MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Saúde

Saúde cria coordenação e seleciona pesquisas para enfrentar mudanças climáticas

Marcelo Camargo/Agência Brasil

Ministério concluiu chamada que selecionou 13 pesquisas que propõem ações na área e instituiu pasta específica para enfrentar o novo desafio

O Ministério da Saúde realizou na última semana de agosto o Seminário Marco Zero com os pesquisadores selecionados por chamadas públicas sobre Inteligência Artificial e Mudanças Climáticas. Ao todo, 13 projetos foram selecionados e terão investimentos de mais de R$ 4,5 milhões.

Para a diretora do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador, da Secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA) , Agnes Soares, o seminário é muito importante para a integração entre a academia e a gestão pública. “O Seminário Marco Zero é essencial para garantir que as pesquisas estejam alinhadas com as reais necessidades do SUS. A colaboração entre academia e gestão é fundamental para encontrar soluções inovadoras que impactem diretamente a saúde da população”, disse.

Agnes destacou o compromisso da SVSA com as temáticas das chamadas de 2024 e ressaltou o foco da pasta nas áreas em questão. “A frequência e intensidade dos eventos climáticos extremos têm exacerbado problemas de saúde pública. Precisamos intensificar os esforços para enfrentar esses desafios e garantir um SUS sustentável e resiliente”, afirmou.

As chamadas, desenvolvidas em parceria com a Fundação Bill & Melinda Gates, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), visam promover o uso equitativo da Inteligência Artificial (IA) para melhorar a saúde global e acelerar inovações para mitigar os impactos das mudanças climáticas na saúde, agricultura e gênero.

A chamada “Promovendo o uso equitativo da Inteligência Artificial para melhorar a saúde global” teve como objetivo identificar e promover soluções de IA desenvolvidas localmente, resultando na seleção de nove projetos. Por sua vez, a chamada “Acelerando inovações para mitigar o impacto das mudanças climáticas na saúde, agricultura e gênero” apoiou quatro projetos inovadores, com um investimento de R$ 4,5 milhões, voltados para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas.

Ações

A SVSA tem desenvolvido diversas iniciativas para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas. Entre essas ações, destacam-se a criação da Coordenação-Geral de Mudanças Climáticas e Equidade em Saúde (CGCLIMA) no Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador e a participação na elaboração do Plano Setorial de Adaptação à Mudança do Clima (conduzido pelo Ministério do Meio Ambiente). O plano visa estabelecer estratégias de adaptação para o SUS e definir diretrizes para a atuação federal e estadual, com foco na equidade.

Além disso, a pasta instituiu, em julho, a Sala de Situação Nacional de Emergências Climáticas em Saúde , destinada a coordenar a prevenção e resposta a emergências climáticas, como queimadas e inundações, que apresentam riscos sanitários significativos.

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Saúde

Ondas de calor estão associadas ao aumento de partos prematuros nos EUA

Estudo mostra que questões ambientais impactam também a saúde perinatal; calor extremo está associado a maior risco de desidratação e dilatação dos vasos

 

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

As temperaturas mais altas causadas pelas mudanças climáticas já são percebidas dia após dia no mundo todo. O ano de 2023 foi considerado o mais quente da história e espera-se que as temperaturas continuem alcançando níveis cada vez mais altos. Estar exposto ao calor extremo pode causar alterações no organismo que trazem riscos à saúde, especialmente para crianças, idosos e pessoas com a saúde fragilizada.

Agora, um novo estudo realizado nos Estados Unidos mostra que o impacto das ondas de calor também está associado ao aumento de partos prematuros no país. Os pesquisadores acompanharam registros de nascimentos das 50 principais áreas metropolitanas do país ao longo de 25 anos e cruzaram os dados com registros de temperatura no período em uma janela de sete e quatro dias antes do parto. A onda de calor foi definida como os dias em que a temperatura registrada ficou 2,5% mais quente do que nos 25 anos que antecederam o estudo.

Foram considerados partos prematuros aqueles realizados no intervalo entre 28 semanas e 36 semanas e seis dias de gestação. Nascimentos antes da 28a semana gestacional foram classificados como prematuros extremos — mais frequentemente associados a infecções intrauterinas e anomalias congênitas do que a questões ambientais.

O estudo avaliou mais de 53 milhões de nascimentos — o que corresponde a mais da metade dos nascimentos nos EUA no período considerado no estudo, de 1993 a 2017. Os autores constataram que a ocorrência de partos prematuros cresceu após picos de calor, sugerindo que o aumento da frequência e intensidade das ondas de calor também tem implicações para a saúde perinatal.

Cada aumento de 1°C acima da temperatura média foi associado ao aumento de 1% na taxa de nascimentos prematuros. Os resultados apontam ainda que o impacto do calor na prematuridade tem sido mais comum nos últimos anos e que esse efeito foi mais evidente em populações com piores condições socioeconômicas.

