Câncer

Saúde

Mortes por câncer já ocupam primeiro lugar em algumas regiões do Brasil

Estudo mostra que a mortalidade por tumores supera a das doenças cardiovasculares em alguns locais do país, revelando uma transição epidemiológica

 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

O câncer já é a primeira causa de morte em algumas regiões do Brasil, ocupando o lugar das doenças cardiovasculares. Um estudo inédito revela uma transição epidemiológica no país, tendência que já vem sendo observada em nações ricas. O trabalho, conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e outras instituições, como Fundação Getúlio Vargas e Universidade Federal de Uberlândia, em Minas Gerais, acaba de ser publicado no The Lancet Regional Health – Americas.

Para chegar ao resultado, os autores analisaram dados de 5.570 municípios brasileiros fornecidos pelo Sistema de Informações de Mortalidade entre os anos de 2000 e 2019. Também foram avaliadas as mortes prematuras, aquelas que ocorrem na faixa dos 30 aos 69 anos, que não são atribuídas ao envelhecimento.

Nesse período, as taxas de mortalidade por doenças cardiovasculares caíram em 25 dos 27 estados, enquanto as de câncer cresceram em 15. O número de municípios em que o câncer é a principal causa de morte quase dobrou, passando de 7% para 13%. E, enquanto a mortalidade por problemas cardiovasculares caiu drasticamente, quase 40%, a de câncer reduziu apenas 10%.

Embora as doenças cardiovasculares ainda liderem as mortes, alguns fatores explicam essa transição. “Os avanços no diagnóstico e no tratamento, bem como as campanhas antitabagismo, por exemplo, tiveram grande impacto na queda da mortalidade cardiovascular. O câncer, por outro lado, engloba mais de cem doenças com diferentes causas e alguns são mais fáceis de prevenir, outros mais limitados”, analisa Leandro Rezende, um dos autores do estudo e coordenador do programa de pós-graduação em Saúde Coletiva da Escola Paulista de Medicina, da Unifesp.

Já as doenças cardiovasculares, segundo Rezende, são mais sensíveis a hábitos e medidas terapêuticas. “O resultado mostra que, quanto maior o acesso a tratamento e prevenção, menor a mortalidade”, observa o pesquisador. Apesar de o câncer e as doenças cardiovasculares compartilharem muitos fatores de risco — como tabagismo, sedentarismo, obesidade e má alimentação —, as particularidades de cada tipo de tumor dificultam a prevenção e o tratamento.

Além disso, enquanto o tratamento das doenças cardiovasculares sempre envolve mudanças no estilo de vida, no câncer o foco acaba sendo erradicar a doença de forma localizada. Assim, é possível reduzir as mortes por infartos e derrames cuidando da pressão alta, do colesterol alto e do diabetes, por exemplo, mas o prognóstico dos tumores acaba prejudicado com diagnósticos tardios e dificuldade de acesso a tratamentos sofisticados.

O cardiologista Eduardo Segalla, do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que o acesso ao diagnóstico precoce e a tratamentos especializados faz toda diferença para o prognóstico e a mortalidade dessas que são as duas principais causas de mortes no mundo. “Do ponto de vista cardiovascular, a conscientização de tratar fatores de risco e o acesso ao sistema de saúde para tratar um infarto agudo, por exemplo, é mais rápido e acessível do que o diagnóstico precoce de um câncer de mama ou de intestino”, diz Segalla.

Segundo o cardiologista, o tratamento após o diagnóstico das doenças cardiovasculares ou até de suas complicações, como arritmias e insuficiências cardíacas, são menos complexos, mais acessíveis e mais baratos do que os tratamentos do câncer, mais caros e com poucos centros especializados para o número crescente de diagnósticos.

Nesse aspecto, o estudo também revela as desigualdades do país: se as mortes por doenças como infarto e AVC caíram de modo geral, aquelas causadas por câncer cresceram principalmente nas regiões mais pobres. Os achados ainda mostram locais em que há potencial para reduzir a mortalidade cardiovascular, incluindo estados como Amapá, Roraima e Acre, onde há uma tendência de aumento desses óbitos.

Para os autores do novo estudo, é preciso desenvolver políticas específicas para cada região, capazes de melhorar o acesso à saúde nos municípios menores e mais vulneráveis e, é claro, atuar na prevenção primária. “Isso envolve políticas públicas, incluindo campanhas antitabaco, controle do álcool e o grande desafio da obesidade, que é um fator de risco para vários tumores. Sabe-se que o estilo de vida está associado a cerca de 20 tipos de câncer, e um terço das mortes poderia ser evitado com mudanças nos hábitos de vida”, destaca Rezende.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Maioria das mulheres jovens consegue engravidar após câncer de mama

Tratamentos para preservar a fertilidade, como congelamento de óvulos e embriões, aumentam a chance de gravidez após o tratamento, aponta pesquisa

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

A maioria das mulheres jovens diagnosticadas com câncer de mama em estágio inicial tem grandes chances de engravidar após o tratamento da doença, sugere um estudo apresentado no último congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, na sigla em inglês), realizado em junho nos Estados Unidos. Das pacientes avaliadas, 73% conseguiram engravidar e 65% deram à luz um bebê vivo.

De acordo com especialistas, esse é o primeiro estudo com mais de dez anos de acompanhamento que avalia a fertilidade em pacientes com menos de 40 anos com doença não metastática. “A maioria dos estudos anteriores levavam em consideração um follow up mais curto e não tinham foco tão específico para a parte gestacional”, analisa a oncologista Patrícia Taranto, do Hospital Israelita Albert Einstein. “A pesquisa traz um cenário esperançoso para essas pacientes jovens com câncer de mama em estágio inicial, pois os achados sugerem que é possível conciliar o cuidado com a saúde e o desejo de gestar.”

O tratamento desse tumor impacta a fertilidade porque a quimioterapia pode levar a uma supressão da função ovariana, com indução de menopausa precoce. Nos tumores chamados receptores hormonais positivos, a terapia para reduzir os níveis dos hormônios que “alimentam” a doença também é capaz de causar a falência dos ovários.

