Cigarro Eletrônico

Saúde

Jovens que fumam “vape” têm pior desempenho em exercícios físicos

Crédito imagem https://dropcigarclub.com/

Estudo britânico mostra que tanto fumantes de cigarro eletrônico quanto do tradicional tiveram mais falta de ar, sinais de fadiga muscular e maior dificuldade na hora de se exercitar

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Jovens que fumam cigarro eletrônico (também conhecido como vape) têm desempenho similar ao dos adeptos de cigarros tradicionais durante a atividade física. É o que aponta um estudo feito por pesquisadores da Universidade Manchester Metropolitan, na Inglaterra, e apresentado em setembro de 2024 no Congresso da Sociedade Respiratória Europeia, que aconteceu em Viena, na Áustria.

O trabalho analisou 60 voluntários na faixa dos 20 anos, divididos em três grupos: os não fumantes, os fumantes de vape e os de tabaco — nesses casos, eles fumavam havia cerca de dois anos.

Os participantes foram submetidos primeiramente a um exame de espirometria, que avalia a função pulmonar, e todos apresentaram resultado normal. Depois, fizeram um teste de bicicleta para verificar o funcionamento de coração, pulmões e músculos durante a atividade física. O fluxo sanguíneo foi monitorado por meio de ultrassom, enquanto os exames de sangue mediram marcadores inflamatórios.

As conclusões mostram que tanto os fumantes de vape quanto os de cigarro tradicional tiveram pior performance no exame em relação a quem nunca tinha fumado. Mesmo apresentando função pulmonar normal ao iniciar, eles tiveram mais falta de ar, sinais de fadiga muscular antes do pico do exercício, maior dificuldade na hora de se exercitar e comprometimento da circulação.

Segundo os autores, dois anos de uso de cigarro eletrônico provocaram os mesmos desconfortos respiratórios e perdas funcionais do que o tabaco. Pesquisas anteriores já haviam mostrado uma associação do vape com inflamação nos pulmões, além de modificações prejudiciais nos vasos.

“Estudos mostram que o cigarro eletrônico não é inofensivo como se pensava inicialmente e o resultado deste estudo confirma que ele é tão prejudicial quanto o tabaco”, avalia a pneumologista Karla Curado, do Hospital Israelita Albert Einstein em Goiânia. “Por acreditar que o cigarro eletrônico é menos tóxico, os jovens não entendem as consequências a longo prazo e, por ser barato, está sendo consumido cada vez mais, provocando graves danos.”

Para a especialista, o maior desafio é conscientizar os mais novos. “Temos que informar melhor sobre os riscos e fazer entender que é uma dependência difícil de ser tratada, como doses cada vez mais altas de medicação, além da necessidade de terapia comportamental associada ao tratamento medicamentoso.”

Vale lembrar que a comercialização, importação e propaganda de todos os tipos de dispositivos eletrônicos para fumar são proibidas no Brasil desde 2009. No ano passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) realizou uma avaliação dos riscos desses produtos à saúde pública brasileira e atualizou o regulamento referente a esses itens, mantendo a proibição no país e reforçando seus efeitos prejudiciais.

Fonte: Agência Einstein

Crédito imagem https://dropcigarclub.com/

 

 

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Saúde

Procon-SP notifica Meta sobre publicidade de vapes em suas plataformas

Orgão diz que tem recebido denúncias da aparição desses anúncios

O Procon de São Paulo está tomando medidas contra a publicidade irregular de aparelhos para uso de tabaco aquecido, os vapes (cigarros eletrônicos), em redes sociais da empresa Meta, responsável por Facebook e Instagram.

Além de pedir informações sobre critérios de suspensão de anúncios, a Agência solicitou medidas para impedir a veiculação das peças publicitárias aos assinantes brasileiros, informou em nota divulgada nessa terça-feira (12).

O Procon-SP diz ainda que tem recebido informações reiteradas da aparição de anúncios desses produtos no feed de notícias de muitos consumidores, e que participou, recentemente, de uma operação conjunta com a Polícia Civil de São Paulo que resultou na apreensão de grande quantidade de vapes  à venda em estabelecimentos físicos.

Duas galerias no centro da capital paulista foram fechadas ontem, em operação conjunta da Receita Federal e da Secretaria de Segurança Pública, como parte da Operação Vaporis 2. Desde outubro o órgão tem desabilitado CNPJs de empresas que vendem o aparelho, proibido desde 2009, com atualização das regras em abril desse ano.

Meta

A empresa Meta se manifestou sobre as declarações do Procon, por meio de nota, em que diz observar a legislação atual. “Proibimos anúncios que promovam a venda ou o uso de produtos de tabaco ou nicotina e de equipamentos relacionados. Os anúncios não devem promover dispositivos de vaporização como cigarros eletrônicos, vaporizadores ou outros produtos que simulem o fumo. Usamos uma combinação de denúncias da nossa comunidade, tecnologia e revisão humana para aplicar nossas políticas, removendo conteúdos violadores”, diz a empresa.

A Meta esclarece ainda que tem recomendado que “as pessoas denunciem quaisquer conteúdos que acreditem ir contra as Diretrizes da Comunidade do Instagram e os Padrões de Publicidade da Meta através do próprio aplicativo”.

Em busca realizada pela reportagem nas duas plataformas da empresa, os resultados são variados, com perfis contrários e favoráveis. Em ambas, não foi necessário realizar pesquisa por mais de 30 segundos para encontrar anúncio de produtos variados, dos quais se dizia estarem disponíveis a pronta entrega.

Anvisa

Procurada, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não se manifestou, porém a Agência mantém em sua página na internet acervo sobre o tema. Um dos estudos mais recentes de impacto, da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), informa que “Mais de 7 milhões dessas mortes são resultado do uso direto do tabaco, enquanto mais de 1,2 milhão de mortes são resultado de não-fumantes expostos ao fumo passivo”.