“Ainda não sabemos o impacto desses resultados na população do planeta todo. O que temos, por enquanto, são estudos envolvendo países de clima mais frio que apresentam maior taxa de prematuridade em períodos mais quentes. Isso precisaria ser avaliado também em nações tropicais, como o Brasil”, pondera o ginecologista Rômulo Negrini, coordenador-médico de Obstetrícia do Hospital Israelita Albert Einstein. “De qualquer forma parece que temos uma pista sobre a influência climática na gestação. Isso explicaria, em parte, por que os métodos de detecção e prevenção de prematuridade evoluem dia a dia e as taxas de nascimentos pré-termo continuam em ascensão.”

A ciência ainda não sabe exatamente o que explicaria o impacto do calor na antecipação do parto. Mas, segundo Negrini, existem dois mecanismos prováveis: a desidratação causada pela transpiração da gestante poderia reduzir o fluxo sanguíneo placentário e alterar consequentemente a ação hormonal local em prol das contrações. Outra possibilidade é que o estresse oxidativo que o calor causa no organismo da mulher leva a uma resposta inflamatória com consequente produção de substâncias que elevam a quantidade de receptores ativos de ocitocina no útero – que é justamente a substância responsável pelas contrações que auxiliam o parto.

Perigo para todos

O calor extremo está associado a riscos importantes de saúde para toda a população, não somente para as gestantes. Segundo o médico do Einstein, isso acontece, principalmente, por conta da desidratação e da dilatação dos vasos. Com as altas temperaturas, explica Negrini, o organismo precisa dilatar as veias da superfície para que mais sangue passe por ali e perca calor para o ambiente, mantendo a temperatura interna do organismo dentro da normalidade.

“Só que para manter o fluxo nessas veias dilatadas, o coração precisa trabalhar mais, e isso pode desencadear arritmias e até infarto. A desidratação, por exemplo, pode alterar os íons do organismo e favorecer arritmias e outros distúrbios, inclusive cerebrais, como convulsões. Todavia, pessoas mais jovens sofrem menos com esses problemas e, em geral, as grávidas são mais jovens”, explica o ginecologista.

Negrini ressalta que o risco do calor extremo nas gestantes, além da prematuridade, está relacionado à queda de pressão arterial pela vasodilatação exacerbada, pois a própria gravidez promove essa dilatação e ainda se soma ao efeito do calor. “Isso pode resultar em risco de desmaios e menor fluxo de sangue ao feto, comprometendo seu desenvolvimento. Por isso é imprescindível que a gestante se mantenha bem hidratada”, alerta.

Segundo o médico, no Brasil não existem dados sobre calor e parto prematuro, especialmente porque o país passa o ano todo predominantemente sob temperaturas mais altas. “O que temos de fato são taxas crescentes de prematuridade, mas ainda é precipitado associar isso ao aumento da temperatura global. No entanto, creio que esse seja um ponto importante a ser analisado”, sugere.

Fonte: Agência Einstein

 

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Saúde

Crise climática coloca em risco a saúde física e mental da população mundial

Segundo a Organização Mundial da Saúde, pelo menos 150 mil pessoas morrem anualmente em decorrência das alterações climáticas; número deve dobrar até 2030 

 

Por Thais Szegö, Agência Einstein

Calor e frio extremos, aumento da poluição atmosférica, elevação das chuvas, derretimento de geleiras, inundações, queimadas… Basta uma rápida olhada nos noticiários para ter a certeza de que o clima está sofrendo alterações consideráveis. O resultado da intervenção humana na natureza traz prejuízos ao meio ambiente e, consequentemente, sérios impactos à saúde de todos.

“Hoje temos muitos estudos mostrando que esses fatores estão associados ao aumento da mortalidade por doenças cardiovasculares, respiratórias, renais e obstétricas”, afirma Paulo Saldiva, médico patologista e professor de medicina da Universidade de São Paulo (USP), que estuda o assunto.

Quando as temperaturas caem, por exemplo, o organismo desencadeia uma vasoconstrição (o estreitamento dos vasos sanguíneos) para manter a temperatura corporal, além de aumentar a secreção de adrenalina e cortisol, o que faz com que o coração tenha que trabalhar mais para manter o sangue circulando. Além do risco de acarretar disfunções, como arritmias cardíacas, esse cenário pode levar ao deslocamento de trombos que estavam localizados nos vasos, provocando problemas como infartos e Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs).

Especialistas ouvidos pela Agência Einstein explicam que, nos dias com temperaturas mais altas, os vasos sanguíneos superficiais se dilatam para liberar o excesso de calor para o meio externo, o que pode provocar a queda na pressão arterial, levando a mal-estar e até mesmo a desmaios. Além disso, nessa situação o coração tem que bater com mais frequência para manter a pressão arterial, o que pode ocasionar a arritmia e a insuficiência cardíaca em quem já tem predisposição. O aumento da transpiração nos dias mais quentes também deixa o sangue mais espesso, elevando o risco de trombos, que podem acabar bloqueando os vasos.