No entanto, há meios de reduzir esse risco, conciliando o tratamento para câncer de mama com medicamentos para proteger a função ovariana. Outro importante aliado é o aconselhamento de fertilidade, com congelamento de óvulos ou embriões.

O estudo avaliou dados de 1.213 mulheres diagnosticadas com tumores de mama não metastáticos entre os anos de 2006 e 2016. Nesse período, 197 tentaram engravidar, e a maioria conseguiu. Apenas 28% tinham feito tratamentos para preservar a fertilidade e as chances de gestação foram maiores para esse grupo e aquelas mais jovens.

“É possível engravidar sem fazer a preservação de fertilidade”, explica Taranto. “Mas com o congelamento prévio de óvulos ou embriões as chances aumentam caso haja problemas de indução de menopausa precoce por conta do tratamento.”

Por isso, os autores reforçam a importância de maior acesso a essas informações e a serviços para preservação e orientação sobre a fertilidade. “É importante que essas pacientes tenham acesso tanto ao apoio emocional quanto às orientações logo no início do diagnóstico para poderem se prevenir antes de começar o tratamento e se programar sobre a possibilidade de congelamento de óvulos ou embriões, independentemente do tipo de tumor, para uma possível gestação futura.”

Vale lembrar que os procedimentos para preservação de fertilidade não aumentam o risco de recidiva do tumor nem impactam na agressividade da doença. Hoje, dá para fazê-los de forma mais rápida para não atrasar o tratamento da doença.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Brasileiros investigam como terapias celulares podem ajudar a tratar leucemia

Estudos analisam eficácia de células do cordão umbilical e do sangue periférico no tratamento de forma agressiva desse câncer

A leucemia, tipo de câncer que afeta as células sanguíneas e a medula óssea, conta com diversos tipos e é complexa de tratar, especialmente em adultos, que muitas vezes não respondem aos tratamentos convencionais. As terapias celulares têm se estabelecido como uma abordagem promissora, especialmente nos casos em que as opções de tratamentos comuns não são eficazes. O raciocínio por trás é simples, mas a tecnologia utilizada é complexa: reprogramar as células naturais do sistema imunológico para que elas atuem no combate às células malignas.

Uma das terapias celulares de maior evidência atualmente é a CAR-T, que utiliza células do próprio paciente, modificadas geneticamente, para atacar células relacionadas a tipos específicos de câncer sanguíneo, como a leucemia linfoblástica aguda (LLA) de células B, os linfomas não Hodgkin e o mieloma múltiplo.

Além dela, a terapia com células natural killers (“assassinas naturais”, em português, e abreviadas em inglês como NK) também vem ganhando destaque. As células NK, ao contrário das CAR-T, podem ser extraídas do sangue periférico ou do sangue de cordão umbilical e armazenadas para uso futuro, tornando o tratamento mais rápido e menos dependente de processos individuais.

“Além do alto custo, que pode chegar aos milhões, a terapia com células CAR-T é autóloga, ou seja, utiliza as células do próprio paciente, que podem estar debilitadas por tratamentos anteriores”, explica Virginia Picanço, coordenadora do Laboratório de Biotecnologia do Hemocentro da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto. O processo de manufatura dessas células leva cerca de duas a três semanas para ser concluído e o produto liberado. “Esse período de espera, infelizmente, pode resultar na perda de alguns pacientes antes que o tratamento seja recebido”, pontua.

Já as células NK, segundo Picanço, oferecem uma solução off the shelf. Significa que elas ficam disponíveis para ser usadas quando for necessário, e não são produzidas para um único paciente. As células natural killers recebem esse nome devido a sua capacidade de identificar e destruir células estranhas ao organismo, como aquelas infectadas por vírus ou cancerígenas. “Todos nós possuímos células NK, mas em pessoas com câncer elas podem se tornar menos eficazes em sua função”, explica a hematologista Lucila Kerbauy, coordenadora médica de terapia celular avançada do Hospital Israelita Albert Einstein.

Outra vantagem em relação às células CART-T é que, devido aos altos custos do tratamento com elas, muitas vezes o paciente acaba recorrendo a processos judiciais para obter acesso à terapia — que é produzida internacionalmente. Os valores, além de sobrecarregarem o sistema público de saúde, também evidenciam as barreiras socioeconômicas.

Justamente por isso, Virginia Picanço defende que, cada vez mais, as terapias celulares sejam desenvolvidas no Brasil. “Os custos dessas terapias são elevados para a realidade do sistema público de saúde. Por isso, quanto mais conseguirmos produzir essas terapias localmente, reduzindo a dependência de tecnologia estrangeira, mais acessíveis elas se tornarão, permitindo que um maior número de pacientes seja beneficiado”, defende a pesquisadora da USP.

Terapias celulares no cenário brasileiro

Já há estudos com células NK contra leucemia sendo conduzidos no Brasil. Em 2021, uma equipe liderada pela médica hematologista Lucia Silla, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), publicou no periódico British Journal of Haematology uma pesquisa pioneira no país utilizando células natural killers. No caso, o material era obtido a partir de doadores, com a finalidade de tratar casos de leucemia mieloide aguda (LMA).

Causada por alterações genéticas em células da medula óssea, a LMA é uma forma agressiva de câncer no sangue que afeta principalmente adultos. Nos últimos cinco anos, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou um aumento na quantidade de casos da doença, que passou de 144.895 em 2019 para 166.338 em 2023, salto de 15%. Paralelamente, os custos com tratamento para a condição também avançaram, passando de R$ 59 milhões para R$ 102 milhões, um aumento de 72%.

Em julho, o Einstein deu início a uma pesquisa que utiliza células NK extraídas de cordões umbilicais para tratar a LMA em pacientes que não respondem aos tratamentos tradicionais. O estudo já recebeu aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para avançar em testes com humanos. A primeira das três etapas consiste em avaliar se o tratamento é seguro para que, na próxima fase, seja determinada sua eficácia.

