Cardiologia

Saúde

Diabetes não controlado pode causar problemas cardiovasculares

© Marcelo Camargo/Agência Brasil

Especialista recomenda que as pessoas façam check-ups periódicos

Por Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro

No Dia Nacional do Diabetes, comemorado nesta quarta-feira (26), o cardiologista Flávio Cure, membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia e da Sociedade Europeia de Cardiologia, chamou a atenção para complicações cardiovasculares que o diabetes não controlado com medicamentos, atividade física e alimentação saudável pode causar. Entre elas, citou hipertensão, infarto do miocárdio, angina de peito, acidente vascular cerebral e aneurisma vascular.

O Diabetes Mellitus é uma síndrome metabólica de origem múltipla, decorrente da falta de insulina no organismo ou de sua incapacidade de exercer adequadamente seus efeitos, causando altas taxas de açúcar no sangue (hiperglicemia) de forma permanente. Muitas pessoas desconhecem que têm diabetes porque os sintomas dessa doença muitas vezes passam despercebidos.

Por isso, Cure, também coordenador do Centro de Estudos do Hospital CopaStar da Rede D’Or, recomendou que as pessoas façam check-ups periódicos com clínico geral, que fará a triagem do paciente. “Todo mundo deve fazer. Um sintoma do diabetes que é muito frequente e que, às vezes, passa despercebido, é que a pessoa começa a ficar com mais sede e urinar mais. Na maioria das vezes, em sua fase inicial, o diabetes tipo 2 é assintomático”, disse o cardiologista à Agência Brasil.

Além de sede frequente e vontade de urinar diversas vezes, os sintomas do diabetes incluem cansaço crônico e falta de energia para atividades corriqueiras, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). “Em homens e mulheres diabéticos, a incidência de infarto agudo do miocárdio e AVC é semelhante, mas representa o dobro quando comparada a pessoas sem diabetes. Em mulheres, o quadro tende a ser mais grave, com maior mortalidade”, alertou Cure.

Segundo o Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF, do nome em inglês), o Brasil é o quinto país em incidência de diabetes no mundo, com 16,8 milhões de doentes adultos entre 20 e 79 anos, perdendo apenas para China, Índia, Estados Unidos e Paquistão. A estimativa da incidência da doença em 2030 chega a 21,5 milhões.

Dados da Federação Internacional de Diabetes mostram que até 80% dos pacientes com diabetes tipo 2 morrem por causas relacionadas a problemas cardíacos. Em nível global, os índices superam os óbitos decorrentes de HIV, tuberculose e câncer de mama. Flávio Cure insistiu que pacientes com diabetes podem evitar o risco de infarto controlando os fatores de risco, “tentando normalizar o nível de glicose, controlando o nível de colesterol, fazendo exercícios”. Isso sem falar em eliminar o hábito de fumar. “Cigarro faz mal para todo mundo. Não tem sentido fumar hoje em dia”, afirmou.

Nas pessoas diabéticas, a neuropatia autonômica, disfunção que afeta o sistema nervoso simpático e parassimpático, pode causar síncopes, ou seja, desmaios. Outro problema importante é o acidente vascular cerebral (AVC) que, no diabético, pode ser confundido com uma hipoglicemia. “A pessoa fica confusa, com mal estar. Mas a hipoglicemia responde rapidamente à reposição de açúcar e a pessoa volta ao normal”. Cure advertiu ainda para a insuficiência vascular periférica, quando artérias que nutrem os membros inferiores são obstruídas, levando à gangrena e a amputações dos membros inferiores. “Dá problema vascular, os vasos ficam ruins, o sangue não circula, dá gangrena e tem que tirar (o membro). Mas, hoje em dia, se a pessoa se cuidar, não chega a isso.”

O cardiologista lembrou a importância do paciente com diabetes controlar o peso, diminuir o ingesto de carboidratos, exercitar o máximo possível e procurar o médico periodicamente.

Saúde renal

O presidente da Sociedade de Nefrologia do Rio de Janeiro (Sonerj), Pedro Tulio Rocha, nefrologista do Hospital São Lucas Copacabana, destaca que o aumento dos níveis de açúcar no sangue afeta o organismo de uma forma sistêmica, sobrecarregando, principalmente, os rins. Tanto que é uma das principais causas de doença renal crônica e, por consequência, de transplante desse órgão. Segundo o último Censo Brasileiro de Diálise, de 2023, publicado pela Sociedade Brasileira de Nefrologia, 32% dos pacientes em diálise têm diabetes.

O doutor Pedro Tulio Rocha explicou à Agência Brasil que o diabetes afeta o rim por uma série de fatores. “A glicose em excesso é filtrada pelos rins e é lesiva às células dos túbulos renais e glomérulo (principal unidade de filtração do rim). O diabetes aumenta a deposição de colesterol nas paredes dos vasos. Esse processo é chamado de aterosclerose e o rim, por ser um órgão muito vascularizado, sofre com isto”. Ressaltou que existem também efeitos do diabetes em outros órgãos, como o coração e o fígado, que podem levar a consequências danosas para os rins.

A longo prazo, pode ocorrer doença renal pelo diabetes, levando à doença renal crônica. O presidente da Sonerj observou ainda que o diabetes, junto com a hipertensão, são as principais doenças que levam à necessidade de diálise. Comentou ainda que pode ocorrer lesão renal no pré- diabetes, porém a progressão para doença renal mais avançada se dá com a presença do diabetes já estabelecido.

Estudo

Estudo publicado recentemente no British Journal of Sports Medicine revela que pessoas que praticam mais exercícios, de intensidade moderada a vigorosa, têm menor probabilidade de desenvolver diabetes mellitus tipo 2, principalmente aquelas com alto risco genético.

Membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a doutora Rosita Fontes afirma que a prática de atividades físicas previne e controla os níveis de açúcar quando os músculos estão trabalhando, ou seja, usando a glicose do sangue para produzir energia. Em consequência, a insulina que o corpo fabrica age melhor e as taxas de glicemia diminuem.

A especialista lembra que o exercício físico é sempre saudável, mesmo para quem não pode praticá-lo por períodos mais longos e para quem não emprega tanta intensidade durante a atividade, pois existe o benefício da prevenção do diabetes. Ela recomenda que, para sair do sedentarismo, o indicado é começar com exercícios leves e breves, como pequenas caminhadas, e ir aumentando gradativamente tanto a duração do exercício como sua intensidade.

Segundo a endocrinologista, o exercício físico também é essencial para quem já tem diabetes (do tipo 2 ou do tipo 1), porque ajuda a controlar a doença, potencializando o tratamento medicamentoso. A médica recomendou que antes de iniciar a prática de exercícios físicos, é importante que a pessoa consulte o médico pois este poderá avaliar, em função das condições físicas do paciente, do peso e de doenças existentes, como poderá se beneficiar das atividades, em que grau elas podem ser praticadas e durante quanto tempo por dia.

Rosita Fontes informou que o diabetes tipo 2 é aquele no qual o pâncreas produz insulina, às vezes até em quantidades aumentadas, mas ela não é adequadamente aproveitada pelo corpo. É o tipo mais frequente, que corresponde a 90% dos casos, com maior incidência em adultos. Já o diabetes tipo 1 costuma ocorrer em pessoas mais jovens; o organismo não consegue produzir a insulina necessária para funcionar adequadamente.

