INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Saúde

Quatro pesquisas de 2025 que podem transformar o cuidado em saúde

Estudos publicados neste ano revelam avanços na medicina que vão de rins de porco sendo usados em transplantes a remédios totalmente criados por IA

Por Bruno Pereira, da Agência Einstein

Alguns dos avanços mais recentes da medicina parecem saídos de um livro de ficção científica — há desde órgãos de animais sendo adaptados para transplantes em humanos até inteligência artificial (IA) comandando todas as etapas de uma pesquisa. Apesar de aparentarem ser tão distantes da nossa realidade, essas investigações estão entre as que mais contribuíram com inovações que podem salvar vidas.

“A área da saúde e da pesquisa biomédica é uma das mais impactadas pela inteligência artificial e a cada semana há uma coisa nova. Estamos vendo avanços muito grandes e muito rápidos”, afirma o biólogo Helder Nakaya, pesquisador sênior do Einstein Hospital Israelita e professor da Universidade de São Paulo (USP).

No campo da inteligência artificial, os últimos estudos mostram que essas ferramentas podem se tornar indispensáveis para fazer diagnósticos, por exemplo. “No entanto, ainda existe um componente humano que não pode ser reduzido a dados estruturados que uma IA tem acesso. Um diagnóstico médico envolve contexto, interação, sinais sutis, às vezes até aspectos sensoriais, observa Nakaya. “O que estamos vendo, porém, é que essas ferramentas estão se tornando cada vez mais competentes em integrar informações de múltiplas origens. Isso abre espaço para pesquisas que podem, de fato, redefinir a forma como a tecnologia se integra à prática médica, sem substituir o médico.”

A seguir, veja quatro inovações apresentadas em pesquisas de 2025 que, segundo Nakaya, prometem abrir novas fronteiras para a saúde.

  1. Xenotransplante de rim de porco 

A ciência tem buscado alternativas para reduzir a fila de pessoas à espera de transplante de órgãos. A urgência parece ainda maior quando se trata da doação de rim: das 47 mil pessoas à espera de um doador compatível no Brasil, 44 mil aguardam por um rim, segundo o Sistema Nacional de Transplantes.

Para lidar com o problema, ensaios clínicos estão usando órgãos de porcos geneticamente modificados para reduzir os riscos de rejeição e permitir um alívio, mesmo que temporário, a pessoas com falência de órgãos. A técnica, conhecida como xenotransplante, já vem sendo aplicada para estudos com pulmão, fígado e coração, mas no caso dos rins, apesar da demanda, ela enfrentava resistências do organismo.

Um estudo publicado em fevereiro na revista The New England Journal of Medicine, porém, mostrou que é possível reduzir essa rejeição. A pesquisa, que contou com a participação de médicos brasileiros, foi considerada uma das principais descobertas do setor ao melhorar as técnicas de edição de DNA e facilitar a integração do rim xenotransplantado ao receptor.

“Já vemos pesquisas nesse setor há vários anos, mas a grande mudança é que agora a gente tem ferramentas de edição genômica mais potentes e maior conhecimento da imunologia, da rejeição, para poder entender quais são os genes que os cientistas devem tirar ou colocar nos porcos para poder fazer esse processo dar certo”, explica o pesquisador do Einstein.

  1. IA que cria remédios

Outra investigação de impacto foi publicada, em julho, pela Nature Medicine. Nela, um sistema de inteligência artificial “pensou” em qual era o melhor alvo terapêutico para combater a fibrose pulmonar idiopática e desenhou a molécula que poderia combatê-lo.

“Foi um estudo marcante por dois aspectos. O primeiro foi a escolha da IA de atacar aquela proteína, que ninguém tinha pensado. E, depois, foi uma outra IA que desenhou uma droga que pudesse inibir essa proteína”, detalha o professor.

O ensaio com a terapia proposta pela IA envolveu 71 pessoas em 30 meses e teve bons resultados. O fato de o computador ter liderado esse processo de criação, porém, não tirou a responsabilidade de especialistas pelo material publicado. A investigação seguiu padrões tradicionais, com supervisão humana plena. A inovação esteve na capacidade de analisar caminhos que não estavam no radar dos pesquisadores.

  1. Prognóstico tecnológico

Outro destaque do ano é um modelo de inteligência artificial que pode ser usado para prever a progressão de doenças a partir de grandes conjuntos de registros de dados sobre elas. Apresentado em setembro na Nature Medicine,  o sistema é inspirado na mesma lógica dos modelos generativos usados em ferramentas como o ChatGPT, mas, em vez de palavras, ele opera com eventos de saúde. Cada diagnóstico, internação ou condição clínica funciona como um “token”, e o modelo aprende a sequência desses eventos ao longo da vida das pessoas.