“A meta dos testes em humanos é verificar se essas células podem efetivamente tratar o tumor ou, ao menos, levar a doença à remissão, possibilitando ao paciente a realização de outro transplante”, explica o hematologista Nelson Hamerschlak, coordenador do Programa de Hematologia e Transplantes de Medula Óssea do Einstein. “Se o tratamento for bem-sucedido, poderemos oferecer uma nova esperança a pacientes que atualmente têm poucas opções além dos cuidados paliativos.”

A USP, por sua vez, está desenvolvendo uma abordagem diferente. Conforme explica Picanço, a pesquisa da universidade com células NK ainda está em fase inicial, focada na prova de conceito e no desenvolvimento de uma variante geneticamente modificada dessas células. “Nossa abordagem inclui a modificação genética das células NK, o que as torna mais específicas para atacar células neoplásicas CD19 positivas, comumente encontradas em leucemia do tipo linfoblástica aguda e linfoma”, relata a pesquisadora.

Além do alvo do tratamento, a fonte de células também é diferente: enquanto o Einstein usa células extraídas de cordões umbilicais, a USP e a UFRGS estão utilizando células de sangue periférico, obtidas de doadores adultos saudáveis. “É mais acessível para nós, considerando a estrutura do hemocentro. Nós temos um banco de cordão umbilical, mas o uso dessas amostras ainda está em trâmite, pois envolve algumas burocracias”, comenta Virginia Picanço.

A utilização de cordões umbilicais como fonte de células NK se deve ao fato de que, atualmente, há muitos cordões disponíveis em estoques públicos no país e que estão sem utilização. Além disso, apenas um cordão umbilical é capaz de gerar inúmeros tratamentos.  “Ao redor do mundo, temos mais de 1 milhão de bolsas de células de cordão umbilical estocadas, incluindo aqui no Brasil. Essas células foram congeladas principalmente com a intenção de ser usadas em transplantes de medula óssea, mas hoje essa aplicação é cada vez menos frequente”, relata Kerbauy. “Muitas dessas bolsas permanecem armazenadas, sem uso. Ao mesmo tempo, com apenas um cordão umbilical, conseguimos tratar, no mínimo, 10 pessoas”, destaca a médica hematologista.

Segundo ela, as terapias celulares para tratar LMA são importantes porque a demanda de pacientes com essa condição é significativa, e as chances de cura para aqueles que não respondem aos tratamentos convencionais são baixas. O objetivo é que, no futuro, o tratamento com células NK seja disponibilizado como um “produto de prateleira”, pronto para uso, o que tornaria o tratamento mais rápido e acessível para os pacientes.

“Seria algo mais genérico, que não exigiria compatibilidade genética. Isso também será testado neste estudo: se realmente não será necessário ter compatibilidade genética entre o cordão umbilical e o paciente. Se demonstrarmos que é seguro nesse sentido, poderemos tratar qualquer pessoa, independentemente da compatibilidade genética”, destaca Kerbauy.

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Saúde

Cresce incidência de câncer de vagina no mundo; Brasil tem redução de casos

Doença é rara entre os tumores ginecológicos e está associada à infecção pelos vírus HPV e HIV, além de baixos índices de desenvolvimento socioeconômico

 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

A incidência do câncer de vagina vem crescendo no mundo todo, revela um levantamento global de tendência da doença e fatores associados a ela nos últimos dez anos, publicado em junho no periódico Obstetrics & Gynaecology. O Brasil, no entanto, está na contramão e apresentou uma queda nesse período.

O câncer de vagina é raro e responde por apenas 2% dos tumores ginecológicos. Em 2020, foram diagnosticados cerca de 18 mil novos casos no mundo. Ele é caracterizado por lesões na vagina, o que não inclui a vulva nem o colo do útero. Costuma aparecer após a menopausa, mas estudos mostram um aumento também entre jovens. Com diagnóstico precoce, a taxa de sobrevida em cinco anos pode chegar a 69%. Essa chance cai para 26% se há metástase.

A doença está associada, principalmente, à infecção pelo papilomavírus humano (HPV), mas o levantamento também mostra uma relação com baixos índices de desenvolvimento humano (IDH), sexo desprotegido e infecção pelo HIV — que reduz a imunidade, deixando a pessoa mais vulnerável ao HPV — em pessoas de 15 a 74 anos.

Esses fatores respondem por uma grande variação regional na incidência global desse câncer: as maiores taxas estão na África e em regiões da Ásia, sendo que nesses locais os índices são quatro vezes mais altos do que no Sudeste Asiático, por exemplo, onde há menos casos. Islândia, Chile, Bahrein e Reino Unido apresentam as maiores tendências de alta. Por outro lado, o Brasil, ao lado de países como Noruega, França e Áustria, teve uma queda. Já Uganda mostrou uma baixa possivelmente associada à redução do HIV, sugerem os autores.

“O artigo reforça pontos e fatores de risco conhecidos, mas que precisam sempre ser destacados para guiar medidas práticas e objetivas na prevenção local e globalmente”, analisa o ginecologista e obstetra Mariano Tamura, do Hospital Israelita Albert Einstein. “Uma delas é a importância da vacinação contra o HPV que, embora esteja disponível desde 2006, ainda é muitas vezes subutilizada, além de medidas de educação e proteção contra infecções sexualmente transmissíveis, principalmente em áreas de baixo IDH.”

