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Brasil e Mundo

Crise política afeta economia da Coreia do Sul

Protesto contra o ex-presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol em Seul em 21 de dezembro de 2024. Jung Yeon-je / AFP

AFPSeul (KOR) – Roland DE COURSON

O caos político no qual se encontra a Coreia do Sul após a efêmera instauração de uma lei marcial e a destituição do presidente e de seu substituto provocou a desvalorização de sua moeda e pode enfraquecer a economia nacional a longo prazo.

O won, que caiu para o seu nível mais baixo desde 2009 na sexta-feira, dia 27, vem se desvalorizando desde que o ex-presidente Yoon Suk Yeol chocou o país ao tentar decretar lei marcial no início de dezembro.

De acordo com números divulgados no mesmo dia pelo Banco da Coreia, o banco central do país, o nível de confiança das empresas e dos consumidores despencou em dezembro, atingindo os níveis mais baixos desde a pandemia de covid-19.

Na madrugada de 4 de dezembro, Yoon Suk Yeol declarou a lei marcial, algo que não ocorria desde 1980, e enviou o exército ao Parlamento, antes de recuar devido à pressão dos deputados e de milhares de manifestantes pró-democracia.

O Parlamento destituiu Yoon em 14 de dezembro e, também na sexta-feira, destituiu seu substituto interino, o primeiro-ministro Han Duck-soo, acusado de participar da insurreição. Com isso, o país ficou sob os cuidados do ministro das Finanças, Choi Sang-mok.

Em sua primeira declaração, ele se comprometeu a reduzir a tensão política. “O governo dedicará todos os seus esforços para superar este período turbulento”, disse.

Indefinição em torno da Corte Constitucional

A Corte Constitucional deve se pronunciar sobre a validade da destituição do presidente em um prazo de seis meses. O problema é que, atualmente, o tribunal está com três juízes a menos, que se aposentaram e não foram substituídos. E embora o tribunal superior possa funcionar com os seis juízes atuais, um único voto dissidente significaria o retorno de Yoon à presidência.

A oposição queria que Han aprovasse mais três nomeações para a Corte Constitucional, o que ele se recusou a fazer, deixando a situação empacada.

“Embora enfrentemos desafios inesperados, estamos convencidos de que nossa economia, robusta e resiliente, se estabilizará rapidamente”, garantiu na sexta-feira o novo presidente interino.

Choi Sang-mok, de 61 anos, passa a acumular três cargos: presidente interino, primeiro-ministro interino e ministro das Finanças. Ele também herda um orçamento para 2025 com um corte de 4,1 trilhões de wons (cerca de R$ 17 bilhões).

“A crise política se desenvolve em um contexto econômico difícil”, explicou Gareth Leather, da Capital Economics, uma empresa de pesquisa econômica independente, em uma nota de análise.

“O PIB cresceu apenas 0,1% no terceiro trimestre em comparação com o trimestre anterior, e não se espera que cresça mais de 2% neste ano”, impactado pela desaceleração da demanda mundial de semicondutores.

Resistência ao caos

“A longo prazo, a polarização política e a incerteza podem frear os investimentos na Coreia”, acrescentou Leather, lembrando o caso da Tailândia, um país ultrapolarizado cuja economia está estagnada desde o golpe de Estado de 2014.

No entanto, a maioria dos especialistas insiste que a economia sul-coreana tem resistido ao caos até agora. A atividade econômica continua como se nada tivesse acontecido, e todas as manifestações anti ou pró-Yoon ocorreram de forma pacífica.

O Banco da Coreia prometeu, em 4 de dezembro, injetar liquidez suficiente para estabilizar os mercados. O índice Kospi da Bolsa de Seul teve perdas limitadas de 3,8% desde 3 de dezembro.

“Os investidores não devem se preocupar com a estabilidade a longo prazo”, afirmou à AFP Park Sang-in, professor de Economia da Universidade Nacional de Seul.

“Comparado com os Estados Unidos de Trump, acho que na Coreia do Sul temos uma situação muito mais estável e madura”, acrescentou.

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Economia

China abre investigação sobre importação de carne bovina

Carne fresca,Açougues, Frigoríficos, alimento© Marcello Casal JrAgência Brasil

Apuração deverá durar oito meses

Andreia Verdélio – Repórter da Agência Brasil

A China abriu investigação sobre a importação de carne bovina pelo país no período de 2019 ao primeiro semestre de 2024. A apuração para fins de aplicação de salvaguardas, termo técnico que envolve a proteção de setores estratégicos, foi anunciada nessa sexta-feira, dia 28, e abrange todos os países exportadores para o país asiático, incluindo o Brasil.

A investigação deverá durar oito meses e será feita a pedido de produtores chineses, sob a alegação de que o aumento das importações teria causado danos à produção local.

Em nota, o governo brasileiro informou que, em princípio, os chineses não adotaram qualquer medida preliminar, permanecendo a tarifa vigente de 12% que a China aplica sobre as importações de carne bovina.

A China é o principal destino das exportações brasileiras de carne bovina. Em 2024, foram exportados mais de 1 milhão de toneladas para o país asiático, um aumento de 12,7% em relação a 2023.

O governo brasileiro diz que, em conjunto com os exportadores nacionais, buscará demonstrar que a carne brasileira exportada não causa “qualquer prejuízo” à indústria chinesa, sendo um fator de complementariedade da produção local.

“O governo brasileiro reafirma seu compromisso em defender os interesses do agronegócio brasileiro, respeitando as decisões soberanas do nosso principal parceiro comercial, sempre buscando o diálogo construtivo em busca de soluções mutuamente benéficas”, diz a nota conjunta dos ministérios da Agricultura e Pecuária, do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e das Relações Exteriores do Brasil.

