INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Saúde

Com IA, cientistas encontram tratamento para paciente com doença rara

Análise feita por algoritmo permitiu identificar a melhor opção de medicamento para pessoa

que não tinha avanços com outros tratamentos

 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Uma ferramenta de inteligência artificial (IA) ajudou a encontrar o melhor medicamento para tratar um paciente com a doença de Castleman Multicêntrica Idiopática (iMCD), que tinha poucas chances de vida e não respondia mais aos tratamentos. O achado foi descrito em artigo da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e publicado em fevereiro no New England Journal of Medicine. Atualmente, a pessoa está há dois anos em remissão da doença.

A iMCD é uma doença rara — um artigo de 2023 estima sua incidência em cinco casos a cada 1 milhão de pessoas. De origem desconhecida, ela se caracteriza pela liberação excessiva de substâncias inflamatórias pelo sistema imunológico, o que leva a danos em órgãos e tecidos. Pessoas acometidas por ela têm problemas nos gânglios, inflamação sistêmica, disfunção renal e falência dos órgãos.

A doença tem baixa taxa de sobrevida — entre 25% e 35% morrem em até cinco anos após o diagnóstico — e há poucas opções terapêuticas. A única droga aprovada pela Food and Drug Administration (FDA, sigla da agência que regulamenta fármacos e alimentos nos Estados Unidos) é efetiva em metade dos casos; os demais se tornam refratários à terapia.

No caso descrito no artigo, os pesquisadores usaram inteligência artificial para fazer uma análise genética do soro de pacientes. Assim, constataram que uma proteína chamada Fator de Necrose Tumoral (TNF) está aumentada nesses quadros.

Depois, o algoritmo avaliou opções terapêuticas, sugerindo o bloqueio do TNF como uma estratégia viável e apontando o melhor medicamento para esse caso entre drogas já aprovadas pelo FDA.

Para a nefrologista Valéria Pinheiro de Souza, do Hospital Israelita Albert Einstein, a pesquisa exemplifica como a IA está revolucionando a descoberta de medicamentos. “O estudo demonstra o impacto transformador da inteligência artificial na medicina. Ao combinar análise proteômica, transcriptômica e modelagem in vitro com aprendizado de máquina, os pesquisadores identificaram um novo alvo terapêutico para pacientes sem opções eficazes de tratamento”, analisa.

Mas a implicação desse avanço vai além da medicina. “Na indústria farmacêutica e na pesquisa clínica, a IA está possibilitando análises mais precisas, identificando padrões antes invisíveis e acelerando a personalização de soluções. O mesmo princípio que permite prever o melhor tratamento para uma doença rara pode ser usado para antecipar necessidades dos consumidores e otimizar campanhas estratégicas”, observa Souza.

Para a especialista, o estudo reforça que a IA não é apenas uma ferramenta de automação, mas um catalisador para descobertas e inovações que podem redefinir paradigmas. “No futuro, quem souber integrar ciência de dados e IA para resolver problemas complexos estará à frente na transformação digital”, avalia Valéria de Souza.

Fonte: Agência Einstein

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Brasil e Mundo

Comissão do Senado adia votação do PL da Inteligência Artificial

© Lula Marques/ Agência Brasil

Relator diz que não há pressa e que conversas vão continuar

Por Gilberto Costa – Repórter da Agência Brasil – Brasília

A Comissão Temporária  sobre Inteligência Artificial (CTIA) do Senado Federal vai adiar a apreciação do substitutivo do Projeto de Lei (PL) 2.338/2023, que regulamenta o uso da inteligência artificial no Brasil. Não há consenso entre os parlamentares do colegiado para a votação.

A proposta só deverá ser apreciada na comissão após o término do recesso parlamentar, que vai do dia 18 ao dia 31 deste mês, conforme informaram à Agência Brasil as assessorias do presidente da comissão e do relator da matéria, respectivamente, os senadores Carlos Viana (Podemos-MG) e Eduardo Gomes (PL-TO).

Este é o segundo adiamento. A votação deveria ter ocorrido no último dia 4, mas foi adiada para atualização do texto do projeto feita pelo relator. A CTIA é a única comissão que analisará o PL antes da ida deste ao plenário do Senado. Se aprovado na Casa, o texto será encaminhado para a Câmara dos Deputados. O adiamento contraria a expectativa do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), autor do PL, proposto em maio de 2023.

A comissão realizou 12 audiências públicas com 87 convidados e colheu mais de 100 manifestações de especialistas contactados. “Todos os setores participaram, colaboraram, do governo ao Judiciário, aos setores econômicos, todos”, enfatizou o senador Carlos Viana ao anunciar o adiamento. “Este não é um assunto fácil, não é um projeto simples para o país”, admitiu.

Controle

O presidente da comissão, no entanto, criticou a desinformação em torno da proposta. “Tá lotado de gente que faz isso em rede social, que levanta o argumento de censura, mas por quê? Ganham em cima disso. Estão ganhando em cima de rede social e da desinformação da população. O Senado não é a casa para esse tipo de palco, para esse tipo de picadeiro. O Senado é a casa da discussão democrática, aberta. Nós estamos aqui para solucionar os problemas da República.”

O senador Eduardo Gomes concordou com o adiamento. ”Ninguém tem pressa de errar. O quanto antes não quer dizer o quanto pior. A gente vai continuar conversando”, disse o relator.

Conforme a agência Senado Notícias, o texto substitutivo estabelece faixas regulatórias de acordo com o risco à sociedade. Se aprovado o PL, os recursos de inteligência artificial serão proibidos quando houver “risco excessivo”, como uso de armas autônomas, que poderiam atacar alvos sem intervenção humana.

Em atividades de “alto risco”, o uso da inteligência artificial seria controlado com regras mais rígidas como no caso de veículos autônomos, aplicação da lei e sistemas que auxiliem em diagnósticos ou procedimentos médicos.

Segundo o senador Fabiano Contarato (PT-ES), a bancada governista é a favor da proposta. “O relatório busca abranger todas as especificidades que o tema alcança. Se aprovado, deixará o Brasil entre as nações mais avançadas nesse tipo de regulação.” Contarato admite que o assunto é “complexo” e diz que criar uma lei a respeito é “um desafio da atualidade, diante da evolução rápida das inteligências artificiais”.

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