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Sérvia de 32 anos comanda o Fortaleza Basquete Cearense e já soma vitórias sobre Vasco e Botafogo
O treino no Ginásio do Maracanãzinho está prestes a começar. O Fortaleza Basquete Cearense se prepara para enfrentar o Flamengo pelo Novo Basquete Brasil (NBB). Alguns atletas já estão em quadra quando o som do pagode começa a tocar — algo muito familiar aos jogadores brasileiros, mas ainda novo para a técnica da equipe, a sérvia Jelena Todorovic, de 32 anos.
“Posso afirmar com confiança que danço forró muito bem, mas ainda estou aprendendo a sambar. Toco piano e canto, adoro a música brasileira. Não sei o que é melhor no Brasil, a música ou a comida”, conta, bem-humorada, em entrevista à Agência Brasil.
Este é o primeiro trabalho de Jelena como head coach, a principal função no banco de reservas. Após anos observando grandes técnicos do basquete europeu, ela sentiu que era hora de dar um novo passo. No Fortaleza, recebeu carta branca da diretoria para montar o elenco e implantar seu próprio sistema tático.
“Para mim, o time que vence é aquele que joga melhor coletivamente, não o melhor no papel”, resume.
Início promissor no NBB
O começo da técnica no campeonato nacional tem sido animador. Nos três primeiros jogos, todos realizados no Rio de Janeiro, o Fortaleza venceu Vasco e Botafogo, antes de ser superado pelo poderoso Flamengo.
Assim que assinou com o clube cearense, Jelena conversou com o técnico da seleção masculina, o croata Aleksandar Petrovic, e desde então tem buscado compreender melhor o estilo e a mentalidade dos jogadores brasileiros.
“Os atletas brasileiros, seja no futebol, vôlei ou basquete, sempre tiveram muita criatividade. Eles também são muito físicos. Tento trazer a influência europeia de atenção ao detalhe e disciplina, ensinando-os a ler o jogo. Existe uma barreira linguística, sim, mas com a ajuda deles eu consigo me comunicar”, afirma.
Ao assumir o comando do Fortaleza Basquete Cearense, Jelena Todorovic quebrou um tabu histórico: tornou-se a primeira mulher a dirigir uma equipe na liga masculina do NBB, criada em 2009.
“Certamente isso significa muito, mas eu me vejo, antes de tudo, como uma técnica. Toda pessoa deve conquistar seu espaço pelo que é capaz de fazer. Ser homem ou mulher, treinar um time masculino ou feminino, é desafiador do mesmo jeito”, destaca.
Jelena reflete sobre o preconceito e o desafio de impor autoridade em um ambiente tradicionalmente masculino:
“As pessoas acham que as mulheres não conseguem lidar com a pressão de um time masculino. Isso não é verdade. Existem homens que também não conseguem. A liderança vem do conhecimento e da forma como você se conecta com as pessoas, não do seu gênero”, afirma.
A técnica também carrega uma lembrança simbólica em cada jogo: um broche com uma foto sua aos quatro anos, quando já sonhava em ser treinadora.
“Uso esse broche para lembrar a mim mesma que, desde criança, nunca deixei ninguém dizer não para mim”, conclui.
Com o blazer que já virou sua marca registrada à beira da quadra e um começo promissor no NBB, Jelena Todorovic começa a construir uma trajetória pioneira no basquete brasileiro — abrindo caminho para que mais mulheres ocupem espaços de liderança no esporte.
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