Câncer

Terceiro Setor

A hora de agir é agora: nutrição como aliada na prevenção do câncer

Em celebração ao Dia Mundial de Combate ao Câncer, a Secretaria Municipal de Saúde, por meio do Departamento de Programas, realizou a palestra “Nutrição e Prevenção ao Câncer”, ministrada pela nutricionista Maria Ester Januário. Especialista na área, Maria Ester atuou como diretora do Serviço de Nutrição do CAISM da UNICAMP (Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti) e atualmente integra a equipe do Grupo Rosa e Amor, organização que presta suporte a homens e mulheres diagnosticados com diferentes tipos de câncer.

Durante a palestra, a especialista destacou a importância da alimentação equilibrada na redução dos riscos da doença. Segundo ela, a adoção de hábitos saudáveis, como o consumo de alimentos naturais e ricos em antioxidantes, aliada à redução de processados e de ultraprocessados, pode contribuir significativamente para a prevenção do câncer. Além disso, enfatizou que o acesso à informação é uma das ferramentas mais eficazes na luta contra a doença, permitindo que a população compreenda melhor os fatores de risco e as estratégias preventivas.

Profissionais Departamento de Programas com a palestrante Maria Ester Januário

O evento também alertou as participantes sobre a gravidade do câncer, que é a segunda maior causa de morte no mundo. A detecção precoce pode aumentar as chances de cura, reforçando a necessidade de exames regulares e de uma abordagem preventiva.
A palestra foi realizada no CETS da Vila Santana com a participação de profissionais da saúde.

 

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Saúde

O risco invisível: entenda por que beber álcool pode causar câncer

A bebida alcoólica é a terceira causa evitável de câncer, depois do tabaco e da obesidade — mas para muita gente essa associação não é tão óbvia nem tão conhecida

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

O consumo de álcool é uma prática enraizada e amplamente aceita em muitas culturas ao redor do mundo – inclusive no Brasil. Frequentemente associado a festas, celebrações e até mesmo à convivência cotidiana, beber álcool faz parte do hábito de muitas pessoas. O que pouca gente sabe é que a prática está associada a pelo menos sete tipos de câncer: mama, boca, laringe, garganta, esôfago, fígado e cólon.

No início de 2025, o Departamento de Saúde e Recursos Humanos dos Estados Unidos publicou o relatório Alcohol and Cancer Risk, em que destaca que o álcool é a terceira causa evitável de câncer, depois do tabaco e da obesidade, contribuindo para cerca de 100 mil casos e 20 mil mortes a cada ano naquele país. Além de citar os sete tipos de câncer diretamente associados ao consumo da bebida, o documento aponta que, globalmente, ao menos 741 mil casos da doença foram relacionados ao álcool em 2020.

“O relatório reforça e atualiza as evidências científicas, voltando a chamar a atenção para a importância do tema. Traz informações a mais sobre risco proporcional ao consumo, mecanismos biológicos e fala sobre a ausência de níveis seguros. O álcool está entre nós e faz parte da nossa cultura há milhares de anos, sempre associado à alegria e à comemoração. O problema é que a maioria das pessoas usa como hábito de vida e ainda não tem noção de quanto ele pode ser nocivo”, comenta a médica Ana Paula Garcia Cardoso, oncologista clínica do Hospital Israelita Albert Einstein.

Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos EUA, mais da metade dos adultos estadunidenses bebem álcool, 17% bebem compulsivamente e 6% bebem muito. Os números são muito parecidos com os do Brasil, onde 44,6% da população adulta relata ter o hábito de beber; sendo 18,3% de forma abusiva (cinco ou mais doses por semana para homens e quatro ou mais doses por semana para mulheres). Os dados são do Ministério da Saúde com base no Vigitel, sistema de vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas não transmissíveis, que monitora anualmente a situação de saúde da população.

E não é preciso ser alcoólatra para ter o risco de câncer aumentado. “Inclusive, acho que é isso que distancia as pessoas da realidade. Não existe consumo seguro de álcool e não é porque a pessoa faz uso controlado da bebida que ela estará livre do risco de câncer”, frisa a especialista. O perigo se aplicar a todo tipo de álcool: vinho, destilados e até a cerveja.

Mecanismos de ação

Estabelecer a relação causal entre o fator de risco e um resultado na saúde é complexo, mas vários estudos têm demonstrado que há quatro mecanismos biológicos que levam o álcool a aumentar o risco de câncer.

A primeira explicação é que a substância pode danificar o DNA. Isso porque o álcool se decompõe em acetaldeído, um metabólito que causa câncer ao se ligar ao DNA de modo a danificá-lo. Uma célula pode começar a crescer descontroladamente e criar um tumor possivelmente maligno.

Nosso sistema imunológico é capaz de nos proteger contra vários danos ao mesmo tempo, como o cigarro, o álcool, a poluição, os ultraprocessados, a obesidade e o sedentarismo. No entanto, chega uma hora que ele pode falhar. “É como se alguém batesse na porta várias vezes, mas seu sistema imunológico estivesse fazendo a vigilância e não o deixasse entrar. Mas algumas células ficam mais suscetíveis e fragilizadas por esses agressores, até que um dia o sistema imunológico não consegue mais se defender e a porta se abre”, ilustra Cardoso.

Quando a “porta” se abre, tem início um processo neoplásico, que nada mais é do que a multiplicação desordenada de uma célula com mutação. “A chamada carcinogênese funciona desta forma: tem um fator desencadeador, um erro no sistema de defesa e ali ele se prolifera”, explica a oncologista.

O segundo mecanismo de ação do álcool é que ele gera espécies reativas de oxigênio, que aumentam a inflamação no organismo por meio de um processo chamado estresse oxidativo. O terceiro é que a substância altera os níveis hormonais (especialmente do estrogênio), o que pode expor mulheres ao aumento desse hormônio e, consequentemente, a um risco maior de câncer de mama.

Por fim, a quarta forma de ação é que alguns órgãos (como fígado, boca e intestino) sofrem efeitos diretos do álcool. Além disso, outros carcinógenos podem se associar ao álcool e facilitar sua absorção pelo corpo. “O efeito cancerígeno do álcool é invisível, mas ele é multifatorial. Ele causa danos e instabilidades no DNA, que tornam a pessoa mais suscetível a outros fatores. Por exemplo: a suscetibilidade causada pelo álcool aumenta o risco que o cigarro já está causando”, pontua Cardoso.

Existe dose segura?