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Saúde

Brasileiros desconhecem e não controlam doenças cardiovasculares, revelam estudos

A conclusão é de dois trabalhos apresentados no Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, realizado em maio na capital paulista

 

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo – no Brasil, elas respondem por quase um terço dos óbitos, sendo o infarto e o acidente vascular cerebral (AVC) os mais predominantes. Todos os anos, mais de R$ 1 bilhão são gastos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) com procedimentos cardiovasculares, segundo dados da Estatística Cardiovascular 2023, levantamento conduzido por pesquisadores de diversas instituições brasileiras.

Ainda assim, mesmo sendo um problema tão comum, a maioria da população desconhece quais são os fatores de risco cardíaco mais básicos — e pior: mesmo com acesso a diagnósticos e medicamentos, muitos não controlam adequadamente a doença. A constatação é de dois trabalhos apresentados no 44º Congresso da Sociedade Paulista de Cardiologia (Socesp), que aconteceu no final de maio, em São Paulo.

Um deles é uma pesquisa feita pela Socesp com 2.764 pessoas, que demonstrou a falta de conhecimento sobre condições básicas que prejudicam o coração. Ao serem questionados sobre os fatores de risco cardíaco, somente 8% dos entrevistados mencionaram diabetes, 11% associaram ao colesterol elevado, 11% responderam obesidade, 11% relacionaram à hipertensão, 12% apontaram a falta de atividade física e 13%, a alimentação não saudável.

Os resultados preocupam os especialistas, que atribuem parte do problema à falta de informação de qualidade. “Esse resultado é preocupante, embora não tão surpreendente. Não existe uma única explicação de por que isso acontece, mas a conscientização da população vai além do acesso à informação. A informação, de uma maneira geral, está disponível para a maioria das pessoas, mas falta um programa de fato que tenha esse objetivo”, avalia o cardiologista Pedro Gabriel Melo de Barros e Silva, diretor-científico do congresso. “As iniciativas que fazemos são pontuais. Deveria existir um programa que incluísse toda a população, em diferentes meios, de maneira consistente, não apenas em ondas. Isso porque estamos falando da doença que responde por cerca de um terço das mortes, que é a doença cardiovascular.”

Estima-se que 50% dos ataques cardíacos e AVCs seriam evitados caso o colesterol se mantivesse dentro dos parâmetros normais: abaixo de 130 miligramas por decilitro (mg/dl). A Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), utilizou o diagnóstico autorreferido de colesterol alto e, entre os 88.531 adultos avaliados, identificou-se uma prevalência de 14,6% da condição. Mas, segundo a investigação da Socesp, somente 11% dos entrevistados entendem o colesterol elevado como risco cardíaco.

Para o cardiologista Humberto Graner, do Hospital Israelita Albert Einstein de Goiânia, isso reflete a falta de educação em saúde, uma vez que diabetes, colesterol elevado, obesidade, hipertensão, falta de atividade física e alimentação não saudável são fatores de risco muito bem estabelecidos como determinantes para doenças cardiovasculares.

“As pessoas não entendem o papel do colesterol no risco cardiovascular e há uma grande desinformação espalhada em mídias e redes sociais de que ‘colesterol não faz mal’ quando, na verdade, faz! Para melhorar esse quadro, é essencial intensificar programas de educação em saúde, melhorar o acesso a médicos especialistas e a exames regulares”, comenta Graner. Vale ressaltar que colesterol alto é um problema silencioso, que não dá manifestações clínicas e, quando surge um sintoma, muitas vezes já é o evento cardiovascular, como infarto e derrame.

Apesar do conhecimento crescente em relação aos benefícios cardiovasculares da atividade física, quase metade da população brasileira não se exercita o suficiente. Os números mais preocupantes são os de mulheres, idosos e aqueles com menor nível de escolaridade. Segundo a Estatística Cardiovascular 2023, no ano de 2019, 7,6% do total de mortes por doenças cardiovasculares no Brasil foram atribuídas ao sedentarismo.

O exame mais simples para identificar risco cardiovascular é a aferição da pressão arterial – que deveria fazer parte das consultas de rotina pelo menos uma vez ao ano e pode ser feita, inclusive, em crianças. Exames laboratoriais dos principais marcadores (para colesterol e diabetes) também devem ser realizados com frequência, especialmente a partir dos 40 anos.

“Era comum recomendar o início da avaliação preventiva regular, o check-up, a partir dos 40 anos. No entanto, temos visto cada vez mais indivíduos entre 30 e 40 anos manifestarem doença cardiovascular de forma precoce. Por isso, a ideia é que uma primeira avaliação seja feita aos 35 anos, ou mesmo antes, se houver histórico familiar de doenças cardíacas ou outros fatores de risco significativos”, alerta o cardiologista do Einstein.

Doença sem controle

Outro trabalho, também apresentado no congresso da Socesp, mostrou que 99,7% dos indivíduos com doenças cardiovasculares diagnosticadas não controlam adequadamente os fatores de risco para evitar infarto e AVC. Os dados são do Registro Brasileiro de Doença Aterotrombótica (NEAT), uma pesquisa feita com mais de 2 mil portadores de doença arterial coronariana ou periférica.

De acordo com o registro, apenas 8,6% dos pacientes estavam com o controle do colesterol ideal e somente 12,5% cumpriam a prática recomendada de 150 minutos de exercícios físicos por semana. O levantamento mostra também que um em cada cinco (20,7%) monitorava o diabetes regularmente e que 31,5% dos consultados apresentavam Índice de Massa Corporal (IMC) adequado. Para completar, menos da metade (40,7%) estava com a pressão arterial dentro da meta. Apesar da doença cardiovascular estabelecida, 15,7% mantinham o hábito de fumar.

“Esse dado é preocupante, porque não estamos falando de prevenção primordial ou de prevenção primária para pessoas que não têm a doença. Estamos falando de indivíduos que já tiveram um infarto, já fizeram uma cirurgia, já colocaram um stent [tubo inserido na artéria para evitar que ela entupa novamente] , já fizeram angioplastia. Se a gente considerar todas as ações que deveriam ser feitas para prevenção de um novo evento cardiovascular, quase 60% delas não foram feitas. Se olharmos o paciente individualmente, 99,7% não conseguiam cumprir todos os itens e só 0,3% estava com o tratamento perfeito”, destaca Barros e Silva.

De acordo com ele, essa é uma questão que envolve tanto a ação médica quanto o engajamento do paciente. Da parte do profissional de saúde, muitas medicações mais modernas e melhores para o tratamento não são prescritas como deveriam, provocando uma lacuna  entre a prática clínica e o que tem de mais novo nos achados científicos.

Isso inclui estatinas de alta intensidade e bloqueadores dos receptores da angiotensina (BRA), que regulam a pressão arterial. “Apesar do uso da estatina ser muito frequente, esse estudo mostrou que a maioria dos médicos não prescreve estatinas de alta potência, que deveriam ser rotineiras para esses pacientes que já tiveram um evento [cardíaco] anterior”, explica Barros e Silva.

