NUTRIÇÃO

Saúde

Ultraprocessados já representam 23% da alimentação no Brasil

O relatório lembra que, após a Segunda Guerra, esses produtos se espalharam entre nações de alta renda, mas se tornaram um fenômeno mundial nos anos 80, impulsionados pela globalização

O consumo de ultraprocessados no Brasil mais que dobrou desde os anos 80. Ele saltou de 10% para 23% da alimentação nacional, revelam artigos publicados por mais de 40 cientistas liderados por pesquisadores da USP.

A série, divulgada pela revista The Lancet, mostra que o fenômeno é mundial. Entre 93 países analisados, 91 registraram aumento no consumo desses produtos industrializados – conhecidos por serem prontos para consumo, muito duráveis e altamente palatáveis.

Nos Estados Unidos, os ultraprocessados já são mais de 60% da dieta. No Reino Unido, a taxa permanece estável em 50%. O Brasil segue tendência de ascensão contínua.

Dados do estudo revelam aumentos expressivos em outras regiões:

  • Espanha e Coreia do Sul triplicaram o consumo em 30 anos.

  • China saltou de 3,5% para 10,4%.

  • Argentina passou de 19% para 29%.

Segundo Carlos Monteiro, pesquisador do Nupens/USP e líder do estudo, esse avanço não é espontâneo:

“O crescimento é impulsionado por grandes corporações, apoiadas por marketing agressivo e lobby político.”

O consumo começa entre pessoas de maior renda e depois se espalha para outros grupos, repetindo um padrão visto globalmente. Porém, cultura também pesa: países ricos como Itália e Grécia mantêm taxas abaixo de 25%, enquanto Canadá chega a 40%.

O relatório lembra que, após a Segunda Guerra, esses produtos se espalharam entre nações de alta renda, mas se tornaram um fenômeno mundial nos anos 80, impulsionados pela globalização.

O avanço dos ultraprocessados acompanha o aumento global de:

  • obesidade,

  • diabetes tipo 2,

  • câncer colorretal,

  • doenças cardiovasculares e

  • doenças inflamatórias intestinais.

De 104 estudos analisados, 92 apontaram maior risco de ao menos uma doença crônica em dietas ricas nesses produtos.

O que são ultraprocessados?

A classificação NOVA, criada por pesquisadores brasileiros em 2009, divide alimentos em quatro grupos:

1. In natura ou minimamente processados

Frutas, verduras, carnes, grãos, congelados e alimentos cuja estrutura original é mantida.

2. Ingredientes processados

Subprodutos usados no preparo de refeições: óleo, açúcar, sal.

3. Processados

Alimentos do grupo 1 com ingredientes do grupo 2.
Exemplos: enlatados, pães simples, sucos integrais.

4. Ultraprocessados

Misturas industriais com aditivos químicos que ampliam durabilidade e sabor.
Exemplos: refrigerantes, biscoitos recheados, macarrão instantâneo, snacks saborizados, iogurtes adoçados.

Segundo Monteiro, o processamento deixou de preservar alimentos e passou a criar substitutos com ingredientes baratos e de baixo valor nutricional.

Recomendações dos pesquisadores

O estudo propõe medidas para reduzir o consumo global desses produtos. Entre elas:

1. Rótulos mais claros

Indicação obrigatória de aditivos como corantes e aromatizantes.

2. Proibição em ambientes públicos

Escolas e hospitais não deveriam ofertar ultraprocessados.
O Brasil é citado como exemplo com o PNAE, que determina que 90% dos alimentos servidos sejam frescos ou minimamente processados a partir de 2026.

3. Menos publicidade

Especialmente a voltada ao público infantil.

4. Sobretaxação

Impostos extras sobre ultraprocessados para financiar a distribuição de alimentos frescos a famílias de baixa renda.

Os autores reforçam que a responsabilidade não é individual:

As grandes corporações usam ingredientes baratos, marketing agressivo e embalagens atraentes para moldar hábitos alimentares em escala global.

Com vendas anuais estimadas em US$ 1,9 trilhão, os ultraprocessados formam o setor mais lucrativo da indústria alimentícia.

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Saúde

Abacate pode ajudar no equilíbrio do colesterol, aponta estudo

Pesquisa brasileira mostra que o consumo do fruto favorece a saúde cardiovascular; confira outros benefícios e maneiras saudáveis de incluí-lo no dia a dia

Por Regina Célia Pereira, da Agência Einstein

A polpa cremosa do fruto do abacateiro concentra substâncias benéficas ao organismo, inclusive o coração. Um estudo recém-publicado na revista científica Clinical Nutrition ESPEN reforça o papel desse alimento como aliado da saúde cardiovascular.

Os resultados apontam para uma relação entre o consumo do abacate e a diminuição dos níveis de LDL, o chamado “colesterol ruim”, sobretudo em indivíduos com risco cardiovascular elevado. Há evidências, vindas de outras pesquisas, de que manter o equilíbrio das taxas dessa molécula gordurosa ajuda a resguardar as artérias, diminuindo o risco de males como infarto e acidente vascular cerebral (AVC).

“Nosso estudo utilizou um método conhecido como ‘umbrella review’, que traz uma análise de diversas revisões sistemáticas”, comenta um dos autores do trabalho, Vitor Engrácia Valenti, pesquisador do Centro de Revisões Sistemáticas para Saúde Cardiovascular e Metabólica, na Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Marília.

Segundo Valenti, os estudos avaliados também mostram que, em populações com sobrepeso e diabetes tipo 2, o abacate foi associado à redução da insulina em jejum. “O que sugere benefícios metabólicos adicionais”, observa. Embora a revisão indique esse potencial do fruto, o artigo menciona limitações, a exemplo da heterogeneidade dos desfechos e das diferentes metodologias aplicadas nos trabalhos.

