ARTIGO

Opnião

A guarda dos filhos durante as celebrações de fim de ano

As festas de fim de ano costumam ser momentos de união e celebração em família, mas para pais divorciados, podem representar um desafio emocional e logístico: como dividir o tempo das crianças de maneira justa entre os dois? A organização da guarda durante o Natal e o Ano Novo é um tema recorrente no Direito de Família, especialmente em arranjos de guarda compartilhada. Segundo Lucas Costa, advogado especializado em Direito de Família e fundador do “Escritório para Mães” (@escritorioparamaes no Instagram), acordos claros e uma comunicação respeitosa são fundamentais para que as festas sejam tranquilas para os filhos.

“Os filhos não precisam carregar o peso da separação dos pais, e as festas de fim de ano são uma oportunidade para demonstrar maturidade e colocar o bem-estar deles em primeiro lugar”, destaca Lucas Costa.

Na prática, os acordos podem variar bastante. Muitos pais optam por dividir as datas: um deles fica com os filhos no Natal, enquanto o outro aproveita o Ano Novo. Em outros casos, as partes decidem alternar os anos – uma família celebra o Natal com as crianças em um ano, e no próximo a outra tem essa oportunidade. Lucas reforça que o mais importante é manter o foco na estabilidade emocional das crianças e evitar conflitos desnecessários.

“Esses acordos podem ser feitos informalmente, desde que as partes estejam alinhadas e cumpram o combinado. Mas quando há dificuldade de diálogo ou um histórico de desentendimentos, a recomendação é incluir cláusulas específicas no acordo judicial para evitar problemas futuros”, explica o advogado.

Além disso, Lucas ressalta que os combinados não devem ser apenas sobre quem fica com as crianças, mas também sobre os detalhes práticos, como horários de entrega e busca, programação das festas e até mesmo o tipo de presentes que cada um dará, para evitar duplicações ou desentendimentos.

E quando não há acordo?

Para situações em que os pais não conseguem chegar a um consenso, o advogado recomenda buscar uma mediação ou até mesmo recorrer à Justiça. “O mais importante é não expor os filhos ao conflito. O Natal e o Ano Novo são datas especiais, e o que deve prevalecer é o direito das crianças de vivê-las com alegria, independentemente do arranjo familiar”, afirma Lucas Costa.

O especialista também aponta que, em casos de guarda unilateral, o genitor que não detém a guarda tem direito à convivência durante as festas, salvo situações em que haja restrições legais. “O direito de convivência é algo que deve ser respeitado, pois fortalece o vínculo entre pais e filhos, mesmo após o divórcio.”

Boas práticas para festas em família

Lucas Costa lista algumas boas práticas que pais separados podem adotar para garantir que as crianças tenham um fim de ano feliz:

1.Planeje com antecedência: Organizar os horários e as datas com antecedência evita correria e discussões de última hora.

2.Comunique-se com respeito: Mantenha um diálogo respeitoso com o outro genitor e procure soluções que priorizem o bem-estar das crianças.

3.Evite competir pelo afeto dos filhos: Presentes excessivos ou disputas para agradar as crianças podem criar desconforto emocional. Foque em proporcionar momentos de qualidade.

4.Esteja aberto à flexibilização: Se surgirem imprevistos ou necessidades específicas, demonstre abertura para renegociar, desde que os filhos sejam sempre a prioridade.

5.Garanta que os filhos se sintam amados por ambos: Mesmo que os pais estejam separados, os filhos devem sentir que são prioridade para ambos os lados.

Com diálogo, organização e respeito mútuo, as festas de fim de ano podem ser momentos de união e felicidade para todos, mesmo em arranjos familiares diferentes. Lucas Costa reforça que, independentemente da situação, o que deve prevalecer é o direito das crianças a uma infância segura, equilibrada e repleta de boas memórias.

LUCAS COSTA é advogado, formado pelo Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA), com pós-graduação em direito processual civil pela Academia Brasileira de Direito Constitucional (ABDCONST).

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Colunistas

Protejam seus filhos

O clima natalino desperta em muitos de nós os sentimentos de renovação e união, especialmente em momentos de encontros familiares. Esse período é uma oportunidade única para os pais se reconectarem com seus filhos, relembrando o valor do cuidado e da proximidade.