“A partir do histórico de um paciente, o sistema estima quais doenças têm maior probabilidade de surgir no futuro e em que horizonte de tempo”, explica Nakaya. Isso permite simular trajetórias possíveis de saúde e funciona como uma ferramenta de apoio à decisão, ajudando médicos e pesquisadores a antecipar riscos, planejar acompanhamento e pensar estratégias de prevenção com base em dados populacionais, sempre dentro de contextos controlados e com limitações claras.

  1. Leitura de mentes? 

Uma pesquisa analisou sinais cerebrais para gerar descrições de pensamentos, “lendo a mente” de voluntários. Publicado na revista Science Advances no início de novembro, o estudo usou mapas que analisam quais regiões do cérebro se ativam conforme pensamos em objetos específicos, para conseguir prever conteúdos imaginados.

“Não se trata de acessar pensamentos íntimos ou decifrar a mente humana”, explica o pesquisador. “O que esses estudos mostram é que, quando você já conhece o conjunto de estímulos e consegue mapear como o cérebro responde a eles, passa a ser possível reconhecer padrões associados a objetos, cenas ou ações específicas. É mais parecido com traduzir sinais cerebrais em descrições do que com ler pensamentos.”

Fonte: Agência Einstein

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Brasil e Mundo

ChatGPT fora do ar: usuários relatam instabilidade nesta terça

Chat GPT da OpenAI – Divulgação

A ferramenta de Inteligência Artificial mais popular do mundo amanheceu com problemas nesta terça-feira, deixando internautas sem respostas e gerando transtornos. A instabilidade se soma a outras falhas em serviços online importantes

Para muitos que dependem do ChatGPT para suas tarefas diárias, a manhã desta terça-feira, 10 de junho, começou com uma surpresa desagradável. A inteligência artificial da OpenAI, queridinha de estudantes, profissionais e entusiastas, apresentou instabilidade generalizada, deixando seus usuários a ver navios.

Relatos de diversos internautas apontam que a plataforma não estava respondendo aos comandos e prompts enviados. Além disso, problemas de conexão e dificuldades para anexar arquivos foram amplamente reportados.

De acordo com o site Downdetector, que monitora o funcionamento de serviços online, as primeiras notificações de instabilidade começaram por volta das 6h da manhã. O pico de reclamações foi registrado às 8h40, com mais de 900 notificações em todo o Brasil.

Ainda não há um posicionamento oficial da OpenAI sobre as causas do problema, o que aumenta a apreensão de quem utiliza a ferramenta como parte essencial de seu trabalho ou estudos.

A falha no ChatGPT não foi um caso isolado nesta manhã. Outros serviços online importantes também enfrentaram instabilidade, como o site da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo (Sefaz/SP), o Banco C6 e, para a preocupação de muitos, até mesmo o PIX.

Essa série de instabilidades em plataformas tão utilizadas levanta questões sobre a resiliência dos sistemas digitais e a dependência cada vez maior que temos deles em nosso dia a dia.

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Saúde

Com IA, cientistas encontram tratamento para paciente com doença rara

Análise feita por algoritmo permitiu identificar a melhor opção de medicamento para pessoa

que não tinha avanços com outros tratamentos

 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Uma ferramenta de inteligência artificial (IA) ajudou a encontrar o melhor medicamento para tratar um paciente com a doença de Castleman Multicêntrica Idiopática (iMCD), que tinha poucas chances de vida e não respondia mais aos tratamentos. O achado foi descrito em artigo da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e publicado em fevereiro no New England Journal of Medicine. Atualmente, a pessoa está há dois anos em remissão da doença.

A iMCD é uma doença rara — um artigo de 2023 estima sua incidência em cinco casos a cada 1 milhão de pessoas. De origem desconhecida, ela se caracteriza pela liberação excessiva de substâncias inflamatórias pelo sistema imunológico, o que leva a danos em órgãos e tecidos. Pessoas acometidas por ela têm problemas nos gânglios, inflamação sistêmica, disfunção renal e falência dos órgãos.

A doença tem baixa taxa de sobrevida — entre 25% e 35% morrem em até cinco anos após o diagnóstico — e há poucas opções terapêuticas. A única droga aprovada pela Food and Drug Administration (FDA, sigla da agência que regulamenta fármacos e alimentos nos Estados Unidos) é efetiva em metade dos casos; os demais se tornam refratários à terapia.

No caso descrito no artigo, os pesquisadores usaram inteligência artificial para fazer uma análise genética do soro de pacientes. Assim, constataram que uma proteína chamada Fator de Necrose Tumoral (TNF) está aumentada nesses quadros.

