ODONTOLOGIA

Saúde

O que há por trás da onda de desconfiança sobre flúor na água

Estudos recentes e decisões políticas nos EUA voltam a colocar em dúvida uma das principais estratégias de combate à cárie no mundo — apesar do respaldo de entidades de saúde

Por Marília Marasciulo, da Agência Einstein


Durante décadas, o flúor na água foi celebrado como um marco na saúde pública mundial. Desde que a cidade de Grand Rapids, em Michigan (EUA), se tornou pioneira na fluoretação, em 1945, a prática ganhou o mundo como uma estratégia eficaz, segura e acessível para combater uma das doenças mais antigas da humanidade: a cárie dentária. Quase um século depois, porém, a fluoretação da água vem sendo atacada por estudos controversos e pela desinformação.

Em 2025, os estados de Utah e Flórida, nos Estados Unidos, aprovaram leis proibindo a adição de flúor aos sistemas públicos de abastecimento de água. As decisões foram motivadas por preocupações sobre potenciais riscos para o desenvolvimento neurológico infantil, em um debate que vem prejudicando a percepção pública de uma prática estabelecida e, até então, quase inquestionável.

O ponto de partida não foi uma mudança de posição das grandes entidades científicas. Ao contrário: a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) e a Associação Dental Americana (ADA) seguem recomendando a fluoretação da água. O que reacendeu a polêmica foram pesquisas recentes, como a publicada em março na revista Environmental Health Perspectives, que têm alarmado gestores públicos.

Realizado por pesquisadores do Instituto Karolinska, na Suécia, o estudo acompanhou cerca de 500 crianças de uma população rural em Bangladesh desde o pré-natal até elas completarem 10 anos. Durante o período, os pesquisadores analisaram amostras de urina para medir a exposição ao flúor a partir de diversas fontes: água potável, alimentos e produtos dentários. A pesquisa concluiu que existe uma associação entre níveis relativamente baixos de exposição ao flúor durante a gestação e a infância (inferiores ao limite de 1,5 mg/L recomendado pela OMS) e uma queda nos índices de inteligência e habilidades cognitivas dessas crianças aos 10 anos.

O trabalho aponta que mesmo pequenas quedas no desempenho cognitivo, quando aplicadas a grandes populações, podem ter impacto relevante na sociedade. Embora os pesquisadores enfatizem que o estudo não comprove uma relação de causa e efeito definitiva e que sejam necessárias mais pesquisas em outros contextos socioeconômicos e ambientais, descobertas como essa vêm gerando alarmismo e reabrindo o debate sobre a validade da fluoretação como política de saúde pública.

“Nos últimos anos, alguns estudos sugeriram a exposição a altos níveis de flúor com possíveis efeitos adversos, principalmente, em crianças em fase de desenvolvimento neurológico”, explica a cirurgiã-dentista Bruna Fronza, professora da graduação em Odontologia da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein (FICSAE). “Mas é importante ressaltar que esses estudos apresentam limitações metodológicas, como a falta de controle para outras variáveis ambientais ou fontes adicionais de exposição ao flúor, o que compromete a confiabilidade dos dados e das conclusões apresentadas.”

Estratégia de sucesso

A lógica do flúor na água é simples, mas engenhosa. A substância fortalece o esmalte dental ao ajudar na remineralização dos dentes, revertendo pequenas perdas minerais diárias causadas por ácidos produzidos pelas bactérias em contato com alimentos e bebidas açucarados na boca. Assim, ela age como um escudo protetor, dificultando o desenvolvimento das cáries. Além disso, por ser distribuída universalmente na água, alcança toda a população, especialmente aqueles com menos acesso a produtos odontológicos e serviços dentários.

O dentista Paulo Frazão, professor titular do departamento de Política, Gestão e Saúde da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), explica que toda fonte de água contém fluoreto, mas a estratégia de ajustar a concentração se mostrou uma opção de baixo custo, alta eficácia preventiva e segura para a saúde humana. “É a única medida conhecida de redução da desigualdade de cárie entre crianças e adolescentes de diferentes níveis de renda familiar, desde que a água tratada e fluoretada alcance bairros ricos e pobres”, afirma.

No Brasil, a fluoretação da água foi estabelecida pela lei nº 6.050, de 1974, após uma longa trajetória de estudos e reconhecimento internacional da eficácia dessa estratégia na prevenção da cárie. Com a lei federal que obrigou a adição de flúor aos sistemas públicos de abastecimento, o país viu uma queda expressiva nos índices de cárie dentária ao longo das décadas seguintes.

