CRIANÇAS

Saúde

Quase metade das crianças com escape diurno de xixi é punida, aponta estudo

Levantamento feito por pesquisadores da Bahia avaliou 188 crianças com distúrbios do trato urinário e constatou que boa parte delas recebe algum tipo de repreensão, física ou oral, por conta do problema

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

Quase metade (48,9%) das crianças que sofrem com escapes de xixi durante o dia são punidas pelos pais ou responsáveis, aponta estudo brasileiro realizado no Centro de Distúrbios Urinários da Criança (CEDIMI) da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. O trabalho foi apresentado em setembro no maior congresso de pediatria urológica do mundo, o Pediatric Urology Fall Congress, da Sociedade Americana de Urologia Pediátrica, que aconteceu nos Estados Unidos.

Uma investigação anterior feita por pesquisadores de Minas Gerais já havia constatado alto índice de punição das crianças que sofrem de enurese noturna, ou seja, que fazem xixi na cama. A partir desses resultados, o grupo liderado pelo urologista Ubirajara Barroso, que é professor Adjunto de Urologia da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, decidiu investigar se as crianças que sofrem de incontinência urinária diurna também enfrentam algum tipo de punição.

Para chegar aos resultados, a psicóloga Ana Aparecida Braga, da equipe do CEDIMI, aplicou um amplo questionário para 188 crianças com alterações no trato urinário inferior que eram atendidas no centro. Eles também usaram avaliaram a gravidade dos sintomas urinários e constipação. Do total de crianças que participaram, 143 (76%) também tinham problemas de enurese noturna.

Entre as questões aplicadas, uma perguntava se essa criança lidava com alguma punição devido à incontinência urinária. Se a resposta fosse sim, os pesquisadores perguntavam o tipo de punição: física com contato (apanhar); física sem contato (colocar de castigo) ou oral (gritos e broncas).

Os resultados mostraram que 48,9% sofrem alguma forma de punição parental: 20% disseram que apanham dos pais; 18% afirmam que são colocadas de castigo e 78% alegam receber alguma punição oral (gritos, broncas, bullying). A soma ultrapassa 100% porque algumas crianças declararam sofrer mais de um tipo de punição.

“Mesmo que a gente soubesse que isso acontece, pela nossa prática clínica, o resultado nos surpreendeu. Muitos pais acham que essas crianças deixam a urina escapar porque estão com preguiça de ir ao banheiro, porque preferem ficar brincando com os amigos. E consideram que a criança é culpada por isso”, diz Barroso, que também é presidente da International Children’s Continence Society (ICCS).

Para o urologista, a conscientização pode ajudar a reduzir as práticas parentais punitivas. “Os pais e cuidadores precisam entender que a criança que perde urina não faz isso por rebeldia e, sim, porque tem um problema de saúde que precisa ser tratado”, afirma.

Na visão da psicóloga Lucianne Areal, do Departamento Materno-Infantil do Hospital Israelita Albert Einstein, os resultados evidenciam o quanto a punição não é efetiva para propiciar mudanças, além de não promover o bem-estar emocional e o desenvolvimento saudável da criança. “Esses estudos são importantes para sensibilizar pais e responsáveis para melhor manejar situações complexas e buscar auxílio profissional para orientação”, comenta.

Condição frequente

De acordo com Ubirajara Barroso, a disfunção do trato urinário inferior (DTUI) é uma condição muito prevalente em crianças e afeta não apenas a saúde física, mas também o bem-estar emocional e psicossocial delas. Estima-se que o problema atinja cerca de 7% das meninas e 3% dos meninos aos 7 anos de idade e, na maioria das vezes, vem associado à enurese noturna.

O xixi na cama causa mais impacto emocional para a família toda, pois o problema afeta a dinâmica da casa durante a madrugada. Os escapes durante o dia, porém, costumam impactar mais os pequenos. “A criança que faz xixi na cama está em casa, num ambiente seguro para ela. Mas existe um grupo enorme de crianças que sofre com escapes de xixi na roupa durante o dia, no meio da escola, por exemplo. Nesses casos, ela se esforça para não deixar a urina escapar e sofre com o temor de ser descoberta na frente dos amiguinhos”, observa o urologista.