Para fazer o levantamento, os autores usaram o Global Cancer Observatory, que traz registros sobre a incidência de câncer em 185 países, categorizados por faixa etária. Na análise de fatores de risco — como fumo, consumo de álcool, sexo seguro, obesidade e infecção pelo HIV — o estudo se baseou no Global Burden Disease. Todos os dados foram cruzados com números do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e Produto Interno Bruto (PIB) de cada país.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

25% dos sarcomas, tipos raros de câncer, são diagnosticados incorretamente

Os sarcomas representam cerca de 1% dos tumores diagnosticados anualmente e possuem cerca de 100 subtipos; faltam no Brasil centros especializados para o tratamento desses pacientes 

 

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

“Eu tinha uma vida comum e ela passou a ser extraordinária após a descoberta do sarcoma.” Foi com essas palavras que a auxiliar em contabilidade Patrícia Figueiredo, 35 anos, descreveu como foi receber o diagnóstico de sarcoma – o termo utilizado para definir um conjunto de tipos raros de câncer, com cerca de 100 subtipos, que atingem especialmente ossos e partes moles, como músculos, células de gordura, cartilagens e vasos sanguíneos. Eles representam cerca de 1% dos casos de tumores sólidos descobertos anualmente.

Os sarcomas são tumores das células mesenquimais, que são as de apoio e suporte físico e estrutural ao nosso corpo, como músculo, gordura e ossos. Em geral, eles surgem nas extremidades (pernas e braços), no retroperitônio (entre os órgãos abdominais) e nas paredes torácica ou do abdômen. A doença pode acometer pessoas de qualquer idade. Alguns subtipos que afetam os ossos são mais comuns na infância e adolescência, enquanto outros subtipos, especialmente os sarcomas de partes moles, em sua maioria, atingem mais os adultos acima de 50 anos.

A doença é tão incomum e difícil de ser diagnosticada que sua incidência não é registrada pelo Globocan (Global Cancer Observatory), pelo Cancer Incidence in Five Continents (CI5) e nem pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca). As estimativas de casos novos são baseadas em registros de câncer de países desenvolvidos, como os Estados Unidos e algumas nações da Europa, o que complica ainda mais o controle epidemiológico da doença. A literatura estima que até um quarto dos diagnósticos (25%) sofrem atrasos ou estão errados por causa da dificuldade de identificação correta do subtipo do tumor – e isso tem um impacto direto no tratamento do paciente.

A auxiliar em contabilidade é um exemplo de dificuldade diagnóstica inicial, o que afetou a conduta do seu tratamento. O seu primeiro sintoma foi um sangramento menstrual intenso, com a perda de coágulos, que não cessava e lhe causava dores fortes. Após consultar seu ginecologista, ela foi diagnosticada com miomas no útero e recebeu a recomendação de retirada do órgão. Depois da cirurgia, as dores passaram e ela conta que ficou aliviada por poder retomar a rotina. Como de praxe, um fragmento do útero foi enviado para biópsia e a conclusão do material surpreendeu a todos: ela tinha um sarcoma, que foi classificado inicialmente como de baixo grau.

“Quando perguntei se isso era câncer, o médico balançou a cabeça dizendo que sim. Nesse momento, eu soube que aos 34 anos, com dois filhos pequenos, que tinha um câncer raro, que representa menos de 1% dos casos. Não conhecia ninguém com a mesma doença e meu médico não sabia muito bem como conduzir o tratamento, por ser algo extremamente raro. Comecei a chorar. Mas minha fé é inabalável, independente do que o papel diga”, conta Patrícia. O ginecologista a encaminhou para iniciar o tratamento com um oncologista no sistema público de saúde, em um hospital de referência em câncer no interior de São Paulo.

Mas foi justamente a classificação equivocada do tipo de sarcoma dela que atrapalhou a conduta médica e fez o câncer avançar rapidamente. De acordo com Roberto Pestana, oncologista clínico do Hospital Israelita Albert Einstein e pesquisador da Equipe de Sarcoma do Grupo Cooperativo Latino-Americano de Oncologia (Lacog), como são tumores muito raros e há poucos dados disponíveis sobre esse tipo de câncer no Brasil e no mundo, ainda existem dificuldades para o diagnóstico.

“Isso faz com que a história desses pacientes envolva, em geral, um tempo longo entre os sintomas iniciais e até ele procurar um médico. Depois disso, pela raridade dos tumores, muitas vezes o diagnóstico de sarcoma não é considerado. E, por serem tumores raros, quando o exame é enviado para biópsia, há o risco de erro: são mais de 100 tipos, muitas vezes semelhantes entre si no microscópio. O diagnóstico final ainda pode depender de testes moleculares adicionais, que nem todo lugar faz”, explica o oncologista.

Segundo Pestana, a demora na identificação correta da doença pode fazer o paciente perder um tempo que é extremamente importante para o controle da doença. “Cada passo da jornada desse paciente é um desafio. Muitas pessoas nunca ouviram falar de sarcoma, então é difícil até saber onde elas podem receber o tratamento”, ressalta.

Com o diagnóstico de sarcoma de baixo grau, Patrícia foi orientada a apenas monitorar a evolução da doença. Entre idas e vindas, ela voltou a sentir fortes dores abdominais e novos exames mostraram um pequeno nódulo no pulmão, outro no abdômen, outro no retroperitônio, o que indicava metástases. Ela foi encaminhada então para o serviço de cuidados paliativos do hospital e começou a usar uma medicação hormonal oral. “Após o início da medicação, os nódulos dobraram de tamanho e eu continuei com dores absurdas.”

Diante da piora do quadro clínico, a jovem resolveu ouvir uma segunda opinião, repetiu os exames, refez a análise patológica do tumor e descobriu que tinha sim um sarcoma, mas ele não era de baixo grau – era um tumor de alto grau, estágio 4 (mais agressivo e já avançado). Um PET scan mostrava mais de 20 nódulos somente no pulmão. “Eu parecia um dálmata, de tantos pontos pretos”, diz. Foi preciso mudar completamente a conduta do tratamento, com o início imediato de ciclos de quimioterapia a cada 21 dias. Cinco dias após o início, já havia a melhora dos sintomas. No terceiro ciclo, o PET scan já mostrava a redução significativa de todos os nódulos.

 

Poucos centros especializados 

Pestana e outros oncologistas fizeram uma ampla revisão de estudos sobre sarcomas publicados nos últimos 30 anos e constataram que existem vários obstáculos que levam ao diagnóstico tardio e à falta de cuidados adequados para o paciente. O trabalho foi publicado na revista médica The Lancet Regional Health Americas.