Em comunicado, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) afirmou que segue comprometida em cooperar com as autoridades chinesas e brasileiras, fornecendo esclarecimentos e participando ativamente do processo de investigação, por “soluções que atendam aos interesses de ambas as nações”. Reafirmou ainda que a carne bovina brasileira exportada para a China é de alta qualidade e segue rigorosos padrões de sanidade e segurança.

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Brasil e Mundo

Oposição sul-coreana apresenta moção de impeachment do presidente interino

O primeiro-ministro da Coreia do Sul e presidente interino, Han Duck-soo. – / YONHAP

AFPSeul (KOR) – Kang Jin-kyu e Hieun SHIN

A oposição sul-coreana anunciou nesta quinta-feira, dia 26, que apresentou uma moção para o impeachment do presidente interino Han Duck-soo, depois que ele se negou a designar os juízes da Corte Constitucional para concluir o processo contra seu antecessor.

A Coreia do Sul entrou em uma grave crise política quando o presidente Yoon Suk Yeol, afastado do cargo, declarou lei marcial em 3 de dezembro.

O Parlamentou aprovou o impeachment do presidente conservador em 14 de dezembro, mas para ratificar a decisão é necessária uma sentença da Corte Constitucional.

O tribunal, no entanto, está sem três juízes de nove. Embora possa funcionar com seis magistrados, se apenas um deles votar contra a destituição, Yoon retornaria ao cargo.

A oposição deseja que Han aprove a nomeação de três juízes, o que ele se negou a fazer até o momento, bloqueando o processo de destituição de Yoon.

Por este motivo, o opositor Partido Democrático afirma que o presidente interino também deve ser afastado.

“Apresentamos a moção”, declarou o deputado Park Sung-joon na Assembleia Nacional. “Vamos submetê-la à votação amanhã” (sexta-feira).

A recusa de Han “demonstra que não tem a vontade nem a qualificação para defender a Constituição”, afirmou Park Chan-dae, líder do Partido Democrático.

O primeiro-ministro do país e presidente interino, de 75 anos, defende a necessidade de um acordo bipartidário para as nomeações.

“O princípio consistente consagrado em nossa Constituição e nossas leis é abster-se de exercer importantes poderes presidenciais exclusivos, incluindo nomeações para instituições constitucionais”, argumentou Han.

Se a oposição conseguir aprovar a moção contra Han na sexta-feira, esta seria a primeira vez que a democracia sul-coreana destituiria um presidente interino.

Violação dos deveres

Na moção para o impeachment, a oposição acusa Han de violar seus deveres como presidente interino.

Os opositores citam a recusa do presidente a nomear formalmente os juízes e a promulgar duas leis especiais para investigar a efêmera imposição da lei marcial por Yoon e as suspeitas de corrupção que envolvem a esposa do presidente afastado, Kim Keon Hee.

Han está “evitando intencionalmente a investigação especial dos envolvidos na insurreição e expressou claramente sua intenção de rejeitar as nomeações de três juízes da Corte Constitucional”, afirma a moção.

Se a oposição concretizar seu objetivo na sexta-feira, a Coreia do Sul terá o segundo afastamento de um chefe de Estado em menos de duas semanas.

Yoon também enfrenta acusações criminais de insurreição por sua declaração de lei marcial, o que pode resultar em pena de prisão perpétua ou até mesmo pena de morte.

Nesta quinta-feira, Yoon foi intimado pela terceira vez a comparecer a um interrogatório, no dia 29, depois que rejeitou uma intimação para o dia de Natal.

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Brasil e Mundo

Zelenskiy questiona interesse do Brasil em buscar paz na Ucrânia

Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, durante discurso na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, EUA – Reuters/Mike Segar/Proibida reprodução

Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022

Michelle Nichols* – Repórter da Reuters

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, questionou nesta quarta-feira o “verdadeiro interesse” de Brasil e China em acabar com a guerra entre seu país e a Rússia, dizendo à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) que os países “não vão impulsionar seu poder às custas da Ucrânia”.

A Rússia invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022. Nove meses depois, Zelenskiy anunciou um plano de paz de 10 pontos para pôr um fim ao conflito com base na Carta da ONU e no direito internacional. Moscou rejeitou o plano.

“A fórmula de paz já existe há dois anos, e talvez alguém queira um Prêmio Nobel para sua biografia política, para uma trégua congelada, em vez de paz real, mas os únicos prêmios que Putin lhe dará em troca são mais sofrimento e desastres”, disse Zelenskiy à organização de 193 membros, referindo-se ao presidente russo, Vladimir Putin.

“Quando alguns propõem alternativas, planos de acordo sem convicção, os chamados conjuntos de princípios, isso não apenas ignora os interesses e o sofrimento dos ucranianos… não apenas ignora a realidade, mas também dá a Putin o espaço político para continuar a guerra.”

A China e o Brasil têm tentado convencer outros países em desenvolvimento a aderir ao plano de paz de seis pontos que os dois países apresentaram em maio.

A proposta pede uma conferência internacional de paz “realizada em um momento apropriado, que seja reconhecida tanto pela Rússia quanto pela Ucrânia, com participação igualitária de todas as partes relevantes, além de uma discussão justa de todos os planos de paz.”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu o plano quando discursou na Assembleia Geral da ONU na terça-feira.

“Quando a dupla sino-brasileira tenta se transformar em um coro de vozes — com alguém na Europa, com alguém na África — dizendo algo alternativo a uma paz plena e justa, surge a pergunta: qual é o verdadeiro interesse?”, disse Zelenskiy.