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), não existe consumo seguro de álcool – qualquer quantidade pode aumentar o risco de câncer. Um fator importante é a quantidade total de álcool consumida consistentemente ao longo do tempo. Segundo o relatório dos EUA, para certos tipos de câncer, como de mama, boca e garganta, as evidências mostram que esse risco pode começar a aumentar em torno de uma ou menos doses por dia.

Segundo um estudo citado no relatório dos EUA, o risco absoluto de uma mulher desenvolver qualquer câncer relacionado ao álcool ao longo da vida aumenta de 16,5% para aquelas que consomem menos de uma dose de bebida por semana para 19% para as que ingerem uma dose diária; e para 21,8% entre as que consomem duas doses por dia, em média. Isso corresponde a cinco mulheres a mais em cada 100 com potencial de desenvolver a doença. “O álcool é um dano. Quanto maior a quantidade, pior”, avisa a oncologista do Einstein.

No Brasil, a referência de dose mais utilizada é a divulgada pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), que considera que uma dose (unidade) padrão de álcool correspondente a 14 g de etanol puro – isso equivale a cerca de 350 ml de cerveja (uma lata), 150 ml de vinho ou 45 ml de destilados (como vodca, cachaça ou uísque). A OMS, no entanto, usa como dose padrão o equivalente a 10 g de álcool e recomenda o máximo de duas doses por dia para homens e uma por dia para mulheres, desde que se abstenham de beber pelo menos duas vezes na semana.

Desconhecimento sobre os perigos

Apesar das evidências demonstrando o efeito do consumo de álcool no risco de câncer, o relatório americano ressalta que há uma grande lacuna na compreensão pública dessa associação. Uma pesquisa feita em 2019 concluiu que 45% dos estadunidenses reconhecem o álcool como um fator de risco para câncer. O índice é bem menor do que os 91% que conhecem o risco cancerígeno da radiação e os 89% que sabem da relação com o tabaco, conforme o mesmo trabalho.

Outra investigação, essa feita com cerca de 1.700 adultos e divulgada em novembro de 2024 pela Annenberg Public Policy Center (APPC), mostra que menos da metade dos americanos (40%) sabe que beber álcool regularmente aumenta o risco de desenvolver câncer mais tarde. Outros 40% não tinham certeza se isso é verdade e 20% relataram crenças imprecisas — de que não teria efeito ou que diminuiria a chance de desenvolver câncer.

Há evidências de que, em longo prazo, parar de beber ou reduzir o consumo de álcool reduz diretamente a probabilidade de cânceres de boca e esôfago. Segundo o relatório Alcohol and Cancer Risk, mais pesquisas são necessárias para determinar se esse risco também diminui para outros tipos de câncer — ou até se pode chegar ao nível observado em pessoas que não costumam beber.

Rotulagem das bebidas

No recente documento norte-americano, uma mudança sugerida é a atualização dos rótulos de bebidas alcoólicas para incluir um alerta sobre o risco aumentado de câncer. Os rótulos de advertência de saúde são abordagens bem estabelecidas e eficazes para aumentar a conscientização e promover mudanças de comportamento.

Na avaliação de Cardoso, o Brasil enfrenta o mesmo problema de falta de informações sobre os riscos do consumo de álcool, e incluir alertas nos rótulos pode ser um bom caminho, assim como aconteceu com o cigarro. “Todo mundo sabe que fumar pode causar câncer. Tem um aviso no maço de cigarro, mas isso não acontece com as bebidas alcoólicas. Além disso, existe uma negação das próprias pessoas que desejam preservar o hábito, especialmente pelo aspecto social associado ao consumo da bebida”, observa a médica.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Teste de DNA é aliado para detectar HPV e pode substituir papanicolau

Pesquisa da Unicamp mostra que o exame é capaz de antecipar em até 10 anos  a detecção do vírus no organismo; tecnologia deve ser implantada no SUS

Por Thais Szegö, da Agência Einstein

Um estudo feito por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior de São Paulo, utiliza um teste de DNA para detectar o Papilomavírus Humano (HPV) no lugar do tradicional papanicolau, exame ginecológico que faz o rastreamento de doenças no colo do útero.

O teste de DNA é feito de maneira muito parecida com o papanicolau: uma amostra de secreção é coletada durante exame ginecológico. Mas, segundo o estudo — publicado em setembro na revista científica Scientific Reports —, essa técnica pode mudar o cenário da prevenção do câncer de colo de útero no Brasil.

“A cobertura da população-alvo do programa passou de 30% para mais de 90%”, destaca o ginecologista Júlio Cesar Teixeira, professor e pesquisador da Unicamp que coordenou o estudo. “Tivemos um aumento de quatro vezes na detecção de lesões pré-câncer, e os casos da doença identificados em fase microscópica, que são curáveis com procedimentos simples e acessíveis, passaram de 10% para 66%.”

Participaram do estudo 20.551 mulheres, com idades entre 25 e 64 anos. Os pesquisadores compararam dados da primeira rodada de cinco anos (outubro de 2017 a setembro de 2022) de rastreio do HPV usando o teste de DNA com informações obtidas nos cinco anos prévios (2012 – 2016), nos quais foi usado o papanicolau. Todos os exames haviam sido realizados no sistema público de saúde, na cidade de Indaiatuba (SP).

A localidade foi escolhida por ter um sistema de saúde informatizado, no qual todas as unidades de atendimento estão ligadas em rede, o que permitiu monitorar os dados com mais eficácia e possibilitou o aumento da cobertura, considerada essencial para o sucesso do programa.

Os resultados do projeto vêm sendo acompanhados pelo Ministério da Saúde e estão sendo utilizados como base para uma mudança nas políticas públicas voltadas à prevenção do câncer de colo de útero no Brasil. Em março de 2024, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) aprovou o uso da genotipagem de HPV no Sistema Único de Saúde (SUS), e a expectativa é de que em 2025 o teste seja disponibilizado no sistema público.

Teixeira calcula que, se o projeto for implementado em escala nacional, poderá evitar mortes pela doença no país. Segundo relatório anual de 2023 do Instituto Nacional do Câncer (Inca), entre as mortes de mulheres causadas por câncer no Brasil em 2021, os óbitos por câncer do colo do útero ocuparam o quarto lugar, representando 6,05% do total, excluindo aqueles por câncer de pele não melanoma.

Como é feito o teste?

Enquanto o papanicolau depende de interpretação humana em diferentes etapas, o teste de DNA é automatizado, eliminando o risco de falsos negativos ou positivos. A genotipagem também consegue identificar o tipo de HPV presente no organismo — existem mais de 200, dos quais pelo menos 12 são considerados oncogênicos, de acordo com o Inca.