No estudo baiano, os autores destacam que punir essas crianças aumenta o estresse e a ansiedade nelas. A psicóloga do Einstein concorda. “Posso citar primeiramente ansiedade, insegurança e medo em relação à figura parental e em relação a conseguir controlar as perdas urinárias para aprovação e reconhecimento”, diz Lucianne Areal.

Outras possíveis consequências são a baixa autoestima e as implicações para diferentes contextos da vida da criança – como a dificuldade de estabelecer relacionamentos saudáveis “O desgaste da relação entre criança e pais, por conta das punições, desfavorece o vínculo, a confiança e não auxilia no enfrentamento das dificuldades, nem ajuda a lidar com o estresse e a frustração”, complementa a psicóloga.

Como cuidar?

A disfunção urinária na criança pode variar em relação à duração, já que há variáveis diferentes para sua resolução. Se após o desfralde (que costuma acontecer até os 5 anos de idade) o problema ocorrer de forma sistemática, é importante que os pais consultem um especialista para avaliar o caso e receber orientações sobre como conduzir a situação. A equipe de pesquisadores da Bahia enfatiza a importância de uma abordagem multidisciplinar que inclua suporte psicológico para pais e filhos, visando melhorar a qualidade de vida e o sucesso terapêutico.

Entre as formas de resolver o problema estão uma série de medidas e orientações comportamentais que têm como objetivo melhorar os hábitos miccionais da criança: manter a hidratação adequada durante o dia e não passar mais do que três horas sem fazer xixi; urinar de forma relaxada e com os dois pés apoiados no chão; esvaziar a bexiga antes de dormir e não beber líquidos perto da hora de ir para a cama. Se nenhuma dessas medidas funcionar, é possível fazer fisioterapia pélvica e eletroestimulação dos nervos da bexiga.

Segundo Areal, a busca por ajuda ocorre geralmente de forma tardia, o que influencia na identificação das possíveis causas e estratégias de tratamento, além de afetar a dinâmica familiar. “A maioria dos pais tem dificuldades em manejar o problema e manifesta impaciência. Querem resolução imediata ou o mais rápido possível”, analisa a psicóloga. “Paciência, compreensão, apoio e intervenção profissional são ações necessárias para melhor condução da situação.”

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Uma a cada três crianças no mundo tem miopia, aponta estudo

Caracterizado pela dificuldade de enxergar de longe, o problema piorou após a pandemia de Covid-19. A estimativa é que, em 2050, 40% das crianças e dos jovens serão míopes

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

Uma a cada três crianças no mundo tinha miopia em 2023 e essa proporção deve alcançar 40% dos meninos e meninas em 2050, ultrapassando 740 milhões de casos. A constatação é de uma ampla revisão sistemática e meta-análise que analisou 276 pesquisas envolvendo cerca de 5,4 milhões de crianças em 50 países dos seis continentes. Os resultados foram publicados em setembro no British Journal of Ophthalmology.

A miopia é um distúrbio visual que geralmente começa na primeira infância — período que contempla do nascimento até os 6 anos de idade — e tende a piorar. É caracterizada pela dificuldade de enxergar objetos distantes: eles ficam embaçados e, quanto mais grave for a miopia, menor é a distância na qual o paciente consegue focar.

O problema ocorre quando o olho forma a imagem antes da retina. Isso significa que ele precisa de uma maior aproximação dos objetos para elaborar adequadamente a imagem que será enviada ao cérebro. “É impossível aproximarmos todos os objetos para a adequada formação da imagem. Por esse motivo, o tratamento inclui a correção refrativa, que pode ser alcançada pelo uso de óculos, lentes de contato ou de forma definitiva pela cirurgia refrativa”, explica o oftalmologista Adriano Biondi, do Hospital Israelita Albert Einstein.

A nova revisão de estudos aponta um aumento significativo na prevalência de miopia entre crianças e adolescentes nos últimos 30 anos — saltou de 24% em 1990 para quase 36% em 2023, especialmente depois do período da pandemia de Covid-19. Dentre as possíveis explicações estão o uso excessivo de visão para perto, impulsionada pelo uso de telas, e estar em ambiente confinado, com menos contato com a luz natural.

Na avaliação de Biondi, os altos números de miopia entre jovens surpreendem, mas são notáveis e cada vez mais preocupantes. “Se observarmos os dados históricos, nos últimos 60 anos temos presenciado um aumento significativo da prevalência de miopia, com trajetória contínua de alta. Há razões para duvidar de que se trata apenas de uma alteração explicada pela genética, pois as mudanças têm acontecido muito rápido e podem ser melhor explicadas pelas mudanças de hábitos e comportamentos humanos”, analisa.