Questionado em entrevista coletiva nesta quarta a respeito da fala de Zelenskiy, Lula afirmou que o líder ucraniano disse apenas o óbvio dentro de sua obrigação como presidente, mas que ainda assim ele não está conseguindo alcançar a paz, o que destacou ser a única maneira de garantir a sobrevivência da Ucrânia e da Rússia.

“Eles não precisam aceitar a proposta da China e do Brasil, por que não tem proposta, tem uma tese de que é importante começar a conversar”, disse Lula.

“Ele (Zelesnkiy), se fosse esperto, diria que a solução é diplomática, não é militar. Isso depende da capacidade de sentar e conversar, de ouvir o contrário e tentar chegar no acordo, para que o povo ucraniano tenha sossego na vida.”

O presidente ucraniano pretende apresentar um “plano de vitória” ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, durante uma visita à Casa Branca na quinta-feira.

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Brasil e Mundo

EUA e 10 países latinos rejeitam decisão de tribunal venezuelano

© REUTERS/Fausto Torrealba/Proibida reprodução

Tribunal Supremo ratificou resultado que deu vitória a Maduro

Por Pedro Rafael Vilela – Repórter da Agência Brasil – Brasília

Um dia após Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela ratificar a vitória do presidente Nicolás Maduro, nas eleições de 28 de julho, uma carta conjunta assinada por Estados Unidos e outros 10 países latino-americanos rechaçou a decisão do tribunal, que dá a última palavra em matéria judicial no país. Além dos norte-americanos, a carta divulgada nesta sexta-feira, dia 23, é assinada por Argentina, Costa Rica, Chile, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai.

“Nossos países já haviam manifestado o desconhecimento da validade da declaração do CNE [Conselho Nacional Eleitoral], logo que se impediu o acesso aos representantes da oposição à contagem oficial, a não publicação das atas e a posterior negativa de se realizar uma auditoria imparcial e independente de todas elas. A Missão Internacional Independente de Determinação dos Acontecimentos sobre a República Bolivariana da Venezuela alertou sobre a falta de independência e imparcialidade de ambas as instituições, tanto o CNE como o TSJ. Os países que subscrevem reiteram que somente uma auditoria imparcial e independente dos votos, que avalia todas as atas, permitirá garantir o respeito à vontade popular soberana e a democracia na Venezuela”, diz um trecho da carta conjunta.

Pressão internacional

Em outra declaração, o porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Vedant Patel, reforçou a contestação do resultado eleitoral, que deu a Maduro um terceiro mandato que vai até 2031.

“A avaliação de ontem [quinta-feira] dos resultados eleitorais venezuelanos pelo Supremo Tribunal de Justiça controlado por Maduro não tem credibilidade. As planilhas de votação a nível distrital, publicamente disponíveis e verificadas de forma independente, mostram que a maioria dos eleitores venezuelanos escolheu Edmundo Gonzalez”, afirmou.

Até o momento, os órgãos oficiais da Venezuela, como o CNE e o TSJ, ainda não apresentaram os dados por mesa de votação. A oposição garante que tem as atas que dão a vitória ao opositor Edmundo González. Por causa disso, também nesta sexta-feira, o Ministério Público do país abriu investigação contra os responsáveis por publicar na internet as supostas atas da oposição, acusando-os de falsificação de documento, usurpação de competências do Poder Eleitoral e “conspiração”. O procurador-geral da República, Tarek William Saab, anunciou que intimaria, “nas próximas horas”, o ex-candidato presidencial Edmundo González para prestar depoimento.

A líder oposicionista Maria Corina Machado, aliada de Edmundo González, celebrou a publicação da carta-conjunta dos 11 países do continente e falou sobre o isolamento do regime de Maduro. “O mundo democrático alinha-se com o povo da Venezuela e respeita a nossa Soberania Popular. A esta altura, ninguém compra a manobra grosseira do TSJ para esconder a ata que demonstra a vitória esmagadora do Edmundo González. Portanto, mais uma vez, o regime errou: o que o TSJ decidiu foi a sua cumplicidade com a fraude da CNE. Longe de “encerrar o caso”, aceleraram o processo que isola e afunda Maduro ainda mais a cada dia. Ficou claro que eles não ousaram agir e publicar a ata!”, afirmou.

Edmundo González também publicou uma carta aberta, em que se diz vencedor e pede que os países sigam pressionando as autoridades venezuelanas.  “Solicito que as nações do mundo se mantenham firmes na defesa da nossa democracia e continuem exigindo aos órgãos de Estado transparência em seus atos e respeito aos resultados eleitorais. A paz está em jogo em nosso país”.

Até o momento, o governo do Brasil ainda não se pronunciou sobre a decisão do TSJ venezuelano. A expectativa é que a posição seja formalizada em declaração conjunta com a Colômbia. Os dois países têm atuado de forma conjunta para mediar uma solução para a crise política.

O presidente do México, Andrés Manuel Lopez Obrador, disse nesta sexta-feira que seu governo aguardará a publicação das atas eleitorais, com informações desagregadas sobre os resultados por mesa de votação. “Vamos esperar, porque ontem o Tribunal sustentou que o presidente Maduro ganhou a eleição, ao mesmo tempo que recomenda que dê conhecimento às atas. Creio que há uma data para a resolução, então vamos esperar”, afirmou durante sua conferência de imprensa matinal desta sexta-feira, na Cidade do México.

A Secretaria Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) voltou a criticar a declaração de vitória de Maduro confirmada pelo TSJ da Venezuela. “Esta Secretaria Geral reitera que o CNE proclamou Maduro [reeleito] de maneira apressada, com base em um boletim parcial emitido de forma oral, com números que evidenciavam impossibilidades matemáticas”.