Muitos profissionais acham que o paciente não tem indicação formal para aquela terapia, por isso não prescrevem a medicação. “Isso mostra que precisamos trabalhar na conscientização dos médicos. As metas para o bom controle cardiovascular ficam só nos livros, nos guidelines. Mas, na prática, quase 100% dos pacientes estão fora da meta”, afirma o cardiologista.

Segundo Graner, esse problema é chamado de “inércia terapêutica”, caracterizada pela falta de ajustes ou de intensificação do tratamento quando indicado, podendo levar a um “subtratamento” ou até a piora do quadro dos pacientes. “A inércia terapêutica é um viés muitas vezes inconsciente, que tem sido muito estudado. Envolve a tendência de procurar e interpretar informações que confirmem as crenças e práticas preexistentes, ignorando ou minimizando as novas evidências. Existe a tendência de preferir a inação (omissão) por medo de causar dano ao paciente, mesmo quando a ação (mudança ou intensificação terapêutica) é justificada”, analisa.

Apesar da “parcela de culpa” que cabe ao médico, a falta de comprometimento do paciente com o próprio tratamento também é um desafio que pode ser influenciado por vários fatores. Entre eles, a falta de compreensão sobre a gravidade da doença e os benefícios do tratamento, ou sobre efeitos colaterais dos medicamentos, a complexidade do regime terapêutico e barreiras financeiras.

Além disso, a falta de suporte social e psicológico também podem influenciar na adesão terapêutica. “Estratégias para melhorar esse comprometimento são alvos de vários estudos e pesquisas clínicas recentes, mas ainda estamos longe de uma consciência coletiva que possa mudar essa realidade sobre as doenças cardiovasculares”, completa Humberto Graner.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Estudo sugere aumento da incidência de casos de fibrilação atrial 

O envelhecimento populacional e o crescimento dos fatores de risco podem levar ao aumento de casos desse tipo de arritmia cardíaca, que é o mais comum na população 

 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Um novo estudo dinamarquês, publicado no The British Medical Journal (BMJ), observou o aumento nos últimos 20 anos dos casos de fibrilação atrial, o tipo de arritmia cardíaca mais comum. Dados brasileiros também sugerem um ligeiro crescimento.

A fibrilação atrial ocorre quando há a ativação desorganizada dos átrios (as câmaras superiores do coração), que não batem de maneira coordenada. Isso leva a uma deterioração da função mecânica do órgão. Ela também provoca a má circulação sanguínea, o que aumenta o risco de formação de coágulos, que podem viajar pela corrente sanguínea e causar derrames.

Para investigar a doença ao longo do tempo, os autores acompanharam mais de 3,5 milhões de adultos entre os anos de 2000 e 2022, divididos em dois momentos, de cerca de uma década, cada um. Os dados foram obtidos no Registro Nacional de Pacientes da Dinamarca.

Nesse período, o risco de uma pessoa desenvolver a fibrilação atrial subiu de 24,2%, entre 2000 e 2010, para 30,9%, no segundo intervalo avaliado, entre 2011 e 2022. Os mais afetados foram aqueles que tinham insuficiência cardíaca, histórico de infarto, acidente vascular cerebral (AVC), diabetes ou doença renal crônica. As complicações mais frequentes após o diagnóstico foram insuficiência cardíaca, seguida de AVC.

No Brasil, as taxas de prevalência de fibrilação atrial também tiveram um ligeiro aumento entre 1990 e 2019, passando de 519 por 100 mil habitantes, em 1990, para 537 a cada 100 mil habitantes 29 anos depois, de acordo com a Estatística Cardiovascular Brasil 2021.

Segundo o cardiologista Eduardo Segalla, do Hospital Israelita Albert Einstein, várias hipóteses explicam esse aumento. “O envelhecimento populacional, a melhora no diagnóstico e, principalmente, melhores práticas e tratamentos, que proporcionam maior sobrevida mesmo em pacientes com cardiopatias graves, que são os principais fatores para o desenvolvimento dessa arritmia”, explica Segalla.

Quais as causas da fibrilação atrial? 

A fibrilação atrial pode ser decorrente de várias causas. Quem tem doenças cardiovasculares – como hipertensão, doença reumática com o comprometimento das válvulas e insuficiência coronária – tem o risco de três a cinco vezes maior de desenvolver o problema. Isso porque esses quadros levam a alterações no músculo do coração, que provocam uma sobrecarga nas câmaras e mudam a velocidade do ritmo cardíaco, o que favorece o aparecimento da arritmia.

Além disso, problemas como infarto e insuficiência cardíaca podem deixar uma fibrose (cicatriz), prejudicando a capacidade de dilatação do músculo. Já o diabetes e a síndrome metabólica podem levar a uma inflamação no miócito, a célula do músculo cardíaco, com a alteração estrutural do miocárdio, o que também compromete seu funcionamento.

Como a incidência da fibrilação atrial aumenta com a idade, o incremento na longevidade tende a elevar o número de casos. Para ter uma ideia, enquanto na faixa dos 25 aos 35 anos ela atinge de 0,2 a 0,5% da população, a fibrilação pode chegar a 9% entre aqueles com idades entre 62 e 90 anos.

Por outro lado, ela também pode ocorrer em pessoas com o coração saudável – por exemplo, em decorrência do uso de drogas, como a cocaína, e do abuso de energéticos, café e álcool. “É possível prevenir essa arritmia com um estilo de vida saudável, incluindo alimentação apropriada, atividade física, controle do peso e sono adequado, bem como com o acompanhamento e o tratamento das doenças que podem comprometer a estrutura do coração, se for o caso”, diz o especialista do Einstein.

Já o tratamento depende da fase do diagnóstico.

Além do controle da frequência cardíaca, que pode ser feito com medicamentos e, em alguns casos, com a ablação (o procedimento que elimina o foco da arritmia), é essencial o uso de anticoagulantes para reduzir o risco de AVC. Um especialista deve fazer o acompanhamento para avaliar as causas do problema.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Novo estudo realizado pela Quanta aponta benefícios no uso de medicamentos para tratar a angina crônica, dor no peito em pacientes cardíacos

Uma equipe médica da Quanta Diagnóstico por Imagem realizou, por meio do Inova – Departamento de Pesquisa e Inovação da clínica, um estudo inédito sobre tratamentos cardíacos, publicado pela revista Cardiology and Therapy da Springer Nature, a maior editora de artigos científicos do mundo. A pesquisa recebe o nome “Efeitos da Ivabradina na Perfusão Miocárdica na Angina Crônica: um estudo prospectivo, aberto, de braço único” e foi realizada pelos médicos Dr. Olímpio França Neto (coordenador do estudo), Dr. Miguel Morita F. Silva, Dr. Rodrigo Cerci, Dr. Carlos Cunha Pereira, Dra. Margaret Masukawa e Dr. João Vicente Vítola.

O estudo foi apresentado em vários eventos científicos internacionais, comprovando sua importância para a comunidade médica e aponta os benefícios no uso de determinado medicamento para o tratamento de angina crônica, uma dor no peito causada pela isquemia (diminuição do fluxo de sangue no coração). O medicamento em questão é a Ivabradina, que tem a capacidade de reduzir a frequência cardíaca e os episódios de dor.

