NUTRIÇÃO

Saúde

Microbiota intestinal: veja como a saúde do intestino pode afetar o corpo todo 

O desequilíbrio está associado a doenças como alergias, problemas respiratórios, obesidade e até depressão e ansiedade; a diarreia e a constipação devem ser investigadas 

 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Todo mundo algum dia já deve ter ouvido ou falado as expressões “senti um frio na barriga” e “fiz das tripas o coração” sem se dar conta de que estava se referindo ao intestino, e sem saber o quanto ele realmente é importante para o funcionamento adequado do organismo. Agora a ciência está desvendando como os milhões de microrganismos que vivem ali – a chamada microbiota – impactam vários aspectos da vida, da saúde, do peso e até o humor das pessoas.

O intestino vem sendo cada vez mais visto como um aliado no tratamento de doenças sistêmicas, como obesidade, câncer, alergias, problemas respiratórios e dermatológicos. “Sentimos vergonha dele, mas estamos tão ligados ao intestino que isso transparece na nossa comunicação. Não é à toa que o intestino é considerado nosso segundo cérebro”, diz Diogo Toledo, médico nutrólogo do Hospital Israelita Albert Einstein.

De fato, há uma conexão direta entre esses dois órgãos através de uma espécie de “cabo” – o nervo vago –, que controla desde a frequência cardíaca até os movimentos do trato digestivo. Essa é uma das razões pelas quais, quando a pessoa leva um susto ou está sob tensão, sente dor abdominal ou vontade de vomitar, por exemplo.

Além disso, as pesquisas recentes destacam o papel do microbioma, o conjunto de bactérias, fungos, vírus – bem como seus genes e metabólitos – que vivem em nosso organismo, principalmente no intestino (o termo microbiota se refere apenas aos microrganismos). Mais numerosos que as próprias células do corpo, eles ajudam na digestão, metabolizando os nutrientes, formam uma barreira de defesa contra patógenos e cumprem uma função imunológica, modulando a resposta inflamatória. “A microbiota pode ser a chave para muitas perguntas ainda sem resposta da ciência”, diz Toledo.

Quando, por algum motivo, há o aumento de microrganismos prejudiciais ou a redução dos benéficos, ocorre um desequilíbrio – a disbiose – e a microbiota deixa de desempenhar adequadamente suas tarefas. Um ambiente ruim piora o processo de absorção de nutrientes e a metabolização de remédios. Também pode intensificar as reações inflamatórias, com a liberação exagerada de células imunológicas e citocinas inflamatórias na corrente sanguínea. Esse conteúdo chega a órgãos como cérebro, rins, pele, coração e fígado, podendo amplificar a resposta de alguns quadros.

Isso explica por que a microbiota intestinal vem sendo relacionada à exacerbação de problemas como acne, obesidade, rinite alérgica, eczema, candidíase, síndrome do intestino irritável, depressão e ansiedade. Para ter uma ideia, pesquisas mostram que pessoas com dermatite atópica possuem menor diversidade de bactérias intestinais do que aquelas sem a doença.

Microbiota é única para cada indivíduo 

A microbiota começa a se formar ainda na vida intrauterina e depende de fatores como hábitos da mãe, se a criança foi amamentada e até do tipo de parto. Depois, é afetada pelo estilo de vida, incluindo alimentação, atividade física, tabagismo, uso de medicamentos (principalmente antibióticos), estresse, falta de vitamina D e o próprio envelhecimento. “Sua composição é única para cada indivíduo. É como uma assinatura”, diz Toledo. Além disso, ela varia ao longo da vida.

Sintomas relacionados a hábitos intestinais (como diarreia e constipação), distensão abdominal e gases, entre outros, sinalizam que há algum desequilíbrio. O médico também pode solicitar exames laboratoriais de fezes mais específicos diante de alguma suspeita de problemas.

O médico do Einstein explica que reequilibrar a microbiota passa por uma mudança de estilo de vida. “Mas às vezes isso pode não ser suficiente”, diz o nutrólogo. Nesses casos, é possível usar probióticos, que contém microrganismos específicos na sua fórmula, e prebióticos, que são as fibras que alimentam esses microrganismos e estimulam seu desenvolvimento. São produtos diferentes dos encontrados em supermercados. Eles devem ser prescritos pelo médico ou nutricionista e os resultados aparecem em cerca de 90 dias, no mínimo.

Alguns estudos mostram ainda que a suplementação pode melhorar quadros de constipação e reduzir crises de eczema, rinite e chiado em alguns casos, além de amenizar sintomas de depressão.

Fonte: Agência Einstein

 

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Saúde

Maior tempo em frente às telas está associado à piora da dieta de adolescentes 

Pesquisa brasileira avaliou dados de 1,2 mil adolescentes de escolas públicas de Curitiba e constatou que a maioria fica mais de duas horas por dia nas telas 

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

Quanto maior o tempo em frente às telas (televisão, videogame ou celular e/ou tablets), pior a qualidade da dieta dos adolescentes, aponta um estudo brasileiro realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O uso excessivo de tela está associado ao maior risco de sobrepeso e obesidade, além de baixos níveis de atividade física, menor duração do sono e menor qualidade de vida relacionada à saúde.

Segundo a pesquisa, 74,4% dos adolescentes avaliados apresentaram um uso excessivo de tela, o que significa que aproximadamente três em cada quatro ficam mais de duas horas por dia em frente às telas, superando o limite de duas horas diárias recomendado para essa faixa etária pela Academia Americana de Pediatria.