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Saúde

Cigarro eletrônico aumenta risco de problemas nos dentes e na gengiva

Revisão de estudos destaca uma série de distúrbios sérios que esses dispositivos podem provocar na boca — perigo pode ser maior do que entre quem fuma cigarros convencionais

 

Por Thais Szegö, da Agência Einstein

O uso de cigarros eletrônicos, também conhecidos como “vapes”, tem aumentado em diversos países — inclusive no Brasil. Entre 2018 e 2023, o uso desses dispositivos cresceu 600% no país, segundo o instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec). No entanto, crescem também as evidências dos malefícios desses produtos à saúde de quem os usa.

Um exemplo recente é uma uma revisão de trabalhos científicos feita por pesquisadores da Universidade de Oviedo, na Espanha, que observou danos à saúde bucal nos usuários de vapes. Ao todo, foram selecionados oito trabalhos, que envolveram 31.647 participantes.

Os resultados revelam que quem tem o hábito de fumar cigarro eletrônico corre mais risco de desenvolver cáries, doenças nas gengivas, inflamações orais em geral, lesões que podem se tornar malignas e complicações em enfermidades bucais já existentes. “Apesar de relativamente novos no mercado, já se sabe que eles são muito prejudiciais à boca, podendo até superar os cigarros convencionais. Afinal, eles não possuem regulamentação e, por isso, não sabemos exatamente o que cada vaporizador contém”, afirma o odontologista Marcelo Cavenague, presidente da Câmara Técnica de Periodontia do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (Crosp).

Para os profissionais da área, os perigos oferecidos pelos cigarros eletrônicos não são novidade. Além de diversos estudos sobre o tema, há cada vez mais pacientes que fumam por meio desses dispositivos. “As pesquisas indicam um maior risco de desenvolver doenças de gengiva, como gengivite e periodontite, e cáries atípicas, especialmente na face da frente dos dentes anteriores, onde há maior contato com esse vapor adocicado”, explica o cirurgião dentista especializado em estomatologia Celso Augusto Lemos Junior, membro do Crosp.

“Estudos in vitro já demonstraram danos celulares que podem levar a um aumento no risco de lesões com potencial de se transformarem em malignas, ou seja, de virarem um câncer”, acrescenta o especialista.

A cirurgiã-dentista Leticia Bezinelli, coordenadora da graduação de odontologia e responsável pelo serviço de odontologia hospitalar do Hospital Israelita Albert Einstein, diz que, além disso, os vapes podem levar a infecções oportunistas, principalmente a candidíase pseudomembranosa. “Podem causar doenças periodontais, irritações na cavidade oral e na garganta e até causar a perda dentária”, alerta.

Todos esses problemas são associados aos diversos compostos químicos presentes no vapor dos cigarros eletrônicos e à quantidade de açúcar encontrada nos aromatizadores utilizados nos aparelhos. “Os cigarros eletrônicos também estão bastante relacionados à diminuição do fluxo da saliva, quadro cientificamente chamado de xerostomia e conhecido como boca seca”, diz Cavenague. “Essa condição aumenta bastante o risco de cáries e doenças periodontais, pois a saliva tem um papel muito importante no equilíbrio do ambiente bucal e no controle do crescimento das bactérias que provocam esses problemas.”

Proibidos no país

Apesar de serem proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009, os cigarros eletrônicos são amplamente comercializados e utilizados — inclusive por adolescentes, pois muitos possuem aromas e sabores atrativos. “Além disso, a facilidade do uso do vape faz com que o consumo acabe sendo maior e, em certos casos, podemos até mesmo detectar níveis de nicotina bem superiores no sangue dos usuários desses dispositivos do que no de usuários de cigarros convencionais”, observa Cavenague.

“Acho importante ressaltar que muitas pessoas não se consideram fumantes quando usam o cigarro eletrônico. Só associam que fumante é aquele que usa o cigarro tradicional e já está claro que os problemas são semelhantes e, em algumas situações, até piores”, afirma a cirurgiã-dentista do Einstein. “No cigarro tradicional as pessoas controlam a quantidade pelo número de maços fumados por dia, mas, no eletrônico, perdem esse parâmetro. Alguns pacientes, quando vamos avaliar, estão fumando o equivalente a 5, 6, 7 maços por dia.”

Consumo é grande entre os mais novos

Outro detalhe importante apontado pelo estudo espanhol é que cada vez mais os cigarros eletrônicos estão chegando aos jovens por falta de legislação. E isso vale inclusive para o Brasil: de acordo com o Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia, Covitel 2023, um em cada quatro jovens brasileiros de 18 a 24 anos já utilizou o dispositivo pelo menos uma vez.

“Os cigarros eletrônicos estão se tornando um problema de saúde pública cada vez maior, principalmente entre os jovens”, afirma Bezinelli. Os especialistas ouvidos pela Agência Einstein orientam a evitar os líquidos saborizados e buscar ajuda para abandonar o vício. “Outro cuidado muito importante é agendar visitas periódicas ao cirurgião-dentista para realizar uma avaliação geral da cavidade oral e o possível diagnóstico e tratamento de cáries, gengivite e periodontite e lesões potencialmente malignas, entre outros, além de receber orientação sobre higiene bucal”, orienta Bezinelli.

“Os profissionais da saúde devem informar a população e as entidades governamentais sobre os riscos à saúde bucal e geral que esses produtos oferecem. É importante que a compra e venda dos cigarros eletrônicos não seja facilitada e que as informações sobre seu uso sejam embasadas em ciência para que todos tenham consciência da gravidade da situação”, afirma a cirurgiã-dentista do Einstein.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

No Dia de Combate ao Fumo, entidades alertam sobre cigarro eletrônico

Consumo do produto aumentou 600% nos últimos seis anos no mundo

Por Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro

 No Dia Nacional de Combate ao Fumo, comemorado nesta quinta-feira (29), a Fundação do Câncer reforça o Movimento VapeOFF, contra os cigarros eletrônicos, fazendo um apelo à população, em especial aos jovens, para que “se liguem na vida e sejam um vapeOFF”. Em parceria com a Anup Social, que integra a Associação Nacional das Universidades Particulares (ANUP), a entidade espera mobilizar jovens e adultos a aderirem à campanha de combate ao uso crescente do produto, também conhecido como vape ou pod.