Na Europa, o alto representante da União Europeia para Assuntos Exteriores, Josep Borrell, reiterou a cobrança pelas atas eleitorais. “É preciso provar esse resultado eleitoral. Até agora não vimos nenhuma prova e, enquanto não virmos um resultado que seja verificável, não vamos reconhecer [a vitória]”.

Venezuela rebate

O chanceler da Venezuela, Yván Gil, em nome do governo bolivariano, publicou um comunicado oficial rechaçando “energicamente” a carta conjunta dos 11 países.

“Venezuela exige absoluto respeito à sua soberania e independência, conquistas após intensas lutas contra os mais hostis impérios que se empenham em pôr as mãos em recursos naturais que não lhes pertencem, e tentar impor hoje, outra vez, uma política de mudança de regime típica dos golpes de Estado que o império estadunidense, por mais de 100 anos, promoveu na América Latina e Caribe”, diz o comunicado.

Ainda segundo o chanceler, os países que contestam o resultado eleitoral são cúmplices da violência que tem ocorrido no país.

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Brasil e Mundo

Eleições na França: vitória surpreendente para aliança de esquerda mantém a extrema direita de Le Pen longe do poder

© Yara Nardi/Reuters/Proibida a Reprodução

Rally Nacional de Marine Le Pen cai para terceiro lugar apesar do forte desempenho no primeiro turno da votação

Uma aliança de esquerda se tornou a maior força no parlamento francês depois que a votação tática conteve a extrema direita, mas a forma do futuro governo permaneceu incerta depois que nenhum grupo obteve maioria absoluta.

O resultado surpreendente para a Nova Frente Popular de esquerda – que ganhou 182 assentos, seguida pela aliança centrista Together do presidente Emmanuel Macron com 163 e a extrema direita em terceiro com 143 assentos – mostrou a força da votação tática contra o Rally Nacional (RN) de Marine Le Pen. A extrema direita e seus aliados haviam forjado uma liderança dominante no primeiro turno, mas foram finalmente contidos pela votação tática massiva para impedi-los de ganhar assentos suficientes para formar um governo.

Embora a aliança de esquerda tenha conquistado a maioria dos assentos, faltavam mais de 100 assentos para a maioria absoluta. Em meio a uma alta participação estimada em cerca de 67%, nenhum grupo obteve a maioria absoluta de 289 assentos e a capacidade de formar um governo. O parlamento provavelmente seria dividido em três blocos: a esquerda, os centristas e a extrema direita.

A França agora entra em um período de incerteza sem precedentes sobre a forma de seu futuro governo e seu provável primeiro-ministro. Macron prometeu permanecer como presidente, mas não falou publicamente na noite de domingo, pedindo em particular, após a divulgação das pesquisas de boca de urna, que as pessoas fossem “prudentes” até que os resultados finais fossem claros na manhã de segunda-feira.

Agora, pode levar semanas para estabelecer um governo e não estava claro que forma esse governo poderia tomar, já que os Jogos Olímpicos devem começar em Paris em menos de três semanas.

O primeiro-ministro, Gabriel Attal, anunciou que entregaria sua renúncia ao presidente Macron na manhã de segunda-feira. Mas ele também disse que poderia permanecer no cargo por um curto prazo, se necessário, enquanto um novo governo era formado.

“Esta noite, uma nova era começa”, disse ele, acrescentando que o destino da França seria definido “mais do que nunca no parlamento”.

Attal disse: “Sei que, à luz dos resultados desta noite, muitos franceses sentem incerteza sobre o futuro porque nenhuma maioria surgiu. Nosso país está em uma situação política sem precedentes e está se preparando para receber o mundo [nas Olimpíadas] em algumas semanas. Permanecerei em meu papel enquanto o dever exigir.”

A disputa por posição no novo parlamento começou imediatamente. Jean-Luc Mélenchon, líder do partido de esquerda La France Insoumise, disse: “O presidente deve convidar a Nova Frente Popular [aliança de esquerda] para governar.” O ministro do interior de saída, Gérald Darmanin, disse: “Observo que hoje ninguém pode dizer que ganhou esta eleição legislativa, especialmente o Sr. Mélenchon.”

Raphaël Glucksmann, da Place Publique e do Partido Socialista, parte da aliança de esquerda, disse: “Estamos na frente, mas estamos em um parlamento dividido… então teremos que agir como adultos. Teremos que conversar, discutir, dialogar.”

Apesar de ficar em terceiro, os resultados foram históricos para o RN – representando sua maior pontuação em uma eleição parlamentar, e um aumento das 88 cadeiras que tinha quando o parlamento foi dissolvido no mês passado. Mas foi muito menor do que o partido esperava depois de liderar a votação no primeiro turno na semana passada.

Jordan Bardella, o presidente do RN, disse que os partidos que se uniram para deter a extrema direita eram uma “aliança vergonhosa”. Le Pen, que pretende concorrer à presidência pela extrema direita em 2027, disse que a ascensão da extrema direita ao poder continuaria. Ela disse: “A maré está subindo. Não subiu o suficiente desta vez, mas continua subindo e nossa vitória foi simplesmente adiada.”

Mais de 200 candidatos da esquerda e do centro se retiraram do segundo turno na semana passada para evitar a divisão dos votos contra o RN. Esses partidos pediram aos eleitores que escolhessem qualquer candidato contra o RN, em uma tentativa de impedir que a extrema direita ganhasse a maioria absoluta e formasse um governo.

O partido, que foi fundado como Front National por Jean-Marie Le Pen em 1972 , foi apresentado pela esquerda e pelos centristas como um perigo para a democracia que promovia visões racistas, antissemitas e antimuçulmanas. Brice Tinturier, diretor geral da Ipsos, disse que os resultados mostraram que a maioria dos eleitores franceses ainda via a RN como perigosa.