Mix cardioprotetor

Mas existem muitos indícios de que os compostos encontrados no fruto apresentam efeitos cardioprotetores. Para começar, ele oferece sais minerais como o potássio e o magnésio, dupla com impacto positivo na regulação da pressão arterial. Também apresenta alto teor de ácidos graxos monoinsaturados, ou seja, de gorduras benéficas, especialmente o ácido oleico, o mesmo tipo que faz a fama do azeite de oliva.

“Vale menção aos polifenóis que têm ação antioxidante e anti-inflamatória”, destaca a nutricionista Évelin de Carvalho dos Santos, do Einstein Hospital Israelita. Essa junção de componentes melhora a função endotelial, favorecendo a vasodilatação, num mecanismo que blinda as artérias.

Outro grupo é o dos fitosteróis, substâncias com estrutura semelhante ao do colesterol, que acabam disputando para entrar nas células intestinais. Esse processo interfere com a absorção da molécula gordurosa, diminuindo os níveis do LDL.

A polpa contém ainda as fibras solúveis que se ligam aos ácidos biliares – compostos envolvidos na digestão das gorduras –, arrastando-os pelas fezes. Com essa eliminação, há uma necessidade do organismo de repor os tais ácidos, resultando também na redução das taxas de colesterol da circulação.

Do campo ao prato

Nativo da área que engloba o México e uma parte da América Central, o abacateiro tem nome científico Persea americana. Conta-se que era árvore sagrada e entrava em antigos rituais indígenas.

A espécie pertence à família Lauraceae — a mesma do louro usado para temperar o feijão — e suas folhas também exalam um perfume característico. Existem diferentes variedades, desde os grandes, como o Quintal, que é pescoçudo e pode pesar quase um quilo, até os pequeninos, caso do Hass, conhecido como avocado, que tem casca rugosa e escura, passando pelos médios como o Breda, o Margarida e o Ouro Verde.

Ainda que apresentem diferentes consistências, tamanhos e cores, todos são calóricos, por isso, é importante ir devagar com as porções. Não dá para recomendar uma quantidade, tudo vai depender do perfil, do cotidiano e das atividades de cada pessoa.

“Para incluir no dia a dia, a sugestão é manter o equilíbrio, respeitando as preferências”, ensina a nutricionista do Einstein. “Uma opção interessante é amassar o abacate até formar uma pastinha e temperar com sal, pimenta e limão.” A preparação fica ótima para incrementar torradas, numa versão conhecida como avocado toast, que faz sucesso mundo afora.

Tem também o guacamole, receita clássica mexicana que leva cebola, tomate, limão, coentro e pimenta. Além de servir como petisco nas tortilhas, pode compor saladas ou acompanhar carnes e pescados.

O fruto aparece ainda em sobremesas, em forma de cremes, sorvetes e até coberturas de tortas. Cabe mencionar a tradicional “vitamina”, que é a receita do abacate batido no liquidificador com leite e açúcar, muito apreciada no Brasil. Versátil, o fruto pode marcar presença desde cedo, no café da manhã, até o jantar, fica ao gosto do consumidor.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Beber água, café e chá está ligado a maior longevidade

Pesquisa com mais de 180 mil pessoas indica que a combinação equilibrada dessas bebidas pode reduzir o risco de morte, incluindo por doenças cardiovasculares

Por Regina Célia Pereira, da Agência Einstein

Manter o corpo hidratado é essencial para o bom funcionamento do organismo — e não é só a água que conta. Um novo estudo publicado no British Journal of Nutrition mostra que o consumo equilibrado de água, café e chá está associado a um menor risco de morte por todas as causas, especialmente por doenças cardiovasculares.

Pesquisadores da China analisaram dados de mais de 182 mil adultos vindos do UK Biobank, estudo que avalia condições de saúde de meio milhão de pessoas. Os autores concluíram que o consumo isolado de café ou chá não está tão fortemente associado à diminuição da mortalidade quanto a ingestão conjunta.

“Com algumas ressalvas, trata-se de um trabalho interessante, que reforça que essas bebidas podem contribuir para a hidratação”, comenta o nutrólogo Celso Cukier, do Einstein Hospital Israelita.

Uma das limitações do estudo é que os achados são observacionais, ou seja, não estabelecem uma relação de causa e efeito. E como os resultados são baseados nas respostas de questionários dos participantes, detalhes importantes podem ter ficado de fora, como o modo de preparo das bebidas.

Mas, dentro do contexto do equilíbrio, há evidências de que tanto o café quanto o chá, especialmente o chá-verde, são aliados da saúde cardiovascular e reduzem o risco de alguns tipos de câncer, entre outros benefícios.

Além de apresentar uma rica mistura de compostos protetores, a dupla ajuda a hidratar o organismo. “Como nosso corpo é cerca de 65% composto por água, é fundamental repor as perdas que acontecem diariamente, por diurese, evacuação, sudorese, respiração, entre outros meios”, lista Cukier.

Reações vitais dependem do equilíbrio de líquidos que circulam pelo organismo. Quando o escape de água é maior do que o ganho, ocorrem diversos prejuízos à saúde. A síntese de todas as substâncias acontece no meio aquoso, além disso, assegurar bons níveis hídricos colabora para o transporte de nutrientes, a regulação térmica e as funções renais, digestivas, cardiovasculares e pulmonares.

“Estudos epidemiológicos mostram que a hidratação adequada está associada a uma menor incidência de doenças crônicas, sendo um marcador de saúde e de longevidade”, diz a nutricionista Valéria Machado, colaboradora em pesquisas no setor de Lípides, Aterosclerose e Biologia Vascular da disciplina de Cardiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Cabe lembrar que água deve ser sempre a principal bebida, e o ideal é não esperar ter sede para dar o primeiro gole — a orientação é que a hidratação ocorra ao longo do dia. “Costumo brincar que nós não somos um reservatório de água, então precisamos fazer a distribuição gradualmente”, sugere Machado.