A campanha inclui uma série de materiais com videoaula, que está sendo encaminhada a professores dos ensinos médio e universitário, além de depoimentos de personalidades sobre a questão do cigarro eletrônico, entre elas artistas, autoridades de saúde e influenciadores. A fundação conta com a parceria também de empresas, como a Ecoponte e a Onbus, que vão veicular gratuitamente as mensagens da Fundação do Câncer em suas áreas de atuação.

O diretor executivo da Fundação do Câncer, cirurgião oncológico Luiz Augusto Maltoni, disse à Agência Brasil que a meta é trabalhar “muito pesadamente para mostrar à população, aos professores, pais e responsáveis, e sobretudo aos próprios jovens, dentro das universidades e escolas, os malefícios do consumo de cigarros eletrônicos”. Serão disponibilizados para as escolas e universidades materiais de informação sobre os perigos do produto.

Um milhão de pessoas

O epidemiologista e consultor médico da Fundação do Câncer, Alfredo Scaff, destacou que, de acordo com estudo da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), o consumo do cigarro eletrônico aumentou 600% nos últimos seis anos, em todo o mundo. “E no Brasil não é diferente”, afirmou. Dados do Ministério da Saúde mostram que mais de 1 milhão de pessoas já experimentaram esses dispositivos eletrônicos, apesar de sua comercialização ser proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009. O mais grave é que 70% desse público é formado por adolescentes e adultos jovens de 15 a 24 anos, complementou Scaff.

O foco é trabalhar a população de maneira geral mas, sobretudo, a população jovem, que fica vulnerável às ameaças da falsa ideia de que o cigarro eletrônico não faz mal, travestido de sabores e aromas, disse Luiz Augusto Maltoni. A ideia é trabalhar o tema em salas de aula, acompanhado de filmes, para ajudar os professores a terem conteúdo qualificado para fazer com que esses jovens se sensibilizem. Em 2025, a Fundação do Câncer pretende lançar o Desafio Universitário, em parceria com a Anup Social, para levar o ambiente universitário a pensar a questão do cigarro eletrônico e buscar soluções, a partir de projetos que possam chegar a alunos do ensino médio e das universidades de modo a evitar que esses adolescentes iniciem o hábito do cigarro, seja eletrônico ou não.

Maltoni informou que o tabagismo é considerado doença pediátrica. Uma publicação do Banco Mundial (BIRD) de 1999 mostrou que 90% dos tabagistas começam a fumar antes dos 19 anos, com idade média de iniciação aos 15. “Por isso, nosso movimento também visa levar essa questão para as escolas. Queremos incentivar professores a conversar com seus alunos sobre os malefícios do vape”, afirmou Maltoni.

Cigarro Eletrônico, Vape. Foto: haiberliu/Pixabay
Cigarro eletrônico, vape – Foto haiberliu/Pixabay

Em parceria com a Anup Social, a Fundação do Câncer criou um kit digital antivape, com peças para serem usadas gratuitamente por todas as escolas públicas e privadas do país. Foram disponibilizadas quatro videoaulas, com questionários para debate nas turmas, cartaz, banner para sitesposts para redes sociais, filtro para Instagram e WhatsApp Card. A intenção foi criar peças que levem informações sobre os perigos do cigarro eletrônico para a saúde por meio de linguagem que se comunique com os jovens. As peças estão sendo distribuídas a mais de 200 faculdades, centros universitários e universidades associadas à ANUP, que contam com mais de 4 milhões de estudantes matriculados. Elas ficarão disponíveis também na página do Movimento VapeOFF, de modo que qualquer instituição de ensino do país possa ter acesso. O acesso às vídeoaulas e ao kit digital antivape pode ser obtido no endereço www.cancer.org.br/vapeoff.

Info.Collect

Também nesta quinta-feira (29), a Fundação do Câncer lança a sexta edição da pesquisa Info.Oncollect, boletim periódico que traz dados sobre o tabagismo e a mortalidade por câncer de pulmão no Brasil. O trabalho mostra que embora no Brasil haja uma política bem estruturada de controle do tabaco, que levou à diminuição da prevalência de fumantes entre os homens, reduzindo em 1% a mortalidade por câncer de pulmão entre pessoas do sexo masculino, a mortalidade entre as mulheres aumentou. Elas começaram a fumar mais tardiamente do que os homens. A expansão do número de mulheres fumantes começa a se refletir na mortalidade aumentada entre as mulheres por câncer de pulmão, informou Luiz Augusto Maltoni. “Apesar de haver queda da mortalidade por câncer de pulmão de 1% em todo o país, foi registrado aumento médio de 2% entre mulheres brasileiras, o que pode ser explicado pelo hábito de fumar”.

O levantamento indicou também elevado número de jovens estudantes que experimentaram o vape, mais de 20% em ambos os sexos. Maltoni estimou que as estatísticas dos malefícios do uso do vape em relação ao câncer de pulmão terão reflexo em 20 anos, uma vez que o câncer de pulmão é uma doença que avança lentamente. Os cigarros eletrônicos contêm nicotina derivada do tabaco, cuja concentração é cerca de duas a três vezes maior do que os cigarros convencionais. Por isso, os especialistas alertam para possível elevação de casos de câncer de pulmão em idade mais jovem, antes dos 50 anos, faixa em que a doença era mais notificada.

Alfredo Scaff destacou a necessidade da retomada urgente das campanhas educativas nacionais feitas pelos ministérios da Saúde e da Educação, bem como a fiscalização de fronteiras e o combate ao contrabando, à falsificação e à comercialização dos cigarros tradicionais e eletrônicos, além da disponibilização de medicamentos e insumos para conter o tabagismo.