O estudo observou que crianças asiáticas têm mais miopia – cerca de 35% das que vivem no Leste Asiático tinham o problema em 2023, mais que o dobro da taxa de outras regiões. Para se ter uma ideia, a prevalência na Ásia é aproximadamente sete vezes maior do que a observada na África. A América Latina e o Caribe demonstraram a menor prevalência entre os seis continentes.

Para os autores, a escolaridade mais cedo pode explicar essas diferenças. O oftalmologista do Einstein concorda: “Tanto a escolarização quanto o subdiagnóstico em outros países podem contribuir para a explicação. Mas, certamente, o tempo dedicado à leitura e ao estudo, por si só, já é capaz de explicar essa correlação, já que ela foi identificada também em outros países desenvolvidos, tais como Austrália, Israel e Estados Unidos.”

Tratamento e prevenção

A partir do diagnóstico, existe tratamento para a miopia. De acordo com Biondi, para crianças na idade em que a miopia ainda está se desenvolvendo, uma das estratégias é o uso de lentes especiais que podem retardar ou atenuar o problema.

Se ele persistir após o final do desenvolvimento do olho, ao redor dos 20 anos de idade, a cirurgia refrativa por laser pode ser utilizada. Para adultos acima dessa idade ou com miopia muito significativa, uma das indicações de tratamento é o implante de lentes intraoculares. “Atualmente, usar óculos é praticamente opcional para a maioria dos pacientes”, pontua o oftalmologista.

Para prevenir o problema, a principal recomendação é aumentar as atividades das crianças ao ar livre, com maior exposição à luz natural, e restringir o tempo de uso de aparelhos eletrônicos. “Ter uma vida saudável, com menos uso de celular, menos telas e menos uso do computador, é muito útil para mitigar os riscos de miopia, além de serem hábitos muito bem-vindos para a saúde metabólica e mental”, lembra o médico.

Em relação ao tempo de telas, a Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica recomenda:

  • Abaixo de 2 anos: nenhuma exposição às telas;
  • Entre 2 e 5 anos: limitar a, no máximo, 1 hora diária;
  • Entre 6 e 10 anos: entre 1 e 2 horas ao dia;
  • Entre 11 e 18 anos: até 2-3 horas diárias

Em relação às medidas comportamentais estão:

  • Preferir a maior tela, na maior distância possível (televisão é preferível ao celular);
  • Controlar a distância de uso (manter os aparelhos a uma distância de um braço adulto);
  • Evitar telas durante as refeições;
  • Evitar telas pelo menos 2 horas antes de dormir;
  • Estabelecer intervalos periódicos, seguindo a regra do “20-20-20”: a cada vinte minutos de atividade de perto, realizar intervalos de pelo menos 20 segundos para fixar objetos a 20 pés (aproximadamente 6 metros) de distância, permitindo o relaxamento do foco de perto (acomodação);
  • Manter uma postura adequada: tablets e computadores devem ficar na altura dos olhos da criança, atentando-se à posição das costas e do pescoço durante o uso;
  • Estimular atividades ao ar livre, sob exposição solar indireta, pelo menos 2 horas por dia;
  • Reduzir o brilho e aumentar o contraste da tela do aparelho eletrônico. Evitar o uso de telas em ambientes mal iluminados.

Fonte: Agência Einstein

 

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Saúde

Fumar durante a gravidez pode piorar o desempenho acadêmico da criança

Pesquisa encontrou associação entre o tabagismo na gestação e efeitos a longo prazo no aprendizado infantil; hábito também aumenta o risco de abortamento, restrição de crescimento e prematuridade

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

Fumar faz mal à saúde, mas o hábito durante a gravidez pode ser nocivo tanto para a gestante quanto para o bebê que ainda nem nasceu. Os impactos do tabagismo são bem conhecidos: risco de malformação congênita, maior taxa de abortamento (perda do bebê até a 20ª semana de gestação), risco de óbito intrauterino, prematuridade e restrição de crescimento. O cigarro ainda pode causar outras repercussões graves ao longo da vida da criança, como alterações neurológicas que afetem o desenvolvimento cognitivo e psicomotor.