Clémence Guetté, que foi reeleita pelo partido de esquerda La France Insoumise, disse que a pontuação menor do que a esperada para o RN mostrou que “este não é um país racista e a França não quer ser dividida”.

No domingo, o primeiro-ministro espanhol Pedro Sanchez saudou a “rejeição da extrema direita” pela França. Ele saudou o resultado chocante junto com a eleição geral do Reino Unido desta semana, onde o Partido Trabalhista de centro-esquerda obteve uma vitória esmagadora, dizendo que ambos os países “disseram SIM ao progresso e ao progresso social e NÃO ao retrocesso em direitos e liberdades”.

O senador norte-americano Bernie Sanders também parabenizou a esquerda francesa por “enfrentar o extremismo de direita e vencer”.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, parabenizou o NFP, tuitando que estava “muito feliz” com a “demonstração de grandeza e maturidade” que viu forças políticas de esquerda e centro se unirem para impedir a eleição da extrema direita.

Ele escreveu: “Este resultado, assim como a vitória do Partido Trabalhista no Reino Unido, reforça a importância do diálogo entre segmentos progressistas em defesa da democracia e da justiça social. Eles devem servir de inspiração para a América do Sul.”

Lula tem um relacionamento pessoal com Mélenchon, que o visitou enquanto ele estava preso por corrupção em 2019 , em um caso que ele disse ter motivação política e onde sua condenação foi posteriormente anulada.

Quando as projeções de votação foram anunciadas, houve abraços, gritos de alegria e lágrimas de alívio no encontro da esquerda em Paris.

A Place de la République no centro de Paris estava cheia de multidões e uma atmosfera de festa, com apoiadores de esquerda tocando tambores, acendendo sinalizadores e gritando “Nós vencemos! Nós vencemos!”

“Estou aliviada. Como franco-marroquina, médica, ativista ecologista, o que a extrema direita estava propondo fazer como governo era loucura”, disse Hafsah Hachad, de 34 anos.

Macron chocou seu próprio governo e partido ao convocar eleições antecipadas em 9 de junho, depois que seus centristas foram derrotados pela extrema direita nas eleições europeias.

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Brasil e Mundo

Comunidade internacional, sociedade civil e governo boliviano barram tentativa de golpe

Tropas do Exército da Bolívia em tentativa fracassada de golpe de Estado – Foto: Reuters

Lula reafirma o compromisso com o povo e a democracia do país vizinho. Presidente Luis Arce troca comando militar e população ocupa centro do poder na Bolivia

Fonte: Agência Gov

Durou poucas horas a mobilização militar golpista de um setor das Forças Armadas da Bolívia que tentou acuar o governo do presidente Luis Arce. Depois de algumas horas de tensão, com tentativa de invasão do palácio presidencial por grupos armados liderados pelo general José Zuñiga, o jogo virou na política e nas ruas. Arce resistiu à ação golpista na entrada da sede do governo e determinou a destituição do comandante do Exército. Ainda neste quarta-feira, dia 26, deu posse a novos membros do Alto Comando Militar e nomeou Jose Wilson Sanchez Velásquez como o novo comandante-geral, no lugar de Zuñiga.

Ao tomar posse, Velásquez ordenou a retirada das tropas das ruas. “Na condição de comandante-geral do Exército, ordeno que todos os militares que se encontrem nas ruas devem retornar a suas unidades”, disse. Do lado de fora, as praça central no entorno da sede do governo começou a ser tomada por populares e integrantes de movimentos sociais, que completaram a ordem de expelir os insurgentes do local.

Em pronunciamento na Casa Grande del Pueblo, a residência presidencial boliviana, o presidente Arce criticou os militares que participaram da tentativa de golpe. “Deploramos atitudes de maus militares que, lamentavelmente, repetem a história recente do país, tratando fazer um golpe de Estado quando o povo boliviano sempre foi um povo democrático.”

Ele agradeceu ao povo boliviano pelo apoio nas redes sociais, a todos os países que estão se pronunciando em favor da democracia boliviana e também à polícia do país. “Chamamos o povo boliviano a mobilizar-se e manter a calma. Todos os bolivianos juntos vamos derrotar qualquer tentativa de golpe”.

Os militares “rebeldes” não tiveram apoio interno da sociedade, nem da oposição política ao MAS, tampouco da comunidade internacional. Zuñiga foi preso no início da noite.

Insurgência militar

As Forças Armadas bolivianas tomaram a praça central de La Paz e um veículo blindado invadiu a entrada do palácio presidencial, enquanto o presidente Luis Arce denunciava um golpe contra o governo e pedia apoio internacional.

Soldados fortemente armados e veículos blindados foram vistos se reunindo na praça central, Plaza Murillo, liderados por Zuñiga.

Zuñiga disse recentemente que se Evo Morales, ex-presidente do país e que planeja concorrer nas eleições de 2025, retornar como presidente do país, irá bloqueá-lo, o que levou Arce a tirá-lo do comando do Exército. Embora pertençam ao mesmo partido, o MAS, Evo e Arce estão rompidos. Evo foi a primeira liderança boliviana a denunciar a movimentação golpista e a convocar e resistência dos movimento sociais.

Apelo à democracia

Durante à tarde, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou preocupação com a situação na Bolívia. “Reafirmamos nosso compromisso com o povo e com a democracia no país irmão”, afirmou Lula. A mensagem foi divulgada poucas horas depois de o presidente boliviano, Luis Arce, e o ex-presidente Evo Morales, alertarem uma mobilização militar suspeita no centro da capital La Paz.