Embora, geralmente, se recomende dois litros diários, ou algo entre 30 e 35 ml por quilo de peso, tudo vai depender do perfil e da rotina de cada um. Um esportista, por exemplo, requer maior quantidade porque costuma transpirar mais. “Lembrando que muitos alimentos concentram água, sobretudo as frutas”, destaca Cukier. Só não vale incorporar refrigerantes e outros produtos açucarados na conta. Aliás, para chá e café, o melhor é não adoçar.

Com os idosos, a atenção também deve ser redobrada. Isso porque o mecanismo da sede é menos eficaz com o passar dos anos, de modo que os mais velhos não sentem a necessidade de reposição de líquidos. Por outro lado, existem condições, como a de pacientes com insuficiência renal, que devem controlar a ingestão, seguindo recomendação médica.

Café e chá, aliados das artérias

Considerado uma das bebidas mais populares do mundo, o café tem sido esmiuçado pelos seus efeitos em prol da saúde. Muitos de seus atributos têm relação com a cafeína: a substância apresenta ação antioxidante e anti-inflamatória, feitos que ajudam a resguardar o endotélio, tecido celular que recobre os vasos sanguíneos.

O cafezinho oferece ainda polifenóis, caso do ácido clorogênico, que também combatem o estresse oxidativo e protegem as artérias. Contém ainda compostos envolvidos na modulação dos níveis de glicose no sangue, daí o elo da bebida com a redução do risco de diabetes tipo 2.

Já sobre o chá, os estudos mencionam aqueles preparados com Camellia sinensis, matéria-prima do verde, do preto e do branco. Assim como o café, a planta fornece cafeína e fenólicos. Um dos destaques é a epigalocatequina galato ou EGCG, um potente antioxidante, de comprovada atuação anti-inflamatória e cardioprotetora.

Não custa reforçar que, mesmo diante de tantos benefícios, o exagero pode causar impactos negativos. O consumo deve ser equilibrado e os benefícios estão atrelados a um estilo de vida saudável — ou seja, que inclua atividade física, sono de qualidade, manejo do estresse, entre outros bons hábitos.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

O que faz do tomate um aliado anticâncer? Conheça os poderes do licopeno

O efeito protetor da substância, que contribui para a coloração avermelhada do tomate e de outros vegetais, se destaca em um novo estudo

 

Por Regina Célia Pereira, da Agência Einstein

O licopeno está na mira da ciência há décadas por seus efeitos anticâncer e cardioprotetores. Além do tomate, ele aparece em frutas e vegetais como melancia, goiaba, pimenta, pitanga, mamão e pimentão.

Em um estudo publicado em fevereiro no periódico Frontiers in Nutrition, pesquisadores do Irã esmiuçaram centenas de outras pesquisas e concluíram que o consumo corriqueiro de licopeno, por meio do tomate e de seus derivados, está relacionado com a diminuição do risco de câncer. O artigo salienta tumores de mama e de próstata.

Outras pesquisas já mostraram que a substância ajuda a reduzir danos no DNA das células, devido à ação antioxidante. O mecanismo envolve a capacidade de neutralizar os radicais livres, moléculas desemparelhadas em orbitais que precisam de elétrons para se estabilizar, e que estão por trás de prejuízos celulares.

Isso não quer dizer, porém, que a substância sozinha é capaz de evitar a doença. “A redução do risco de câncer e outras doenças envolve todo o estilo de vida”, pontua o nutrólogo Celso Cukier, do Hospital Israelita Albert Einstein. Significa que de nada adianta ingerir licopeno e outros nutrientes benéficos se sua alimentação é baseada em produtos cheios de gordura, açúcar e sódio, por exemplo; ou se você é sedentário, fuma, bebe e vive estressado.

Na visão de Cukier, outro fator que pode ter influenciado no resultado da pesquisa é que quem gosta de tomate tende a comer também outros vegetais, num contexto alimentar equilibrado.

Mas isso não tira os méritos do fruto vermelho. “O tomate oferece diversos nutrientes e compostos protetores”, destaca o nutrólogo. Entre eles, vitaminas, sobretudo a C e o ácido fólico, além de minerais como o potássio e demais substâncias antioxidantes que agem em conjunto.

Em relação ao licopeno, o tomate se destaca entre as outras fontes. Isso porque, diferentemente da melancia e da pitanga, que costumam ser consumidas in natura, ele serve como matéria-prima para molhos que incrementam massas, pizzas e afins.

Ao contrário de muitos compostos, ao passar por cozimento o licopeno é melhor aproveitado pelo organismo humano. Quando vai para a panela, ocorre a ruptura de estruturas que seguram a substância, que então é liberada. Além disso, o licopeno se dá bem em meios oleosos. Portanto, juntá-lo com azeite de oliva, por exemplo, favorece a chamada biodisponibilidade, garantindo a absorção no intestino.

Embora o licopeno seja festejado pela atuação anticâncer, outros trabalhos apontam seus efeitos também na proteção cardiovascular. O mesmo potencial antioxidante ajuda a resguardar a parede das artérias, o endotélio, reduzindo o risco de males como a aterosclerose.

Uma família colorida

O licopeno faz parte dos carotenoides, um grupo de pigmentos que conta com mais de 700 integrantes. Na natureza eles funcionam como uma espécie de escudo contra adversidades, que incluem mudanças bruscas de temperatura, escassez de nutrientes e de água.