A pesquisa aponta que, de 1.941 estudos clínicos sobre sarcomas, somente 29 deles estavam disponíveis em países da América do Sul. Considerando os 632 ensaios em andamento atualmente, somente oito incluíam países da América do Sul – menos de 2% do total de pesquisas. Segundo o oncologista do Einstein, essa limitação dificulta o acesso a novos tratamentos e o desenvolvimento de abordagens personalizadas para o tratamento desses pacientes nessa região.

Outro ponto destacado pelo médico é que a literatura mostra que esses pacientes recebem um tratamento melhor e vivem mais se forem tratados e acompanhados em centros especializados em sarcoma, o que praticamente não existe no Brasil e em outros países da América Latina. “Ainda é incipiente essa organização da rede de cuidado, de forma a garantir que os pacientes sejam encaminhados para centros especializados. Em alguns países, especialmente na Europa, existem redes diagnósticas e de tratamento que organizam a jornada desses pacientes e centralizam em locais específicos, o que melhora o desfecho”, reforça.

A auxiliar em contabilidade terminou os seis ciclos de quimioterapia e atualmente faz o acompanhamento do câncer com exames de rotina a cada dois meses. “Entendi o meu propósito por meio da dor. Mas nada seria possível sem a minha rede de apoio familiar e a minha fé. Hoje minha vida é uma folha em branco e escrevo cada página diariamente. Assim como tenho um câncer raro, que representa menos de 1% dos casos, posso dizer que sou o 1% que sobreviveu a ele”, finaliza.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

América Latina tem a segunda maior taxa de mortalidade por câncer de colo do útero   

No Brasil, as diferenças regionais são um desafio para o rastreamento da doença. Um exame molecular essencial para diagnosticar e prevenir a doença é incorporado no SUS 

 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Menos da metade das latino-americanas (48%) fizeram o papanicolau, exame para a prevenção do câncer de colo do útero, nos últimos três anos. E a desigualdade entre os países e regiões é um desafio para as metas de eliminação da doença da Organização Mundial da Saúde (OMS), o que se reflete na diferença de incidência e mortalidade desse tumor. A América do Norte, por exemplo, tem a menor taxa de mortalidade do mundo e a América Latina a segunda maior, só perdendo para a África. Os dados são de um estudo publicado no The Lancet.

O Brasil, com uma incidência de 15,38 a cada 100 mil mulheres/ano, ainda está longe do objetivo da OMS de quatro casos para cada 100 mil mulheres/ano até 2030. Mas, segundo os autores do estudo, a falta de dados consolidados em um único registro – considerando inclusive o sistema público e a saúde suplementar – pode gerar distorções nos números do rastreamento.

Atualmente a doença é o terceiro tipo de câncer mais incidente em mulheres no Brasil, excluídos os tumores de pele não melanoma, e a quarta causa de morte por tumores em mulheres. Mas há grandes diferenças regionais: no Norte e Nordeste, está em segundo lugar, enquanto no Sul e Sudeste, ocupa o quarto e o quinto lugares, respectivamente, de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). “Quanto maior a interiorização, menos acesso ao diagnóstico e tratamento precoce”, diz o ginecologista e obstetra Mariano Tamura, do Hospital Israelita Albert Einstein.

De fato, a taxa de mortalidade na Região Norte, por exemplo, é o dobro da nacional – 9,07 contra 4,51. Embora um relatório recente do Inca estime que 80% das mulheres na faixa dos 25 aos 64 anos façam o rastreamento, há uma disparidade muito grande no acesso – tanto que 35% dos tumores ainda são diagnosticados em fase avançada. Cerca de 6% das brasileiras nunca fizeram o exame – e esse número chega a 15% em estados como Paraíba e Alagoas.

Recentemente, o exame molecular para detectar o HPV, considerado o padrão ouro para a prevenção e o rastreamento do câncer de colo de útero, foi incorporado pelo SUS. Esse teste coleta material genético do vírus e é capaz de apontar sua presença mesmo antes de qualquer sintoma ou lesão e, segundo a OMS, faz parte das estratégias para a redução dos casos.

 

Um câncer altamente prevenível

Causado pelo papilomavírus humano (HPV), o câncer de colo de útero pode ser evitado e normalmente tem uma progressão lenta a partir de lesões com potencial maligno. Para evitar o desenvolvimento da doença é preciso fazer o rastreamento e o diagnóstico precoce de lesões suspeitas.

Hoje recomenda-se que as mulheres entre 25 e 64 anos façam o papanicolau anualmente. Após dois exames seguidos (com um intervalo de um ano) apresentando resultado normal, o preventivo pode passar a ser feito a cada três anos. Esse exame é capaz de apontar alterações suspeitas nas células, mas pode apresentar falhas. Já o teste molecular que detecta o HPV tem uma sensibilidade muito maior e ajuda a traçar o perfil de risco da paciente.

Vale lembrar que a prevenção da doença envolve o uso de preservativos nas relações sexuais e a vacinação contra o HPV, disponível na rede pública para meninas e meninos de 9 a 14 anos e pessoas imunossuprimidas entre 9 e 45 anos.

“É um câncer que costuma afetar mulheres entre 30 e 50 anos, que estão em idade reprodutiva e numa fase muito ativa da vida, muitas ainda não têm filhos ou têm filhos pequenos”, explica Tamura.

Quando diagnosticado em estágio inicial, o tratamento é mais fácil e pode ser feito de forma ambulatorial, com o uso de ácidos, laser e mesmo remoção cirúrgica, preservando o colo do útero, as funções uterinas e a fertilidade.