“As estatísticas referentes ao índice de dentes cariados, perdidos e obturados evoluíram positivamente nas últimas décadas e revelam o quão significativa é a fluoretação das águas de abastecimento público para garantia da proteção da saúde bucal dos brasileiros”, diz Claudio Miyake, presidente do Conselho Federal de Odontologia (CFO).

Em 1980, o Ministério da Saúde estimou o CPOD nacional aos 12 anos de idade — índice que avalia a média de dentes cariados, perdidos e obturados em dentes permanentes — em 7,3. O número, elevado pelos critérios da OMS, colocava o Brasil no patamar de países pobres e com alto índice de cárie. A queda foi gradual: 6,7 em 1986, 3,1 em 1996, 2,8 em 2003, 2,1 em 2010 e chegou a 1,7 em 2023, posicionando o Brasil entre os países com baixa incidência de cárie.

Riscos reais e suposições

Os riscos à saúde associados ao excesso de fluoreto na água são conhecidos desde a segunda metade do século 20. O efeito colateral mais comum é a fluorose dentária, que pode causar manchas esbranquiçadas nos dentes em sua forma mais leve. Mas mesmo esse risco é reduzido quando os níveis de flúor na água são devidamente monitorados, como acontece no Brasil.

Casos de fluorose severa, que afetam a estrutura dos dentes, são raros em locais onde a fluoretação é feita com controle técnico. “É importante destacar que o principal fator de risco para a fluorose leve não é a água fluoretada, mas sim o uso inadequado de cremes dentais com flúor em crianças pequenas, como deixar a criança escovar sem supervisão e engolir pasta em excesso”, explica Fronza.

Em 2024, o National Toxicology Program (NTP), dos Estados Unidos, publicou uma revisão abrangente de 74 estudos sobre a exposição ao flúor e neurodesenvolvimento infantil. Os autores identificaram uma associação entre altos níveis de fluoreto na urina e pequenas reduções de QI em crianças.

O resultado, embora estatisticamente significativo, tem sido interpretado com cautela por muitos especialistas. Isso porque a revisão, assim como na pesquisa do Instituto Karolinska, foi classificada como de baixa qualidade metodológica. Os autores também reconheceram que a correlação não significa uma relação de causa-efeito e que mais estudos são necessários para fundamentar a questão.

“O fato é que as observações desses estudos não mudam as evidências científicas sobre a efetividade e a segurança da prática da saúde pública da fluoretação da água”, aponta Frazão. “Entretanto, interpretações equivocadas de profissionais não especializados nas redes sociais em busca de notoriedade podem ser utilizadas para angariar atenção do público e contribuir para erodir o apoio à política pública, como acontece com os programas de imunização.”

Um estudo da Harvard School of Dental Medicine, publicado no último dia 30 de maio no JAMA Health Forum, constatou que, em apenas cinco anos, o fim da fluoretação da água poderia resultar em cerca de 25,4 milhões de dentes cariados a mais em crianças — com um custo estimado de US$ 9,8 bilhões em tratamentos odontológicos.

O impacto recairia sobretudo sobre crianças de baixa renda, ampliando desigualdades e gerando uma sobrecarga econômica com tratamentos. “Eliminar o flúor da água acarretaria não apenas prejuízos à saúde bucal da população como também sobrecarga econômica e ampliação de desigualdades no acesso ao cuidado odontológico”, alerta a cirurgiã-dentista Letícia Mello Bezinelli, coordenadora da graduação em Odontologia da FICSAE.

Caminhos para saúde bucal no Brasil

Enquanto nos EUA decisões recentes colocam em xeque a política de saúde pública adotada há mais de sete décadas, o Brasil mantém sua diretriz de ampliar o alcance da fluoretação nos sistemas de abastecimento. No entanto, os desafios estão longe de serem resolvidos.

Segundo Frazão, a lei de 1974 determina que a fluoretação deve ser adotada em todas as localidades do país que contam com estação de tratamento de água. As informações sobre a aplicação da medida se baseiam nas declarações das próprias empresas e serviços de abastecimento que atendem os municípios.

Em 2018, o pesquisador da USP participou de um estudo sobre a fluoretação no país, concluindo que pouco mais da metade dos municípios realizava vigilância da qualidade da água e, entre esses, pouco mais de 40% apresentavam fluoretação em níveis considerados ótimos. “Há importante espaço para expandir e qualificar a implementação da política pública em nosso país”, avalia.

