CRIANÇAS

Saúde

Usar tela como “chupeta” pode afetar capacidade de a criança regular emoções

Estudo canadense questiona uso rotineiro de eletrônicos para acalmar birras de crianças com menos de 4 anos; dispositivos são contraindicados antes dos 2 anos

 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Oferecer eletrônicos para distrair a criança na hora da birra pode comprometer a capacidade dela de regular emoções no futuro, sugere um novo estudo canadense publicado no periódico Frontiers in Child and Adolescent Psychiatry.

Segundo o artigo, 26% das crianças de 0 a 4 anos ficam mais de quatro horas diante de alguma tela diariamente. A fase dos berreiros, que ocorre por volta dos 2 anos de idade, pode ser desafiadora para os pais, que muitas vezes não conseguem lidar com manifestações de raiva dos pequenos e acabam apelando para esses dispositivos na tentativa de acalmá-los. Os autores batizaram esse recurso de “chupeta digital”.

Por ser uma etapa em que o cérebro ainda está em desenvolvimento, os cientistas queriam avaliar as possíveis repercussões desse hábito. Para isso, acompanharam 265 pais e mães, que preencheram questionários com informações sobre comportamento dos filhos e rotina de uso de dispositivos digitais em dois momentos: um em 2020, quando as crianças tinham em média 3,5 anos, e um ano depois.

Na avaliação final, os resultados sugerem que quanto maior a frequência de uso das telas no início, menor a capacidade de controlar raiva e frustração 12 meses depois. E, nesses casos, as crianças acabavam sendo acalmadas com mais aparelhos eletrônicos, indicando um ciclo vicioso. Segundo os autores, suprimir rotineiramente essas emoções pode dificultar o desenvolvimento de estratégias de regulação emocional, além de habituar os mais novos a terem sempre algo externo para ajudar nessa tarefa.

“Observamos que os eletrônicos realmente hipnotizam, é quase uma adição”, diz o pediatra Claudio Schvartsman, do Hospital Israelita Albert Einstein. No entanto, o especialista pondera que, como o estudo foi feito durante a pandemia, isso pode gerar um viés. “Esse foi um momento em que todas as crianças tiveram mais acesso aos eletrônicos, em que os pais muitas vezes precisavam lançar mão deles para poderem trabalhar e, naquela época, até a escola era online.”

Ainda assim, os especialistas destacam que o papel da família é essencial para ajudar os filhos a transitarem por situações que geram frustração, ajudando-os a reconhecer suas emoções e ensinando-os como lidar com elas. Isso inclui desde identificar os gatilhos até as formas de expressão, para poder ter mais controle sobre elas.

“Não há uma receita pronta, envolve conversar, educar e colocar restrições”, orienta o pediatra. “É preciso saber conviver com frustrações, a criança precisa de limites, isso faz parte do seu desenvolvimento e ela se sente segura quando encontra esses limites.”

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) desaconselha o uso de telas por bebês com menos de 2 anos. Segundo a entidade, o limite de tempo para os pequenos estarem em contato com esses aparelhos varia de acordo com a idade. Crianças de 2 a 5 anos podem usar até uma hora por dia; as de 6 a 10 anos, entre uma e duas horas diárias; para adolescentes entre 11 e 18 anos, o tempo máximo aconselhado é de duas a três horas. A SBP recomenda também que o uso de telas seja feito sempre com a supervisão de um adulto.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Skincare: conheça os riscos de meninas cuidarem da pele por conta própria

Influenciadas pelas redes sociais e sem orientação correta, crianças e adolescentes usam produtos que podem causar manchas, queimaduras e alergias; saiba quais cuidados tomar

Por Thais Szegö, da Agência Einstein 

As redes sociais estão repletas de influenciadores que exibem orgulhosos sua rotina de cuidados com a pele, o famoso skincare. Os vídeos são convidativos, as embalagens atraentes e o número de marcas que investem em produtos voltados para o público infantojuvenil é cada vez maior. Para algumas pessoas até pode parecer fofo ver uma menina tão jovem sendo vaidosa e cuidando da sua aparência, mas não imaginam que, na verdade, essas garotas estão se expondo a muitos riscos.