Por essa razão, os carotenoides são classificados como metabólitos secundários, ou seja, eles são sintetizados pelos vegetais em resposta às condições de estresse. Ao colorir frutos e hortaliças, esses pigmentos também ajudam a despertar a atenção de pássaros e insetos, colaborando para a dispersão de sementes e a perpetuação das espécies.

No nosso corpo, oferecem diversos benefícios. A dica para garantir que não faltem é montar o prato o mais colorido possível. Confira outros integrantes famosos da família dos carotenoides e onde encontrá-los:

Alfacaroteno: trata-se de um precursor da vitamina A, nutriente indispensável à imunidade.

A abóbora e a cenoura são fontes.

Betacaroteno: outro carotenoide bastante popular. Assim como o alfacaroteno, se transforma em vitamina A. Sua conversão se dá pela atuação de enzimas e acontece na mucosa intestinal. Lá ele é quebrado e segue para a circulação. Daí passa a atuar como retinol, outra alcunha para a vitamina, aliada dos ossos e dos olhos.

Acerola, caju e melão cantaloupe oferecem o betacaroteno.

Criptoxantina: mais um dos carotenoides que se transforma em vitamina A no nosso corpo. Portanto, é essencial para as células da pele e ainda fortalece o sistema imune.

Nectarina, pêssego e nêspera são opções de fontes.

Luteína: graças ao seu poder antioxidante, esse carotenoide é outro protetor de tecidos do nosso corpo, principalmente da retina.

Couve, rúcula e brócolis são exemplos de fornecedores da substância.

Zeaxantina: junto da luteína, essa substância ajuda a afastar a degeneração macular, problema que aflige principalmente os idosos.

Maracujá, pequi e milho contêm a zeaxantina.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Consumo de fibras protege intestino contra infecção bacteriana grave, revela estudo

Roedores alimentados com dieta rica em fibras solúveis lidaram melhor com bactéria que causa diarreia; o acetato, gerado no intestino, ajuda a modular a imunidade

Fonte – Agência SP

Estudo publicado na revista Cell Host & Microbe por pesquisadores brasileiros e norte-americanos sugere que uma dieta rica em fibras solúveis pode proteger o intestino contra bactérias patogênicas.

A conclusão se baseia em experimentos com camundongos expostos à Clostridioides difficile, que causa inflamação do cólon, diarreia e afeta cerca de 500 mil pessoas por ano nos Estados Unidos (para o Brasil os dados epidemiológicos são escassos).

“Conseguimos tratar os camundongos que tinham uma infecção instalada com uma dieta suplementada com fibra solúvel. Ela é digerida pela microbiota intestinal, que produz compostos como o acetato. Este inicia uma cascata de interações que leva a uma resposta imune adequada para lidar com a infecção”, explica José Fachi, primeiro autor do estudo, conduzido durante seu pós-doutorado na Escola de Medicina da Washington University em Saint Louis, Estados Unidos.

O trabalho foi uma colaboração entre a instituição e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Os autores observaram que os camundongos que consumiram uma dieta rica em fibras solúveis produziram mais acetato no intestino. Esse aumento ajudou a regular a resposta imune na camada que recobre a parede interna do órgão, conhecida como epitélio, tornando-a eficaz no combate à bactéria C. difficile.

O acetato é um ácido graxo de cadeia curta gerado pela digestão de fibras solúveis, um processo realizado pelas bactérias que vivem no intestino.

No estudo, os camundongos que receberam uma dieta pobre em fibras produziram pouco acetato. Como resultado, houve um aumento na expressão de componentes do chamado complexo principal de histocompatibilidade de classe 2 (MHC-II) no epitélio intestinal. Embora o MHC-II seja uma molécula essencial na defesa contra infecções, sua produção em excesso pode causar uma inflamação exagerada, que danifica os tecidos e piora o quadro dos pacientes.

“É um efeito parecido com o que acontece na Covid-19 grave, quando a própria resposta imune leva à destruição de tecidos e mesmo à morte. No nosso trabalho, o consumo de fibras solúveis regulou essa resposta”, diz Sarah de Oliveira, doutoranda no Instituto de Biologia (IB) da Unicamp e coautora do artigo.

Oliveira realizou o trabalho durante estágio de pesquisa realizado na Washington University com apoio da Fapesp.

O trabalho integra o projeto “Análise dos mecanismos moleculares envolvidos na interação de metabólitos da microbiota e células do hospedeiro durante a inflamação”, financiado pela Fapesp e coordenado por Marco Vinolo, professor do IB-Unicamp.

Vinolo orienta o doutorado de Oliveira e orientou o de Fachi, também bolsista.

Bactéria perigosa

À esquerda, tecido de intestino grosso de uma pessoa saudável; à direita, de uma paciente com infecção ativa por C. difficile. Foto: Fapesp/Governo de SP

Normalmente adquirida por pacientes idosos em internação hospitalar e que passaram por tratamento com antibióticos, a infecção pela bactéria C. difficile causa diarreias graves, podendo levar à sepse (infecção generalizada) e mesmo à morte.

Muitas cepas são resistentes aos medicamentos existentes, o que dificulta o tratamento. No Brasil, os estudos sobre o tema são escassos, em parte pela pouca disponibilidade de testes, sobretudo na rede pública.

Nos animais tratados no estudo com uma dieta pobre em fibras e, portanto, com pouca produção de acetato, a resposta imune foi exacerbada. As células epiteliais produziram em excesso a MHC-II, que tem a função de apresentar moléculas de patógenos (antígenos) para ativar os linfócitos T CD4+, responsáveis por combater infecções.

Entre essas células de defesa, os linfócitos intraepiteliais (IELs) foram superativados e passaram a liberar mais mediadores inflamatórios, como o interferon do tipo gama. O excesso dessas moléculas intensifica a inflamação, causando danos mais graves aos tecidos e piorando o quadro geral do hospedeiro, podendo levar à morte.