De acordo com o Conselho Federal de Odontologia, estudos apontam que cerca de 25% dos brasileiros ainda não contam com cobertura adequada de fluoretação.  “Em algumas localidades, são maiores os índices de CPOD, o que corrobora a relevância da adição do flúor nas águas de abastecimento público”, acrescenta Claudio Miyake. Para ele, o caminho passa por ampliar os serviços públicos odontológicos, incluindo não apenas o acesso a tratamentos dentários, mas também a programas de prevenção e orientação – a exemplo da lei nº 14.572, de 2023, que instituiu a Política Nacional de Saúde Bucal.

Bruna Fronza lembra, ainda, que o flúor não atua sozinho. Ele funciona em conjunto com outras práticas essenciais para manter dentes e gengivas saudáveis, como escovar os dentes três vezes ao dia, usar o fio dental, evitar o consumo excessivo de açúcar entre as refeições, beber água potável (preferencialmente fluoretada) e consultar o dentista com regularidade.

“Todas essas ações exigem participação ativa do indivíduo e da população, o que nem sempre é viável em contextos de vulnerabilidade social”, resume a especialista do Einstein. “Já a fluoretação da água é uma forma ampla de proteção, que não depende do comportamento individual para gerar benefício. Por isso, é considerada uma estratégia efetiva em saúde pública.”

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Pasta com flúor faz mal? Esclareça 17 mitos e verdades sobre a cárie

Segundo a OMS, a cárie é a condição de saúde bucal mais comum no mundo; especialistas explicam as principais estratégias de prevenção e tratamento

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

As doenças bucais, embora amplamente preveníveis, ainda representam um grande problema de saúde pública: segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que as condições orais afetem cerca de 3,5 bilhões de pessoas no mundo. As lesões de cáries não tratadas, por exemplo, são as mais comuns, de acordo com o Relatório Global de Status de Saúde Oral da OMS.

Publicado em 2022, o documento aponta que a prevalência das doenças orais continua crescendo globalmente, sobretudo devido à exposição insuficiente ao flúor (no abastecimento de água e nos produtos de higiene oral, como cremes dentais), além do acesso precário a serviços de saúde bucal e maior consumo de alimentos com alto teor de açúcar.

“As lesões de cárie acontecem através do biofilme que se forma pela adesão de bactérias na superfície dos dentes”, explica a cirurgiã-dentista Bruna Fronza, professora doutora da disciplina de Odontologia Preventiva e Restauradora aplicada à Dentística e Cariologia, do curso de Odontologia da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein (FICSAE). “Conforme o paciente ingere bebidas e alimentos que contêm açúcares e carboidratos, as bactérias do biofilme convertem esses alimentos em ácidos que levam à dissolução das estruturas dentais, podendo formar cavidades nos dentes.”

A boa notícia é que a cárie é uma doença prevenível e tratável. A seguir, conheça os principais mitos e verdades sobre o assunto:

  1. A cárie é uma doença

VERDADE. A cárie é uma doença crônica e multifatorial, dependente da ingestão de açúcar e de outros fatores – entre eles, alimentação rica em carboidratos e higienização inadequada. Considerar a cárie uma doença é importante para entender que ela pode ser controlada.

  1. O açúcar é o único causador da cárie

MITO. O açúcar é o principal combustível para que as bactérias envolvidas no desenvolvimento da cárie façam com que a doença progrida. “Ele ajuda na formação do biofilme dental, que nada mais é do que a agregação das bactérias aderidas à superfície do dente, formando uma placa. Com a ação do açúcar, essas bactérias excretam ácidos que desmineralizam a estrutura do dente e levam à formação de cavidades ou lesões de cárie”, explica Fronza.

E o vilão não é apenas o açúcar usado para adoçar comidas e bebidas, mas sim qualquer alimento rico em carboidrato, que vai ser metabolizado na boca e virar açúcar. Além disso, a qualidade e a frequência da higiene bucal também podem contribuir para a formação das lesões, uma vez que a escovação atua na desorganização dessas bactérias.

  1. A saliva ajuda a evitar cárie

VERDADE. A nossa saliva tem um papel importante no equilíbrio fisiológico da boca e no controle da progressão da cárie. Suas funções são: fazer a limpeza mecânica e desorganizar o biofilme (que é o acúmulo de bactérias) nos dentes; e manter o pH da boca em um nível neutro.