A iniciativa da OMS para a eliminação da doença ou a redução da incidência até 2030 inclui ter 90% das garotas vacinadas contra o HPV até os 15 anos de idade, garantir que 70% das mulheres entre 35 e 45 façam pelo menos dois exames de rastreio e tratar 90% das lesões pré-cancerosas e tumores invasivos.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Ferida que sangra e não cicatriza pode sinalizar um câncer de pele 

O carcinoma basocelular é o tipo mais comum de câncer de pele e o tratamento precoce resolve o problema definitivamente; visita ao dermatologista deve ser anual 

 

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

Sabe aquela feridinha no seu rosto que parece simples, que não incomoda em nada, mas insiste em sangrar e não cicatriza? Cuidado. Ela pode indicar um carcinoma basocelular – o tipo de câncer de pele mais comum na população e o de menor mortalidade. Apesar disso, se não tratado adequadamente, ele pode aumentar de tamanho e deixar mutilações significativas e indesejadas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que sejam diagnosticados de 2 a 3 milhões de novos casos de câncer de pele não melanoma todos os anos no mundo.

“O câncer de pele, independentemente do tipo, é o mais comum no ser humano. Não existe outro câncer que chegue próximo do número de casos de câncer de pele, nem mesmo de próstata ou de mama, que são os mais falados. Pode parecer esquisito, mas uma hora ou outra, provavelmente, a gente vai descobrir um câncer de pele”, alertou o dermatologista Andrey Malvestiti, do Hospital Israelita Albert Einstein. 

De acordo com o médico, os adultos que hoje têm por volta de 40 anos são de uma geração que na infância foi muito exposta à radiação solar sem proteção – quando viajava para a praia, por exemplo, “trocava” de pele (descascavam) com frequência. “Somos de uma geração que foi chumbada pelo sol ao longo da vida, numa época em que pouco se falava sobre os efeitos danosos do sol para a pele e menos ainda sobre a importância do uso de protetor solar. Por isso é tão comum esse tipo de câncer”, disse o dermatologista.

Existem muitos tipos de câncer de pele, sendo os mais comuns o carcinoma basocelular (que representa cerca de 80% dos casos), o carcinoma espinocelular (cerca de 15%) e o melanoma (que corresponde a aproximadamente 5% dos casos). Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), os cânceres de pele não melanoma representam 30% de todos os tumores malignos registrados no país, ou seja: três em cada dez casos de cânceres diagnosticados aqui são de pele. “O lado bom dessa história é que a maioria, especialmente o basocelular, não é agressiva e é altamente tratável e curável com a cirurgia”, disse Malvestiti.

Como desconfiar? 

Todo câncer de pele começa por causa da reprodução desordenada de alguma célula da pele. O carcinoma basocelular – como o próprio nome diz – tem origem na camada basal da epiderme, que é mais fina e mais externa. Trata-se de uma lesão maligna de crescimento muito lento, por isso, pode ser que as pessoas passem anos da vida sem saber que têm um câncer de pele.

Em geral, o carcinoma basocelular costuma afetar mais os homens do que as mulheres, atinge mais comumente as pessoas de pele mais clara e é mais frequente em adultos com mais de 40 anos, com exceção dos que já possuem alguma doença de pele. Ele costuma aparecer nas áreas mais expostas à radiação solar, especialmente no rosto, nas orelhas e nos membros (braços e pernas).

Segundo Malvestiti, o sangramento aparentemente sem importância é o principal sinal de alerta e costuma ser o motivo que leva as pessoas a procurarem o dermatologista. Isso acontece porque as células cancerígenas precisam de sangue para se nutrir e continuar crescendo – então a região do tumor costuma ser mais vascularizada. Além disso, o tecido que recobre o tumor após o sangramento é mais frouxo do que o tecido da pele saudável, por isso, qualquer toque mais forte faz com que ele sangre.

“Se uma feridinha na pele não cicatrizou completamente em duas ou três semanas e sangra com facilidade, procure um médico. É muito raro um machucado que não cicatrize em um mês”, alertou o dermatologista. 

O diagnóstico é confirmado por meio da biópsia, mas um dermatologista experiente costuma identificar durante a consulta quando se trata de um carcinoma basocelular por meio das características clínicas e da análise da lesão com o uso do dermatoscópio – uma lente que aumenta dez vezes a imagem.

“Após a biópsia, se for confirmado que é um tumor, eu sempre digo aos meus pacientes que tenho duas notícias. A notícia ruim é que é um câncer de pele e precisa ser tratado. A boa notícia é que o carcinoma basocelular não dá metástase (ela pode acontecer muito raramente, em menos de 0,01% dos casos), o que significa que ele não se espalha para outras partes do corpo. Porém ele não para de crescer. Se a pessoa não tirá-lo, ele pode aumentar e causar problemas funcionais, como atrapalhar a visão. Sem falar do risco estético, pois, quanto maior o tumor, mais complexa é a cirurgia para removê-lo e mais cicatrizes existirão”, alertou o médico do Einstein.

O tratamento de escolha padrão ouro do carcinoma basocelular é cirúrgico – normalmente feito em consultório, com anestesia local. O objetivo é retirar completamente a lesão e o tecido ao redor, como uma margem de segurança. Outros recursos terapêuticos menos usados são a criocirurgia (também conhecida como crioterapia) com nitrogênio líquido, laserterapia, curetagem, eletrocoagulação e radioterapia – eles são indicados para casos específicos.

A prevenção, ressalta Malvestiti, inclui proteger a pele da exposição solar com o uso do filtro solar diariamente e evitar ficar no sol entre 10 e 14 horas, além de tomar outras medidas de barreira, como usar óculos de sol, boné, chapéu, blusas de manga comprida e proteção ultravioleta.

Também é importante que as pessoas incluam a visita de rotina ao dermatologista pelo menos uma vez ao ano, mesmo sem sintoma nenhum. “Na consulta, o ideal é que elas tirem a roupa para que o médico possa avaliar o corpo todo, incluindo as costas e as pernas. Pode ser que o paciente tenha um câncer e nem saiba simplesmente porque não consegue enxergá-lo”, finalizou o médico.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Saiba como se preparar para a colonoscopia  

Cercado de tabus, o exame avalia a saúde do intestino e previne o câncer. Saiba como é feito o preparo dessa avaliação, que deve ser realizada por todos após os 45 anos 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Não tem como escapar: mais cedo ou mais tarde, todo mundo vai se deparar com a colonoscopia, o exame que avalia a saúde do intestino e é essencial para diagnosticar doenças – desde as inflamatórias até os tumores. Por ser rodeada de tabus e preconceitos, muitas pessoas adiam essa avaliação, que pode ser solicitada em um check-up de rotina após os 45 anos ou antes se o paciente tiver algum sintoma – como perda de peso sem motivo aparente e/ou sangramento nas fezes –, ou ainda algum fator de risco para o câncer.