Segundo um estudo recente, fumar na gravidez também pode reduzir o desempenho acadêmico em crianças expostas ao tabagismo pré-natal. O levantamento foi liderado por pesquisadores da Austrália e publicado em junho no periódico Addictive Behaviors.

Uma revisão sistemática conduzida pela equipe levantou dados de 19 estudos, que envolviam 1,25 milhão de participantes, e encontrou a associação do tabagismo com a piora no desempenho acadêmico. O grupo também realizou uma meta-análise, com dados de oito pesquisas envolvendo mais de 723 mil pessoas, e constatou que crianças expostas ao cigarro pela mãe tinham um risco 49% maior de baixo desempenho acadêmico, em comparação com aquelas que não foram expostas ao fumo no útero.

Em um dos trabalhos, feito na Austrália, foi relatada piora no desempenho das crianças que eram filhas de mães fumantes nos domínios envolvendo ortografia, escrita e literatura e matemática. Em outro trabalho, esse realizado na Islândia, os resultados apontam pontuações de 5% a 7% menores no desempenho acadêmico de crianças entre 10 e 16 anos expostas ao cigarro na gestação. Já uma pesquisa nos Estados Unidos reforça que o tabagismo pré-natal foi associado à piora no desempenho em literatura, ortografia e aritmética.

“Uma meta-análise bem-feita, como é o caso deste estudo, é a maior evidência científica que temos na literatura. Esse resultado vem demonstrar, de forma incisiva, uma piora do desempenho escolar relacionado ao tabagismo. Isso abre um sinal de alerta para indicar que outros problemas podem estar relacionados também”, avalia o ginecologista e obstetra Rômulo Negrini, coordenador-médico da Obstetrícia do Hospital Israelita Albert Einstein.

Problema de saúde pública

Apesar de todos os esforços e campanhas antitabagismo realizados no mundo, o cigarro continua sendo um problema de saúde pública global. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 7% das mulheres fumam todos os dias, sendo que 2% delas o fazem durante a gravidez.

No Brasil, mesmo com a redução significativa na quantidade de fumantes nos últimos 35 anos, o número de tabagistas continua alto. Em 1989, 27% das mulheres e 43% dos homens fumavam; em 2023, esse percentual caiu para 9,6% das mulheres e 15,9% dos homens, de acordo com o Ministério da Saúde.

“Melhorou muito em relação ao que era, mas ainda tem muito a melhorar. Se pensarmos que uma em cada dez mulheres fuma, isso ainda é bem preocupante. Não temos dados específicos de tabagismo na gestação, mas deve girar em torno dos 2% que a OMS calcula”, analisa Negrini.

Efeitos deletérios

Os efeitos nocivos do tabagismo na gestação são estudados desde a década de 1980, com vários trabalhos demonstrando os efeitos deletérios do cigarro. A fumaça do tabaco tem cerca de 7 mil compostos tóxicos, que afetam o desenvolvimento fetal.

Essas substâncias atuam estreitando os vasos, o que dificulta a circulação sanguínea. Ao mesmo tempo, o monóxido de carbono presente na fumaça do cigarro ocupa o lugar do oxigênio na hemoglobina, fazendo chegar menos sangue e menos oxigênio para o bebê, que não consegue crescer adequadamente. “Estima-se que cerca de 10% dos casos de prematuridade sejam decorrentes de tabagismo na gestação. Além disso, o tabagismo materno é responsável por quase 20% dos casos de bebês que nascem com baixo peso”, alerta Negrini.

Outro risco é o de gravidez nas trompas, a chamada gravidez ectópica. Isso acontece porque as substâncias do tabaco alteram a motilidade de pequenos cílios presentes nas trompas, que são os responsáveis por levar o embrião para dentro do útero. “Sem a motilidade adequada, o embrião se implanta dentro das trompas e essa gravidez não poderá seguir. Na maioria das vezes, é preciso operar para reduzir o risco materno”, explica o ginecologista e obstetra.

Bebês com restrição de crescimento — seja devido ao tabagismo materno, seja por outras questões — ainda são mais propensos a ter diabetes e hipertensão. Negrini ressalta, no entanto, que a maioria dos ginecologistas e obstetras não relaciona o tabagismo ao desenvolvimento da criança a longo prazo. O que se reforça no pré-natal, na maioria das vezes, é a questão do risco de aborto, restrição de crescimento e prematuridade.