O método tradicional, por sua vez, identifica apenas as células que já estão doentes. “Em cerca de 10% dos casos, os resultados indicam a necessidade da realização da citologia (papanicolau) para ajudar na condução do caso e, nessa situação, se utiliza o mesmo material, sem a necessidade de nova coleta”, explica Teixeira. Essa visão mais global é importante, pois muitas mulheres jovens apresentam o resultado positivo sem ter lesões.

No estudo, 87% dos testes realizados apresentaram resultados negativos. Como aponta que não há infecção, o exame só precisaria ser refeito após cinco anos. Já o papanicolau é necessário ser refeito após três anos, nos casos em que a mulher apresentou dois resultados negativos consecutivos. Além disso, com a técnica recente, a idade média das mulheres com lesões detectadas baixou em 10 anos, antecipando consideravelmente o diagnóstico.

Economia de recursos

Apesar de o exame ainda ser pouco conhecido e utilizado, não é novidade que a genotipagem do HPV é uma solução para melhorar o rastreio, a prevenção e o tratamento do câncer cervical. Desde 2013, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem defendido a necessidade de mudanças, que incluem a preferência pelo teste de HPV-DNA em relação a métodos como a inspeção visual com ácido acético (VIA) e o papanicolau.

Muitos países já usam o exame como rotina. “Nos Estados Unidos, há um tempo os protocolos são baseados nesse tipo de testagem”, relata a ginecologista e obstetra Renata Lamego, do Hospital Israelita Albert Einstein. Por aqui, no sistema suplementar de saúde, o teste DNA-HPV já é realizado e ajuda a nortear a conduta do especialista.

“Nas políticas públicas brasileiras, fica mais difícil instituir esse tipo de procedimento, pois se trata de um exame mais caro e o papanicolau é muito barato”, pontua Lamego. “Além disso, a citologia já está incorporada culturalmente nas mulheres brasileiras, que sabem que devem se submeter a ela anualmente, exceto se apresenta dois resultados normais para o teste, o que permite que o realize novamente após três anos.”

A questão financeira também foi avaliada no trabalho da Unicamp. Apesar de o teste ser mais caro, em longo prazo ele pode ser mais econômico ao sistema de saúde, se implementado com um plano de monitoramento eficaz. Além de poder ser realizado a cada cinco anos, o exame antecipa a detecção de cânceres em fase microscópica.

Quando a doença está mais avançada, ela deixa de ser operável e, na maioria das vezes, necessita de radioterapia e quimioterapia, métodos caros e que não estão disponíveis em todos os lugares do país. “Além de economizar recursos, se associamos um programa de prevenção organizado com a vacinação contra HPV abaixo de 15 anos, o câncer de colo de útero será eliminado no futuro”, afirma Júlio Cesar Teixeira.

Fonte: Agência Einstein

 

 

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Saúde

Câncer de pele no couro cabeludo: conheça os cuidados para se proteger

O fato de essa parte do corpo normalmente estar escondida sob o cabelo dificulta a descoberta de um tumor, diminuindo a possibilidade do tratamento precoce

Por Thais Szegö, da Agência Einstein

Uma mancha que aparece em uma região visível do corpo, como nos braços ou no rosto, é facilmente notada. Sobretudo quando ela muda de tamanho, forma ou cor, por exemplo, que são alguns dos sinais de alerta para o câncer de pele. Mas, se a lesão estiver encoberta por fios de cabelo, há possibilidade de não ser percebida.

Os tumores de pele no couro cabeludo normalmente demoram a ser diagnosticados, o que reduz a perspectiva de cura. O câncer não melanoma, a versão mais agressiva da enfermidade, é o tipo de câncer com maior incidência no Brasil, representando 31,3% dos novos casos estimados para o triênio 2023 – 2025, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA). “A grande ‘vantagem’ do câncer de pele é que ele pode ser retirado cirurgicamente se não tiver metástase e, na maioria das vezes, curado. Mas é importante que o médico interceda o quanto antes”, observa a dermatologista Andrey Augusto Malvestiti, do Hospital Israelita Albert Einstein.

Outros fatores que precisam ser levados em consideração é que essa parte do corpo fica mais exposta ao sol e é muito vascularizada, contribuindo para o câncer se espalhar. “Além disso, as pintas que aparecem nessa região acabam sofrendo atrito na hora de lavar, escovar e manipular o cabelo, o que aumenta o risco de se transformarem em lesões pré-cancerosas”, afirma a dermatologista Claudia Marçal, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

Daí porque essa região deve ser examinada com regularidade. Na maioria dos casos, a análise realizada pelo dermatologista durante a consulta anual é o suficiente. “Já quem tem fototipo mais baixo, com pele e olhos claros, histórico pessoal ou familiar de câncer de pele ou de lesões queratoses actínicas, aquelas feridinhas ásperas e vermelhas que surgem na pele, inclusive do couro cabeludo, precisam marcar consultas com mais frequência”, orienta Marçal, que também integra a Academia Americana de Dermatologia (AAD) e a Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD).

Além do médico, outro profissional que pode ajudar na missão de localizar um tumor no couro cabeludo é o cabeleireiro. “Ele olha para essa região com bastante regularidade, por isso é interessante pedir que ele fique atento e sinalize caso note alguma alteração”, orienta Malvestiti.

Como se proteger?

Os fios de cabelo são responsáveis por fazer uma espécie de escudo sobre o couro cabeludo, resguardando-o do excesso de exposição solar. Mas essa região também precisa de proteção, tal qual a pele no restante do corpo. Sempre que possível, proteja a cabeça com chapéu ou boné quando se expor ao sol.

“Quem tem fios mais ralos, é calvo ou careca precisa de maior proteção, utilizando chapéus e bonés de preferência confeccionados com tecidos com proteção contra os raios UV, principalmente em ambientes de maior exposição ao sol”, orienta o oncologista Ramon Andrade de Mello, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia.

Para quem tem pouco ou nenhum cabelo, a médica da SBD indica ainda a utilização de um protetor solar em spray, com FPS de no mínimo 30, e PPD (valor de proteção contra os raios UVA) 10, que deve ser reaplicado a cada duas horas. Pessoas com fototipo mais baixo se beneficiam de produtos com FPS a partir de 50.