A pesquisa utilizou a técnica nuclear para estudar a fisiologia do coração e seu funcionamento, em especial o exame de imagem Cintilografia de Perfusão Miocárdica, para avaliar o quanto de sangue chega à musculatura cardíaca. “Há muitos anos, este exame é aceito na imagem cardiovascular para o diagnóstico de isquemia miocárdica, para nos auxiliar a confirmar que o paciente tem angina de peito por uma falta de irrigação para o coração, mesmo em uso dos betabloqueadores”, relata Dr. Olímpio França Neto.

A equipe, liderada pelo Dr. Olímpio demonstrou que após alguns meses de tratamento, o uso do medicamento foi associado à diminuição da isquemia miocárdica detectável pela cintilografia,  o que trouxe aos pacientes melhora da capacidade de exercício, diminuição da frequência de angina e aumento da qualidade de vida.

O uso da técnica nuclear possibilitou monitorar o tratamento do paciente para observar o grau de eficácia da medicação e seus benefícios de forma inédita. Atualmente não há estudos publicados utilizando a Cintilografia de Perfusão para avaliar o impacto da Ivabradina na perfusão do músculo cardíaco. Ou seja, avaliar quanto de sangue o corpo fornece a este órgão, sob o efeito desta medicação. “Tecnicamente falando, o objetivo deste estudo foi avaliar alterações na porcentagem de isquemia miocárdica após adição de ivabradina à terapia betabloqueadora estabelecida em pacientes isquêmicos com angina crônica, utilizando cintilografia de perfusão miocárdica”, explica Dr. Olímpio.

O estudo, que recebeu financiamento do laboratório francês Servier, corrobora para as utilizações de medicações, que vão se tornar cada vez mais frequentes no tratamento atual da doença. “Existem novas medicações para controlar esse tipo de problema cardíaco. Antigamente, se fazia muito mais cirurgias e colocações de stents, um dispositivo coronário, em algumas situações específicas. Hoje o acompanhamento do tratamento clínico, com medicações, é visto como uma excelente opção. Temos condições de fazer o acompanhamento deste tratamento com a técnica nuclear”, comenta Dr. João Vicente Vítola.

O artigo “Efeitos da Ivabradina na Perfusão Miocárdica na Angina Crônica: um estudo prospectivo, aberto, de braço único” pode ser acessado no link https://tinyurl.com/yyyu4w25

Medicina nuclear no diagnóstico do câncer e doenças cardíacas

Com o Inova – Departamento de Pesquisa e Inovação, a Quanta participa de projetos de pesquisas e estudos nacionais e internacionais, cooperando e contribuindo para o desenvolvimento científico na área da saúde. “Nosso trabalho científico tem colaborado para o aprimoramento de protocolos de medicina diagnóstica em vários países”, afirma Dr. João Vicente Vítola, um dos fundadores da Quanta. “Desde 2007, temos um acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica da ONU para o desenvolvimento da medicina nuclear no diagnóstico do câncer e doenças cardíacas”, completa.

Sobre a Quanta Diagnóstico por Imagem

Fundada em 2003, a Quanta Diagnóstico por Imagem chega aos 20 anos com o compromisso de oferecer tecnologia de ponta e médicos altamente especializados – garantindo laudos de extrema precisão e confiabilidade. “A Quanta é reconhecida não só por oferecer exames complexos, realizados dentro dos padrões mais rigorosos, mas também por dispor de todos os exames mais habituais e frequentes no diagnóstico por imagem, com alta qualidade, com um leque de opções nas áreas de Ressonância Magnética, Ultrassonografia, Radiologia e Medicina Nuclear”, afirma Danilo Gregio, CEO da Quanta. “Temos um corpo clínico experiente e uma gestão moderna, voltada para a qualidade dos serviços e o bem-estar dos pacientes”, completa.

A clínica, reconhecida como referência em diagnóstico por imagem e também pela comunidade científica, no Brasil e no exterior, tem sua sede localizada na Rua Almirante Tamandaré, 1000, no Alto da XV, em Curitiba (PR). Realiza agendamentos pelo telefone e WhatsApp através do mesmo número: +55 41 3362-9778.

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Saúde

Exames ergométricos: saiba quais são e a indicação de cada um deles 

Testes ajudam a diagnosticar doenças cardíacas e podem orientar o tratamento  em caso de problemas sistêmicos, como Covid longa e diabetes; a Sociedade Brasileira de Cardiologia acaba de divulgar uma nova diretriz sobre o tema 

 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Embora seja um exame simples e usado há décadas, o ergométrico – o popular teste da esteira – ainda é muito atual e serve como a primeira opção para diagnosticar problemas diante de sintomas cardíacos, como a falta de ar e a dor no peito. Mas ele também é importante para avaliar quem tem doenças sistêmicas, caso da Covid longa, e precisa praticar atividade física como parte do tratamento.

Essas informações fazem parte de uma nova diretriz, recém-divulgada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), que reúne uma revisão de mais de mil estudos sobre o tema. “Esses exames são orientados por sintomas cardiológicos e são essenciais como parte de um check-up”, diz o cardiologista Augusto Uchida, chefe da Ergometria do Hospital Israelita Albert Einstein.

Embora o da esteira seja o mais comum, o médico explica que há vários tipos de testes ergométricos. Em comum, todos avaliam como o coração trabalha enquanto faz esforço, permitindo detectar doenças que podem não dar sinais com o órgão em repouso. Eles são usados para diagnosticar obstruções, hipertensão e insuficiência cardíaca, além de acompanhar a resposta a tratamentos, o ajuste do uso de remédios e a recuperação pós-cirúrgica. Em casos de pacientes com falta de ar, por exemplo, é possível saber se a origem é cardiovascular ou pulmonar, ou ambos – e ainda se a pessoa apenas está “fora de forma.”

“A atividade física é parte do tratamento de diversas doenças, incluindo as metabólicas, como a diabetes e a obesidade, e até câncer. Algumas, como a Covid longa, causam o comprometimento pulmonar e também podem agredir o sistema cardiovascular. Os testes ergométricos contribuem para definir melhor suas consequências, além de proporcionar informações para a prescrição individualizada da atividade física, que é parte da reabilitação e do tratamento”, explica o cardiologista Tales de Carvalho, coordenador da diretriz da SBC.

No entanto, esses exames devem ser feitos por médicos especializados e aptos a lidar com intercorrências, pois problemas graves podem surgir justamente no momento do teste. O local precisa ter equipamentos como desfibriladores, drogas para controlar arritmias e pessoal treinado para atuar no caso de uma ressuscitação cardiopulmonar.

A Agência Einstein ouviu os especialistas para explicar os exames. Confira a indicação de cada um deles a seguir.

Teste ergométrico 

É o mais básico e a primeira opção para fazer um diagnóstico de arritmias, obstruções e hipertensão, entre outros. Nele, o paciente é monitorado por meio de eletrodos, que fazem um eletrocardiograma enquanto ele caminha na esteira ou pedala numa bicicleta. Um aparelho mede a pressão arterial. O teste é interrompido quando a pessoa chega à exaustão física ou ao esforço físico máximo, ou quando aparecem sintomas desconfortáveis ou alguma anomalia no monitoramento.