Com os resultados dos testes com camundongos em mãos, os pesquisadores analisaram biópsias de pacientes que tiveram a infecção por C. difficile. Da mesma forma que nos animais, os casos mais graves tinham maior presença de MHC-II e de linfócitos T CD4+, quando comparado com os menos graves.

“O estudo traz uma compreensão mais ampla do papel das fibras alimentares no sistema imune. Embora já tenhamos apresentado a relação entre a produção de ácidos graxos de cadeia curta e a imunidade em outros trabalhos, dessa vez conseguimos demonstrar um evento inédito e coordenado entre a microbiota, o epitélio e as células imunes no combate da infecção”, comenta Vinolo, que coordenou o trabalho com Marco Colonna, da Washington University em Saint Louis (leia mais em: agencia.fapesp.br/52256 e agencia.fapesp.br/41777).

Os autores reforçam a importância de uma dieta rica em fibras para a saúde do intestino. As fibras solúveis contidas em alimentos como frutas, verduras, legumes e cereais integrais ajudam a prevenir problemas intestinais e podem reduzir o risco de infecções graves, como a causada pela C. difficile.

“Escolhas alimentares simples, como incluir mais fibras na dieta, podem fazer uma diferença significativa na proteção contra infecções intestinais”, encerra Fachi.

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Saúde

Suplementação de ferro: 7 perguntas para entender quando ela é necessária

A deficiência desse mineral causa anemia, que pode trazer vários impactos na saúde; crianças e mulheres são as mais afetadas pela falta do nutriente

 

Por Thais Szegö, da Agência Einstein

A anemia, principal doença provocada pela deficiência de ferro, é um sério problema de saúde pública em todo o mundo, sobretudo entre crianças, adolescentes, mulheres em período fértil, gestantes e puérperas. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que 40% das crianças que têm entre 6 meses e 5 anos de idade, 37% das grávidas e 30% das mulheres de 15 a 49 anos de idade em todo o mundo sofram com anemia.

O diagnóstico é feito por meio de exame de sangue e a reposição de ferro, quando indicada, pode ser por cápsula ou endovenosa. “O impacto da deficiência desse mineral na qualidade de vida é imenso, mas seu diagnóstico e tratamento são relativamente simples e amplamente disponíveis”, avalia o hematologista e hemoterapeuta Bruno Deltreggia Benites, coordenador da Divisão de Hemoterapia do Hemocentro da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Saiba mais sobre os cuidados e a indicações da suplementação:

  1. Que sinais podem indicar que uma pessoa está com deficiência de ferro?

Há sintomas decorrentes da anemia em si, como fraqueza, cansaço e dor de cabeça, mas existem outros que surgem antes de a doença aparecer. “Falhas de memória, sensação de ‘névoa’ nos pensamentos, queda de cabelo, menor capacidade para exercícios, entre outros”, lista Benites. Ainda podem surgir palidez da pele e das mucosas, baixo rendimento escolar nas crianças e agravamento de sintomas relacionados a problemas cardiopulmonares prévios.

Segundo a hematologista Joyce Esteves Hyppolito, do Hospital Israelita Albert Einstein, em casos graves a falta de ferro pode causar a chamada “perversão do apetite”, em que a pessoa quer ingerir substâncias não alimentícias, como terra ou papel.

  1. Quem é mais propenso a sofrer com a baixa do mineral?

Em decorrência da menstruação, as mulheres são mais sujeitas, principalmente aquelas com fluxo intenso. Gestantes também podem ter deficiência de ferro, pois a demanda do nutriente acaba sendo maior para sustentar o crescimento do feto e a expansão do volume sanguíneo da mãe.

Além delas, também merecem atenção as crianças, que têm maior exigência do mineral devido ao rápido desenvolvimento; pessoas com dieta pobre no mineral; e aquelas com menor absorção de ferro, como quem sofre com doença celíaca ou passou por cirurgia bariátrica.

  1. Quais são os riscos se essa deficiência não for tratada?

“Pode acontecer a piora dos sintomas e a perda progressiva da capacidade funcional do indivíduo, o que é particularmente debilitante em pacientes com condições já limitadoras, como problemas cardíacos e renais”, explica Benites.

  1. Como é possível saber se uma pessoa de fato precisa de reposição de ferro?

A partir dos sintomas, em conjunto com exames laboratoriais que dosam a quantidade de ferro no organismo, a chamada ferritina. Também é possível dosar a porcentagem de ferro ligado à transferrina, proteína produzida pelo fígado que transporta esse mineral até as células que precisam dele.

  1. Quando a reposição precisa ser endovenosa?

A reposição oral é normalmente a via de preferência. “Mesmo sabendo que ela é mais demorada para atingir a resposta esperada e pode causar sintomas gastrointestinais, como náusea e distensão abdominal”, conta Joyce Hyppolito.

A via intravenosa é ideal quando os sintomas são muito expressivos ou quando a reposição precisa ser mais rápida, antes de uma cirurgia, por exemplo. Ela também é indicada para pessoas que têm intolerância ao ferro administrado via oral.

“Quando se trata dessa forma de reposição da substância, é necessário ficarmos atentos à osteomalácia [doença caracterizada pela deficiência da mineralização óssea], que pode ser desencadeada pelo tratamento”, alerta a hematologista do Einstein.

  1. É verdade que a forma endovenosa da reposição de ferro pode causar alergia?

As taxas de reações são muito baixas, principalmente com as formulações atualmente em uso. Quando elas ocorrem, em geral são sintomas dermatológicos de baixa gravidade, que costumam se manifestar em até 24 horas após o procedimento.