O diretor executivo da Fundação do Câncer disse que é preciso aumentar o imposto sobre os produtos fumígenos. Levantamento anual dos preços de um maço de cigarro entre os 188 países que assinaram a Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco da Organização Mundial de Saúde (OMS), feito pelo Centro de Apoio ao Tabagista, revela que o valor é de R$ 33,26 em Portugal, R$ 48,59 na Alemanha e R$ 61,93 na Finlândia, contra apenas R$ 9,75 no Brasil o que, segundo ele, favorece o vício.

Aditivos

A coordenadora do Projeto de Controle do Tabaco da ACT Promoção da Saúde, Mariana Pinho, disse à Agência Brasil que são objetos da campanha da organização neste ano os aditivos de aromas e sabores usados pela indústria do tabaco nos cigarros eletrônicos e convencionais. “A gente entende que esses produtos eletrônicos ou vapes são prejudiciais à saúde e que a regulamentação feita pela Anvisa desde 2009 protege a população e coibiu a disseminação desenfreada no Brasil”.

A Pesquisa Nacional de Saúde, feita em 2019, observou que na população acima de 15 anos, 0,6% usava cigarros eletrônicos. Na avaliação de Mariana, isso tem tudo a ver com a resolução da Anvisa de proibir a circulação desses aparelhos. “Agora, depois de cinco anos de a Anvisa se debruçar na revisão dessa resolução, ela entendeu que além da proibição que já existia, deveria ampliar a proibição à fabricação, ao transporte, armazenamento, à distribuição. “Toda a evidência levantada, inclusive em consultas a institutos de pesquisa, usuários, setor regulado, sobre esse tema indicava que a conduta da Anvisa deveria ser mantida na proibição da circulação dos cigarros eletrônicos”.

A ACT Promoção da Saúde apoia a Anvisa e é contrária ao Projeto de Lei 5.008, de 2023, que, além de estabelecer a liberação desses produtos, prevê o uso de aditivos de aromas e sabores. Permite ainda a venda na internet, que é contrária à legislação existente contra o tabagismo. A comercialização pela internet aumenta a possibilidade de menores adquirirem esses produtos, ponderou Mariana.

A ACT Promoção da Saúde é uma organização não governamental que atua na promoção e defesa de políticas de saúde pública, especialmente nas áreas de controle do tabagismo, alimentação saudável, controle do álcool e atividade física. A ONG está preocupada com o avanço do projeto de lei no Senado e na Câmara e é favorável à sua rejeição. O projeto está na pauta da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado e teve votação adiada para a próxima terça-feira (3).

Sopterj

Do mesmo modo, a coordenadora da Comissão de Tabagismo da Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Estado do Rio de Janeiro (Sopterj), Alessandra Costa, reforçou a necessidade da não legalização dos cigarros eletrônicos, com a manutenção da resolução da Anvisa que já regulamenta a matéria. A médica reiterou que a exposição ao tabagismo, seja em qualquer forma, pode acarretar reações alérgicas em curto prazo, como rinite, tosse, conjuntivite, exacerbação de asma.

Em entrevista à Agência Brasil, a pneumologista destacou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou campanha este ano de prevenção do tabagismo entre os jovens e crianças contra os cigarros eletrônicos e os vapes. Lembrou que apesar de o cigarro eletrônico ser proibido no Brasil, existe uma pressão muito grande da indústria do tabaco para que seja legalizada a produção e venda, usando justificativas como maior arrecadação de impostos para os governos. Alessandra Costa advertiu que vários levantamentos comprovam que os gastos causados pelas doenças oriundas do consumo de cigarros são muito maiores do que o lucro que se pode obter com relação a impostos gerados pela venda do produto.

“A Sopterj apoia o treinamento de todos os profissionais comprometidos com a educação infantil até a universidade. Quanto mais pudermos divulgar todos os males que o fumo dos cigarros eletrônicos e os vapes ocasionam, é melhor”. Segundo Alessandra, a luta contra os industriais do tabaco é difícil, tendo em vista o elevado poder aquisitivo do setor.

Em 1989, acrescentou, o Brasil tinha 35% da população fumando e conseguiu reduzir esse índice para 9,2%, em dados atuais. Infelizmente, com a chegada dos vapes ou cigarros eletrônicos, tal como acontece no mundo, são os jovens no Brasil que mais utilizam e experimentam esse tipo de produto. Alessanda assegurou que, como mostram pesquisas feitas no país, ao experimentar esses produtos aumenta em até quatro vezes a chance de esses jovens se tornarem fumantes de cigarros convencionais. Outra questão que preocupa é que os cigarros eletrônicos causam adoecimento bem mais precoce do que os cigarros convencionais.

Evali

Estudo mostra que fumantes de cigarros eletrônicos ou vapes têm câncer diagnosticado 20 anos antes que os fumantes de cigarro convencional. De forma geral, os cigarros eletrônicos e convencionais causam os mesmos tipos de doenças, sendo que os cigarros eletrônicos ou vapes provocam dependência química mais rápida e mais intensa do que os cigarros convencionais, causam adoecimento mais precoce com doenças cardiovasculares, como acidente vascular cerebral (VC), infarto do miocárdio e vários tipos de câncer.

“Então, a gente precisa preparar os professores para que esse assunto seja discutido em sala de aula. Que desde os alunos de idades mais tenras, os professores estejam preparados para falar sobre os males dos cigarros eletrônicos e vapes com todos esses sabores que são colocados para, exatamente, driblar o gosto desagradável da nicotina, que é mais ácida e que torna quem utiliza esses produtos dependente mais rápido, quando comparado aos cigarros convencionais. Além disso, adoecendo mais precocemente”, completa a especialista.