“Com o surgimento de novos exames mais sofisticados, acreditava-se que o velho teste ergométrico estava ficando ultrapassado. Queremos ressaltar que ele ainda é extremamente útil, com grande custo-efetividade, e oferece muitas informações para diagnóstico, prognóstico e tratamento”, diz Carvalho.

Teste cardiopulmonar de exercício 

Similar ao teste da esteira, a principal diferença é que o paciente faz o exercício usando uma máscara, que cobre o nariz e a boca e serve para avaliar a capacidade pulmonar. Com informações sobre a troca de gases, ele permite analisar o consumo de oxigênio, a produção de gás carbônico e a ventilação pulmonar e mostra como está o condicionamento físico. Essencial para atletas, também é recomendado para quem pratica atividade física regularmente, pois indica a melhor frequência cardíaca para uma atividade segura, ajudando a elaborar esquemas de treino.

“O teste aprimora a prescrição de exercício nos programas de reabilitação cardiovascular também para pacientes, inclusive os muito debilitados, com insuficiência cardíaca, doença pulmonar crônica ou doença coronária grave, entre outros”, diz Carvalho.

Com imagens 

Quando os testes anteriores geram dúvidas, explica o cardiologista, podem ser feitos exames de esforço que associam imagem. São eles:

  • Ecoestresse

Trata-se do ecocardiograma, que é uma espécie de ultrassom do coração, em que o médico visualiza imagens do órgão enquanto a pessoa faz o exercício, normalmente pedalando. Pode ser solicitado quando há dúvidas sobre obstruções.

  • Cintilografia do miocárdio 

É um exame de medicina nuclear, que utiliza o contraste (uma substância radioativa) e ajuda a visualizar o funcionamento e a irrigação do coração, apontando isquemias, entre outros problemas. É feito em pacientes de maior risco ou que já tenham doenças das coronárias, por exemplo.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Principal causa de morte súbita ganha a primeira diretriz brasileira para facilitar diagnóstico e tratamento 

A cardiomiopatia hipertrófica é uma doença silenciosa e atinge cerca de 500 mil  brasileiros; novo documento ressalta a importância de avaliação detalhada em atletas 

 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

A cardiomiopatia hipertrófica, que atinge cerca de 500 mil brasileiros, é a principal causa de morte súbita no mundo e é uma doença subdiagnosticada no Brasil. Por causa da falta de dados específicos para diagnosticar e tratar esses pacientes, a Sociedade Brasileira de Cardiologia acaba de lançar a primeira diretriz brasileira para ser usada pelos médicos, que até então usavam somente as diretrizes europeia e norte-americana.

“É uma doença mais frequente do que a gente imagina e muito subdiagnosticada”, diz o cardiologista Fabio Fernandes, do Instituto do Coração (InCor), em São Paulo, um dos autores da nova diretriz. A doença é a mesma que vitimou em 2022 o empresário e atleta João Paulo Diniz, filho de Abilio Diniz, aos 58 anos. O documento, elaborado por mais de 70 pesquisadores, estabelece as recomendações mais atuais para diagnóstico, estadiamento, tratamento e algoritmos que ajudam nas abordagens terapêuticas e na prevenção de morte súbita.

“Ela [a cardiomiopatia hipertrófica] é muito prevalente, atinge em torno de uma em 200, ou uma em 500 pessoas, e costuma ser diagnosticada em fase avançada”, completa o cardiologista Marcelo Vieira, do Hospital Israelita Albert Einstein. Entre as recomendações, o documento ressalta a importância de avaliação detalhada em atletas, além de indicar alguns exames para investigar e confirmar o diagnóstico.

A doença foi descrita pela primeira vez em 1958 pelo patologista britânico Robert Teare,  que avaliou o coração de jovens atletas que haviam morrido subitamente. Ela se caracteriza por um aumento da espessura do músculo cardíaco – a hipertrofia – ao longo do tempo. Na maior parte das vezes, isso ocorre por um defeito genético, que faz com que o coração tenha um estado de hipercontratilidade e um hiper-relaxamento, o que acaba levando à hipertrofia do miocárdio. Isso provoca sintomas de insuficiência cardíaca: dor no peito, arritmias e, em alguns casos, obstruções no fluxo sanguíneo. A morte súbita ocorre por um ritmo cardíaco anormal, principalmente em um momento de grande esforço, como durante a atividade física.

A maioria dos casos é assintomática 

A doença apresenta sintomas que podem ser comumente confundidos com outras cardiopatias, aumentando o risco de falsos diagnósticos e morte súbita. Mas em 90% dos casos ela não dá nenhum sinal, ou seja, os pacientes são assintomáticos.

No entanto, ela pode ser diagnosticada facilmente a partir de alterações suspeitas no eletrocardiograma e no exame clínico, pois causa um sopro (som) característico. Outros exames ajudam a fechar o diagnóstico, como o ecocardiograma e a ressonância magnética do coração.

Uma vez feito o diagnóstico, é preciso avaliar o risco de morte súbita dessa pessoa, especialmente se ela tiver menos de 40 anos, a fase de maior probabilidade. Com base em dados como características da doença, sintomas e resposta aos medicamentos, um algoritmo elaborado pelos especialistas ajuda a nortear a conduta e permite saber quem pode se beneficiar dos diversos tratamentos, desde medicamentos e cirurgia até a colocação de desfibrilador implantável.

Os médicos explicam que também é possível fazer testes genéticos, que ajudam na identificação de familiares com a doença. “É uma doença crônica e o objetivo é controlar sintomas e reduzir risco de morte súbita”, ressalta Fernandes.

Por isso é essencial passar por uma avaliação médica antes de fazer qualquer atividade física, seja de alta intensidade ou não. “Também é fundamental fazer o rastreamento familiar para saber se há casos de morte súbita na família e em que fase da vida da pessoa ela ocorreu”, orienta Marcelo Vieira, do Einstein.

 

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Infarto aumenta o risco de desenvolver complicações de saúde a longo prazo 

Problemas como insuficiências cardíaca e renal, fibrilação atrial e até depressão são mais frequentes em quem sofreu um ataque cardíaco. 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Pessoas que sofreram um infarto têm mais risco de desenvolver outros problemas de saúde a longo prazo, como insuficiências cardíaca e renal, arritmias e até depressão, reforça um estudo da Universidade de Leeds, no Reino Unido, publicado no Plos One. O trabalho analisou dados de 34 milhões de adultos, somando 145 milhões de admissões em hospital no período de nove anos, entre 2008 e 2017.

Entre os pacientes que tinham histórico de ataque cardíaco, quase um terço desenvolveu a insuficiência renal e a cardíaca, 22% tinham fibrilação atrial – uma arritmia grave – e 38% morreram no período avaliado. Além disso, problemas como Acidente Vascular Cerebral (AVC), doença arterial periférica, hemorragia e depressão foram mais frequentes nessas pessoas.

“Isso não surpreende porque, após o evento agudo de infarto, há o comprometimento do músculo cardíaco, que, dependendo da extensão, pode ser grave o suficiente para causar sequelas”, diz o cardiologista Eduardo Segalla, do Hospital Israelita Albert Einstein.  