“Ter um estudo como esse pode ajudar a abrir os olhos não somente dos obstetras, mas também das mães tabagistas, pensando nos riscos acadêmicos dessas crianças. A decisão de cada mulher é individual, mas cabe a nós, médicos, fazermos essa ponte entre a literatura científica e a vida real”, observa o especialista.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Usar tela como “chupeta” pode afetar capacidade de a criança regular emoções

Estudo canadense questiona uso rotineiro de eletrônicos para acalmar birras de crianças com menos de 4 anos; dispositivos são contraindicados antes dos 2 anos

 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Oferecer eletrônicos para distrair a criança na hora da birra pode comprometer a capacidade dela de regular emoções no futuro, sugere um novo estudo canadense publicado no periódico Frontiers in Child and Adolescent Psychiatry.

Segundo o artigo, 26% das crianças de 0 a 4 anos ficam mais de quatro horas diante de alguma tela diariamente. A fase dos berreiros, que ocorre por volta dos 2 anos de idade, pode ser desafiadora para os pais, que muitas vezes não conseguem lidar com manifestações de raiva dos pequenos e acabam apelando para esses dispositivos na tentativa de acalmá-los. Os autores batizaram esse recurso de “chupeta digital”.

Por ser uma etapa em que o cérebro ainda está em desenvolvimento, os cientistas queriam avaliar as possíveis repercussões desse hábito. Para isso, acompanharam 265 pais e mães, que preencheram questionários com informações sobre comportamento dos filhos e rotina de uso de dispositivos digitais em dois momentos: um em 2020, quando as crianças tinham em média 3,5 anos, e um ano depois.

Na avaliação final, os resultados sugerem que quanto maior a frequência de uso das telas no início, menor a capacidade de controlar raiva e frustração 12 meses depois. E, nesses casos, as crianças acabavam sendo acalmadas com mais aparelhos eletrônicos, indicando um ciclo vicioso. Segundo os autores, suprimir rotineiramente essas emoções pode dificultar o desenvolvimento de estratégias de regulação emocional, além de habituar os mais novos a terem sempre algo externo para ajudar nessa tarefa.

“Observamos que os eletrônicos realmente hipnotizam, é quase uma adição”, diz o pediatra Claudio Schvartsman, do Hospital Israelita Albert Einstein. No entanto, o especialista pondera que, como o estudo foi feito durante a pandemia, isso pode gerar um viés. “Esse foi um momento em que todas as crianças tiveram mais acesso aos eletrônicos, em que os pais muitas vezes precisavam lançar mão deles para poderem trabalhar e, naquela época, até a escola era online.”

Ainda assim, os especialistas destacam que o papel da família é essencial para ajudar os filhos a transitarem por situações que geram frustração, ajudando-os a reconhecer suas emoções e ensinando-os como lidar com elas. Isso inclui desde identificar os gatilhos até as formas de expressão, para poder ter mais controle sobre elas.

“Não há uma receita pronta, envolve conversar, educar e colocar restrições”, orienta o pediatra. “É preciso saber conviver com frustrações, a criança precisa de limites, isso faz parte do seu desenvolvimento e ela se sente segura quando encontra esses limites.”

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) desaconselha o uso de telas por bebês com menos de 2 anos. Segundo a entidade, o limite de tempo para os pequenos estarem em contato com esses aparelhos varia de acordo com a idade. Crianças de 2 a 5 anos podem usar até uma hora por dia; as de 6 a 10 anos, entre uma e duas horas diárias; para adolescentes entre 11 e 18 anos, o tempo máximo aconselhado é de duas a três horas. A SBP recomenda também que o uso de telas seja feito sempre com a supervisão de um adulto.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Skincare: conheça os riscos de meninas cuidarem da pele por conta própria

Influenciadas pelas redes sociais e sem orientação correta, crianças e adolescentes usam produtos que podem causar manchas, queimaduras e alergias; saiba quais cuidados tomar

Por Thais Szegö, da Agência Einstein 

As redes sociais estão repletas de influenciadores que exibem orgulhosos sua rotina de cuidados com a pele, o famoso skincare. Os vídeos são convidativos, as embalagens atraentes e o número de marcas que investem em produtos voltados para o público infantojuvenil é cada vez maior. Para algumas pessoas até pode parecer fofo ver uma menina tão jovem sendo vaidosa e cuidando da sua aparência, mas não imaginam que, na verdade, essas garotas estão se expondo a muitos riscos.