Já a turma com abundância de fios pode recorrer às loções leave-in com proteção solar. “As pessoas que trabalham em locais abertos, dirigem por muito tempo ou andam muito na rua devem ter esse cuidado diariamente. As que ficam a maior parte do tempo em locais fechados e têm cabelos fartos e grossos que cobrem todo o couro cabeludo só precisam ter essa preocupação quando ficam muito expostas ao sol”, explica Marçal.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Câncer de pele gera R$ 4,6 mi em custos hospitalares em quase 2 anos

SUS registrou nesse período 2,83 atendimentos da doença no país

Entre janeiro de 2023 e outubro deste ano, o custo das internações no Brasil por melanoma – considerado o tipo de câncer de pele mais agressivo – chegou a R$ 4,6 milhões. O levantamento, feito pela Planisa em parceria com o DRG Brasil, analisou 2.537 altas hospitalares em unidades públicas e privadas do país com permanência média de 1,9 dia. 

A pesquisa revela que a faixa etária predominante, nesses casos, foi de pacientes com idade entre 60 e 69 anos (26,30%), seguida pelo grupo de 70 a 79 anos (25,14%). Já a distribuição por gênero ficou equilibrada, com 50,61% de mulheres e 49,39% de homens.

O levantamento faz ainda uma análise da complexidade assistencial das altas. Os números mostram que 89% delas ocorreram no nível 1 de severidade, indicando baixa complexidade clínica. Apenas 6,9%, 1,42% e 1,66% foram classificados nos níveis 2, 3 e 4, respectivamente, faixas que demandam maior cuidado e recursos.

Além disso, 37,68% dos pacientes foram atendidos em hospital-dia por um período de até 12 horas e 14,62%, por um período entre 12 e 24. De acordo com o estudo, os dados reforçam a importância de triagens eficazes para direcionar casos menos graves à atenção primária ou ambulatórios especializados, otimizando recursos hospitalares para pacientes de alta complexidade.

SUS

Segundo o Ministério da Saúde, no Sistema Único de Saúde (SUS), foram registrados 28.354 atendimentos relacionados ao câncer de pele do tipo melanoma entre janeiro de 2023 e julho de 2024.

Desse total, 10.298 foram cirurgias oncológicas — 6.276 em 2023 e 4.022 entre janeiro e julho de 2024; 8.107 foram quimioterapias — 5.113 em 2023 e 2.994 entre janeiro e julho deste ano; e 9.949 foram radioterapias — 5.994 no ano passado e 3.955 entre janeiro e julho de 2024.

Já em relação ao câncer de pele não melanoma, foram registrados, no mesmo período, 110.526 atendimentos, sendo 99.713 cirurgias oncológicas — 59.345 em 2023 e 40.368 entre janeiro e julho de 2024; 1.192 quimioterapias — 729 em 2023 e 463 entre janeiro e julho deste ano; e 9.621 radioterapias — 5.758 em 2023 e 3.863 de janeiro a julho de 2024.

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Saúde

Novo plano para combater câncer de colo tem foco em rastreio e vacina

© Marcelo Camargo/Agência Brasil

Doença é a quarta maior causa de morte em mulheres

Em 20 anos, o câncer de colo de útero pode se tornar doença residual no Brasil, se o país seguir um novo plano de combate à doença, que prevê avanços no rastreio, tratamento e, principalmente, na vacinação contra o HPV. Hoje, esse é o terceiro tipo mais prevalente de tumor entre as mulheres brasileiras e a quarta maior causa de morte, com cerca de 17 mil novos casos por ano, e aproximadamente 7 mil mortes. Quase 100% dos casos são decorrentes da infecção pelo Papilomavírus Humano, ou HPV, um vírus com mais de 200 tipos, dos quais apenas dois – o 16 e o 18 – são responsáveis por 70% dos casos.

Quase 65% das pacientes só descobrem a doença em estágio já avançado. Por isso, uma das principais novidades do novo Plano Nacional para a Eliminação do Câncer de Colo de Útero é a intenção de implementar no Sistema Único de Saúde um novo tipo de teste, do tipo molecular, para diagnóstico do HPV, em substituição ao exame citopatológico feito atualmente, conhecido popularmente como preventivo ou papanicolau. “É um teste que te permite saber a persistência ou não do vírus. As pessoas se contaminam com o HPV com muita frequência, em idade precoce, provavelmente 90% da população. Normalmente, esse vírus desaparece, mas quando ele persiste, tem possibilidade maior de desenvolver doenças associadas, levando a lesões precursoras e ao próprio câncer de colo uterino”, explica o diretor-geral do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Roberto Gil.

De acordo com Gil, no momento, os testes disponíveis estão sendo validados para a escolha da melhor opção. Mas resultados de testes-modelo feitos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que eles podem reduzir em 46% os casos de câncer e em 51% a mortalidade pela doença, índices superiores aos do exame citopatológico.  O público-alvo é composto por todas as mulheres, ou pessoas com útero, de 25 a 64 anos, principalmente aquelas que nunca fizeram exame preventivo.

Associado ao novo diagnóstico, os serviços públicos também devem implementar um sistema de autocoleta, em que a própria paciente poderá extrair o material para a análise, sem a necessidade de uma consulta ginecológica. “Um gargalo que a gente tem pra fazer o rastreamento é que muitas mulheres não vão ao posto ou se sentem intimidadas, principalmente se for um homem fazendo o exame. Como esse exame molecular é mais simples de ser colhido, começamos a trabalhar também com a autocoleta”, complementa o diretor-geral do Inca. O método já está sendo testado em cidades de Pernambuco e São Paulo e, a partir do início do ano que vem, deve ser adotado de forma escalonada, em lugares selecionados, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, que apresentam as maiores taxas de mortalidade pela doença.

Além do rastreio tardio, as pacientes sofrem com a demora até o início do tratamento. Apesar da lei brasileira determinar que ele deve começar em até 60 dias, cerca de metade delas só recebe algum tratamento depois desse prazo nas regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste. O Sul é a única região onde a situação mais frequente é que as pessoas diagnosticadas comecem a se tratar em até 30 dias, o que ocorre com 44% dos pacientes. No Norte, em 65% dos casos, o tratamento só começa após os dois meses. Essa demora também impacta a proporção de óbitos, que passa dos 15% na região, bem acima da média brasileira, que é de 6%.

A meta da Organização Mundial da Saúde é o rastreamento de pelo menos 70% das mulheres, com testes de alta performance. A partir disso, 90% dos casos positivos para HPV devem ser tratados rapidamente. O diretor do Inca explica qual o percurso ideal, a partir do diagnóstico: “Se você fez o teste e detectou o vírus, o ideal é que faça um exame de colposcopia, para avaliar se tem alguma lesão e fazer a biópsia quando necessário. Se for identificada lesão precursora, já fazer a excisão e se tiver o diagnóstico da doença, com um carcinoma já instalado, a paciente deve ser encaminhada a um serviço de alta complexidade para tratar o câncer de colo.” Para alcançar a meta da OMS, o Brasil precisa aumentar em pelo menos 56% o número de colposcopias e em mais de 600% a quantidade de biópsias.