Brasília (DF) 01/12/2023 - Anvisa discute regulamentação de cigarro eletrônico. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Brasília – Anvisa discute regulamentação de cigarro eletrônico. Foto Joédson Alves/Agência Brasil

Ela citou, como exemplo, a Evali (Lesão Pulmonar Associada ao Uso de Cigarro Eletrônico), que é uma injúria aguda pulmonar causada pelos componentes do vape, principalmente um componente oleoso que causa inflamação intensa no pulmão e, na maioria das vezes, irreversível, em que as pessoas precisam ser internadas em unidades de terapia intensiva e submetidas a ventilação mecânica. A médica defendeu as medidas necessárias para que o Brasil retome o controle do tabagismo e consiga levar à população informações sobre os males que esse novo inimigo – que, na verdade, é o cigarro com outros disfarces – pode provocar, especialmente na camada mais jovem da sociedade. “E que os professores realizem eventos nas escolas demonstrando os perigos de consumir qualquer tipo de cigarro”, insistiu.

No dia 20 de agosto passado, a Fiocruz fez um alerta público ao Senado sobre os riscos da liberação de cigarros eletrônicos no país.

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Saúde

Fiocruz alerta Senado sobre riscos de liberar cigarros eletrônicos

© REUTERS/Denis Balibouse/Proibida reprodução

Tema foi tirado da pauta do dia do Congresso Nacional

Por Agência Brasil – Rio de Janeiro

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) enviou carta ao Senado Federal em que relata preocupação caso os dispositivos eletrônicos para fumar (DEF), conhecidos como cigarros eletrônicos ou vapes, sejam liberados no país. Previsto para ser votado nesta terça-feira (20) no Congresso Nacional, o Projeto de Lei (PL) 5008, que trata do tema, foi retirado da pauta do dia.

No documento, escrito pelo Centro de Estudos sobre Tabaco e Saúde [Cetab/Ensp/Fiocruz], a instituição diz concordar com a Resolução RDC 855/2024 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que proíbe a comercialização, fabricação, importação e publicidade dos DEF.

A Fiocruz diz também estar em consonância com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde, do Instituto Nacional de Câncer (INCA) e de entidades da sociedade civil como a Associação Médica Brasileira (AMB) e a ACT Promoção da Saúde, que indicam os riscos de uso dos DEF.

Um dos destaques citados no documento é o alerta da OMS de 2023, que fala sobre os efeitos adversos dos cigarros eletrônicos para a saúde pública. A OMS ressaltou danos respiratórios, cardiovasculares e potenciais efeitos neurotóxicos, e uma preocupação com o impacto a longo prazo desses dispositivos.

A Fiocruz também critica os fabricantes dos DEF, por adotar “estratégias de marketing que visam atrair o público jovem, contrariando suas alegações de que esses produtos são destinados exclusivamente a fumantes adultos. A publicidade em mídias sociais e o patrocínio de eventos evidenciam um direcionamento claro para atrair consumidores mais jovens, expondo essa faixa etária vulnerável a riscos significativos”.

E afirma na carta enviada ao Senado que, ao contrário do que dizem os fabricantes, “os DEF ampliam o risco de dependência à nicotina e expõem os consumidores a substâncias cancerígenas, como nitrosaminas, formaldeído acetaldeído, amônia, benzeno e metais pesados. Além do apelo tecnológico, esses dispositivos contêm solventes como glicerina e propilenoglicol, além de uma variedade de aromatizantes e saborizantes que atraem, especialmente, crianças e jovens, induzindo-os à experimentação precoce e à rápida dependência de nicotina”.

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Saúde

Agosto Branco de combate ao tabagismo mira também o cigarro eletrônico

© Divulgação Ministério da Saúde

Uso do vape aumenta entre a população jovem

Por Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro

A campanha Agosto Branco, iniciada nesta quinta-feira (1º), objetiva a conscientização do câncer de pulmão. As estimativas de câncer de traqueia, brônquio e pulmão para o triênio de 2023 a 2025 são de 32.560 novos casos por ano, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), do Ministério da Saúde. Somente no estado do Rio de Janeiro, o número estimado de casos de tumores de traqueia, brônquios e pulmão, para cada ano do triênio 2023-2025, é de três mil novos pacientes, sendo 1.550 entre os homens e 1.450 entre as mulheres.

“A campanha é essencial para a gente fazer a conscientização sobre o câncer de pulmão, principais sinais e sintomas e, principalmente, sobre como preveni-lo. É uma doença extremamente prevenível”, afirmou o oncologista clínico do Inca, Luiz Henrique Araújo.

Consumo mundial de tabaco cai, informa relatório da OMS. Cigarro, fumaça, tabaco, fumo. Foto: AbsolutVision/Pixabay
Campanhas antitabagismo são fundamentais para minimizar o risco de câncer de pulmão, diz oncologista clínico do Inca, Luiz Henrique Araújo. Foto: AbsolutVision/Pixabay – AbsolutVision/Pixabay

Segundo o médico, a maior parte desse tipo de câncer está associada ao hábito do tabaco. Na avaliação do oncologista, as campanhas antitabagismo são fundamentais para minimizar o risco de câncer de pulmão. Indicou que as pessoas que fumam devem procurar o médico, seja um clínico ou pneumologista, e discutir sobre as possibilidades de tratamento e de interrupção do tabagismo.

Para as pessoas que fumam e têm entre 55 e 70 anos de idade, hoje é recomendada uma tomografia anual de baixa dose do tórax, para detectar lesões em estágios muito precoces. “Isso tem reduzido bastante a mortalidade do câncer de pulmão”, alertou Luiz Henrique, em entrevista à Agência Brasil.

Prevenção

A médica Tatiane Montella, oncologista torácica da Oncoclínicas no Rio de Janeiro, ressaltou que o câncer do pulmão tem relação muito forte com o tabagismo. “Oitenta por cento dos pacientes tiveram alguma exposição ao tabagismo. Por isso, é tão importante falar sobre esse tema, porque a prevenção é a principal ação para diminuir o número de pacientes com câncer de pulmão”, afirmou à Agência Brasil.