“Temos observado um movimento mercadológico voltado a crianças e pré-adolescentes, especialmente a turma com idade entre 9 e 14 anos, que leva a um consumo inadequado de artigos de skincare, muitas vezes desencadeado por conteúdos online que divulgam produtos que não são adequados para esse público, colocando em risco sua saúde e seu bem-estar”, conta a dermatologista Claudia Marçal, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), da American Academy Of Dermatology (AAD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD).

A dermatologista Barbara Miguel, do Hospital Israelita Albert Einstein, também nota essa tendência no seu consultório. “Recebo com frequência crianças entre 8 e 9 anos, acompanhadas por adultos, que têm mais informação sobre produtos cosméticos do que suas próprias mães”, relata. Segundo Miguel, elas querem saber o que podem usar, pois ficam perdidas com tanta informação. “Uma coisa que sempre falo para pais e filhos é que os pequenos terão a vida inteira para se preocupar com o uso desse tipo de produto e que essa não é a melhor hora para pensar sobre o assunto.”

Além de ser desnecessário incluir no cotidiano uma rotina tão extensa e complexa de cuidados com a pele nessa fase da vida, aplicar produtos inadequados pode trazer consequências sérias para os jovens. “Fórmulas destinadas à prevenção e ao combate de rugas, por exemplo, com ativos como ácidos, retinoides e até mesmo antioxidantes em grandes concentrações ou clareadores, podem machucar e fotossensibilizar o tecido, provocando manchas, queimaduras, vermelhidão, coceiras, fissuras e acne”, alerta a dermatologista da SBD, que tem educação médica continuada na Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

Isso acontece porque a pele das crianças é mais fina e sensível, pois sua barreira de proteção ainda não está completamente formada. “O tecido só se aproxima do de um adulto em termos de funcionamento por volta dos 12 anos. Quanto mais nova a pessoa for, maior é o grau de absorção de qualquer produto”, explica a médica do Einstein.

Daí porque os pequenos são mais predispostos à sensibilização, que pode ser desencadeada por algum ingrediente e que pode levar a reações alérgicas em curto, médio e longo prazo. E quanto mais cedo ocorre a exposição a esses componentes, maior é o risco de provocar uma reação ao longo dos anos.

Assim, além de todo o desconforto provocado pelo quadro alérgico, quando realmente chegar o momento de começar a fazer uso desse tipo de produto, a pessoa pode não conseguir. “E ainda vem sendo discutido nos últimos anos que isso pode levar à exposição dos chamados disruptores endócrinos, substâncias químicas que podem estar presentes em algumas fórmulas e mimetizar ou interferir na ação dos hormônios, afetando o equilíbrio hormonal do corpo”, alerta Barbara Miguel.

Quais cosméticos uma criança pode usar?

Os produtos que de fato devem fazer parte do nécessaire dos jovens a partir dos 10 anos, em média, é um sabonete, de preferência neutro e na forma de gel ou loção; uma loção tônica, que equilibra o pH e repõe os nutrientes do tecido, e um hidratante leve, que devem ser utilizados de manhã e à noite; além de um protetor solar.

Existe uma grande variedade de produtos disponíveis para essa faixa etária, tanto de marcas industrializadas quanto em farmácias de manipulação. Por isso, é importante consultar um dermatologista para saber qual é a melhor opção para cada caso e, se for necessário, receitar fórmulas específicas para quadros como acne ou dermatite atópica.

Outro cuidado importante que os pais devem ter é fazer um monitoramento das meninas para que elas não utilizem produtos sem orientação, passando aquele que a amiga comprou, por exemplo. Também é essencial verificar se tanta preocupação com a aparência e os cuidados com a pele não podem ser sinal de alguma questão psicológica.

“É alarmante a possibilidade de que o uso contínuo de produtos anti-idade por crianças, adolescentes e jovens contribua para uma distorção da autoimagem e da percepção de beleza”, observa a dermatologista Claudia Marçal. “A pressão para prevenir sinais de envelhecimento, antes mesmo de eles surgirem, pode reforçar ideais inalcançáveis de perfeição estética e acaba impactando negativamente na autoestima e no desenvolvimento psicossocial.”

Fonte: Agência Einstein

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