Depois, o algoritmo avaliou opções terapêuticas, sugerindo o bloqueio do TNF como uma estratégia viável e apontando o melhor medicamento para esse caso entre drogas já aprovadas pelo FDA.

Para a nefrologista Valéria Pinheiro de Souza, do Hospital Israelita Albert Einstein, a pesquisa exemplifica como a IA está revolucionando a descoberta de medicamentos. “O estudo demonstra o impacto transformador da inteligência artificial na medicina. Ao combinar análise proteômica, transcriptômica e modelagem in vitro com aprendizado de máquina, os pesquisadores identificaram um novo alvo terapêutico para pacientes sem opções eficazes de tratamento”, analisa.

Mas a implicação desse avanço vai além da medicina. “Na indústria farmacêutica e na pesquisa clínica, a IA está possibilitando análises mais precisas, identificando padrões antes invisíveis e acelerando a personalização de soluções. O mesmo princípio que permite prever o melhor tratamento para uma doença rara pode ser usado para antecipar necessidades dos consumidores e otimizar campanhas estratégicas”, observa Souza.

Para a especialista, o estudo reforça que a IA não é apenas uma ferramenta de automação, mas um catalisador para descobertas e inovações que podem redefinir paradigmas. “No futuro, quem souber integrar ciência de dados e IA para resolver problemas complexos estará à frente na transformação digital”, avalia Valéria de Souza.

Fonte: Agência Einstein

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Brasil e Mundo

Comissão do Senado adia votação do PL da Inteligência Artificial

© Lula Marques/ Agência Brasil

Relator diz que não há pressa e que conversas vão continuar

Por Gilberto Costa – Repórter da Agência Brasil – Brasília

A Comissão Temporária  sobre Inteligência Artificial (CTIA) do Senado Federal vai adiar a apreciação do substitutivo do Projeto de Lei (PL) 2.338/2023, que regulamenta o uso da inteligência artificial no Brasil. Não há consenso entre os parlamentares do colegiado para a votação.

A proposta só deverá ser apreciada na comissão após o término do recesso parlamentar, que vai do dia 18 ao dia 31 deste mês, conforme informaram à Agência Brasil as assessorias do presidente da comissão e do relator da matéria, respectivamente, os senadores Carlos Viana (Podemos-MG) e Eduardo Gomes (PL-TO).

Este é o segundo adiamento. A votação deveria ter ocorrido no último dia 4, mas foi adiada para atualização do texto do projeto feita pelo relator. A CTIA é a única comissão que analisará o PL antes da ida deste ao plenário do Senado. Se aprovado na Casa, o texto será encaminhado para a Câmara dos Deputados. O adiamento contraria a expectativa do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), autor do PL, proposto em maio de 2023.

A comissão realizou 12 audiências públicas com 87 convidados e colheu mais de 100 manifestações de especialistas contactados. “Todos os setores participaram, colaboraram, do governo ao Judiciário, aos setores econômicos, todos”, enfatizou o senador Carlos Viana ao anunciar o adiamento. “Este não é um assunto fácil, não é um projeto simples para o país”, admitiu.

Controle

O presidente da comissão, no entanto, criticou a desinformação em torno da proposta. “Tá lotado de gente que faz isso em rede social, que levanta o argumento de censura, mas por quê? Ganham em cima disso. Estão ganhando em cima de rede social e da desinformação da população. O Senado não é a casa para esse tipo de palco, para esse tipo de picadeiro. O Senado é a casa da discussão democrática, aberta. Nós estamos aqui para solucionar os problemas da República.”

O senador Eduardo Gomes concordou com o adiamento. ”Ninguém tem pressa de errar. O quanto antes não quer dizer o quanto pior. A gente vai continuar conversando”, disse o relator.

Conforme a agência Senado Notícias, o texto substitutivo estabelece faixas regulatórias de acordo com o risco à sociedade. Se aprovado o PL, os recursos de inteligência artificial serão proibidos quando houver “risco excessivo”, como uso de armas autônomas, que poderiam atacar alvos sem intervenção humana.

Em atividades de “alto risco”, o uso da inteligência artificial seria controlado com regras mais rígidas como no caso de veículos autônomos, aplicação da lei e sistemas que auxiliem em diagnósticos ou procedimentos médicos.

Segundo o senador Fabiano Contarato (PT-ES), a bancada governista é a favor da proposta. “O relatório busca abranger todas as especificidades que o tema alcança. Se aprovado, deixará o Brasil entre as nações mais avançadas nesse tipo de regulação.” Contarato admite que o assunto é “complexo” e diz que criar uma lei a respeito é “um desafio da atualidade, diante da evolução rápida das inteligências artificiais”.

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