Ela informou ainda que os 20% restantes são de pacientes sem qualquer relação com o fumo. “Possivelmente, essa parcela dos pacientes tem erro na estrutura do DNA ou do RNA do tumor, que faz as células se proliferarem de forma errônea. O que leva a esse erro ainda está sob análise. Essas mutações acionam a célula tumoral a se desenvolver”.

Sobre a prevenção, Tatiane Montella disse que a principal ação é não fumar ou parar de fumar, para evitar a neoplasia de pulmão. “O Brasil foi, durante muitos anos, o país que teve orgulho de suas políticas antitabagistas, que diminuíram muito a incidência do tabagismo, e isso foi propagado como referência internacional”. Agora, o país se vê diante dessa nova onda de oferta de tabagismo pelo cigarro eletrônico, que vem acometendo, principalmente, a população mais jovem, entre 18 e 24 anos.

Cigarro eletrônico

A oncologista afirmou que, embora tenha o apoio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibindo a venda do cigarro eletrônico, também chamado ‘vape’, o consumo desse tipo de cigarro vem crescendo entre os jovens. “O que a gente vê, nos últimos dados epidemiológicos, é que a incidência do cigarro eletrônico vem aumentando nessa população jovem que, de fato, está tendo uma maior exposição”. Ela acrescentou que ainda falta entender melhor as consequências do cigarro eletrônico ao longo dos anos, porque é uma tecnologia muito recente. Mas, que, no curto prazo, os prejuízos que isso pode trazer, como doenças pulmonares intersticiais agudas e, a longo prazo, relação direta com o câncer de pulmão e outras neoplasias que o cigarro propicia.

Brasília (DF) 01/12/2023 - Anvisa discute regulamentação de cigarro eletrônico. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Cigarro eletrônico também conhecido como “vape”. Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

Estudo realizado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e pela organização global de saúde pública Vital Strategies, em 2023, indicou que, pelo menos um a cada quatro brasileiros de 18 a 24 anos (23,9%) já utilizou cigarro eletrônico.

Luiz Henrique Araújo confirmou o crescimento do uso do cigarro eletrônico entre os jovens, tornando-se uma tendência, na sensação de ser um produto diferente do cigarro. “Mas já está mais do que demonstrado que ele também libera substâncias carcinogênicas e está associado tanto a doenças pulmonares letais não oncológicas, como oncológicas. Na campanha antitabagismo entra o cigarro eletrônico, atualmente mais em voga”.

Na avaliação do oncologista clínico do Inca, a medida da Anvisa contra a entrada do “vape” no Brasil foi fundamental, mas comentou que o produto tem uma penetração muito forte em países da Europa e nos Estados Unidos. “Independentemente da Anvisa, o cigarro eletrônico está disponível, as pessoas estão utilizando e, infelizmente, isso está criando uma futura geração de pacientes de câncer de pulmão”, alertou o oncologista do Inca.

Araújo afirmou que a maioria dos casos de câncer de pulmão é assintomática, descoberta ao acaso. O sintoma mais frequente é tosse, que pode estar associada a uma bronquite crônica, a um pigarro pelo tabagismo. Mas quando essa tosse está piorando ou associada a sangue no escarro merece uma pesquisa com o médico do paciente. Outros sintomas menos frequentes são falta de ar, perda ponderal, febre, dor no tórax, que também podem levar ao médico.

Pressão

O diretor executivo da Fundação do Câncer, cirurgião oncológico Luiz Augusto Maltoni, afirmou à Agência Brasil que continua uma pressão muito forte da indústria do tabaco para liberação do cigarro eletrônico no Brasil, embora a Anvisa tenha reforçado a normativa proibindo a entrada do ‘vape’ no país. Por isso, a entidade está reforçando a importância de manter a proibição e a política de controle do tabaco. “Porque a gente sabe dos dados alarmantes de câncer de pulmão”, disse.

Mesmo com todos os avanços da medicina, com inclusão de procedimentos e novas drogas, que permitem controlar muitos casos de câncer, o câncer de pulmão apresenta alta letalidade. “A gente tem aí mais de 30 mil casos novos por ano de câncer de pulmão e tem em torno de 30 mil óbitos por ano. É uma letalidade muito alta”, ressaltou.

Maltoni lembrou que 80% dos cânceres de pulmão são diagnosticados em estágio mais avançado. Por isso, disse ser fundamental alertar a população da importância de se prevenir e evitar o principal agressor do desenvolvimento do câncer de pulmão, que é o tabagismo, com foco agora no cigarro eletrônico, em especial entre as camadas mais jovens.

No próximo Dia Nacional de Combate ao Fumo, comemorado em 29 de agosto, a Fundação do Câncer está preparando campanha abordando os malefícios do cigarro eletrônico e divulgando nas mídias o movimento ‘Vape off’, “visando sensibilizar, principalmente, os jovens para não entrarem nessa do cigarro eletrônico”, afirmou Maltoni.

Segundo ele, com a participação de alguns parceiros, será desenvolvido um desafio universitário, envolvendo instituições de ensino superior de todo o país, para que apresentem projetos que sensibilizem a população de maneira geral, e os jovens em particular, sobre os malefícios do cigarro eletrônico. O objetivo é reforçar ainda mais a política de controle do tabagismo.

“A gente evoluiu tanto, reduzimos bastante o número de fumantes no Brasil e não podemos agora retroceder nessa pressão da indústria com o cigarro eletrônico, deixando aparecer uma nova juventude que acha que esse ‘vape’ é menos problemático. A gente daria dez passos para trás. Essa é uma preocupação de todos nós”, avaliou o médico.

Rastreamento

O coordenador da Comissão Científica de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), o médico Paulo Corrêa, lembrou que o câncer de pulmão é uma das principais doenças crônicas do país. E que a entidade tem se pautado por ações legislativas e políticas. Segundo ele, a SBPT publicou, este ano, as diretrizes brasileiras de rastreamento de câncer de pulmão.

Corrêa destacou que o rastreamento é uma estratégia importante do ponto de vista populacional, porque o câncer de pulmão pode não dar sintomas, mas pode matar as pessoas. “Quando se faz o diagnóstico, a pessoa já pode morrer”. Expôs que em torno de 20% dos cânceres de pulmão são resolvíveis com tratamento cirúrgico.