“Temos observado um movimento mercadológico voltado a crianças e pré-adolescentes, especialmente a turma com idade entre 9 e 14 anos, que leva a um consumo inadequado de artigos de skincare, muitas vezes desencadeado por conteúdos online que divulgam produtos que não são adequados para esse público, colocando em risco sua saúde e seu bem-estar”, conta a dermatologista Claudia Marçal, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), da American Academy Of Dermatology (AAD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD).

A dermatologista Barbara Miguel, do Hospital Israelita Albert Einstein, também nota essa tendência no seu consultório. “Recebo com frequência crianças entre 8 e 9 anos, acompanhadas por adultos, que têm mais informação sobre produtos cosméticos do que suas próprias mães”, relata. Segundo Miguel, elas querem saber o que podem usar, pois ficam perdidas com tanta informação. “Uma coisa que sempre falo para pais e filhos é que os pequenos terão a vida inteira para se preocupar com o uso desse tipo de produto e que essa não é a melhor hora para pensar sobre o assunto.”

Além de ser desnecessário incluir no cotidiano uma rotina tão extensa e complexa de cuidados com a pele nessa fase da vida, aplicar produtos inadequados pode trazer consequências sérias para os jovens. “Fórmulas destinadas à prevenção e ao combate de rugas, por exemplo, com ativos como ácidos, retinoides e até mesmo antioxidantes em grandes concentrações ou clareadores, podem machucar e fotossensibilizar o tecido, provocando manchas, queimaduras, vermelhidão, coceiras, fissuras e acne”, alerta a dermatologista da SBD, que tem educação médica continuada na Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

Isso acontece porque a pele das crianças é mais fina e sensível, pois sua barreira de proteção ainda não está completamente formada. “O tecido só se aproxima do de um adulto em termos de funcionamento por volta dos 12 anos. Quanto mais nova a pessoa for, maior é o grau de absorção de qualquer produto”, explica a médica do Einstein.

Daí porque os pequenos são mais predispostos à sensibilização, que pode ser desencadeada por algum ingrediente e que pode levar a reações alérgicas em curto, médio e longo prazo. E quanto mais cedo ocorre a exposição a esses componentes, maior é o risco de provocar uma reação ao longo dos anos.

Assim, além de todo o desconforto provocado pelo quadro alérgico, quando realmente chegar o momento de começar a fazer uso desse tipo de produto, a pessoa pode não conseguir. “E ainda vem sendo discutido nos últimos anos que isso pode levar à exposição dos chamados disruptores endócrinos, substâncias químicas que podem estar presentes em algumas fórmulas e mimetizar ou interferir na ação dos hormônios, afetando o equilíbrio hormonal do corpo”, alerta Barbara Miguel.

Quais cosméticos uma criança pode usar?

Os produtos que de fato devem fazer parte do nécessaire dos jovens a partir dos 10 anos, em média, é um sabonete, de preferência neutro e na forma de gel ou loção; uma loção tônica, que equilibra o pH e repõe os nutrientes do tecido, e um hidratante leve, que devem ser utilizados de manhã e à noite; além de um protetor solar.

Existe uma grande variedade de produtos disponíveis para essa faixa etária, tanto de marcas industrializadas quanto em farmácias de manipulação. Por isso, é importante consultar um dermatologista para saber qual é a melhor opção para cada caso e, se for necessário, receitar fórmulas específicas para quadros como acne ou dermatite atópica.

Outro cuidado importante que os pais devem ter é fazer um monitoramento das meninas para que elas não utilizem produtos sem orientação, passando aquele que a amiga comprou, por exemplo. Também é essencial verificar se tanta preocupação com a aparência e os cuidados com a pele não podem ser sinal de alguma questão psicológica.

“É alarmante a possibilidade de que o uso contínuo de produtos anti-idade por crianças, adolescentes e jovens contribua para uma distorção da autoimagem e da percepção de beleza”, observa a dermatologista Claudia Marçal. “A pressão para prevenir sinais de envelhecimento, antes mesmo de eles surgirem, pode reforçar ideais inalcançáveis de perfeição estética e acaba impactando negativamente na autoestima e no desenvolvimento psicossocial.”

Fonte: Agência Einstein

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