“Toda vez que nos alimentamos de carboidratos e açúcares, o pH da cavidade bucal diminui, fica mais ácido. A saliva é a responsável por trazer esse pH para o básico novamente. Além disso, os sais minerais presentes na saliva são responsáveis por remineralizar o dente, que pode estar passando por um processo de desmineralização e, com isso, impedir a formação de uma lesão de cárie”, explica Bruna Fronza.

  1. Idosos tendem a ter mais cáries

MITO. Pessoas idosas naturalmente têm uma diminuição do fluxo salivar, mas isso não significa mais facilidade para desenvolver lesões de cárie. “Para um idoso ter cárie vai depender dos mesmos fatores de risco: ingestão do açúcar, a frequência de escovação e a qualidade dessa escovação”, observa a cirurgiã-dentista Aline Moreno Ferreira Campos, professora do curso de especialização Odontologia em Saúde Coletiva: Ênfase em Saúde da Família e Comunidade, do Ensino Einstein.

  1. Toda cárie provoca dor

MITO. A lesão começa bem pequena, como uma manchinha branca, muitas vezes imperceptível, que vai evoluir e abrir uma cavidade. Enquanto essa lesão está na parte mais externa do dente (que é o esmalte), em geral, a pessoa não sente nada. “Esse é o estágio em que consideramos que a lesão é reversível, onde não seria necessário fazer uma restauração, por exemplo”, conta Bruna Fronza.

Quando a cárie progride e começa a atingir os tecidos mais profundos do dente (a dentina), chegando mais perto da polpa, a pessoa começa a ter algum tipo de sintoma. “Mas isso não é regra. Tem paciente que chega com uma lesão de cárie e nunca sentiu nada. Por isso, são importantes as consultas frequentes ao dentista para acompanhamento da condição de saúde bucal”, alerta Aline Campos.

  1. O tratamento da cárie sempre envolve fazer restauração

MITO. Nem sempre um paciente com cárie terá de fazer uma restauração. A cárie pode paralisar e parar de avançar se a pessoa passar a escovar corretamente os dentes, usar o fio dental e manter uma alimentação adequada, com higienização bucal frequente. “É o que chamamos de cárie crônica. É uma doença que para de progredir, fica estável, controlada”, explica Campos.

Nesses casos, em que a cárie ainda está no começo, um dos tratamentos indicados é a fluorterapia – que pode ser por meio de um creme dental ou de um tratamento no consultório para conseguir remineralizar aquela mancha. “A pessoa pode alterar o percurso da doença se mudar seus hábitos de ingestão de alimentos açucarados e de higienização. A cárie pode ser controlada”, destaca Aline.

  1. Quem usa aparelho vai ter cárie

MITO. O que acontece é que o fato de uma pessoa usar aparelho nos dentes torna mais difícil a higienização adequada da região. O próprio aparelho acaba retendo mais alimentos em locais que as bactérias conseguem ficar depositadas para proliferar e formar o biofilme.

“Não é porque usa aparelho que vai ter cárie. Mas esses pacientes precisam de cuidados redobrados porque eles têm um risco maior de desenvolver a doença por conta da dificuldade de higienização”, ressalta Bruna Fronza, ao acrescentar que existem escovas especiais que podem ser usadas além do modelo convencional e do fio dental para conseguir limpar melhor essas regiões.

  1. A menopausa é fator de risco para o surgimento da cárie

MITO. O desenvolvimento da cárie não tem nenhuma relação com alterações hormonais, sejam elas da menopausa, da gestação ou qualquer outra. Os cuidados para evitar o surgimento da lesão são os mesmos, sejam em uma mulher jovem, na menopausa ou idosa.

  1. Todo mundo vai ter cárie pelo menos uma vez

MITO. Apesar de ser muito frequente, nem todo mundo vai desenvolver o problema. “Hoje em dia está aumentando a proporção de pessoas que não têm, nunca tiveram e provavelmente nunca vão ter lesão de cárie. A questão da fluoretação da água, por exemplo, foi uma das estratégias de saúde pública que ajudaram nessa redução no Brasil e no mundo”, afirma Aline Campos.

Além disso, a oferta de produtos de higiene bucal nos postos de saúde e a inclusão das equipes de saúde bucal na estratégia de Saúde da Família no Sistema Único de Saúde (SUS) são medidas essenciais para ampliar o acesso ao dentista. “Também temos no mercado a disponibilidade de diversas marcas e valores de produtos de higiene bucal, o que é positivo como medida de prevenção para que muita gente não tenha cárie na vida”, reforça.