A SBPI estimula as pessoas a abandonarem o tabagismo, seja o convencional, seja o eletrônico, sabendo que sete anos após pararem de fumar, as pessoas têm redução de 20% do risco de câncer de pulmão e, de acordo com estudo norte-americano, com 15 anos da cessação de fumar, 38% dos pacientes conseguem ser salvos. “As duas coisas são importantes: tanto a cessação do tabagismo, como o rastreamento de câncer de pulmão que, pode-se dizer, salva vidas”.

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Saúde

Como o cigarro (inclusive o eletrônico) reduz a expectativa de vida

Consumidores de cigarro eletrônico apresentam índices de nicotina no organismo equivalentes a fumar 20 cigarros convencionais por dia, alertam cardiologistas

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

O tabagismo reduz em até 14 anos a expectativa de vida das mulheres e em dez anos a dos homens. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 8 milhões de pessoas morrem anualmente em consequência do hábito de fumar – no Brasil são cerca de 200 mil óbitos ao ano.

E isso não vale só para o cigarro convencional. Moda entre os mais jovens e artifício usado entre os mais velhos na tentativa de evitar o cigarro, os dispositivos eletrônicos (conhecidos como vapes) também são um problema, já que consumidores desse tipo de aparelho apresentam índices de nicotina no organismo equivalentes a fumar 20 cigarros por dia. O assunto foi discutido no final de maio, durante o 44º Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp).

A nicotina é um composto presente nas plantas de tabaco e a principal causadora de dependência dessa droga. Ela é absorvida pelo organismo por meio da fumaça do cigarro, ultrapassa a barreira do sangue e chega ao cérebro muito rápido — em cerca de nove segundos após a tragada. Ao chegar ao sistema nervoso central, ela estimula uma série de receptores e provoca sensação de prazer e bem-estar. Mas por pouco tempo, o que faz o fumante querer uma nova dose de nicotina em poucos minutos.

“A nicotina é uma droga psicoativa, que chega ao sistema nervoso central de uma forma muito rápida. Com os vapes, ela chega mais rápido ainda ao cérebro e isso leva a um grau de dependência muito grande”, explica o pneumologista Marcelo Rabahi, do Hospital Israelita Albert Einstein de Goiânia. A nicotina presente nos vapes é a mesma do cigarro convencional. “Os adolescentes começam a usar as versões eletrônicas com aromas, como se fosse uma brincadeira. Mas a droga que causa dependência está presente e provoca a necessidade de utilizar o vape em intervalos cada vez menores. E como a informação entre os jovens é a de que o cigarro eletrônico não faz mal à saúde, o uso é cada vez maior”, alerta Rabahi.

A redução da expectativa de vida entre usuários de cigarro convencional ou eletrônico acontece justamente porque os consumidores apresentam índices de nicotina no organismo muito elevados e, consequentemente, estão mais suscetíveis a desenvolver os problemas de saúde relacionados ao tabagismo. Entre elas, estão doenças respiratórias como a bronquite crônica e o enfisema, e ainda câncer de pulmão e doenças cardiovasculares, a exemplo de arritmias cardíacas, infarto e o acidente vascular cerebral (AVC).

“O tabagismo aumenta o risco de lesões no endotélio dos vasos sanguíneos, levando a doenças cardiovasculares. Além disso, o cigarro possui substâncias cancerígenas que levam ao câncer de pulmão. Fumar também provoca alterações e destruição da parede interna dos brônquios, que vão ficando inflamados, e isso causa bronquite. Também há destruição dos espaços alveolares, por onde o oxigênio chega no pulmão e passa para o sangue, causando enfisema”, exemplifica Rabahi.

Segundo a cardiologista Jaqueline Scholz, assessora científica da Socesp e especialista no tratamento do tabagismo, o coração é o órgão mais prejudicado pela nicotina. “A substância é responsável por liberar adrenalina, que acelera o coração, aumenta o consumo de oxigênio e a pressão arterial. Esse processo favorece a aterosclerose, o infarto, a morte súbita e o AVC. E isso consequentemente reduz a expectativa de vida dos consumidores”, alerta a especialista, que palestrou sobre o assunto no congresso.

Polêmica na regulamentação

No Brasil, o comércio de cigarros eletrônicos é proibido desde 2009 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em abril de 2024, a agência reguladora manteve a proibição, após ampla análise dos resultados das pesquisas científicas mais atuais sobre o tema. Apesar disso, o consumo ocorre livremente no país, especialmente entre os mais jovens.

E o imbróglio está longe de acabar. Um projeto de lei (PL 5008/2023) em andamento no Senado autoriza, mediante registro na Anvisa, a produção, o consumo, a venda, a exportação e a importação dos cigarros eletrônicos. O texto proíbe o uso dos vapes em espaços fechados, além da venda e do consumo por menores de idade. O senador Eduardo Gomes (PL-TO), relator do texto, avalia que o projeto poderá “reduzir danos” do mercado desenfreado de cigarros eletrônicos. A proposta, que vai contra a decisão da Anvisa de manter a proibição desses dispositivos, seria votada pelos senadores no último dia 11 de junho, mas foi adiada.

“Apesar de não expor o usuário ao monóxido de carbono, uma vez que não ocorre combustão [o aquecimento é feito por bateria], o vape promove a dependência de nicotina. A adoção do conceito de redução de danos, indevidamente apropriada pela indústria do tabaco, não passa de mais uma estratégia de marketing”, alerta Sholz, da Socesp.