A sede do governo havia sido cercada e golpistas tentaram ocupar o palácio presidencial. Em pronunciamento, Arce determinou a demissão do comandante do Exército, Juan José Zuñiga, líder assumido da ação golpista. Zuñiga foi afastado na semana após se tornar suspeito de articular a ação militar, depois de ser acusado de corrupção.

O novo comandante indicado por Arce, segundo a Reuters, ordenou que os soldados voltassem aos quartéis.

“A posição do Brasil é clara. Sou um amante da democracia e quero que ela prevaleça em toda a América Latina. Condenamos qualquer forma de golpe de estado na Bolívia e reafirmamos nosso compromisso com o povo e a democracia no país irmão”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma rede social.

Em nota, o Itamaraty reiterou apoio e solidariedade ao presidente Luis Arce:

“O Governo brasileiro condena nos mais firmes termos a tentativa de golpe de estado em curso na Bolívia, que envolve mobilização irregular de tropas do Exército, em clara ameaça ao Estado democrático de Direito no país.

“O Governo brasileiro manifesta seu apoio e solidariedade ao Presidente Luis Arce e ao Governo e povo bolivianos. Nesse contexto, estará em interlocução permanente com as autoridades legítimas bolivianas e com os Governos dos demais países da América do Sul no sentido de rechaçar essa grave violação da ordem constitucional na Bolívia e reafirmar seu compromisso com a plena vigência da democracia na região. Esses fatos são incompatíveis com os compromissos da Bolívia perante o Mercosul, sob a égide do Protocolo de Ushuaia.”

O Itamaraty, por meio de suas repartições consulares na Bolívia, permanece atento à situação dos brasileiros no país.

Em caso de emergência, os nacionais podem contatar os telefones de plantão do setor consular da Embaixada em La Paz (+591 7061-2897), dos Consulados-Gerais em Cochabamba (+591 7593-8885) e em Santa Cruz de la Sierra (+591 7 856 4465) e dos Consulados em Cobija (+591 7291-6683), Guayaramerin (+591 7218 3344) e Puerto Quijarro (+591 7732-1334).

O plantão consular do Itamaraty permanece disponível no número +55 61 98260-0610 (inclusive WhatsApp).

Com informações de Agência Brasil, Reuters e Ministério das Relações Exteriores (MRE)

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ONG relata torturas, execuções e prisões arbitrárias no Equador

© Reuters/IVAN ALVARADO

Human Rights Watch enviou carta ao presidente Daniel Noboa

Por Lucas Pordeus León – Repórter da Agência Brasil – Brasília

Desde que o governo do Equador decretou que o país vive um “conflito armado interno”, em 9 de janeiro deste ano, há denúncias de execuções extrajudiciais, prisões arbitrárias e torturas supostamente promovidas pelas forças de segurança e militares do país, segundo investigação da Human Rights Watch (HRW).

A organização não governamental (ONG) internacional de direitos humanos enviou, nesta semana, uma carta ao presidente equatoriano Daniel Noboa relatando os supostos casos de abusos e pedindo medidas para evitar violações de direitos humanos.

Police officers present the detainees who stormed the TC Television studio during a live TV broadcast amid the ongoing wave of violence around the nation, in Guayaquil, Ecuador January 10, 2024. REUTERS/Vicente Gaibor del Pino TPX IMAGES OF THE DAY
Policiais mostram os detidos após invadirem um estúdio de televisão e fazerem jornalistas reféns – REUTERS/Vicente Gaibor del Pino

A HRW ainda questionou o decreto de “conflito armado interno”, argumentando que não há elementos suficientes para afirmar que o país vive um conflito interno, devido a falta de organização e de poderio militar dos grupos criminosos.

“O governo equatoriano tem sistematicamente falhado na apresentação de provas suficientes de que o combate com qualquer um dos 22 grupos criminosos constitui um conflito armado não internacional”, disse a ONG.

O Equador viu a violência explodir no país nos últimos anos. Entre 2019 e 2023, os homicídios na nação sul-americana cresceram 574%, de acordo com o Observatório Equatoriano do Crime Organizado. Em janeiro deste ano, uma onda de violência colocou o país nas manchetes mundiais, quando narcotraficantes promoveram sequestros, explosões e até a invasão de um telejornal ao vivo.

Prisões

O governo então declarou guerra ao crime organizado e passou a classificá-los como “terroristas”. Desde de janeiro até 11 de março, o governo informou ter detido mais de 13 mil pessoas.

“Os militares, que controlam as prisões do Equador desde janeiro, mantiveram os detidos incomunicáveis, dificultando por vezes o seu direito de consultar advogados ou de obter assistência médica. Os soldados parecem ser responsáveis por vários casos de maus-tratos e alguns casos de tortura na prisão”, diz a organização.

Police officers present the detainees who stormed the TC Television studio during a live TV broadcast amid the ongoing wave of violence around the nation, in Guayaquil, Ecuador January 10, 2024. REUTERS/Vicente Gaibor del Pino TPX IMAGES OF THE DAY

Policiais mostram os detidos após invadirem um estúdio de televisão e fazerem jornalistas reféns – REUTERS/Vicente Gaibor del Pino

A HRW disse que recebeu denúncias de que pessoas eram presas por simplesmente estarem passando por locais de operações da polícia. “De acordo com organizações de direitos humanos e advogados, estas detenções afetaram especialmente os jovens dos bairros pobres”, informou.

Um dos processos analisados pela organização é o da prisão de 22 pessoas no dia 20 de janeiro, todas acusadas de “terrorismo”. Os familiares relataram que passaram dias sem saber para onde os presos foram levados, até descobrirem que estavam em uma penitenciária há 180 quilômetros de distância do local onde moram.