Vacinação

A eliminação do câncer de colo do útero, no entanto, só será possível se novas infecções pelo HPV deixarem de ocorrer, o que depende da vacinação. A meta é alcançar 90% do público-alvo, hoje composto por meninas e meninos de 9 a 14 anos. A vacinação pelo Sistema Único de Saúde (SUS) também está disponível para pessoas imunodeprimidas, vítimas de violência sexual e usuários de Prep, a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV, com até 45 anos. Além disso, o Ministério da Saúde lançou uma estratégia de resgate de jovens com até 19 anos que não tenham se vacinado na idade adequada.

O diretor do Programa Nacional de Imunizações, Eder Gatti, explica porque esse é o esquema adotado pelo SUS: “Esse é o público que ainda não entrou na vida sexual, ou seja, ainda não se expôs ao vírus. É o público que tem o maior risco e, ao mesmo tempo, a melhor oportunidade de se proteger. Por uma questão de direcionamento dos esforços, considerando que o PNI é uma ação programática e preventiva, escolhemos esse grupo alvo de 9 a 14 anos. Quanto mais tempo passa na vida da pessoa, maior o risco de ela já ter vivido situações de exposição ao HPV, que é um vírus muito comum. Então, em termos de resultado, acaba sendo melhor direcionar para os adolescentes.”

A vacinação contra o HPV no Brasil completa dez anos em 2014 e foi incluindo público-alvo maior de lá para cá. Os números mais atualizados mostram que até o ano passado, o Brasil alcançou uma cobertura vacinal média entre as meninas de 81,1%, que passou de 96% no Paraná, mas não chegou a 43% no Acre. A vacinação dos meninos é mais preocupante, com cobertura média de 56,9% no Brasil e de apenas 25% no estado da Região Norte.

Nesta sexta-feira (6), o PNI deve lançar nova ferramenta de acompanhamento da aplicação da vacina, com as taxas de cobertura divididas por cada uma das idades do público-alvo. Ela mostra que a cobertura entre as crianças de 9 anos ficou abaixo de 69% no ano passado, mas entre os adolescentes com13 anos, já tinha alcançado 100%.

Desde abril, o PNI adota o esquema vacinal de apenas uma dose, substituindo as duas que eram necessárias anteriormente. A mudança é recomendada pela OMS, por evitar que o adolescente precise retornar ao posto de saúde para tomar a dose de reforço e só assim ficar completamente imunizado. Este ano, mais de 6 milhões de doses da vacina foram distribuídas aos estados e municípios. De acordo com o diretor do Programa Nacional de Imunizações Eder Gatti, a prioridade para o ano que vem é aumentar o alcance nos municípios que ainda estão com cobertura baixa, especialmente entre os meninos.

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Saúde

Em caso inédito, mulher com câncer ginecológico muda útero de lugar e engravida

Aos 30 anos, cabeleireira passou por uma cirurgia de transposição uterina, técnica inovadora desenvolvida no Brasil cujo objetivo é preservar a fertilidade após tratamento oncológico

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

A cabeleireira catarinense Angélica Hodecker era recém-casada e tinha apenas 30 anos quando recebeu o diagnóstico que a tirou o chão: ela estava com câncer de colo de útero, o terceiro tumor maligno mais frequente entre as mulheres, atrás somente dos tumores de mama e colorretal, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Jovem e ainda sem filhos, ela queria ser mãe e se viu diante da necessidade de tomar decisões urgentes, que poderiam mudar o sonho da maternidade.

O primeiro tratamento proposto era bastante radical para uma mulher que desejava engravidar em algum momento: retirar o útero, as trompas e os ovários para eliminar qualquer chance de o câncer progredir. Com isso, teria fim o sonho de gestar. “A doença só tinha afetado o colo do útero, por que era preciso tirar tudo?”, perguntava-se a cabeleireira.

Angélica procurou um segundo especialista e chegou a outra alternativa de tratamento para seu caso: fazer uma conização, um tipo de cirurgia que retira somente a parte do colo do útero doente, preservando assim os outros órgãos do aparelho reprodutivo. A partir de então, o médico iria avaliar se era necessário ou não fazer uma intervenção mais agressiva.

Ela fez o procedimento, mas os resultados indicaram que somente a cirurgia não foi o suficiente para eliminar o tumor — seria necessário passar por quimioterapia e radioterapia pélvica. Como consequência, ela ficaria infértil.

Nesse caso, a preservação da fertilidade poderia ser feita por meio do congelamento de óvulos, mas uma futura gestação teria de ser feita em uma barriga de substituição, pois o útero que recebe radioterapia perde a elasticidade das fibras musculares e sua parte funcional, o endométrio, entra em cicatrização. Dessa forma, o órgão fica incapaz de manter uma gestação.

“A minha alternativa era interromper o tratamento de câncer para tentar engravidar o mais rápido possível. E, após a gestação, eu retomaria o tratamento contra a doença”, conta. “Descartei essa hipótese de cara. Eu queria ser mãe, mas era inviável parar o tratamento para tentar engravidar. E se o câncer progredisse nesse período?”

Foi nessa fase de incertezas que Angélica procurou uma terceira opinião. A alternativa apresentada foi fazer uma traquelectomia (procedimento que remove o colo do útero, mas não o corpo do útero) e uma linfadectomia (retirada dos gânglios da pelve).

O problema é que, mesmo após essa cirurgia, ela teria de fazer ciclos de radioterapia e quimioterapia e, consequentemente, ficaria infértil. Foi então que ela conheceu uma técnica ainda experimental, mas bastante promissora: fazer uma cirurgia de transposição uterina, ou seja, mudar o útero de lugar provisoriamente, com o objetivo de preservar o órgão para uma gravidez futura.

A proposta inédita

A técnica foi desenvolvida em 2015 pelo cirurgião oncológico Reitan Ribeiro, de Curitiba, e consiste em transferir os órgãos reprodutivos (útero, trompas e ovários) de lugar, reposicionando-os na parte de cima do abdômen da mulher, entre o fígado e o umbigo. A ideia é mantê-los intactos e longe dos efeitos da radiação durante o tratamento contra o câncer. Ao término dos ciclos de quimio e radioterapia, uma nova cirurgia recoloca os órgãos em sua posição original.

A proposta era fazer algo absolutamente inédito. Naquela ocasião, em 2021, outras cinco cirurgias de transposição uterina por câncer ginecológico já haviam sido feitas no Brasil, mas nenhuma delas envolvia uma paciente com câncer de colo de útero – o caso de Angélica seria o primeiro na literatura científica mundial. Até hoje, cerca de 20 mulheres fizeram essa cirurgia no Brasil.