  1. Se utilizada em excesso, a suplementação de ferro pode fazer mal?

Sim. Ela pode levar a uma intoxicação que, no primeiro estágio, desencadeia sintomas gástricos, vômito, dor abdominal e diarreia. Se for muito intensa, pode haver aumento da frequência cardíaca, respiração acelerada e queda de pressão. Por isso, é muito importante que o tratamento seja indicado e acompanhado por um médico.

 

Fonte: Agência Einstein

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Brasil e Mundo

Apesar da alta dos preços, acesso a dieta saudável cresce no Brasil

© Agência Brasil/Arquivo

Custo diário passou US$ 3,22 para US$ 4,25 entre 2017 e 2022

Por Alex Rodrigues – Repórter da Agência Brasil – Brasília

Manter uma dieta saudável no Brasil ficou 32% mais caro entre 2017 e 2022. Apesar disso, o número de pessoas sem condições de pagar por alimentos que atendam às diretrizes nutricionais mínimas diminuiu – mesmo com a alta global dos preços dos alimentos pós-pandemia da covid-19.

A conclusão está no Relatório sobre o Estado da Insegurança Alimentar Mundial que a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) divulgou nesta quarta-feira (24).

Segundo os autores da publicação, em 2017, os brasileiros pagavam US$ 3,22 por dia para consumir uma dieta considerada saudável. O gasto se manteve praticamente estável nos dois anos seguintes: US$ 3,21, em 2018, e em US$ 3,30, em 2019. A partir de 2020, quando a pandemia já impactava todo o globo, a quantia necessária (US$ 3,53) começou a subir e não parou mais. Em 2021, foi preciso gastar US$ 3,84/dia e, em 2022, US$ 4,25/dia.

Considerando a cotação do dólar no início da tarde desta quarta-feira, o valor necessário, em reais, saltou de R$ 18, em 2017, para R$ 23,94, em 2022.

Acesso

Apesar da alta dos preços, a quantidade de brasileiros sem condições de gastar a média diária necessária para manter uma dieta saudável diminuiu no mesmo período. Em 2017, eles eram 57,2 milhões, ou 27,4% da população do país. Em 2022, 54,4 milhões, ou 25,3%.

O resultado é positivo, mas poderia ser melhor não fosse pela pandemia, que interrompeu o progresso brasileiro confirmado anteriormente pela FAO. Em 2018, o total de brasileiros incapazes de pagar por uma dieta saudável já tinha diminuído para 56 milhões. Em 2019, chegou a 55,7 milhões. E, em 2020, alcançou o melhor resultado dos cinco anos analisados no presente relatório: 42,1 milhões de pessoas, ou 19,8% da população nacional.

Assessora técnica do Conselho Federal de Nutrição (CFN), a nutricionista Natalia Oliveira, comemorou o anúncio da redução da insegurança alimentar grave no Brasil, em 2023, mas destacou que, em termos de acesso a alimentos de qualidade, o país ainda está aquém do desejado.

“O relatório da FAO aponta que houve uma melhora do acesso e do consumo dos alimentos em geral. Isso se deve a vários aspectos, como aumento da renda, disponibilidade de alimentos e melhoria das políticas públicas, que possibilitaram alguns avanços em programas de alimentação escolar e no estímulo à agricultura familiar. Ao mesmo tempo, ainda estamos muito aquém do que preconizamos em termos de uma alimentação adequada e saudável Temos que melhorar bastante neste sentido. Porque o acesso [aos alimentos em geral], por si só, pode significar um acesso a alimentos ultraprocessados. E não é isso que desejamos.”

Recomendações

De acordo com o Ministério da Saúde, uma alimentação saudável está baseada em “práticas que assumam a significação social e cultural dos alimentos”, estimulando a produção e o consumo de alimentos saudáveis regionais, como legumes, verduras e frutas. Entre outras características, para ser considerada saudável, a dieta deve ser quantitativa e qualitativamente “harmoniosa” e segura do ponto de vista de contaminação físico-química e biológica.

Neste sentido, é recomendável que, se possível, as pessoas façam ao menos três refeições diárias (café da manhã, almoço e jantar) e procure consumir ao menos seis porções diárias de cereais (arroz, milho, trigo pães e massas), três porções de legumes e verduras frescas, além de frutas, tubérculos e raízes (batatas, mandioca, macaxeira, aipim), dando preferência aos grãos integrais e aos alimentos naturais.

Também é recomendável consumir diariamente ao menos três porções de leite e derivados e uma porção de carnes, aves, peixes ou ovos, retirando a gordura aparente das carnes e a pele das aves antes de prepará-las. Também é bom evitar refrigerantes, sucos industrializados, bolos, biscoitos doces e recheados, sobremesas doces e outras guloseimas, e é recomendado reduzir a quantidade de sal na comida e ingerir ao menos dois litros de água por dia. Mais recomendações podem ser consultadas na página da Biblioteca Virtual em Saúde, do Ministério da Saúde.

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RMC

Indiatuba inicia grupo de nutrição Pense Saudável em todas as unidades básicas de saúde

Pessoas a partir de 16 anos podem participar, basta manifestarem interesse na recepção da UBS

Todas as 17 UBSs de Indaiatuba receberão o grupo de nutrição para falar sobre alimentação saudável

A Prefeitura de Indaiatuba por meio da Secretaria de Saúde iniciou em todas as unidades básicas de saúde (UBSs) as inscrições para os grupos de nutrição Pense Saudável. O projeto tem como objetivo conscientizar, orientar e instrumentalizar a comunidade para o autocuidado sobre nutrição, como forma de construção de receitas saudáveis, reaproveitamento dos alimentos e incentivo ao consumo de alimentos orgânicos.

