão de Monte Mor, na Vila Industrial, além das conhecidas Maria Monteiro, Santos Dumont e Sampainho, no Cambuí.
O pedido de proteção não é novo: tramita desde 2019, mas foi interrompido durante a pandemia. Agora, com a retomada, o Condepacc dará início a uma nova etapa de estudos técnicos para avaliar não apenas o valor histórico, mas também os aspectos ambientais e urbanísticos dessas vias.
O processo conta com apoio de secretarias municipais e entidades públicas e poderá redefinir o modo como Campinas preserva sua identidade urbana.
A Vila Industrial já é considerada uma Zona Especial de Preservação Cultural (Zepec) desde 2018, mas apenas parte do bairro está protegida — especialmente o entorno do Complexo Ferroviário.
A arquiteta Ana Vilanueva, moradora da região desde 1994, lembra como tudo começou:
“A mobilização surgiu quando ruas históricas estavam sendo asfaltadas. Reunimos mais de 1.500 assinaturas e entramos com um pedido de tombamento em 2020. Até conseguimos uma liminar para impedir as obras”, conta.
Segundo ela, a simples abertura do processo já oferece proteção: enquanto o estudo estiver em andamento, qualquer intervenção é proibida, conferindo às vias o mesmo status legal de um patrimônio já tombado.
A proposta de tombamento do Cambuí foi impulsionada pela ONG Movimento Resgate o Cambuí, que desde 2022 luta pela preservação de 27 ruas de paralelepípedos.
A presidente da entidade, Teresa Penteado, destaca que o reconhecimento é duplamente importante:
“Essas ruas têm valor histórico e também ambiental. Os paralelepípedos ajudam a infiltrar a água da chuva no solo e reduzem o tempo de alagamento. Trabalhei por 40 anos na Coronel Quirino e sempre vi isso acontecer.”
Em algumas ruas do Cambuí, um único bueiro atende a quadras inteiras, agravando os problemas de drenagem. Para Teresa, manter a pavimentação tradicional é uma medida inteligente e sustentável.
Embora haja divergências entre moradores e comerciantes sobre a manutenção das vias de pedra, o projeto do Condepacc busca preservar o conjunto urbano como um todo — pavimentação, arborização, edificações antigas e o próprio traçado dos bairros.
A proposta reforça uma visão ampliada de patrimônio, que abrange não apenas o que é visível, mas também os aspectos imateriais: a memória social, o valor afetivo e o significado cultural desses espaços para a cidade de Campinas.
Com o início dos estudos, as ruas da Vila Industrial e do Cambuí passam a contar com proteção provisória, impedindo intervenções até a conclusão do processo de tombamento.
A iniciativa pode transformar a Vila Industrial em um futuro polo turístico e cultural, enquanto o Cambuí fortalece seu papel como exemplo de urbanismo sustentável e memória preservada.