“Estamos em um momento de transição. Partimos do conceito da cirurgia, que foi feita inicialmente de forma experimental, mas estamos constatando que ela é uma alternativa cirúrgica factível, de baixo custo e baixa complexidade, para a preservação da fertilidade nessas mulheres”, explica o ginecologista especializado em cirurgia robótica e câncer ginecológico Renato Moretti, do Hospital Israelita Albert Einstein, um dos poucos centros aptos a fazer a transposição uterina no Brasil.

“Eu não tinha nenhum comparativo, não tinha ninguém para me dizer se daria certo ou não. Havia um caso de sucesso, que resultou em gravidez, mas era um lipossarcoma [câncer raro, nas células de gordura]. Eu e meu marido pensamos muito, mas o não [não conseguir engravidar] a gente já tinha. Uma única sessão de radioterapia pélvica afetaria minha fertilidade, então decidimos tentar”, lembra Angélica, que foi paciente de Moretti nesse processo.

Mas nem todas as mulheres com câncer ginecológico são elegíveis para a cirurgia. A técnica é indicada apenas para aquelas que têm potencial de engravidar posteriormente, desejo de gestar e que a doença oncológica não acometa o útero. “Importante destacar também que a transposição uterina é de aplicabilidade imediata após a discussão multidisciplinar, com o mínimo de retardo da radioterapia que a paciente necessita para tratar o câncer”, frisa Moretti.

De acordo com o especialista, cerca de 20% a 30% das pacientes que descobrem o câncer de colo de útero nos estágios iniciais terão de ser submetidas à radioterapia pélvica. Nas fases mais avançadas, todas precisam desse tratamento. “Resumindo, a radioterapia faz parte do tratamento de câncer em pelo menos 80% das mulheres, porque a realidade do Brasil é fazer o diagnóstico em estágios mais avançados”, observa.

Angélica e o marido concordaram em tentar a transposição uterina, mas estavam preparados para o pior. Caso a técnica não funcionasse como previsto, eles fariam o congelamento de óvulos e de esperma para uma futura barriga solidária ou poderiam optar pela parentalidade via adoção. “A gente ficou um pouco com um pé atrás, porque era uma pesquisa e, se não desse certo, voltaríamos à estaca zero. Mas tínhamos que tentar.”

Em uma semana, Angélica estava no centro cirúrgico. A cirurgia foi considerada um sucesso e, em menos de 10 dias, a cabeleireira já estava no hospital para iniciar os ciclos de radioterapia. Fez todo o tratamento (25 sessões de radioterapia diariamente e seis de quimioterapia uma vez por semana) e, em março de 2021, recolocou seus órgãos no lugar.

A surpresa da gravidez espontânea

Após a cirurgia, Angélica passou a fazer um acompanhamento periódico a cada três meses para se certificar de que o câncer estava eliminado. “Tudo estava indo muito bem. O meu útero estava íntegro, vascularizado, eu estava ovulando normalmente, mas minha menstruação estava bloqueada por anticoncepcionais. Nesse período, o médico permitiu suspender o uso do anticoncepcional e falamos sobre a possibilidade de gestação”, conta.

Mas tinha mais um detalhe. Por conta do tratamento, o canal do colo uterino de Angélica estava estreitado. Seria preciso passar por um procedimento de abertura dessa região e, talvez, uma gestação natural seria mais difícil de acontecer. Moretti conversou com o casal sobre a possibilidade de uma fertilização in vitro (FIV).

“Eu era recém-casada, queria ser mãe, só que não necessariamente naquele momento. Mas quando dizem para uma mulher ‘ou você tem um bebê agora, ou talvez tenha dificuldade de engravidar futuramente’, o reloginho anda. Então engatamos a ideia de gestação logo depois do tratamento de câncer”, relata.

A proposta era tentar engravidar naturalmente no período de um ano. Se não desse certo, o casal partiria para a reprodução assistida. Não foi preciso. Cinco meses depois, Angélica engravidou sem qualquer tratamento auxiliar. “Quando minha menstruação atrasou e o primeiro teste de farmácia deu positivo, fiquei incrédula. Chorei sentada no chão do banheiro. Repeti o teste da fitinha três vezes, fiz outro digital e ainda colhi um exame de sangue para ter certeza de que era verdade”, lembra.

Ela mandou a foto do exame de farmácia para Moretti e perguntou: “Estou grávida, e agora?” E ele respondeu: “Agora vamos começar o pré-natal.” E foi assim que começou o acompanhamento da gestação inédita, mas considerada de alto risco porque ela não tinha o colo do útero.

Tudo transcorreu normalmente. Isabel – carinhosamente chamada de Bebel – nasceu na véspera de Natal, no dia 24 de dezembro de 2022, saudável, pesando 2,2 kg e medindo 43 cm. Esse nascimento foi tão importante para a literatura científica que um relato de caso foi publicado em agosto de 2024 no Journal of Surgical Oncology.

A história de Angélica abre portas para que outras mulheres com câncer ginecológico possam ser submetidas ao procedimento para preservar a fertilidade. “Foi mágico. Não quero romantizar a maternidade, mas cheguei a pensar que não poderia viver isso um dia”, diz a mãe de Bebel.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Estudo feito em sete países alerta para causas sociais e econômicas do câncer

Publicada pela Social Science & Medicine, pesquisa analisa as condições sociais e econômicas da doença e como os discursos dominantes ampliam lucro de alguns grupos

Em meio à proliferação de discursos que orientam mudanças de hábitos pessoais como forma de prevenção ao câncer, um estudo internacional realizado em sete países, entre os quais o Brasil, aponta que o conhecimento sobre a doença e suas causas tem sido marcadamente focado nas ações dos indivíduos e encobre a contribuição do capital industrial global na incidência e prevalência das neoplasias, segunda causa de mortes em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Com base em investigações realizadas de 2015 a 2023 em Brasil, África Oriental (Quênia, Tanzânia e Uganda), Índia, Rússia e Espanha, o estudo, publicado na Social Science & Medicine, enfatiza a necessidade de que sejam detectadas e analisadas as ligações entre as condições sociais, econômicas, ambientais, industriais e políticas que levam ao câncer, identificando “quem e como determinados grupos são beneficiados e a que custo”.

Além disso, os pesquisadores apontam que a pesquisa sobre o câncer tem favorecido uma abordagem molecular da doença e a alta tecnologia em detrimento das causas ambientais e dos desafios terapêuticos, movimento que preocupa profissionais nas diferentes partes do mundo investigadas.