Através de rodas de conversas mensais nas UBSs, os profissionais trabalharão estratégias que envolvam nutrição e alimentação saudável. A ideia de atividades em grupo é para favorecer o diálogo, a construção coletiva e o suporte mútuo entre os participantes. Todos podem participar a partir dos 16 anos.

Os temas trabalhados serão: prato saudável; apoio emocional e motivação; alimentação x patologias; alimentos industrializados; momento receita; alimentos orgânicos; e atividade física e alimentação.

Para participar basta procurar a UBS mais próxima da residência e manifestar o interesse na recepção da unidade.

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Saúde

Microbiota intestinal: veja como a saúde do intestino pode afetar o corpo todo 

O desequilíbrio está associado a doenças como alergias, problemas respiratórios, obesidade e até depressão e ansiedade; a diarreia e a constipação devem ser investigadas 

 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Todo mundo algum dia já deve ter ouvido ou falado as expressões “senti um frio na barriga” e “fiz das tripas o coração” sem se dar conta de que estava se referindo ao intestino, e sem saber o quanto ele realmente é importante para o funcionamento adequado do organismo. Agora a ciência está desvendando como os milhões de microrganismos que vivem ali – a chamada microbiota – impactam vários aspectos da vida, da saúde, do peso e até o humor das pessoas.

O intestino vem sendo cada vez mais visto como um aliado no tratamento de doenças sistêmicas, como obesidade, câncer, alergias, problemas respiratórios e dermatológicos. “Sentimos vergonha dele, mas estamos tão ligados ao intestino que isso transparece na nossa comunicação. Não é à toa que o intestino é considerado nosso segundo cérebro”, diz Diogo Toledo, médico nutrólogo do Hospital Israelita Albert Einstein.

De fato, há uma conexão direta entre esses dois órgãos através de uma espécie de “cabo” – o nervo vago –, que controla desde a frequência cardíaca até os movimentos do trato digestivo. Essa é uma das razões pelas quais, quando a pessoa leva um susto ou está sob tensão, sente dor abdominal ou vontade de vomitar, por exemplo.

Além disso, as pesquisas recentes destacam o papel do microbioma, o conjunto de bactérias, fungos, vírus – bem como seus genes e metabólitos – que vivem em nosso organismo, principalmente no intestino (o termo microbiota se refere apenas aos microrganismos). Mais numerosos que as próprias células do corpo, eles ajudam na digestão, metabolizando os nutrientes, formam uma barreira de defesa contra patógenos e cumprem uma função imunológica, modulando a resposta inflamatória. “A microbiota pode ser a chave para muitas perguntas ainda sem resposta da ciência”, diz Toledo.

Quando, por algum motivo, há o aumento de microrganismos prejudiciais ou a redução dos benéficos, ocorre um desequilíbrio – a disbiose – e a microbiota deixa de desempenhar adequadamente suas tarefas. Um ambiente ruim piora o processo de absorção de nutrientes e a metabolização de remédios. Também pode intensificar as reações inflamatórias, com a liberação exagerada de células imunológicas e citocinas inflamatórias na corrente sanguínea. Esse conteúdo chega a órgãos como cérebro, rins, pele, coração e fígado, podendo amplificar a resposta de alguns quadros.

Isso explica por que a microbiota intestinal vem sendo relacionada à exacerbação de problemas como acne, obesidade, rinite alérgica, eczema, candidíase, síndrome do intestino irritável, depressão e ansiedade. Para ter uma ideia, pesquisas mostram que pessoas com dermatite atópica possuem menor diversidade de bactérias intestinais do que aquelas sem a doença.

Microbiota é única para cada indivíduo 

A microbiota começa a se formar ainda na vida intrauterina e depende de fatores como hábitos da mãe, se a criança foi amamentada e até do tipo de parto. Depois, é afetada pelo estilo de vida, incluindo alimentação, atividade física, tabagismo, uso de medicamentos (principalmente antibióticos), estresse, falta de vitamina D e o próprio envelhecimento. “Sua composição é única para cada indivíduo. É como uma assinatura”, diz Toledo. Além disso, ela varia ao longo da vida.

Sintomas relacionados a hábitos intestinais (como diarreia e constipação), distensão abdominal e gases, entre outros, sinalizam que há algum desequilíbrio. O médico também pode solicitar exames laboratoriais de fezes mais específicos diante de alguma suspeita de problemas.

O médico do Einstein explica que reequilibrar a microbiota passa por uma mudança de estilo de vida. “Mas às vezes isso pode não ser suficiente”, diz o nutrólogo. Nesses casos, é possível usar probióticos, que contém microrganismos específicos na sua fórmula, e prebióticos, que são as fibras que alimentam esses microrganismos e estimulam seu desenvolvimento. São produtos diferentes dos encontrados em supermercados. Eles devem ser prescritos pelo médico ou nutricionista e os resultados aparecem em cerca de 90 dias, no mínimo.

Alguns estudos mostram ainda que a suplementação pode melhorar quadros de constipação e reduzir crises de eczema, rinite e chiado em alguns casos, além de amenizar sintomas de depressão.

Fonte: Agência Einstein

 

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Maior tempo em frente às telas está associado à piora da dieta de adolescentes 

Pesquisa brasileira avaliou dados de 1,2 mil adolescentes de escolas públicas de Curitiba e constatou que a maioria fica mais de duas horas por dia nas telas 

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

Quanto maior o tempo em frente às telas (televisão, videogame ou celular e/ou tablets), pior a qualidade da dieta dos adolescentes, aponta um estudo brasileiro realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O uso excessivo de tela está associado ao maior risco de sobrepeso e obesidade, além de baixos níveis de atividade física, menor duração do sono e menor qualidade de vida relacionada à saúde.