Se houver casos de câncer de intestino na família, a colonoscopia deve ser feita dez anos antes da idade com que o familiar mais jovem foi diagnosticado. Portadores de síndromes genéticas que elevem o risco desse tumor devem fazer um primeiro exame precocemente, muitas vezes ainda na infância.

O exame é rápido, indolor e salva vidas, principalmente agora, quando se tem notado o aumento dos casos de câncer colorretal, inclusive entre os mais jovens. A boa notícia é que a colonoscopia, dependendo do histórico do paciente e do resultado da colonoscopia anterior, pode ser repetido somente a cada dez anos. A periodicidade do exame poderá ser menor – alguns pacientes fazem anualmente –, dependendo dos fatores de risco desse paciente.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de intestino é o segundo mais incidente no Brasil, atrás apenas dos de próstata e de mama. Estima-se que 46 mil novos casos surgirão no triênio 2023-2025. O Inca também registrou o aumento da incidência nos mais jovens, na faixa dos 20 aos 49, e naqueles entre 50 e 69 anos no período de 2000 a 2015. A doença está muito associada à alimentação pobre em fibras e com excesso de ultraprocessados e carne vermelha, além de sedentarismo e obesidade.

 

Por que fazer? 

O câncer de intestino tem altíssima chance de cura se for detectado precocemente. A grande vantagem é que ele normalmente leva anos para se desenvolver e costuma surgir a partir de pólipos, que são lesões benignas que se formam na parede do órgão. Na colonoscopia, é possível visualizá-los e retirá-los ao mesmo tempo, muito antes de virarem câncer.

“É um exame de baixo risco, que ajuda tanto a diagnosticar precocemente quanto a prevenir a doença. Quando bem indicado, o benefício é muito maior do que os riscos”, diz o gastroenterologista Rafael Ximenes, do Hospital Israelita Albert Einstein, em Goiânia. “Com o avanço da técnica e a melhoria dos equipamentos, o risco de complicações é raro”, ressalta o médico, que enfatiza que o exame deve ser feito por profissionais experientes, principalmente para os casos que exigem algum tratamento, como a ressecção de lesões maiores.

 

Como é feito o exame? 

O exame em si é bastante simples: um tubo bem fino, com uma câmera na ponta, é inserido no paciente via anal. Com o auxílio desse equipamento, chamado colonoscópio, o médico consegue explorar todo o intestino grosso e uma parte do delgado e reto, fazendo imagens e retirando as lesões quando for o caso. Tudo é feito sob sedação, portanto a pessoa não sente nada. Dura em torno de meia hora ou 40 minutos – mas pode ser um pouco mais, dependendo das lesões a tratar.

 

O preparo para o exame 

Essa é a parte que assusta muita gente, pois requer uma restrição alimentar rigorosa na véspera do exame. O sucesso da colonoscopia, explica o médico, depende do preparo adequado, o que significa que o intestino deve estar completamente limpo de qualquer resíduo. Estima-se que algo em torno de 20% dos exames não podem ser realizados porque o preparo foi incorreto, o que muitas vezes só é percebido na hora. Além disso, essa falha leva a maior demora e maior taxa de complicações, além da possibilidade de não detectar as lesões. Por isso, a orientação é seguir rigorosamente as instruções do local onde ele será feito para não ter que repetir a dose.

Como explica Ximenes, o preparo correto começa quando o médico pede o exame. “É a horar de conversar sobre a indicação, os benefícios e os riscos. Essas informações são essenciais para tranquilizar o paciente”, diz o médico.

Os cuidados com a alimentação começam um ou dois dias antes, dependendo das orientações. Normalmente, na véspera você não vai poder ingerir absolutamente nada sólido, apenas líquidos claros, para evitar que a coloração seja confundida com sangue. São liberados sucos de frutas sem resíduos, como laranja e maçã, água de coco, chá de camomila, picolés de fruta, como limão (sem leite), e gelatinas claras. No almoço e no jantar, apenas um caldo ralo e coado. Dependendo do caso e das orientações médicas, pode ser considerado um suplemento alimentar líquido.

Além da dieta especial, é preciso tomar remédios com efeitos laxativos para auxiliar na eliminação dos resíduos. A partir daí, a pessoa evacua várias vezes durante algumas horas, até que a limpeza esteja completa. Ao final, as fezes devem estar completamente líquidas e claras, com o aspecto similar ao de urina ou guaraná.

Por envolver diarreia, é essencial se hidratar muito bem. Mas duas horas antes do exame não se pode tomar absolutamente nada. Pacientes com maior risco de desidratação podem precisar de preparo hospitalar para receber a hidratação endovenosa.

Ao agendar o exame, procure tirar todas as dúvidas e mencionar qualquer medicamento de uso contínuo. Alguns, como os que afetam a coagulação, devem ser suspensos.

A colonoscopia pode ser feita em qualquer horário, mas tenha em mente que, ao fazer no período da manhã, a parte mais difícil do preparo acontece de noite e pode atrapalhar o sono. Também leve em conta que são dois dias em que as atividades normais estarão um pouco mais limitadas.

 

E após o exame? 