Em tempos em que as pressões do dia a dia podem distanciar as famílias, é essencial buscar o simples prazer de estar junto, sem cobranças ou expectativas irreais. Sabemos que é difícil que os adolescentes, por exemplo, tenham uma boa relação com os genitores, mas precisamos quebrar essa regra: sejamos pais amigos, nos limites da responsabilidade, claro.

Costumo dizer que o ideal só existe na ideia. Muitos pais e mães projetaram filhos ideais, porém, a realidade muitas vezes se impõe trazendo dificuldades que nos fazem repensar a maneira como encaramos a vida. Hoje, muitos convivem com crianças autistas, com TDAH, com deficiências físicas e com outras limitações desafiadoras. Sendo o seu filho o “rei da matemática” ou não, é importante estreitar os laços com ele.

Valorizar os momentos em família, sem a pressão de ser o melhor na escola ou o mais habilidoso nos esportes, é vital. Quando vocês estiverem juntos, ria, se divirta, aprenda a jogar videogame, faça uma conta no TikTok e dance com ele, pague você o mico. Ser bom em matemática, o primeiro da sala, o craque do time ou passar no primeiro Enem não é tão importante quanto as lembranças que vocês construirão juntos ao longo da vida.

Num mundo onde o Uber superou a necessidade de levar os pequenos para as festinhas ou na casa dos coleguinhas, onde o IFood substituiu as refeições conjuntas, como os almoços especiais de domingo, onde as mensagens de WhatsApp são mais frequentes que abraços, e onde as telas muitas vezes criam barreiras para as conversas cara a cara, é nosso dever resgatar o contato humano, especialmente entre pais e filhos.

É importante lembrar que vivemos em um mundo perigoso para crianças. A todo momento, vemos notícias de crianças violadas até mesmo por familiares. Ter proximidade com seus filhos faz com que eles se sintam seguros e à vontade para compartilhar qualquer desconforto ou situação de abuso que possam enfrentar.

Os pais precisam se lembrar que o mundo está repleto de perigos e que os mais jovens, com sua vulnerabilidade, muitas vezes se tornam alvo de diversos tipos de violência, seja física, emocional ou virtual. É essencial que eles se sintam à vontade para recorrer à família em momentos de necessidade, encontrando um porto seguro onde suas preocupações, medos e relatos serão recebidos com acolhimento e seriedade.

Assim, nesse Natal convido pais, mães, avós e avôs, tios e tias, enfim, todos os familiares, para um resgate do espírito de cuidado e proteção. Que todos redescubram a alegria de serem os maiores apoiadores dos seus filhos, criando momentos felizes que fortalecerão laços e deixarão memórias duradouras.

Afinal, mais do que qualquer brinquedo sob a árvore, o maior presente que podemos oferecer é a nossa presença e nosso amor incondicional, independente de expectativas e cobranças irreais que a sociedade possa nos impor.

Professor Carlos André é educador e ativista pelos direitos da infância, autor do livro “Como Agentes Públicos se Desviam e o Impacto no Direito das Crianças”

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Opnião

A urgência de bons projetos para enfrentar os desafios climáticos

Muito se discute sobre a necessidade de aumentar o financiamento para enfrentar os desafios do clima, mas sem bons projetos e profissionais preparados, não será possível caminhar na direção correta

As mudanças climáticas já alteram a dinâmica de muitas cidades, trazendo grandes desafios a serem superados diante de tempestades, secas severas, ondas de calor e outros eventos extremos. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), 2024 tem tudo para ser considerado o novo ano mais quente da história. As manchetes alertam para um futuro muito desafiador e cada vez mais complexo, especialmente para os países menos desenvolvidos, que estão mais vulneráveis às consequências de um clima extremo.

Como resposta para um quadro que vem se agravando, ano após ano as nações em desenvolvimento clamam por mais financiamento para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas. A decepção com a meta de financiamento climático muito abaixo do esperado no acordo final da 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP29) mostra que ainda há uma enorme distância entre os recursos disponíveis e as necessidades dos países.
É justo que a busca por recursos financeiros, especialmente provenientes dos países mais ricos e que mais contribuíram para que chegássemos ao quadro atual, seja um dos temas prioritários nesses fóruns internacionais. Entretanto, tão importante quanto a busca pelo dinheiro é a clareza sobre o realmente precisa ser feito em cada país, em cada território.

Observamos que a adaptação eficaz para esta nova realidade carece de projetos robustos e estruturados, reunindo conhecimentos e experiências de diferentes áreas e setores da sociedade. Mas quais são as soluções mais acertadas? E, sobretudo, como não repetir erros do passado em locais já afetados por eventos extremos que tendem a se repetir e, talvez, com mais força?