Segundo a pesquisa, 74,4% dos adolescentes avaliados apresentaram um uso excessivo de tela, o que significa que aproximadamente três em cada quatro ficam mais de duas horas por dia em frente às telas, superando o limite de duas horas diárias recomendado para essa faixa etária pela Academia Americana de Pediatria.

Para chegar aos resultados, os pesquisadores analisaram dados de 1,2 mil estudantes do ensino fundamental 2 e do ensino médio, matriculados em 30 escolas públicas de Curitiba – incluindo crianças e adolescentes entre 10 e 19 anos. O tempo de tela foi coletado separadamente, considerando os três tipos de dispositivos: televisão, videogame e telas portáteis (computador, celular e tablet). Os alunos indicaram o número de vezes que usavam cada dispositivo e o tempo para que pudesse ser calculada a média semanal de uso de cada um deles.

Depois disso, eles responderam a um questionário sobre seus hábitos alimentares e a frequência de consumo de vários itens, o que possibilitou classificar a qualidade da dieta como baixa, média ou alta. Os pesquisadores fizeram ajustes para diversas variáveis, como sexo e faixa etária, comportamentos relacionados à saúde (prática de exercício físico e índice de qualidade da dieta), renda do entorno escolar e, por fim, ambiente construído para a atividade física.

De acordo com a pesquisa, a televisão foi o dispositivo com maior tempo excessivo (56,5%), seguida das telas portáteis (53,2%) e do videogame (22%). E a variável que foi significativamente associada ao tempo excessivo de TV foi a piora da qualidade da dieta, o que reforça que o tempo que os jovens passam em frente à TV está diretamente ligado ao hábito alimentar não saudável e ao consumo de alimentos ultraprocessados.

Os ultraprocessados são aqueles alimentos que passaram por uma grande transformação na indústria e carregam boas doses de aditivos, como corantes, conservantes e flavorizantes, capazes de mudar cor, textura, sabor e aroma – aditivos cosméticos usados para deixá-los mais palatáveis e atraentes. Esses alimentos incluem cereais matinais, embutidos, bolachas, salgadinhos, pratos prontos, refrigerantes, sucos de caixinha, chocolates e balas, entre muitos outros.

Segundo a nutricionista Serena del Fávero, do Hospital Israelita Albert Einstein, uma dieta de má qualidade e rica em alimentos ultraprocessados durante a adolescência pode ter impactos significativos na saúde desse jovem, favorecendo o desenvolvimento de sobrepeso e obesidade e aumentando o risco de doenças crônicas, como problemas cardiovasculares, diabetes tipo 2 e até alguns tipos de câncer. “Além disso, o consumo de nutrientes inadequados pode afetar o crescimento e o desenvolvimento físico, além de comprometer a função cognitiva e o desempenho acadêmico”, alertou.

A nutricionista ressalta também que os hábitos alimentares formados na infância e na adolescência frequentemente persistem na vida adulta, aumentando o risco de problemas de saúde a longo prazo. “Uma dieta de má qualidade na adolescência não afeta apenas a saúde atual, mas também estabelece as bases para problemas de saúde futuros”, disse.

Segundo a nutricionista Gabriela Mieko, da equipe da especialista do Einstein, o aumento do tempo de tela está associado à piora na qualidade da alimentação dos adolescentes por várias razões: primeiro porque, na maioria das vezes, esse tempo coincide com o consumo de lanches e petiscos, que tendem a ser de baixa qualidade nutricional e ricos em açúcares, gorduras saturadas e sal. “Isso ocorre porque a atenção do adolescente fica dividida, o que pode levar ao menor controle sobre a quantidade e qualidade do que é consumido”, disse.

Além disso, reforça Mieko, a publicidade de alimentos ultraprocessados, que são altamente palatáveis, mas nutricionalmente pobres, costuma ser prevalente durante o tempo de tela, incentivando ainda mais o consumo desses produtos. “Assim, o ambiente propiciado pelo tempo de tela favorece as escolhas alimentares menos saudáveis, contribuindo para uma piora na qualidade da alimentação”, afirma.

Como buscar o equilíbrio 

A popularização do acesso a computadores, celulares e tablets tem ampliado a gama de dispositivos eletrônicos a serem considerados quanto ao tempo de tela. Essa é uma tecnologia cada vez mais presente na rotina dos adolescentes, inclusive na escola, e especialmente após a pandemia de Covid-19. Diante desse cenário, qual seria a forma de melhorar a qualidade da dieta e a adesão à prática de atividade física?

“Incorporar ações educativas sobre a importância da nutrição e da atividade física para a saúde no próprio ambiente escolar é muito importante. Juntamente a isso, incentivar o adolescente a participar de esportes e atividades físicas organizadas na escola ou na comunidade pode oferecer alternativas divertidas e sociais ao tempo de tela e proteger contra o sedentarismo. Por fim, o envolvimento de pais e responsáveis é fundamental para promover um ambiente familiar que valorize as refeições nutritivas e a prática de atividades físicas, reforçando hábitos saudáveis”, destaca Fávero. 

Segundo a nutricionista Mieko, o fato de mais um estudo brasileiro evidenciar a relação entre tempo de tela, qualidade da dieta e atividade física destaca um problema de saúde pública crescente e fornece dados que podem orientar políticas públicas e programas de intervenção adaptados à realidade brasileira.

“Além disso, reforça-se a necessidade de ações multidisciplinares que envolvam familiares, educadores, profissionais de saúde, governos e a sociedade civil para abordar os desafios de maneira integrada, na promoção de estilos de vida saudáveis entre os adolescentes, contribuindo para a melhoria da saúde pública e o bem-estar da população brasileira”, finaliza. 

Fonte: Agência Einstein 

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