“Os rins também têm que trabalhar mais no calor para impedir que a pessoa perca uma quantidade muito grande de fluidos pela transpiração, e isso pode aumentar a concentração do sangue e diminuir o fluxo urinário, levando ao risco de infecções urinárias frequentes”, explica Saldiva.

Malefícios da poluição 

Já a poluição, cada vez mais presente na atmosfera, prejudica o sistema respiratório, desencadeando ou piorando males como a asma e a doença pulmonar obstrutiva. O coração também padece, ficando mais suscetível a arritmias e paradas cardíacas. Os poluentes podem ainda afetar o sistema reprodutor feminino, atrapalhando a ovulação e colocando a fertilidade em risco.

Saldiva ressalta ainda que o aumento das temperaturas e das chuvas tem influência sobre as doenças infecciosas, principalmente as causadas por mosquitos. “No caso da dengue, esses fatores elevam o risco de eclosão das larvas, ampliando as fronteiras geográficas da enfermidade, que era uma doença litorânea e está chegando até o Centro-Oeste”, explica. O médico chama a atenção ainda para as doenças com transmissão aquática, como a leptospirose e a enterovirose, que contaminam muito mais gente por causa das enchentes.

Por todas essas razões, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), ao menos 150 mil pessoas morrem anualmente em decorrência das alterações climáticas e esse número deve dobrar até 2030. “Acredito que essa estimativa esteja subestimada”, avalia o médico da USP.

A saúde mental também é afetada 

Os eventos provocados pela crise climática aumentam muito a carga de estresse do dia a dia, o que pode descompensar transtornos psiquiátricos já existentes ou desencadeá-los em pessoas mais vulneráveis.

Um estudo realizado por pesquisadores italianos publicado no periódico Frontiers in Psychiatry revelou que a exposição a eventos extremos relacionados às mudanças climáticas ou de forma prolongada tem um efeito direto e indireto em curto, médio e longo prazo. A pesquisa mostra que isso pode resultar em doenças psiquiátricas sérias, como estresse pós-traumático, que podem também atingir as novas gerações.

“Todo o tensionamento causado pelas alterações do clima traz emoções negativas, que podem contribuir para desencadear problemas graves, como o comportamento agressivo, a violência doméstica e o uso de substâncias psicoativas, como álcool, drogas e tabaco”, diz o psiquiatra Daniel Oliva, do Hospital Israelita Albert Einstein.

Isso sem falar no aumento das taxas de transtornos psiquiátricos, como transtorno de ansiedade, transtorno psicótico e depressão, entre outros, que podem ser relacionados até mesmo a casos de suicídio. E há ainda, segundo o psiquiatra, o risco aumentado da perda de pessoas próximas provocadas por esses fatores, problema que atinge em especial os mais vulneráveis, como idosos e recém-nascidos.

Como infelizmente a crise climática é uma realidade que não pode ser mudada prontamente, para mitigar esses riscos é importante investir em atitudes coletivas e individuais. “No âmbito individual, é importante que sejam promovidas terapias baseadas na resiliência, dando instrumentos para que as pessoas trabalhem a sua capacidade de lidar com situações extremas, além de práticas focadas no presente que combatam a ansiedade, como a mindfulness (atenção plena)”, sugere Oliva.

De acordo com o especialista, em nível coletivo é importante mapear as áreas de risco, formar agências de cuidados e ajuda às vítimas de desastres naturais e conscientizar as pessoas sobre a importância das ações que possam combater as alterações climáticas.

“Também é essencial localizar os indivíduos com mais risco, os que já têm transtornos psiquiátricos ou sofrimento mais intenso, por exemplo, e oferecer recursos terapêuticos, como a escuta ativa, além de levar informações claras a todos, promover a reconexão entre entes queridos e oferecer proteção e conforto mínimos para a sobrevivência”, diz o médico.

O problema é tão sério que já existem organizações internacionais focadas em difundir o tema e assegurar a boa saúde mental a todos, prevenindo e diminuindo os impactos das mudanças climáticas sobre a população mundial. A Climate Psychiatry Alliance, formada por médicos dos Estados Unidos, é um exemplo.

“Além disso, é necessário que todos entendam que estamos diante de um desafio coletivo e que, enquanto imperar a lógica individualista e não olharmos para o lado, seja para outras pessoas, seja para outras nações, e assumindo nossa responsabilidade, o quadro não terá melhoras, e pode até piorar”, opina Oliva.

“O ideal seria que os setores de saúde dialogassem com os ligados à previsão do tempo e houvesse o aumento na discussão em torno do tema, como aconteceu em relação ao cigarro, percebendo que muitas vezes os pontos de atenção podem estar fora da saúde, mas é ela que paga a conta”, complementa o médico da USP.

Fonte: Agência Einstein

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