O trabalho conjunto e integrado entre autoridades, especialistas, universidades, organizações da sociedade civil, investidores e empresários, cada um contribuindo com seu know-how, aponta para a elaboração e execução de projetos que atendam às demandas climáticas de cada região. Enquanto a luta para reduzir as emissões de gases de efeito estufa exige uma governança global, a adaptação às mudanças climáticas sempre deve ser local, pensada a partir das características de cada território.

Representantes do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) alertaram ao longo deste ano para a dificuldade em elaborar planos para a reconstrução de locais impactados por eventos climáticos extremos. Não bastam apenas recursos para reduzir transtornos imediatos, é necessário que administradores, antes de tudo, estruturem e apresentem projetos qualificados e habilitados para financiamento.

É aí que o modelo de ação conjunta e compartilhada pode fazer toda a diferença na vida daqueles que já sofrem com as dificuldades impostas pelas mudanças climáticas. Nessa proposta de atuação coesa, é possível apontar iniciativas cujo modelo pode contribuir e servir de inspiração na proteção de regiões brasileiras sensíveis às instabilidades climáticas. Programas pioneiros como o Acelerador de Soluções Baseadas na Natureza em Cidades, realizado pelo WRI Brasil em parceria com a Fundação Grupo Boticário, entre outros parceiros, precisam ser incentivados e ganhar mais escala.

A experiência mostrou que é necessário – e possível – criar ambientes para a colaboração, capacitação e desenvolvimento de ideias e soluções para desafios climáticos nas diferentes realidades do nosso país. É preciso investir em tempo de qualidade para que profissionais que atuam em diferentes áreas do poder público possam se desenvolver com mentorias e orientações técnicas e possam cocriar, aperfeiçoar e buscar soluções inovadoras, aplicáveis e com potencial de escala para contribuir no enfrentamento de desafios ambientais contemporâneos.

Outra lição aprendida é a certeza de que, para qualquer projeto idealizado para conter os efeitos das mudanças climáticas, devemos apostar nos benefícios das Soluções Baseadas na Natureza. É preciso, por exemplo, aumentar a capacidade de infiltração da água no solo; conciliar a infraestrutura convencional – cinza – com soluções verdes, como parques alagáveis, lineares e jardins de chuva. Sem esquecer de iniciativas individuais, como a captação da água da chuva em empreendimentos industriais, comerciais e residenciais, além dos telhados e paredes verdes.

Diante da dificuldade em estruturar projetos relacionados às emergências ambientais nos municípios, o Plano Clima, em desenvolvimento pelo Governo Federal, precisa estar conectado com a percepção local, em diferentes setores da sociedade, para chegar a uma política climática brasileira consistente e exequível para ser efetivamente praticada nos próximos anos.

Esse movimento também deve ter participação da iniciativa privada. O conceito de ESG ‒ compromisso público de corporações considerando maneiras de reduzir o impacto ambiental que suas ações provocam e aumentar os benefícios sociais e melhorar a gestão de seus processos, com foco na transparência ‒ ganha espaço na proposta de coparticipação de empresas na idealização de projetos de adaptação.

Para isso, as organizações podem identificar vulnerabilidades na realidade em que estão inseridas e elaborar planos de adaptação e operação com potencial de transformar seu entorno, desde que a empresa assuma papel de articulador de recursos e na governança das ações. Assim, investir em soluções sustentáveis não se trata somente de se adaptar às mudanças climáticas, mas também participar de transformações na sua comunidade, agregar valor aos produtos e aumentar sua competitividade no mercado global com atributos ambientais.

A cooperação de diversos segmentos da sociedade, com ações coordenadas e integradas que vão além do esforço das autoridades locais, torna-se uma exigência para enfrentar a nova realidade que vivemos. Também requer visão sistêmica, entendimento sobre as causas e consequências dos eventos climáticos extremos, compartilhamento e associação de experiências e conhecimentos multissetoriais para a criação e implementação de alternativas inovadoras e duradouras. Infelizmente, temos pouco tempo para ajustar a nossa rota…

 

(*) Malu Nunes é diretora-executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza

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Opnião

Agora é o momento de agir

A grande verdade que precisamos aceitar no momento é que a Inteligência Artificial não é mais uma tendência futura, algo que só se via nos filmes de ficção científica; ela é uma realidade presente, moldando e redefinindo a forma como interagimos com o mundo, especialmente no âmbito dos negócios.