O infarto ocorre quando um coágulo interrompe o fluxo sanguíneo dentro de uma artéria, provocando a morte de células do miocárdio, o músculo do coração. Sem o tratamento correto, ele pode comprometer o funcionamento da bomba cardíaca, levando à insuficiência no bombeamento. Também pode haver a dilatação das câmaras cardíacas, o que favorece o aparecimento de arritmias, como a fibrilação atrial.

A longo prazo, os danos podem prejudicar o funcionamento dos rins pelo baixo fluxo de sangue. “Por isso, falamos que ‘tempo é músculo’”, diz Segalla. “Quanto mais precoce a desobstrução da artéria, melhor a preservação do músculo cardíaco.”

Segundo os autores, os estudos existentes costumam se focar mais nos riscos a curto prazo – como a possibilidade de um segundo infarto. Para eles, os dados obtidos de vários desfechos em um longo período, em uma amostra representativa da população, reforçam a necessidade de monitoramento desses pacientes para controlar os impactos na saúde física e mental.

“Os medicamentos e o acompanhamento da reabilitação cardiovascular são pilares que diminuem as taxas de mortalidade”, diz o médico do Einstein. As medicações visam manter o colesterol, a glicemia e a pressão arterial sob controle. Também são receitados antiagregantes plaquetários para evitar a formação de novos coágulos. Mas, explica o especialista, é essencial adotar mudanças no estilo de vida, incluindo prática de atividade física, alimentação saudável, controle do peso e do estresse, sono de qualidade e abandono de vícios, como o cigarro.  

Tratamentos são variados 

Os tratamentos para o infarto evoluíram muito, mas, quanto antes for diagnosticado, melhor o resultado. Na fase aguda, costuma-se fazer a angioplastia, em que o vaso é desobstruído com um stent – uma espécie de tubo que mantém a abertura –, inserido por cateterismo.

Quando há várias lesões, pode-se optar pela cirurgia de revascularização ou angioplastia levando em conta fatores como idade, tipo e local das lesões, além da presença de comorbidades. “Independentemente da estratégia, o tratamento medicamentoso e a mudança do estilo de vida são cruciais para a sustentabilidade da intervenção realizada”, reforça Segalla.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Estar satisfeito com a vida está associado a uma melhor saúde do coração, aponta pesquisa brasileira

 

Estudo da UFMG analisou dados de quase 13 mil pessoas; resultados apontam que somente 10,5% dos participantes estão com a saúde cardiovascular considerada ótima.

 

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

Pessoas que estão satisfeitas com a vida têm mais chances de manter a saúde do coração em dia, enquanto ter um baixo nível de satisfação está associado ao maior risco de mortalidade precoce por qualquer causa. A conclusão é de uma pesquisa realizada na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que analisou dados de quase 13 mil participantes do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA Brasil), que monitora há 15 anos a incidência e a progressão de doenças crônicas não transmissíveis (como diabetes e hipertensão) em servidores públicos de instituições de ensino de seis capitais do Brasil.

Aline Eliane dos Santos, doutoranda em Saúde Pública na UFMG e autora da pesquisa, analisou os dados das visitas do ELSA realizadas entre 2012 e 2014. Na ocasião, pela primeira vez, foram coletadas informações sobre os níveis de satisfação com a vida, os quais foram analisados por meio da Escala de Satisfação com a Vida (SWLS), que varia de 5 a 35 pontos. Dentro de todo o grupo, a pontuação média foi de 26,7.

A escala apresenta cinco afirmativas, para as quais as respostas variam de 1 (“discordo totalmente”) a 7 (“concordo totalmente”). Entre as afirmativas, estão: “As condições da minha vida são excelentes”; “Estou satisfeito com a minha vida”; e “Se pudesse viver a minha vida outra vez, não mudaria nada”.

Assim, o participante responde em uma escala de 1 a 7, e ao final, a pontuação total de satisfação com a vida varia de 5 a 35; quanto maior o número, maior a satisfação. “De todos os instrumentos que foram criados até hoje, essa é a escala mais utilizada. Está muito bem validada em vários estudos porque consegue captar essa satisfação com a vida”, disse a autora.

Segundo Santos, o conceito de satisfação com a vida é algo muito individual, uma vez que engloba uma avaliação global que o indivíduo faz de todos os domínios de sua própria vida, incluindo questões como família, trabalho, saúde, renda e outros fatores.

“É uma avaliação bastante subjetiva porque a pessoa analisa a vida com base em metas que ela mesma estabeleceu. Cada um tem a sua própria meta e é cada pessoa define se tudo aquilo que ela propôs como meta está sendo alcançado”, explica a pesquisadora.

E o coração?

A saúde cardiovascular dos participantes do ELSA foi avaliada pelo Índice de Saúde Cardiovascular Ideal, proposto pela American Heart Association (AHA) em 2010. Segundo Santos, esse índice é composto por sete itens divididos em dois subescores: fatores comportamentais e fatores biológicos. Os fatores biológicos levam em consideração medidas como glicemia de jejum, pressão sanguínea e colesterol total. Já os fatores comportamentais avaliam aspectos como prática de atividade física, alimentação saudável, ausência de tabagismo e índice de massa corporal (IMC).

O escore varia de 0 a 7 pontos e não avalia o risco, mas sim a saúde cardiovascular. De acordo com a autora da pesquisa, esse mecanismo foi pensado para ser utilizado como prevenção primordial, ou seja, analisar o indivíduo saudável e determinar como mantê-lo saudável: “por exemplo, o índice avalia se a pessoa possui glicemia normal sem o uso de medicamentos e busca estratégias para manter essa condição. Isso difere da prevenção primária, que ocorre quando o paciente já apresenta fatores de risco, e o objetivo é evitar que esses fatores evoluam para a doença”, explicou Santos.

A pesquisadora categorizou a pontuação em três níveis: baixa saúde cardiovascular (para pontuações de 0 a 2); intermediária (pontuações de 3 a 4) e ótima (pontuação de 5 a 7). O estudo apontou que somente 10,5% dos participantes alcançaram a pontuação que indica saúde cardiovascular ótima, enquanto 42% atingiram a pontuação intermediária e 47,5% dos participantes foram classificados como tendo baixa saúde cardiovascular.

“Avaliamos a associação entre a satisfação com a vida e a classificação da saúde cardiovascular e observamos que a cada aumento na pontuação da satisfação com a vida, aumentava a chance de o indivíduo ter uma saúde cardiovascular intermediária ou ótima”, afirmou.

Quais as possíveis explicações?

Segundo a pesquisadora, existem duas possíveis explicações possíveis para esses achados. A primeira é biológica, em que a pessoa com maior nível de satisfação com a vida é uma pessoa que tem um amortecimento dos efeitos deletérios do estresse do dia a dia porque consegue lidar melhor com situações que vão levar a uma cascata de efeitos biológicos deletérios, como por exemplo, maior produção de cortisol e de fatores inflamatórios.

Uma outra explicação seria que uma pessoa que tem níveis maiores de satisfação com a vida tem uma motivação maior para aderir a comportamentos saudáveis – vai cuidar mais da alimentação, vai praticar mais atividade física, terá menores níveis de tabagismo, entre outros.

Mortalidade também sofre impacto

Quando a satisfação com a vida for muito baixa também há um risco aumentado de morte por todas as causas. “As pessoas insatisfeitas vão morrer mais precocemente”, disse Santos.