  1. A cárie tem cura

VERDADE. A doença de cárie tem cura a partir do momento em que o paciente trata as lesões e consegue de forma efetiva mudar os hábitos de higiene e alimentares.

  1. Após ser tratada, a cárie não volta

MITO. A cárie é uma doença crônica e controlável, e é possível evitar que apareçam novas lesões. Mas, se em algum momento o paciente parar de higienizar os dentes corretamente e tiver alguma alteração, pode ser que ela volte.

  1. O flúor ajuda a prevenir a cárie

VERDADE. O flúor tem um papel protetor para os dentes. “Uma vez que ingerimos água fluoretada e utilizamos creme dental fluoretado, os íons de flúor ficam disponíveis na saliva. Dessa forma, o flúor consegue se incorporar à estrutura dental, deixando-a mais resistente à desmineralização. Ele age como um reforço para que a desmineralização não aconteça tão fácil”, explica Bruna.

  1. O uso de pasta com flúor faz mal para a saúde

MITO. Vários estudos e evidências científicas comprovam os benefícios do flúor para a saúde dos dentes, desde que ele seja usado nas doses recomendadas: para uma criança com até 4 anos, a quantidade de creme na pasta deve ser do tamanho de um grão de arroz; para quem tem mais de 4 anos, do tamanho de uma ervilha. A concentração de flúor no creme dental deve ser de pelo menos 1.000 partes por milhão (ppm).

O flúor, principalmente aquele presente na pasta de dente, pode ser prejudicial somente se for ingerido em excesso — o que não é comum. “É importante um responsável sempre acompanhar a criança durante a escovação para garantir que a quantidade de pasta colocada esteja de acordo com o recomendado e evitar que a criança engula pasta de dente em excesso”, alerta Campos.

Um dos possíveis prejuízos que existe – apenas para as crianças – é o desenvolvimento da fluorose, que são manchas brancas estriadas nos dentes, que se desenvolvem no período em que eles estão erupcionando. “Adultos não desenvolvem fluorose, somente crianças, pois é justamente no período da formação dos dentes que ocorre sua formação”, explica Aline.

Segundo ela, essas manchas não causam nenhum outro tipo de prejuízo à saúde, é apenas uma questão estética. Entre as estratégias de tratamento estão clareamento dental, microabrasão ou restaurações.

  1. Escovar os dentes previne cárie

VERDADE. Essa é uma das principais estratégias de prevenção para o desenvolvimento da cárie: fazer uma boa escovação, de maneira eficiente, pelo menos duas vezes por dia, com a pasta fluoretada, é o suficiente para garantir a proteção dos dentes contra a cárie.

O movimento da escovação tem que ser suave, a ponto de não causar nenhum tipo de trauma na gengiva – por isso, a escova precisa ter cerdas macias. “Não precisa colocar força no movimento, apenas fazer o suficiente para desorganizar as bactérias do biofilme. A pasta de dente é um coadjuvante nesse processo, um auxiliar devido à sua composição fluoretada. Mas o mais importante é como é feita a escovação”, destaca Campos.

  1. Usar enxaguante bucal regularmente previne cárie

MITO. Se a pessoa já usa um creme dental fluoretado, não tem necessidade de usar um enxaguante bucal de rotina para prevenção da cárie. “Em alguns casos, prescrevemos o uso de enxaguantes bucais com um princípio ativo específico (como a clorexidina), para o tratamento de doenças gengivais, e não da cárie. O uso é limitado, em torno de 15 dias, e ele atua como remédio”, diz Campos.

A professora Bruna Fronza diz que não há problemas em usar enxaguantes regularmente, desde que sejam sem álcool, já que essa substância resseca a mucosa da boca. “Mas eles não previnem a cárie”, frisa. Campos concorda: “Não tem problema usar, mas não adianta achar que vai substituir a escovação pelo enxaguante bucal, porque não vai funcionar. “

  1. A cárie é um problema de saúde pública

VERDADE. A cárie é considerada um problema de saúde pública por ser uma doença multifatorial e social – estudos apontam que, além dos fatores de risco convencionais (como açúcar e higienização), ela tem relação também com as condições socioeconômicas da família, grau de escolaridade da mãe, cultura, comportamentos, conhecimento, entre outros. Dessa forma, o acesso ao serviço de saúde é fundamental para a prevenção e o controle da doença.