A IA pode automatizar processos, aumentar a eficiência, personalizar experiências dos clientes e fornecer insights valiosos a partir de dados complexos. Para isso, porém, é preciso compreender que existem métodos e frameworks que atuam como ferramentas indispensáveis para navegar neste cenário.

A tropa digital, os assistentes e agentes de IA, por exemplo, são os novos membros das equipes, realizando tarefas repetitivas e complexas com precisão e velocidade impressionantes. Esses agentes não substituem a criatividade e o julgamento humano, mas amplificam nossas capacidades, permitindo que nos concentremos no que fazemos de melhor: inovar, criar e liderar.

No entanto, implementar IA não está isento de desafios. Questões éticas, privacidade de dados e a necessidade de promover uma mudança cultural dentro das organizações são aspectos críticos que não podem ser negligenciados.

Agora, mais do que nunca, é o momento de agir. A tecnologia que antes parecia distante está hoje ao alcance de todos, pronta para ser integrada às operações diárias.

Por isso, faço um chamado de ação a todos os líderes, empreendedores e profissionais que desejam se manter à frente da curva e garantir a relevância e competitividade de suas empresas no mercado atual.

A Inteligência Artificial oferece uma oportunidade incrível de reinventar processos, otimizar recursos e criar valor de maneiras que antes eram inimagináveis. Vivemos uma era de inovação acelerada, em que aqueles que adotarem a IA não apenas sobreviverão, mas prosperarão.

Chegou a hora de dar o próximo passo. Chegou a hora de “IAficar” sua empresa e rotina com a tropa digital. Isso vai muito além de uma transformação tecnológica; trata-se de uma jornada de crescimento, aprendizado e inovação.

O verdadeiro poder da IA está em sua capacidade de potencializar o melhor de nós mesmos, permitindo que cada desafio se torne uma oportunidade e cada ideia, uma revolução. O futuro já chegou – e é hora de você liderar essa nova era com propósito e determinação.

Rodrigo Nascimento é especialista em Marketing por Dados e Performance Digital e autor de “IAfique-se ou Morra” (DVS Editora).

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O valor da vida e as negativas de cobertura dos planos de saúde

Uma decisão liminar do Tribunal de Justiça de São Paulo trouxe à tona, mais uma vez, o debate sobre os limites da atuação dos planos de saúde e o direito à vida. Na última quinta-feira, 21 de novembro, a Justiça determinou que a SulAmérica, uma das maiores operadoras de saúde do país, autorizasse, em até 24 horas, a implantação de um marca-passo definitivo em um aposentado de 78 anos. O paciente, internado desde o início do mês na UTI do Hospital Samaritano, em São Paulo, corre risco de vida devido a uma condição grave de bradicardia severa. Entretanto, até o momento, a operadora se nega a realizar o procedimento por questões financeiras e administrativas. E a questão que fica é: existe valor para a vida de um paciente?

Importante destacar que em caráter emergencial, o idoso havia recebido um marca-passo provisório, mas a solução temporária o mantém imobilizado, expondo-o a complicações graves como escaras e infecções. Mesmo diante da urgência médica, a SulAmérica negou o procedimento definitivo, alegando “ausência de cobertura contratual”. A negativa levou a família a buscar assistência jurídica.

A decisão judicial foi necessária diante da postura da operadora. Trata-se de um procedimento essencial para a sobrevivência do aposentado, que há mais de três décadas paga suas mensalidades em dia. A negativa coloca a vida dele em risco iminente e demonstra descaso absoluto com o direito fundamental à saúde, assegurado pela Constituição Federal.

E aqui cabe frisar que a jurisprudência é clara ao classificar como abusiva a negativa de cobertura para tratamentos indispensáveis à vida do consumidor. Amparada pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC), que impede limitações contratuais a procedimentos prescritos por médicos em situações de emergência, a decisão também se baseou no artigo 421 do Código Civil, que enfatiza a função social do contrato, e na Súmula 608 do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que obriga os planos a custearem tratamentos essenciais, mesmo que não estejam previstos no rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

A juíza Carina Bandeira Margarido Paes Leme, responsável pela decisão, foi enfática ao estabelecer uma multa diária de R$ 10 mil em caso de descumprimento. A medida visa garantir que a SulAmérica cumpra a determinação e que o procedimento seja realizado dentro do prazo estipulado.