Na avaliação do cardiologista Marcelo Katz, do Hospital Israelita Albert Einstein e pesquisador na área de ciência comportamental e engajamento do paciente, esse trabalho realizado pela UFMG é fundamental porque retrata a realidade brasileira e mostra como os pacientes realmente têm uma oportunidade de prevenção e não estão seguindo aquilo que é recomendado.

“O trabalho mostra que somente 10% dos participantes têm a saúde cardiovascular em nível ótimo. Isso demonstra que temos uma população enorme que precisa melhorar a saúde. Esse estudo também agrega conhecimento na área de saúde mental e saúde cardiovascular e na importância de entender esta relação. Uma parcela desses pacientes pode ter uma questão de saúde mental que reflete numa insatisfação com a vida e, muitas vezes, pode ter um diagnóstico psiquiátrico de base”, afirmou o cardiologista.

De acordo com Katz, já faz algum tempo que as evidências científicas têm demonstrado que além dos fatores de risco tradicionais para as doenças cardiovasculares, outros fatores (chamados psicossociais) começaram a demonstrar o seu impacto como associados a maior risco cardiovascular.

“Já se conheciam os clássicos ansiedade e depressão, mas depois vieram outros aspectos que permeiam essas questões. Hoje se sabe por exemplo que pessoas ansiosas, com depressão, com pensamentos negativos, pessimistas, que não têm propósito de vida, têm maior risco cardiovascular. Pessoas mais rancorosas, com mais dificuldade em perdoar, pessoas que não são satisfeitas, que não são felizes, também têm maior risco. Esse estudo brasileiro vai em linha com o que vem sendo demonstrado nos últimos anos em estudos internacionais”, afirmou.

Katz ressalta que é fundamental que as pessoas estejam satisfeitas com sua própria vida para galgarem uma melhor saúde cardiovascular. Ele explica que isso não é imposto, é uma busca constante em torno de mais cuidados com a saúde mental, com o estilo de vida, com o cumprimento de uma vida mais saudável. “Não dá para o médico prescrever para o paciente que ele precisa estar satisfeito com a vida. A gente tem que ajudá-lo a construir uma vida mais saudável e isso gerar, consequentemente, uma maior satisfação. Temos que entender por que esse paciente não está satisfeito e o que pode ser feito para construir esse caminho mais saudável”, disse.

Para isso, diz Katz, o paciente precisa “seguir a cartilha corretamente”. “Se todas as pessoas seguissem tudo o que é recomendado do ponto de vista de controle de fatores de risco, as pessoas reduziriam de 80% a 90% o risco de ter um evento cardiovascular. Seguir a cartilha requer um bom engajamento em saúde, um estilo de vida saudável. Isso dá um certo trabalho, mas é um trabalho que tem um resultado fantástico, que é a melhora do prognóstico desse paciente”, finalizou.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Doença genética que altera colesterol aumenta  em 20 vezes risco de problemas cardíacos

Estudo da UFMG mostra que a hipercolesterolemia familiar é pouco conhecida e subdiagnosticada, afetando cerca de 1% dos brasileiros; doença aumenta risco de AVC e infarto

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

Pessoas que desde a infância têm colesterol muito alto – principalmente o LDL-C, mais conhecido como ‘colesterol ruim’ e de difícil controle – podem sofrer de uma doença genética que é subnotificada, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS): a hipercolesterolemia familiar (HF). Esses pacientes estão mais propensos a desenvolver enfermidades que atingem o coração e o cérebro, como infarto agudo do miocárdio e o Acidente Vascular Cerebral (AVC), além de ter um risco 20 vezes maior de desenvolver doenças coronarianas do que a população em geral, segundo a Associação Americana do Coração (AHA).

Estima-se que cerca de 85% dos homens e 50% das mulheres com HF poderão ter um evento coronariano antes dos 65 anos se não forem tratados precocemente. Um estudo brasileiro realizado por pesquisadores da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e publicado na revista Scientific Reports aponta que cerca de 1% da população brasileira tem a possibilidade de ter o problema, sendo que a maioria nem sabe que tem a doença. O percentual, de acordo com o estudo, é maior do que o estimado nos Estados Unidos (0,4%), na China (0,3%) e na França (0,85%).

“Esse resultado de 1% da população brasileira poder ter a hipercolesterolemia familiar nos chamou a atenção. Considerando que essa é uma doença genética, subdiagnosticada e que o Brasil tem uma extensão territorial imensa, acreditamos que esse número também pode ser subestimado”, explicou a enfermeira Ana Carolina Micheletti Gomide Nogueira de Sá, pós-doutoranda e autora da pesquisa. O estudo utilizou informações clínicas dos participantes como base, ou seja, se as questões genéticas também fossem avaliadas, talvez o número fosse ainda maior.

Para chegar aos resultados, os pesquisadores usaram a base de dados de quase 9 mil adultos brasileiros que participaram da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), um inquérito populacional realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério da Saúde. Entre 2014 e 2015, pela primeira vez, a PNS incluiu uma coleta laboratorial dos participantes. Na ocasião, entre outras análises, foi feito o perfil lipídico dos voluntários com avaliação dos níveis de colesterol total, LDL-C (o colesterol “ruim”) e HDL-C (colesterol “bom”).

No estudo foram analisados os casos de pessoas com LDL acima de 190 mg/dl, índice de acordo com a escala da Dutch Lipidic Clinic (ter colesterol acima de 130 mg/dl já é alto).  Os autores investigaram também questões sociodemográficas, estilo de vida, presença de comorbidades como diabetes e hipertensão e alteração nos exames laboratoriais.

O estudo apontou também que os possíveis casos de HF foram mais frequentes em mulheres entre 45 e 59 anos, com pele branca, menor escolaridade e outras comorbidades associadas (como diabetes e hipertensão). “Diante disso, entendemos que outros estudos precisam ser feitos para aprofundar melhor este achado. Temos uma população amplamente miscigenada e há uma escassez de estudos nessa área”, explica a pesquisadora.

O que é a hipercolesterolemia familiar?

Segundo a cardiologista Fabiana Rached, do Hospital Israelita Albert Einstein, a hipercolesterolemia familiar é uma doença silenciosa, hereditária e que faz com que menos da metade do colesterol circulante  seja removido do sangue. Por ser de origem genética, ela é transmissível de geração para geração.

“No caso da HF, o funcionamento dos receptores de LDL está prejudicado o que provoca a elevação dos níveis de LDL no sangue. Muito colesterol LDL estagna no sangue. Pessoas com HF geralmente apresentam níveis perigosamente elevados de colesterol LDL desde o nascimento. O risco de aterosclerose [acúmulo de placas de colesterol nas artérias] e, portanto, de infarto do miocárdio, AVC e doença arterial oclusiva periférica é muito elevado”, ressaltou.

Isso acontece porque os altos índices de colesterol vão se acumulando nas paredes dos vasos sanguíneos e formando placas de gordura que vão causar a aterosclerose,  doença crônica e um dos principais fatores de risco para infarto e AVC. Ela poderia ser evitada com a prescrição adequada de hipolipemiantes, como estatinas, ezetimiba e inibidores de PCSK-9. A estatina é a principal classe de medicamentos usada e amplamente disponível no Brasil e no Sistema Único de Saúde (SUS).