Pesquisador do Observatório História & Saúde, da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e um dos autores da análise, o historiador Luiz Alves Araújo Neto conta, em entrevista, que os contextos políticos, tanto locais, quanto globais, moldam a forma de se conhecer (pesquisa), detectar (rastreio e diagnóstico) e tratar (acesso ao atendimento e à terapêutica) a doença, em um processo marcado pela desigualdade.

“Em termos globais, no âmbito da produção do conhecimento sobre o câncer, ocorre uma redução do social para o biológico. Além disso, na realidade do cuidado e das práticas, as desigualdades sociais exercem um papel muito importante”, detalha Luiz, que, assim como os demais autores do estudo, faz parte da rede internacional de pesquisa The Political Stakes of Cancer (Desafios Políticos do Câncer).

Neto destaca que a abordagem individual do câncer – do tipo “proteja-se do sol pela manhã” -, embora correta, desconsidera as condições sociais das pessoas. Um carteiro, por exemplo, não pode seguir essas instruções como os demais. O historiador também destaca o papel dos agrotóxicos como causa dos cânceres.]

“Se você pensa sobre a alimentação em um país que, nos últimos 4 anos, liberou mais de 1.000 agrotóxicos que são colocados nos alimentos, e onde, por desigualdade socioeconômica, a maior parte da população consome alimentos ultraprocessados e onde, há até pouco tempo, mais de 30 milhões de pessoas estavam em situação de segurança alimentar, “alimentar-se bem” torna-se um enunciado pouco efetivo. Em resumo, a individualização do risco torna problemas coletivos em problemas individuais. Organizar políticas de saúde pública sem ter em conta a dimensão estrutural da desigualdade social, as torna pouco efetivas”, diz

O estudo foi realizado por meio de métodos qualitativos (história oral, análise de documentos, entrevistas e observações etnográficas). O grupo de pesquisa produziu também uma série de podcasts sobre o tema. “Estamos em uma atividade intensa e constante, cada vez mais tensionando essa discussão sobre o papel da desigualdade na maneira como o câncer é conhecido, detectado e tratado”.

 

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Saúde

Remoção total das trompas é alternativa para prevenir câncer de ovário

Um dos cânceres mais agressivos está também entre os mais difíceis de ser rastreados. Novas evidências indicam que cirurgia conhecida como salpingectomia pode atuar na prevenção da doença

 Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

O câncer de ovário é a segunda neoplasia ginecológica mais comum, atrás apenas do câncer do colo do útero. Considerando todos os tipos de câncer, é o sétimo mais frequente entre as mulheres. Apesar disso, é um tumor raro e difícil de rastrear – estima-se que 70% das pacientes descobrem a doença em estágio avançado. Há décadas cientistas buscam formas de prevenção e as pesquisas mais recentes apontam para uma cirurgia simples e promissora: a salpingectomia, que consiste na retirada total das trompas.

Em 2023, a Agência Internacional para Pesquisa Sobre Câncer (IARC, na sigla em inglês) estimou que aproximadamente 313 mil novos casos de câncer de ovário foram diagnosticados em todo o mundo. A expectativa é de que esses números aumentem, com uma projeção de 371 mil novos casos por ano até 2035. A mortalidade é bastante significativa – cerca de 207 mil mortes são atribuídas a essa doença anualmente.

No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) calcula que, a cada ano do triênio de 2023 a 2025, haverá 7.310 novos casos desse câncer. Isso corresponde a 6,62 novos casos a cada 100 mil mulheres no país.  “O câncer de ovário representa uma das principais causas de morte por câncer em mulheres devido a ausência de sintomas nas fases iniciais, dificuldades para sua identificação na população, detecção tardia, além das características biológicas de alta agressividade”, afirma o ginecologista e oncologista Renato Moretti, do Hospital Israelita Albert Einstein.

A doença é mais comum em mulheres após os 60 anos. A terapia de reposição hormonal (especialmente com estrogênio isolado) por longos períodos após a menopausa pode aumentar o risco. Endometriose, obesidade, histórico familiar de câncer, incluindo de ovário, mama, colorretal ou endometrial, também são fatores de risco para a doença. “Mas o principal risco ocorre entre portadoras de mutações genéticas herdadas nos genes BRCA1 e BRCA2. Elas têm risco de 10% a 60% de desenvolver câncer de ovário durante a vida”, alerta Moretti.

Subtipos diferentes

O câncer de ovário apresenta subtipos, que variam em termos de características biológicas, comportamento clínico e resposta ao tratamento. Cada subtipo tem implicações diferentes em termos de prognóstico, tratamento e sobrevida. Eles são classificados principalmente com base no tipo de célula em que se originam, sendo que os tumores serosos de alto grau são os mais agressivos e letais.

Segundo Moretti, evidências científicas sugerem que danos genéticos e processos inflamatórios originam células atípicas nas trompas que podem semear o abdômen e o ovário, transformando-se em células danosas. “As células das trompas podem se transformar em células cancerosas e migrar para o ovário. Ao remover as trompas, reduz-se a probabilidade dessas células malignas se espalharem”, explica.

Essa é uma alternativa menos radical do que a retirada dos ovários e útero, por exemplo. De acordo com o ginecologista, a retirada dos ovários leva à menopausa precoce, o que pode causar efeitos colaterais significativos, como osteoporose, doenças cardíacas e sintomas vasomotores, como ondas de calor e suores noturnos.

Salpingectomia oportunista

A salpingectomia oportunista envolve a remoção das trompas de falópio, deixando os ovários intactos. A indicação dessa cirurgia como estratégia de prevenção surgiu depois que cientistas descobriram que o subtipo mais comum de câncer de ovário (seroso de alto grau) começa justamente nas trompas. Esse subtipo representa cerca de 90% dos casos da doença. Antes, acreditava-se que os cânceres de ovário se originavam nos ovários.

Um dos estudos comprovando os benefícios da retirada profilática das trompas foi feito por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Colúmbia Britânica, no Canadá, e publicado em 2022 no Jama Network Open. Os cientistas avaliaram dados de 25 mil mulheres que passaram pelo procedimento entre 2008 e 2017 e compararam essas informações com um grupo controle, composto por 32 mil mulheres que passaram por histerectomia isolada ou laqueadura tubária, durante o mesmo período.

Nesse estudo, a turma que fez a salpingectomia teve significativamente menos cânceres de ovário serosos e epiteliais do que o esperado de acordo com a taxa em que surgiram no grupo controle. “Esses achados sugerem que o procedimento está associado à redução do risco de câncer de ovário”, observa Moretti.