Entretanto, após várias horas e dias, a operadora continua negando a cobertura do marca-passo e ignorando a decisão judicial e as chances de sobrevivência do aposentado. Será que para a SulAmérica as suas questões financeiras e administravas estão acima da

Justiça e também do valor da vida?

Casos como esses ilustram um problema frequente no setor de planos de saúde: a resistência em autorizar procedimentos essenciais, especialmente os que envolvem custos elevados. Embora as operadoras defendam que o rol da ANS seja considerado taxativo, ou seja, que apenas os procedimentos listados sejam obrigatórios, o Judiciário tem reiterado que a lista deve ser vista como exemplificativa, garantindo a cobertura de tratamentos indispensáveis à vida e à dignidade do paciente.

Mais do que uma questão contratual, situações como essa trazem à tona reflexões sobre a humanização da saúde e o valor da vida em um sistema frequentemente guiado por interesses financeiros. A decisão da Justiça de São Paulo é uma lembrança de que, em casos extremos, a lei precisa intervir para proteger o que há de mais precioso: a vida humana.

*Natália Soriani é advogada especialista em Direito Médico e da Saúde e sócia do escritório Natália Soriani Advocacia

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Opnião

Em tempos de crise, o amor resiste a todas as barreiras

Ao longo da história, momentos de grande turbulência social e política foram marcados pelo florescimento de relações que desafiaram as expectativas e resistiram às imposições externas. Nos anos de ditadura militar no Brasil, por exemplo, quando a repressão política assolava famílias e indivíduos, muitas relações de afeto – seja no plano romântico ou na amizade – serviram como ponto de resistência, símbolo de uma humanidade que não se dobra à opressão.

No Brasil contemporâneo, um novo ciclo de polarização política traz à tona a relevância dessas relações. Com a sociedade dividida, onde os discursos de ódio e intolerância ganham cada vez mais espaço, relacionamentos profundos podem ser vistos como um ato de coragem. Há algo revolucionário em manter o respeito, afeto e diálogo em meio ao caos político.

Este tipo de resistência tem sido documentado no decorrer da história, com exemplos marcantes em contextos de guerra, opressão e crise.

Inúmeros romances e filmes retratam este poder em momentos de luta. “Amor nos Tempos do Cólera”, de Gabriel García Márquez, é um belo exemplo disso. O autor dizia que “todo bom romance deveria ser uma transposição poética da realidade” e, nesta obra,

García Márquez utiliza a própria vivência e a de seus pais, para criar um romance inspirado nas angústias do primeiro amor e na potência desse sentimento.

A conexão entre os personagens Florentino Ariza e Fermina Daza perdura por décadas, sobrevivendo a guerras, questões de classe social, distância, e até a separação forçada pela vida. A obra de Gacía Marquez celebra a ideia de que o amor, em sua forma mais resiliente e persistente, pode superar as circunstâncias mais duras.

Numa sociedade marcada pela violência ou pela insegurança, os laços afetivos se tornam um abrigo, um local onde as pessoas podem encontrar apoio para continuar sua luta pessoal e coletiva. Os relacionamentos, assim, se tornam ainda uma rede de apoio essencial à sobrevivência emocional. Eles oferecem uma fuga do pesadelo diário e uma razão para seguir em frente.

Para aqueles que enfrentam a violência do regime, a opressão social ou as perdas inevitáveis de uma sociedade em desespero, a presença do outro, seja em um beijo furtivo ou em uma conversa tranquila, é a energia vital que permite seguir. Em sua essência mais profunda, o amor é sempre uma escolha de dignidade, de humanidade e de resistência à fragmentação do mundo ao nosso redor.

*Edvaldo Silva é mestre em Artes e Multimeios pela Unicamp e autor do romance histórico “1968: Centelhas sob palha seca”, sobre as lutas por liberdade na década de 60.

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Impactos da restrição do uso de celulares no ambiente escolar

A discussão sobre o papel da tecnologia nas escolas tem se intensificado nos últimos anos. Não é para menos. A escola como espaço educativo precisa envolver a todos nesse processo de conscientização do não uso do celular e da utilização consciente das ferramentas digitais. A restrição ao uso de celulares nas escolas é um passo que pode potencializar as interações sociais, promover momentos de descontração e entretenimento nos intervalos e melhorar significativamente a atenção, a concentração e o desempenho escolar dos alunos.