Ao acordar completamente da sedação, já se pode comer algo leve e ir para casa. Normalmente não há nenhum desconforto, mas podem surgir dores leves e gases, que somem em poucas horas. Nesse dia, não se deve fazer atividade física nem dirigir, e nem se recomendam tarefas que exijam muita atenção. Se foi feito algum tratamento em lesões, pode haver um leve sangramento nas fezes no dia seguinte.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Perder peso sem um motivo aparente está associado ao maior risco de câncer

Um estudo dos EUA mostra que emagrecer de forma não intencional está associado a maior risco de ter um diagnóstico de tumores; avaliação médica e essencial  

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

A perda de peso sem nenhuma razão deve ser um sinal de alerta e pode estar associada ao diagnóstico de tumores, reforça um novo estudo do Dana-Farber Cancer Institute, nos Estados Unidos, que foi publicado no Journal of the American Medical Association (Jama).

Sabe-se que os pacientes com câncer costumam perder peso, mas os autores queriam entender se a taxa de diagnósticos da doença era maior entre quem havia emagrecido recentemente de forma não intencional. Para isso, avaliaram dados de mais de 150 mil profissionais de saúde, que foram monitorados por 28 anos. A cada dois anos, os voluntários responderam questionários sobre atividade física e alimentação, o que permitiu aos cientistas analisarem comportamentos que poderiam ser responsáveis pelo impacto na balança. Aqueles que apresentaram uma perda acima de 10% do peso corporal tiveram maior risco de ter um diagnóstico de câncer no período de 12 meses após o emagrecimento. No estudo, a perda foi associada a doenças em estágio precoce e avançado.

Segundo Ludmila Koch, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein, a perda de peso pode ser o primeiro sintoma perceptível do câncer. “Ela está presente em até 40% das pessoas ao serem diagnosticadas, e mais de 80% dos pacientes com câncer avançado perdem peso.”

A médica explica que isso acontece porque a doença provoca a liberação de citocinas pró-inflamatórias e substâncias como a interleucina 6, que são compostos que fazem com que as células do corpo se destruam. Isso pode ocorrer em estágios iniciais, mas é mais comum nos avançados.

 

Quando a perda de peso deve ser uma preocupação? 

A perda de peso saudável envolve a intenção de perder peso, ou uma mudança de hábitos, como o aumento da atividade física e a redução da ingestão de calorias. Ela é considerada preocupante quando há a perda de 4,5 kg, ou 5% do peso corporal, entre seis e 12 meses, e sem motivo aparente.

“A perda de peso, somada ao aparecimento de algum sintoma novo e persistente, como tosse, dor, sangramento vaginal ou retal, cansaço não habitual, dor de cabeça e dor epigástrica (dor na boca do estômago), deve ser um motivo de alerta”, explica a médica.

Ela ressalta que a atenção deve ser ainda maior se a pessoa tiver algum fator de risco para câncer, como tabagismo, obesidade, histórico familiar de câncer, exposição a substâncias tóxicas e ao vírus HPV (papilomavírus humano).

Vale lembrar que há várias condições que podem levar à perda de peso e somente o médico é capaz de avaliar as causas. É o caso de alterações que promovem o chamado estresse catabólico ou inflamatório e um maior gasto energético, como certas doenças pulmonares, hipertireoidismo, doença inflamatória intestinal, doenças infecciosas e parasitárias, diabetes e depressão.

 

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Entenda como funciona o novo imunoterápico do SUS para tratar leucemia mais comum em crianças

O blinatumomabe, incorporado à rede pública em dezembro de 2023, demonstrou alta eficácia em ‘zerar’ a doença, aumentando a chance de os pacientes realizarem o transplante de medula.

 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

O blinatumomabe, novo imunoterápico utilizado no tratamento da leucemia linfoblástica B (LLA B), apresentou resultados mais eficazes que a quimioterapia enquanto os pacientes aguardam por um transplante de medula óssea. Em junho 2022, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), vinculada ao Ministério da Saúde, recomendou a incorporação do medicamento pelo SUS. Agora, em dezembro de 2023, a mesma comissão aprovou o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para tratamento da doença em pacientes de até 18 anos (19 incompletos) que sofreram recidiva da doença, ou seja, quando ela reaparece.

Para passar pelo transplante de medula óssea, um procedimento que pode levar à cura, pacientes com LLA B precisam entrar em remissão, ou seja, “zerar” a doença. Enquanto a quimioterapia apresenta uma taxa de sucesso de 54%, o imunoterápico elevou a chance para aproximadamente 90%.

“O medicamento possibilita que esses pacientes possam realizar o transplante que não aconteceria em outro cenário”, diz o oncologista Neviçolino Pereira de Carvalho Filho, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica.

Como funciona?

O medicamento, que já é usado amplamente no exterior, é um anticorpo monoclonal que age estimulando o sistema imunológico. Ele se liga tanto às células cancerosas quanto aos linfócitos T, facilitando o trabalho de reconhecer e destruir o tumor. A droga também tem menos efeitos colaterais que a quimioterapia.

“Vamos poder oferecer para os pacientes pediátricos um tratamento extremamente avançado e eficiente para essa condição na recidiva”, diz o hematologista Fabio Pires de Souza Santos, do Hospital Israelita Albert Einstein.

Novos estudos também já vêm demonstrando bons resultados do blinatumomabe quando usado como medicamento de primeira linha. Um deles, publicado em abril, testou o medicamento associado à quimioterapia em crianças que tinham um tipo muito agressivo de LLA, e constatou um aumento da sobrevida nesses pacientes.

“No Brasil, ele já é usado no setor privado e instituições públicas já vinham usando graças a parcerias com Organizações Não Governamentais (ONGs)”, afirma Carvalho Filho.

A LLA é o tipo mais comum de câncer pediátrico e tem altas chances de cura, mas exige um tratamento agressivo e rápido. Ela ocorre quando há uma mutação nos linfócitos, um tipo de glóbulo branco, que não amadurecem corretamente dando origem a uma célula anômala, chamada blastos leucêmicos. Essas células se multiplicam rapidamente e se acumulam na medula óssea, prejudicando o desenvolvimento das células saudáveis. Alguns dos sintomas são aumento dos gânglios, hematomas pelo corpo, sangramentos nas gengivas e no nariz, entre outros.

Fonte: Agência Einstein 

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