“A cárie é uma doença muito complexa e é difícil de erradicar, mas temos que ampliar as estratégias para minimizar os riscos e conseguir garantir que todos esses fatores interfiram o mínimo possível no desenvolvimento dessa doença”, comenta Campos.

  1. Antibiótico causa cárie

MITO. É muito comum a crença de que crianças que tomam antibiótico têm dentes mais fracos e com mais lesões de cárie. “Isso não é verdade. Se uma criança tomou muito antibiótico, é porque ficou muito doente. O que pode acontecer é que, nesse período da doença, os cuidados com os dentes podem ter sido deixados de lado. Além disso, o antibiótico é açucarado e sua ingestão por um período prolongado acaba aumentando o risco. Mas isso não tem a ver com o produto antibiótico, e sim uma possível falta de cuidados na higienização”, observa Campos.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Saiba os prós e contras das lentes  de contato dentais usadas por famosos

As facetas não são indicadas para todos os pacientes; procedimento pode ser irreversível e, se não for feito da maneira correta, pode trazer diversos danos.

 

Por Úrsula Neves, da Agência Einstein

As lentes de contato para os dentes viraram uma febre entre celebridades e até mesmo entre pessoas comuns, que exibem nas redes sociais seus sorrisos alinhados e superbrancos. No entanto, a aplicação desses laminados altera não apenas a cor, mas também o posicionamento dos dentes, causando desgaste e pequenas alterações morfológicas permanentes. E o mais importante: o processo é irreversível, dependendo do material escolhido. Portanto, é essencial realizar uma análise individual e criteriosa antes de decidir colocar as facetas.

“É importante saber que cada vez que se tira uma lente de contato, mesmo que a remoção seja realizada com laser, haverá prejuízos aos dentes. Portanto, é fundamental pensar bem sobre as vantagens e desvantagens, além de fazer com um profissional bem qualificado, que faça todas as provas para evitar arrependimentos”, orienta o cirurgião dentista José Todescan Junior, especialista em prótese dental, odontopediatria e endodontia pela Universidade de São Paulo (USP).

Além de ter um preço elevado, essa técnica não é recomendada para todos e pode até apresentar riscos, especialmente se for executada por profissionais não qualificados, como ocorreu no caso da empresária Alana Villela, de 38 anos.

“Eu me arrependi muito do tratamento da forma como foi realizada. Meus dentes já tinham uma matriz mais infantil pois eram muito pequenos. Depois, ainda sofri um acidente. Só depois de muitos anos procurei um dentista para realizar o procedimento. Alguns ajustes necessários não foram bem-feitos e fiquei com os dentes maiores do que deveria”, conta a empresária, que descobriu depois que sofre de bruxismo – transtorno em que a pessoa aperta ou bate os dentes, principalmente durante o sono.

“Houve também um desgaste muito grande e o resultado ficou péssimo. Virei refém do tratamento, vou ter que refazê-lo em breve com outro profissional e pagar a manutenção periódica para sempre. Não sou contra o procedimento, somente da forma como ele foi feito”, explica Villela, que precisa dormir com um protetor dental todas as noites para não danificar ainda mais as lentes de porcelana.

Segundo o cirurgião dentista, a longevidade das restaurações é realmente menor em casos de pacientes com bruxismo, como a empresária. “Sempre devemos utilizar placas de proteção noturna para proteger as restaurações. Lembrando que não existe cura para o bruxismo, embora existam métodos que diminuam os seus danos”, comenta o especialista.

Já indivíduos com refluxo gastroesofágico crônico devem evitar o procedimento, como adverte o médico gastroenterologista e clínico Jaime Zaladek Gil, que atua no Hospital Israelita Albert Einstein.

“Pessoas que sofrem de refluxo mais relevante devem tomar cuidado com protocolos que promovem desgaste do esmalte dentário, uma vez que estão mais propensas a sofrer erosões e desgastes mais frequentes pelo refluxo e, portanto, podem somar essa condição a um processo realizado pelo profissional desavisado. Lembrando que a doença do refluxo, quando muito severa, pode contribuir para um desgaste de materiais pela acidez. E, quanto maior o refluxo e a regurgitação, maior o desgaste potencial”, explica o médico do Einstein. 