Diante dessas evidências, em fevereiro de 2023, a Aliança para Pesquisa em Câncer de Ovário dos Estados Unidos passou a recomendar que a salpingectomia seja realizada em momentos oportunos, durante outras cirurgias ginecológicas de rotina, como histerectomia ou laqueadura. A ideia não é sair operando todo mundo, mas sim beneficiar qualquer mulher que for submetida a uma cirurgia pélvica, mesmo que ela não seja considerada do grupo de alto risco. Dessa forma, elas estariam prevenindo a doença.

Isso é importante, explica Moretti, porque ainda não existe um método eficaz de rastreamento para o câncer de ovário que seja amplamente recomendado, ao contrário do que ocorre com outros cânceres femininos – como o de mama, que tem a mamografia como excelente forma de rastreio, e o de colo de útero, cujo rastreio ocorre pelo exame regular de Papanicolau.

Diretrizes brasileiras

No Brasil, ainda não existe uma diretriz oficial indicando a salpingectomia profilática, mas ela tem ganhado aceitação e se tornado uma prática cada vez mais recomendada em alguns contextos clínicos, especialmente com base nos estudos internacionais que demonstram a eficácia desse procedimento na redução do risco de câncer de ovário. Por isso, várias sociedades médicas e ginecologistas do país recomendam a salpingectomia profilática para determinados grupos de mulheres.

Desde 2018, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) tem se debruçado em definir orientações clínicas sobre o tema. Em 2020, a entidade publicou um artigo sugerindo a salpingectomia oportunista (no momento da laqueadura ou da histerectomia) como uma cirurgia de baixo risco eficaz para a profilaxia do câncer de ovário.

“A recomendação oficial pode evoluir conforme novas evidências científicas surgirem. Na prática, muitos ginecologistas brasileiros já oferecem a salpingectomia profilática como uma opção para mulheres de alto risco e durante cirurgias ginecológicas, considerando a estratégia como um meio de reduzir o risco de câncer de ovário”, destaca Renato Moretti.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Mortes por câncer já ocupam primeiro lugar em algumas regiões do Brasil

Estudo mostra que a mortalidade por tumores supera a das doenças cardiovasculares em alguns locais do país, revelando uma transição epidemiológica

 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

O câncer já é a primeira causa de morte em algumas regiões do Brasil, ocupando o lugar das doenças cardiovasculares. Um estudo inédito revela uma transição epidemiológica no país, tendência que já vem sendo observada em nações ricas. O trabalho, conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e outras instituições, como Fundação Getúlio Vargas e Universidade Federal de Uberlândia, em Minas Gerais, acaba de ser publicado no The Lancet Regional Health – Americas.

Para chegar ao resultado, os autores analisaram dados de 5.570 municípios brasileiros fornecidos pelo Sistema de Informações de Mortalidade entre os anos de 2000 e 2019. Também foram avaliadas as mortes prematuras, aquelas que ocorrem na faixa dos 30 aos 69 anos, que não são atribuídas ao envelhecimento.

Nesse período, as taxas de mortalidade por doenças cardiovasculares caíram em 25 dos 27 estados, enquanto as de câncer cresceram em 15. O número de municípios em que o câncer é a principal causa de morte quase dobrou, passando de 7% para 13%. E, enquanto a mortalidade por problemas cardiovasculares caiu drasticamente, quase 40%, a de câncer reduziu apenas 10%.

Embora as doenças cardiovasculares ainda liderem as mortes, alguns fatores explicam essa transição. “Os avanços no diagnóstico e no tratamento, bem como as campanhas antitabagismo, por exemplo, tiveram grande impacto na queda da mortalidade cardiovascular. O câncer, por outro lado, engloba mais de cem doenças com diferentes causas e alguns são mais fáceis de prevenir, outros mais limitados”, analisa Leandro Rezende, um dos autores do estudo e coordenador do programa de pós-graduação em Saúde Coletiva da Escola Paulista de Medicina, da Unifesp.

Já as doenças cardiovasculares, segundo Rezende, são mais sensíveis a hábitos e medidas terapêuticas. “O resultado mostra que, quanto maior o acesso a tratamento e prevenção, menor a mortalidade”, observa o pesquisador. Apesar de o câncer e as doenças cardiovasculares compartilharem muitos fatores de risco — como tabagismo, sedentarismo, obesidade e má alimentação —, as particularidades de cada tipo de tumor dificultam a prevenção e o tratamento.

Além disso, enquanto o tratamento das doenças cardiovasculares sempre envolve mudanças no estilo de vida, no câncer o foco acaba sendo erradicar a doença de forma localizada. Assim, é possível reduzir as mortes por infartos e derrames cuidando da pressão alta, do colesterol alto e do diabetes, por exemplo, mas o prognóstico dos tumores acaba prejudicado com diagnósticos tardios e dificuldade de acesso a tratamentos sofisticados.

O cardiologista Eduardo Segalla, do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que o acesso ao diagnóstico precoce e a tratamentos especializados faz toda diferença para o prognóstico e a mortalidade dessas que são as duas principais causas de mortes no mundo. “Do ponto de vista cardiovascular, a conscientização de tratar fatores de risco e o acesso ao sistema de saúde para tratar um infarto agudo, por exemplo, é mais rápido e acessível do que o diagnóstico precoce de um câncer de mama ou de intestino”, diz Segalla.

Segundo o cardiologista, o tratamento após o diagnóstico das doenças cardiovasculares ou até de suas complicações, como arritmias e insuficiências cardíacas, são menos complexos, mais acessíveis e mais baratos do que os tratamentos do câncer, mais caros e com poucos centros especializados para o número crescente de diagnósticos.

Nesse aspecto, o estudo também revela as desigualdades do país: se as mortes por doenças como infarto e AVC caíram de modo geral, aquelas causadas por câncer cresceram principalmente nas regiões mais pobres. Os achados ainda mostram locais em que há potencial para reduzir a mortalidade cardiovascular, incluindo estados como Amapá, Roraima e Acre, onde há uma tendência de aumento desses óbitos.

Para os autores do novo estudo, é preciso desenvolver políticas específicas para cada região, capazes de melhorar o acesso à saúde nos municípios menores e mais vulneráveis e, é claro, atuar na prevenção primária. “Isso envolve políticas públicas, incluindo campanhas antitabaco, controle do álcool e o grande desafio da obesidade, que é um fator de risco para vários tumores. Sabe-se que o estilo de vida está associado a cerca de 20 tipos de câncer, e um terço das mortes poderia ser evitado com mudanças nos hábitos de vida”, destaca Rezende.

Fonte: Agência Einstein

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