O médico do Einstein também afirma ser contra a liberação dos cigarros eletrônicos no Brasil. “Sou totalmente contra, porque eles são absolutamente maléficos para a saúde. Aqueles países que assumiram posição de liberar estão revendo seus posicionamentos. O vape não é recreativo, mas uma forma nova, disfarçada e diabólica de estimular o uso da nicotina para que as pessoas fiquem dependentes dessa droga”, adverte Marcelo Rabahi.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Pesquisa de SP mostra que vape causa até 6 vezes mais nicotina no organismo

Pesquisa é realizada pela Secretaria de Estado da Saúde de SP em parceria com Instituto do Coração e Laboratório de Toxicologia da FMUSP

Do Portal do Governo

A pesquisa realizada pela Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo em parceria com o Instituto do Coração (Incor) e o Laboratório de Toxicologia da Rede Premium de Equipamentos Multiusuários da FMUSP aponta que consumo de cigarro eletrônico (vape) provoca níveis de intoxicação no organismo superiores em relação ao cigarro convencional.

O estudo inicial, promovido com base nos dados de 200 fumantes de cigarros eletrônicos, detectou que os níveis de nicotina presentes nesses usuários são de três a seis vezes maiores em relação aos fumantes de cigarros convencionais.

Os dados preliminares foram apresentados por Elaine Cristine D’Amico, responsável pela equipe de coleta da Vigilância Sanitária Estadual e por Marcelo Filonzi dos Santos, do Laboratório de Toxicologia da Rede Premium de Equipamentos Multiusuários da FMUSP, que participam do estudo com o mapeamento e o processamento de amostras coletadas.

“O estudo indica que a intoxicação por nicotina em quem usa o cigarro eletrônico é tão alta quanto, ou até pior, que nos usuários de cigarro tradicional. Também foi notado uma falta de conhecimento entre os mais jovens sobre os riscos de dependência, regras de uso e consumo em ambientes fechados, conforme a Lei Antifumo. Esses dados foram coletados durante a pesquisa por meio de questionários aplicados aos usuários de cigarros eletrônicos/vapes”, explica a médica cardiologista Jaqueline Scholz, diretora do Núcleo de Tabagismo do Incor e coordenadora da pesquisa.

Atualmente, 3% da população do Brasil utiliza cigarros eletrônicos. “Parar de usar o produto por conta própria é uma fantasia. Trata-se de um produto altamente viciante que contém substâncias extremamente tóxicas, que também afetam as pessoas ao redor. Ao inalar as partículas ultrafinas depositadas no ar, estas chegam ao sistema respiratório, atravessando a membrana pulmonar e causando uma grande inflamação”, esclarece Jaqueline Scholz.

A cardiologista do Incor ressalta que os riscos para a saúde dos usuários de vape são equivalentes aos dos usuários de cigarros convencionais com filtro. No entanto, a amplitude desses riscos é potencializada, com uma chance duas vezes maior de ter um infarto ou um AVC. Se o usuário faz uso dos dois tipos de cigarro, o risco é quadriplicado.

 

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Saúde

Adolescentes que vivem nas redes sociais têm mais probabilidade de fumar cigarro eletrônico

Pais devem estar atentos e estimular outras atividades fora das telas  e ter mais cuidado com os conteúdos que os filhos acessam

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Adolescentes que vivem nas redes sociais são mais suscetíveis a experimentar cigarros eletrônicos, sugere um novo estudo da Universidade Yale, nos Estados Unidos. O artigo foi publicado no Preventing Chronic Disease, periódico científico financiado pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC, serviço americano que cuida da prevenção e controle de doenças).

Segundo os autores, há muita informação sobre cigarros disponível na internet, mas pouco se sabe sobre a influência do mundo virtual no fumo em jovens. Para descobrir essa relação, eles avaliaram dados de mais de 7.000 adolescentes entre 12 e 16 anos participantes do Population Assessment of Tobacco and Health (PATH), um estudo longitudinal que avalia o impacto do tabaco na saúde dos americanos. O levantamento foi feito em dois momentos, entre 2016 e 2018 e entre os anos de 2018 e 2019. Nenhum dos voluntários tinha provado vape na avaliação inicial.

Um ano depois, aqueles que usavam mídias sociais diariamente apresentaram três vezes mais risco de experimentar o dispositivo comparado a quem não tinha esse hábito. Os cientistas ressaltam que há muito conteúdo em que os cigarros eletrônicos costumam ser apresentados como algo glamouroso, saudável e seguro. Isso, somado ao uso pelos colegas, levaria a uma maior suscetibilidade para experimentar. No entanto, eles não constataram uma associação direta com a continuidade do uso do cigarro.

“Um dos principais perigos das redes sociais é justamente a exposição a informações midiáticas e chamativas, nem sempre com dados informativos de prós e contras. Crianças e adolescentes podem não ter a maturidade para saber o quanto isso é prejudicial”, diz a psicóloga Caroline Nóbrega, do Hospital Israelita Albert Einstein. “O vape está muito relacionado a festas, a algo ‘descolado’, e esse conteúdo desperta curiosidade e vontade de experimentar até em busca de aceitação social.”

Por outro lado, tanto a experimentação quanto a dependência estão associadas a diversos fatores, sendo um deles o estilo parental. “É importante que os pais tentem acompanhar os conteúdos e orientar para que os filhos possam usar as redes sociais com limites e de forma saudável”, orienta a psicóloga. “É preciso conscientizar, mas sempre explicando os motivos, e não simplesmente proibir ou ser excessivamente rígido. Isso não funciona.”

Além disso, promover atividades em família e estimular outros interesses extracurriculares pode ajudar a proteger contra os riscos do excesso das telas. “Se o adolescente ficar ocioso, vai achar algo para ocupar o tempo. As redes sociais apresentam um mundo paralelo de coisas prazerosas, e a própria exposição excessiva a telas também já pode ser um vício”, lembra a especialista.

Atualmente, sabe-se que o cigarro eletrônico está associado a doenças e riscos similares aos do cigarro comum, como asma e enfisema pulmonar. Também pode gerar lesões agudas nos pulmões e seu uso pode provocar alterações nos vasos sanguíneos que aumentam o risco cardiovascular. O famoso vapor também contém substâncias cancerígenas.

Fonte: Agência Einstein

 

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