Para chegar aos resultados, os pesquisadores analisaram dados de 1,2 mil estudantes do ensino fundamental 2 e do ensino médio, matriculados em 30 escolas públicas de Curitiba – incluindo crianças e adolescentes entre 10 e 19 anos. O tempo de tela foi coletado separadamente, considerando os três tipos de dispositivos: televisão, videogame e telas portáteis (computador, celular e tablet). Os alunos indicaram o número de vezes que usavam cada dispositivo e o tempo para que pudesse ser calculada a média semanal de uso de cada um deles.

Depois disso, eles responderam a um questionário sobre seus hábitos alimentares e a frequência de consumo de vários itens, o que possibilitou classificar a qualidade da dieta como baixa, média ou alta. Os pesquisadores fizeram ajustes para diversas variáveis, como sexo e faixa etária, comportamentos relacionados à saúde (prática de exercício físico e índice de qualidade da dieta), renda do entorno escolar e, por fim, ambiente construído para a atividade física.

De acordo com a pesquisa, a televisão foi o dispositivo com maior tempo excessivo (56,5%), seguida das telas portáteis (53,2%) e do videogame (22%). E a variável que foi significativamente associada ao tempo excessivo de TV foi a piora da qualidade da dieta, o que reforça que o tempo que os jovens passam em frente à TV está diretamente ligado ao hábito alimentar não saudável e ao consumo de alimentos ultraprocessados.

Os ultraprocessados são aqueles alimentos que passaram por uma grande transformação na indústria e carregam boas doses de aditivos, como corantes, conservantes e flavorizantes, capazes de mudar cor, textura, sabor e aroma – aditivos cosméticos usados para deixá-los mais palatáveis e atraentes. Esses alimentos incluem cereais matinais, embutidos, bolachas, salgadinhos, pratos prontos, refrigerantes, sucos de caixinha, chocolates e balas, entre muitos outros.

Segundo a nutricionista Serena del Fávero, do Hospital Israelita Albert Einstein, uma dieta de má qualidade e rica em alimentos ultraprocessados durante a adolescência pode ter impactos significativos na saúde desse jovem, favorecendo o desenvolvimento de sobrepeso e obesidade e aumentando o risco de doenças crônicas, como problemas cardiovasculares, diabetes tipo 2 e até alguns tipos de câncer. “Além disso, o consumo de nutrientes inadequados pode afetar o crescimento e o desenvolvimento físico, além de comprometer a função cognitiva e o desempenho acadêmico”, alertou.

A nutricionista ressalta também que os hábitos alimentares formados na infância e na adolescência frequentemente persistem na vida adulta, aumentando o risco de problemas de saúde a longo prazo. “Uma dieta de má qualidade na adolescência não afeta apenas a saúde atual, mas também estabelece as bases para problemas de saúde futuros”, disse.

Segundo a nutricionista Gabriela Mieko, da equipe da especialista do Einstein, o aumento do tempo de tela está associado à piora na qualidade da alimentação dos adolescentes por várias razões: primeiro porque, na maioria das vezes, esse tempo coincide com o consumo de lanches e petiscos, que tendem a ser de baixa qualidade nutricional e ricos em açúcares, gorduras saturadas e sal. “Isso ocorre porque a atenção do adolescente fica dividida, o que pode levar ao menor controle sobre a quantidade e qualidade do que é consumido”, disse.

Além disso, reforça Mieko, a publicidade de alimentos ultraprocessados, que são altamente palatáveis, mas nutricionalmente pobres, costuma ser prevalente durante o tempo de tela, incentivando ainda mais o consumo desses produtos. “Assim, o ambiente propiciado pelo tempo de tela favorece as escolhas alimentares menos saudáveis, contribuindo para uma piora na qualidade da alimentação”, afirma.

Como buscar o equilíbrio 

A popularização do acesso a computadores, celulares e tablets tem ampliado a gama de dispositivos eletrônicos a serem considerados quanto ao tempo de tela. Essa é uma tecnologia cada vez mais presente na rotina dos adolescentes, inclusive na escola, e especialmente após a pandemia de Covid-19. Diante desse cenário, qual seria a forma de melhorar a qualidade da dieta e a adesão à prática de atividade física?

“Incorporar ações educativas sobre a importância da nutrição e da atividade física para a saúde no próprio ambiente escolar é muito importante. Juntamente a isso, incentivar o adolescente a participar de esportes e atividades físicas organizadas na escola ou na comunidade pode oferecer alternativas divertidas e sociais ao tempo de tela e proteger contra o sedentarismo. Por fim, o envolvimento de pais e responsáveis é fundamental para promover um ambiente familiar que valorize as refeições nutritivas e a prática de atividades físicas, reforçando hábitos saudáveis”, destaca Fávero. 

Segundo a nutricionista Mieko, o fato de mais um estudo brasileiro evidenciar a relação entre tempo de tela, qualidade da dieta e atividade física destaca um problema de saúde pública crescente e fornece dados que podem orientar políticas públicas e programas de intervenção adaptados à realidade brasileira.

“Além disso, reforça-se a necessidade de ações multidisciplinares que envolvam familiares, educadores, profissionais de saúde, governos e a sociedade civil para abordar os desafios de maneira integrada, na promoção de estilos de vida saudáveis entre os adolescentes, contribuindo para a melhoria da saúde pública e o bem-estar da população brasileira”, finaliza. 

Fonte: Agência Einstein 

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