“O processo, que a Human Rights Watch analisou, não fornece provas que liguem esta pessoa ao ‘terrorismo’ ou a qualquer outro crime. Em 4 de março, um promotor alterou as acusações para ‘tráfico de armas’”, destacou o comunicado.

A HRW entrevistou supostas vítimas de abuso, advogados e familiares, solicitou informações das instituições do país, analisou fotografias e vídeos e participou de audiências judiciais, além de revistar arquivos de vários casos.

“A militarização das ruas e prisões do Equador levou a graves violações dos direitos humanos por parte das forças de segurança”, afirma a ONG, que diz ter verificado vídeos “que mostram espancamentos e outros tratamentos abusivos durante as detenções”.

Execuções

Até 19 de abril, a Procuradoria-Geral havia aberto oito investigações sobre execuções extrajudiciais e a HRW analisou três casos, sendo que em um deles considera que há provas indicando que se tratou de execução extrajudicial.

É o caso do assassinato do jovem Carlos Javier Veja, de 19 anos, e do ferimento do seu primo Eduardo Velasco, em Guayaquil, no dia 2 de fevereiro. Ambos foram rotulados como “terroristas” pelo Exército. Segundo a ONG, os relatos colhidos e as imagens analisadas do incidente “contradizem o relato do Exército”.

“O caso aberto contra Eduardo, que foi analisado pela Human Rights Watch, não mostra nenhuma evidência de que eles pertencessem a um grupo criminoso ou mesmo portassem armas naquele dia”, disse a carta da HRW enviada ao presidente Noboa.

“No dia 22 de março o promotor pediu a um juiz que encerrasse a investigação contra Eduardo. O caso foi encerrado em 10 de abril e Eduardo foi libertado”, completou.

Security forces members man a checkpoint amid the ongoing wave of violence around the nation, in Guayaquil, Ecuador January 10, 2024. REUTERS/Vicente Gaibor del Pino
Forças de segurança nas ruas de Guayaquil – REUTERS/Vicente Gaibor del Pino

Impunidade

A organização internacional disse ainda que está preocupada com a impunidade dos casos de violação de direitos humanos promovidos pelo Estado devido às declarações do presidente Noboa e da Assembleia Nacional do Equador.

Em comunicado, o Parlamento do país informou que daria anistia e indulto para membros das forças de segurança “sempre que necessário para garantir o trabalho”. Já Noboa atacou um juiz que afirmou que militares teriam violado os direitos de sete pessoas presas.

“Que nenhum antipatriótico nos venha dizer que nós estamos violando os direitos de ninguém quando estamos protegendo os direitos da grande maioria”, afirmo Noboa em evento público no dia 15 de fevereiro.

Governo do Equador

A Agência Brasil entrou em contato com assessores do governo equatoriano e aguarda o retorno sobre a posição oficial do país em relação ao comunicado da Human Rights Watch.

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Brasil e Mundo

Milei oferece ajuda a Musk em conflito judicial da rede X no Brasil

@Elon Musk/X

Presidente e empresário defenderam liberdade de expressão

Por Pedro Rafael Vilela – Repórter da Agência Brasil – Brasília

O presidente da Argentina, Javier Milei, ofereceu ao empresário sul-africano Elon Musk, proprietário da plataforma X, antigo Twitter, colaboração no conflito que a rede social enfrenta no Brasil.” A informação foi divulgada pelo porta-voz da Presidência da Argentina, Manuel Adorni.

Musk, que é também proprietário das empresas Tesla, fabricante de carros elétricos, e SpaceX, que atua no ramo de sistemas aeroespaciais, tornou-se alvo de investigação criminal no Brasil após acusar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes de censurar a plataforma. O empresário também ameaçou desobedecer decisões judiciais.

No último fim de semana, em uma série de postagens na rede social X, Elon Musk iniciou uma cruzada contra o Judiciário brasileiro personificado no ministro Moraes. O empresário também atacou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em resposta, o presidente brasileiro criticou o avanço do extremismo de direita e saiu em defesa das instituições democráticas do país.

O encontro entre Musk e Milei ocorreu na cidade de Austin, no estado norte-americano do Texas, onde a Tesla mantém uma planta industrial. De acordo com a Presidência da Argentina, Musk e Milei defenderam a liberalização de mercados e a liberdade de expressão.

Porém, não ficou clara a colaboração que o presidente argentino poderia oferecer a Elon Musk em relação ao conflito com o Poder Judiciário no Brasil.

A Agência Brasil procurou o Ministério das Relações Exteriores (MRE) e o Palácio do Planalto e aguarda resposta.

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Brasil e Mundo

Biden encerra programa de sanções ao Zimbábue – mas não chega a uma reversão total

Fonte: Center for Economic and Policy Research (CEPR) – Autor – Michael Galante

Na segunda-feira, 4 de Março, o Presidente Biden assinou uma ordem executiva que põe termo ao programa de sanções do Departamento do Tesouro para o Zimbabué e à declaração de emergência nacional de mais de duas décadas que lhe está subjacente.

A medida constitui um reconhecimento efectivo da insensatez destas sanções económicas e proporcionará um alívio bem-vindo e muito necessário para uma economia do Zimbabué sedenta de sanções. Mas isso vem com limites significativos.