 

Como evitar arrependimentos 

Todescan Junior esclarece que uma boa maneira de evitar arrependimentos é fazer um test drive com facetas de resina impressas em 3D, que ficam adesivadas provisoriamente. Trata-se de um processo que permite ao paciente decidir pela melhor aparência dos dentes sem causar desgastes desnecessários, em caso de desistência do formato e da cor escolhidas.

“Todo o processo de lente de contato dental produzido com porcelana vai gerar um pequeno desgaste dentário. E esses processos são irreversíveis. Mas com a odontologia digital conseguimos visualizar exatamente como o trabalho vai ficar depois. Se o paciente tiver dúvida, podemos produzir facetas de resina impressas em 3D, que ficam adesivadas provisoriamente para que ele use num período de 15 a 30 dias ou até que se sinta seguro em realizar o procedimento mais duradouro”, explica. 

 

Para quem é indicado?

O especialista pontua que a colocação das facetas é indicada para quem deseja melhorar a estética de seus dentes fazendo alterações de forma, tamanho, posicionamento e coloração dos dentes. Porém, ele deixa claro que se o desejo for apenas de uma alteração de cor, o clareamento é o método indicado. Já se o paciente quiser corrigir um posicionamento, a ortodontia é o melhor tratamento, uma vez que algumas alterações de forma podem ser realizadas em resina.

Todescan Junior ainda esclarece que se os dentes estiverem sem restaurações prévias e posicionados de maneira ideal, o desgaste causado será de apenas 0,3mm, ficando localizado apenas na parte do esmalte do dente. “A sensibilidade pode ser maior dependendo das restaurações que existam previamente e da posição de cada dente no arco”, complementa o cirurgião dentista.

 

Qual material é o mais indicado?

As lentes de contato dentais podem ser confeccionadas em resina ou porcelana, com diferentes indicações e níveis de dureza. Normalmente, as resinas são mais fáceis de polir e, se quebrarem, podem ser reparadas mais rapidamente na boca do paciente. No entanto, elas tendem a ter uma vida útil mais curta, são geralmente mais frágeis, propensas a manchas e sofrem maior desgaste ao longo do tempo.

Por outro lado, as facetas de porcelana mantêm sua cor ao longo do tempo, apresentando menor probabilidade de manchas e não necessitando de sessões de repolimento.

O custo da técnica varia dependendo do material escolhido, do número de facetas e da complexidade do caso, bem como do nível de qualificação do profissional e da localização da clínica odontológica. Em geral, no mercado, o preço de cada faceta (por dente) pode variar de R$ 3.000 a R$ 9.000.

“É importante calcular e medir o custo biológico do tratamento. Toda vez que se trata um dente, estamos causando um dano permanente. Contudo, não podemos esquecer que as lentes de contato dentais trazem uma mudança na vida dos pacientes, melhorando a autoestima e, em alguns casos, até mesmo a função da mastigação”, ressalta Todescan Junior. 

Ele explica que é necessário fazer a melhor higiene possível, voltar ao dentista seguindo o intervalo estipulado, e evitar alimentação ácida e/ou com corantes. Caso a pessoa não realize uma boa limpeza bucal, existe a possibilidade do surgimento de cáries secundárias, inflamação na gengiva e, em casos mais extremos, perda óssea.

“É muito importante que o cirurgião dentista avise ao paciente que o dente com faceta está muito mais sujeito a ter cáries, pois a emenda entre a faceta e o dente é sempre uma área de risco. Por isso é que as técnicas mais modernas utilizam a resina termo modificada para fazer essa aderência entre a porcelana e o dente. Esse cuidado diminui os riscos de manchas e o aparecimento de cáries secundárias”, alerta Todescan Junior.

 

Passo a passo da colocação das facetas dentárias 

O cirurgião dentista explica que, na primeira sessão, é realizado um exame clínico, radiografias iniciais, solicitação de tomografia, escaneamento intra e extraoral, montagem do modelo em um articulador semiajustável e uma entrevista com o paciente.

Em seguida, o dentista deve realizar um estudo, reunindo os dados coletados, a anamnese, as tomografias, radiografias, escaneamentos e a montagem do modelo no articulador. Essa análise utiliza técnicas que envolvem ferramentas como simuladores em 3D, aparelhos de raio-X panorâmicos e scanners no consultório.

É na primeira consulta que o dentista identifica qual a melhor técnica para a correção de cada dente e se realmente existe indicação para a colocação das lentes de contato. É também neste momento em que são identificados todos os hábitos bucais deletérios que o paciente possui que podem influenciar no tratamento, como bruxismo e refluxo gastroesofágico, assim como hábitos de dieta.