“Pacientes que possuem colesterol LDL acima de 190 mg/dl possuem indicação de tratamento com as estatinas e com outros hipolipemiantes quando necessário. Os estudos apontam que o uso correto da medicação reduz em 76% o risco do desenvolvimento de doença cardiovascular prematura. Pessoas que possuem outros índices alterados, como colesterol total e triglicérides muito altos, além de pessoas com o HDL (colesterol bom) muito baixo, também poderiam se beneficiar com o tratamento”, sugere a pesquisadora.

Se não for descoberta e tratada, a hipercolesterolemia está associada à doença coronariana precoce e também à redução da expectativa de vida. As doenças do coração ainda são a principal causa de morte de homens e mulheres no Brasil e no mundo.

Diagnóstico precoce salva vidas

Segundo a Diretriz Brasileira de Hipercolesterolemia Familiar, atualizada em 2021, cerca de 200 mil pessoas no mundo morrem todos os anos por ataques cardíacos precoces devido à hipercolesterolemia, os quais poderiam ser evitados com tratamentos apropriados. O documento ressalta que o diagnóstico precoce é fundamental, pois torna possível o início antecipado do uso de medicamentos que podem mudar a história natural da doença, minimizando o impacto da HF na doença cardiovascular.

A médica do Einstein diz que cerca de 90% dos pacientes com hipercolesterolemia não são diagnosticados e, por isso, não são tratados de forma apropriada. “O diagnóstico ainda é um desafio para a maioria dos países por não termos acesso aos dados populacionais referentes ao colesterol e perfil lipídico [exame que detecta a quantidade de LDL, ao histórico individual e familiar de doença cardiovascular por não termos acesso ao teste genético para todos”, explicou a cardiologista.

A autora do estudo da UFMG ressalta ainda que, em 2018, a OMS lançou um chamamento internacional pedindo que os países conhecessem a dimensão do problema da hipercolesterolemia familiar em seus territórios. “Mesmo sendo uma doença com prevalência baixa, ela traz consequências muito sérias. O diagnóstico precoce com o tratamento adequado evitaria muitas complicações e mortes por doenças cardiovasculares ou cerebrovasculares”. A enfermeira espera que os resultados, que trazem dados exclusivamente brasileiros, possam ajudar a subsidiar decisões e políticas de saúde pública na prevenção da doença.

“A HF desencadeia até 20 vezes mais distúrbios cardíacos e ocorre de 15 a 20 anos mais cedo do que na população em geral. Trata-se de uma doença frequente, que afeta um em cada dois indivíduos nas famílias portadoras, e o maior desafio está em realizar precocemente o diagnóstico. A falta de diagnóstico no Brasil e no mundo cria uma barreira para a prevenção eficaz de doença aterosclerótica prematura, afetando a qualidade de vida dessas pessoas”, completou a pesquisadora.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Regiões mais ricas do Brasil têm menos mortes por doenças cardiovasculares, aponta estudo

Estados com melhores indicadores sociais tiveram maior redução nas mortes por infarto e derrame em 20 anos, diz levantamento da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

A taxa de mortalidade por doenças cardiovasculares caiu nos últimos 20 anos de forma diferente entre ricos e pobres no Brasil, segundo um estudo da  Universidade Federal do Rio de Janeiro. Regiões com maior nível de desenvolvimento humano registraram uma queda mais acentuada de mortes por derrame e infarto do que aquelas com piores índices.

Para avaliar a taxa de mortalidade, os autores cruzaram o número de mortes com o índice sociodemográfico (ISD), que avalia o nível de desenvolvimento, e o de vulnerabilidade social (IVS) – que mostra como a riqueza está distribuída. As informações sobre o ISD foram obtidas no site do Global Health Data Exchange e o IVS do Atlas da Vulnerabilidade Social, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

Nas últimas duas décadas, o Brasil melhorou os indicadores de vulnerabilidade social e a mortalidade por infarto reduziu, em média, 21%. Já a mortalidade por Acidente Vascular Cerebral (AVC) caiu aproximadamente 37%, segundo o levantamento.

No entanto, os dados gerais sobre doenças cardiovasculares revelam que, enquanto o Distrito Federal e a região Sul – que ostentam os melhores indicadores sociais – tiveram uma redução de cerca de 50% nas mortes, na Bahia e em Sergipe, por exemplo, a queda foi de apenas 7%. Já o Acre, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí e Maranhão chegaram a apresentar uma piora no número de óbitos.

Para os autores, a melhora na taxa de mortalidade ocorre em função de maior acesso a serviços de saúde e estratégias de prevenção e enfrentamento de doenças crônicas não transmissíveis. “Essas doenças podem ser prevenidas com medidas efetivas e de baixo custo”, diz o cardiologista José Lucas Bichara, um dos autores do estudo.

“A educação também tem um impacto muito grande, pois ela envolve desde o acesso ao sistema de saúde até conseguir interpretar receitas e recomendações médicas para, por exemplo, cuidar de doenças como hipertensão e diabetes”, avalia o cardiologista.

“Nas regiões com índices socioeconômicos mais elevados, há maior disponibilidade e acesso a serviços de saúde e tratamento das doenças, propiciando melhor manejo de condições crônicas de saúde”, diz a cardiologista Juliana Aparecida Soares, do Hospital Israelita Albert Einstein.

“Já os piores indicadores se associam a menor acesso à saúde em geral, o que acarreta, inclusive, maior vulnerabilidade emocional devido às dificuldades para acessar o tratamento, desde a distância, as condições de transporte e a disponibilidade de recursos como medicamentos e terapias de suporte”, completa a especialista.

Mais informação e educação em saúde

Além disso, maiores níveis de escolaridade estão relacionados a mais informação e educação em saúde, diz Soares. “Isso se associa a melhor autocuidado, incluindo melhor qualidade de alimentação, conscientização sobre benefícios da atividade física regular e acesso a locais para prática, melhor discernimento sobre sintomas e mais acesso a serviços para controle dos fatores de risco e manejos de condições graves, além de maior aderência ao tratamento”, enumera ela.

Um estudo recente, feito nos Estados Unidos, evidencia como a renda pode estar associada a fatores de risco cardiovascular, já que a precariedade dificulta até o acesso à alimentação saudável e possibilidades de mudanças no estilo de vida. Ao comparar mais de 20 mil adultos nos últimos 20 anos, os autores constataram que a prevalência de doenças como hipertensão e diabetes, além de tabagismo, era maior entre os mais pobres.

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil e as taxas de mortalidade entre os países variam em função do grau de desenvolvimento. Nações ricas costumam apresentar maior nível de incidência de doenças crônicas, provavelmente por maior exposição a fatores de risco e maior disponibilidade de métodos diagnósticos.

Mas a probabilidade de morte é maior em zonas com menor grau de desenvolvimento. “A desigualdade social impacta fortemente o panorama da saúde das populações e associa-se à discrepância no acesso à saúde e implementação e adoção de medidas de promoção e prevenção de saúde, bem como iniquidades em relação ao diagnóstico precoce, fundamental para diminuição da mortalidade cardiovascular”, finaliza Soares.

Fonte: Agência Einstein

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