O programa de sanções do Tesouro ao Zimbabué começou em 2003, quando o então presidente George W. Bush declarou uma emergência nacional, alegando que as acções do governo do Zimbabué e de certos indivíduos do Zimbabué “constituíam uma ameaça invulgar e extraordinária à política externa dos Estados Unidos. ” Embora a declaração citasse uma alegada erosão democrática e um colapso do Estado de direito, os opositores às sanções há muito que consideram que a sua principal motivação foi a punição pelo programa de reforma agrária pós-colonial do governo, que expropriou as explorações agrícolas de muitos grandes proprietários brancos para as redistribuir aos negros. agricultores de subsistência — punição para o Zimbabué por agir, e uma possível ameaça para a África do Sul pós-apartheid, para que não considerem o mesmo.

Sob a autoridade desta declaração, Bush e os seus sucessores impuseram sanções a mais de 100 indivíduos e organizações, incluindo actores economicamente importantes, como a empresa mineira estatal. Embora certamente não sejam tão abrangentes como outros programas de sanções dos EUA, como os contra Cuba ou o Irão, as sanções de Bush proibiram transacções com grandes empresas e funcionários do Estado. Para um país de baixo rendimento com uma economia fortemente concentrada em alguns sectores, estas medidas teriam inevitavelmente efeitos deletérios e de grande alcance. Vários especialistas em direitos humanos da ONU argumentaram que “os direitos humanos dos cidadãos comuns do Zimbabué sofrem muito com as consequências das sanções” e que “as sanções e várias formas de cumprimento excessivo das sanções tiveram um efeito cascata insidioso na economia… e no gozo dos direitos humanos fundamentais”.

Citando o desejo de deixar claro que “as nossas sanções não se destinam a atingir o povo do Zimbabué”, a ordem executiva de segunda-feira encerrou a declaração de emergência nacional, levantando assim efectivamente as sanções contra cerca de 120 indivíduos e entidades. Ao mesmo tempo, a administração utilizou as suas autoridades ao abrigo da Lei Magnitsky Global — que permite sanções a indivíduos alegadamente responsáveis ​​por determinados abusos dos direitos humanos e actos de corrupção — para reimpor sanções a 12 indivíduos e entidades, e impor novamente sanções a mais dois.

Isto deixa 14 indivíduos e entidades do Zimbabué sob sanções Magnitsky, incluindo o presidente, o vice-presidente e a primeira-dama, os chefes da polícia, dos serviços secretos e da defesa, e o proeminente empresário Kuda Tagwirei e outros ligados ao conglomerado Fossil Group, que inclui Contratação Fóssil, Agro Fóssil e Minas Fósseis. Uma entidade adicional do Zimbabué, uma empresa de safaris, é designada por autoridades distintas, por alegadas ligações a um empresário venezuelano sancionado.

Isto parece ser uma redução significativa no âmbito das sanções ao Zimbabué e será provavelmente uma bênção para os civis que inevitavelmente suportam os custos de regimes de sanções abrangentes. No entanto, as restantes sanções, incluindo as que visam altos funcionários, poderão ainda ter efeitos colaterais significativos. O excesso de conformidade – em que indivíduos e empresas estrangeiras evitam até mesmo atividades tecnicamente permitidas por medo de violar sanções – continua a ser uma preocupação particular

Mais importante ainda, a economia do Zimbabué continuará a ser sufocada pela Lei da Democracia e Recuperação Económica do Zimbabué (ZDERA). Aprovado pelo Congresso dos EUA em 2001, o ZDERA torna política dos EUA opor-se ao FMI, ao Banco Mundial e a outros financiamentos multilaterais para o desenvolvimento do Zimbabué até que um conjunto de condições seja cumprido, incluindo a realização de eleições livres e justas, a restauração dos direitos de propriedade privada e um compromisso com uma “reforma agrária equitativa, legal e transparente”. Como ato do Congresso, o ZDERA só pode ser anulado pela autoridade do Congresso.

Não está claro o que motivou a mudança repentina de política. Talvez haja um reconhecimento genuíno de que o principal produto das sanções económicas é o sofrimento civil ; que há poucas provas de que as sanções atinjam os objectivos políticos declarados; que as sanções unilaterais são amplamente consideradas uma violação do direito internacional ; ou que a alegação de que a situação no Zimbabué mereceu uma “emergência nacional” de duas décadas nos Estados Unidos é manifestamente infundada. [Vários esforços do Congresso ao longo dos anos tentaram controlar esses poderes de emergência nacionais indefinidos.]

Ou talvez não. Afinal de contas, o presidente mantém os regimes de sanções mais abrangentes e mortais, como o embargo a Cuba – prova suficiente de que os impactos humanitários não são uma preocupação principal.

Uma possibilidade real é que o fim do programa de sanções esteja ligado à evolução da controversa luta pela compensação da reforma agrária. Os proprietários de terras brancos que tiveram as suas propriedades expropriadas como parte do processo de reforma agrária procuraram milhares de milhões de dólares em compensação – milhares de milhões que o país altamente endividado decididamente não possui . Sob pressão internacional, o governo concordou com um acordo de compensação de 3,5 mil milhões de dólares (referido por alguns como “reparações reversas”) em 2020, mas até agora, os detalhes exactos permaneceram por resolver .

Alternativamente, no meio da indignação em todo o continente relativamente ao apoio da administração à guerra de Israel em Gaza, a medida pode ser entendida como uma concessão às exigências dos líderes africanos que há muito vêem as sanções ao Zimbabué como uma imposição neocolonial e uma afronta à soberania da África. nações. Se assim for, a mudança deverá ser vista como uma vitória da unidade e da solidariedade no Sul Global.

Seja qual for a motivação, e apesar de estar muito aquém da rejeição das sanções unilaterais como ferramenta, o fim do anterior programa de sanções ao Zimbabué é, acima de tudo, uma vitória para o povo do Zimbabué e um raro passo na direcção certa para o presidente Biden. política de sanções da administração. Esperamos que não seja o último.

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