“Como há a presença de substâncias ácidas em refrigerantes e isotônicos, por exemplo, o consumo dessas bebidas estraga o dente mais do que a cárie e os pacientes têm um risco aumentado de perder as lentes de contato”, esclarece Todescan Junior.

O profissional também avalia os estresses mecânicos, a intensidade de modificação na cor e forma dos dentes, além do aspecto das gengivas. “A condição de uma gengiva sadia é fundamental para a realização deste e de qualquer procedimento”. Na segunda sessão, o dentista faz o procedimento de clareamento dentário, que deve ser realizado com os dentes livres de manchas ou tártaros.

Nessa consulta, também é apresentado ao paciente o planejamento do tratamento, e são discutidos todos os prós e contras, quaisquer alterações no planejamento e as possibilidades dos resultados em todas as etapas. O cirurgião dentista normalmente investe cerca de 20 horas somente na elaboração de todo o planejamento do projeto.

“Quando há indicação da colocação das lentes de contato, apresento ao paciente um projeto virtual chamado MockUp, que é realizado em softwares de CAD. Esse projeto é impresso em impressora 3D e, posteriormente, são realizadas guias para que sejam transferidas para a boca do paciente. Todo o processo é feito de maneira reversível e sem anestesia. Desta maneira, é possível observar como será o resultado antes de qualquer broca encostar em qualquer dente”, explica o cirurgião dentista.

Na terceira sessão, o dentista vai aprovar com o paciente a tonalidade das facetas e faz um test drive com as facetas de resinas provisórias impressas em 3D, principalmente em casos de bruxismo, quando é necessário fazer um reposicionamento do maxilo mandibular ou ainda alterar o tamanho dos dentes posteriores. Outra possibilidade é colocar uma resina bisacrílica, que é adesivada diretamente nos dentes até a verificação de como o sistema estomatognático do paciente reage a essas alterações.

Na quarta sessão, ocorre o preparo e escaneamento dos dentes, seguido pela colagem das facetas provisórias. Em casos de dentes íntegros, é necessário realizar um preparo para atingir uma profundidade de 0,3 mm, que permite a aplicação da faceta. Por outro lado, em casos de dentes já tratados, muitas vezes, o cirurgião dentista não precisa fazer um preparo mais profundo para acomodar a faceta, limitando-se à remoção de cáries ou áreas de retenção a fim de preservar os dentes.

Após determinar a trajetória de inserção dessas facetas, é feito um escaneamento, onde o software vai desenhar e produzir as facetas duradouras. Depois do projeto ser aprovado e todos os preparativos realizados, a colocação das facetas na boca demora, em média, de quatro a cinco horas.

 

Quais as vantagens e desvantagens do procedimento: 

 

Vantagens:

✓ Proporciona uma mudança na vida dos pacientes, elevando a autoestima;

✓ Pode contribuir para a melhora da mastigação;

✓ Realinha dentes tortos ou desalinhados e com muitas restaurações;

✓ Alta durabilidade, caso seja realizado com um bom material e o paciente não sofrer de bruxismo;

✓ Recupera os dentes manchados, proporcionando maior resistência a manchas futuras, caso as facetas sejam feitas de porcelana (que costuma ser o material mais caro).

 

Desvantagens: 

✓ Processo que costuma ser irreversível, principalmente no caso das facetas de porcelana;

✓ Custos de colocação e manutenção altos, no caso das facetas de resina;

✓ A cor e o formato dos dentes não podem ser alterados;

✓ Desgaste dos dentes naturais em menor ou maior grau;

✓ Pode haver dificuldade de reparação em caso de fratura, quando a faceta é de porcelana. Neste caso, uma nova faceta deverá ser produzida e colocada;

✓ O paciente deve realizar uma higiene dental mais cuidadosa para evitar doenças periodontais, uma vez que o dente com faceta está muito mais sujeito a ter cáries por causa da emenda entre eles;

✓ Necessidade de colocação de uma placa de proteção dental antes de dormir para preservar os dentes, principalmente em casos de bruxismo;

✓ Menor durabilidade das facetas em pacientes que rangem os dentes ou apresentam uma mordida desequilibrada;

✓ Aumento de sensibilidade nos dentes, dependendo das restaurações prévias e da posição dos dentes na arcada.

 

Fonte: Agência Einstein

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