Tendo como referencial teórico diversos estudos que correlacionam o uso de celulares a prejuízos na atenção, na concentração e no desempenho acadêmico, restringimos a utilização desses dispositivos eletrônicos no Ensino Fundamental e Ensino Médio.

Fornecemos armários individuais com fonte de energia para que os alunos guardem seus aparelhos durante as aulas, reduzindo os estímulos distratores decorrentes do uso dos celulares nos ambientes pedagógicos. Essa prática garante que a tecnologia seja uma aliada, não uma fonte de distração.

Outra iniciativa é o Porto Disconnect, projeto que desenvolvemos nos intervalos, envolvendo todas as séries, e que se tornou uma peça-chave para consolidar essa cultura de desconexão. Com base em sugestões dos próprios estudantes, esse programa inclui atividades lúdicas e jogos cooperativos, que são oferecidos aos alunos do Ensino Fundamental ao Ensino Médio. O objetivo é claro: promover espaços de lazer e interação social entre os estudantes e proporcionar um convívio saudável, com o desenvolvimento de habilidades como empatia, autorregulação das emoções e responsabilidade com o bem comum, preparando nossas crianças e jovens para os desafios da vida em sociedade.

Uma pesquisa interna realizada no segundo semestre de 2024 com alunos do Ensino Fundamental II mostrou que 72,5% dos estudantes já participam ativamente dos intervalos off-line. Essa prática tem promovido momentos de interação e fortalecimento de vínculos, possibilitando um ambiente mais harmonioso e propício à convivência social. A redução do uso de celulares incentivou atividades culturais e recreativas, que impactaram positivamente o

A restrição do uso de celulares nas escolas não descaracteriza a necessidade de os estudantes saberem utilizar as ferramentas digitais em um mundo onde a tecnologia é fundamental. Pelo contrário, busca preparar as novas gerações para um uso equilibrado e responsável das mídias digitais. A parceria entre família e escola também é essencial para fortalecer essa iniciativa e ensinar às crianças e aos jovens que a autonomia, a postura ética e a gestão do tempo no uso das mídias digitais são competências valiosas em qualquer ambiente no qual eles estejam inseridos.

Meire Nocito é especialista em psicologia da educação e Diretora Institucional Educacional do Colégio Visconde de Porto Seguro, onde lidera iniciativas que promovem a educação socioemo

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Os guardiões da sua mudança de mindeset

Quem são os guardiões da sua mudança de mindset? Quem são as pessoas que efetivamente precisam fazer parte da sua rede de suporte? O escritor Gilberto Cabeggi descreveu bem o papel desses guardiões. Segundo o autor, na nossa rede de segurança, devemos ter a presença de um familiar querido, um amigo fiel ou um profissional de psicoterapia, ou, ainda, alguém que você admire pelo modo correto e feliz de ser, que o ajude a ganhar novas forças e a estimular pensamentos e atitudes mais positivas no seu dia a dia.

Avalie: quem são as pessoas com quem você pode contar para essa mudança? Quem você quer que esteja ao seu lado, dando-lhe apoio, quando resolver mudar e as coisas à sua volta parecerem desabar na sua cabeça? Quem são as pessoas que não deixam você desistir quando as coisas ficam difíceis? Junto ao seu mentor, essas são as pessoas que serão os guardiões da sua mudança de mindset.

Naqueles momentos em que você está prestes a desistir da sua mudança, é importante e reconfortante saber que um conselheiro, um mentor, um amigo, um familiar que o inspira e o motiva a seguir em frente estará presente e fará toda a diferença. A função dessas pessoas é ajudá-lo a encarar o desconhecido, para que você possa seguir a sua estrada, atingir os seus objetivos e cumprir o seu propósito de vida.

Um mentor é alguém que lhe é especial, que o faz repensar sua decisão de recusar os chamados da vida. Então, mesmo não sabendo o que encontrará no próximo capítulo da sua história, com a ajuda dessa pessoa você aceita o desafio de seguir em frente. A sua relação com pessoas em quem você confia é um dos seus maiores pontos de apoio para os próximos passos na busca do seu crescimento e da sua evolução. Nela deve existir uma conexão forte, seja entre pai e filho, entre mestre e discípulo, entre mentor e aprendiz.

A mudança de mindset é uma caminhada que você tem de fazer sozinho, sem dúvida alguma, e os obstáculos testarão a sua vontade a cada passo. Mas sua força interior será renovada se você tiver alguém com quem dividir suas angústias e suas dúvidas, chorar suas perdas e, é claro, comemorar suas vitórias. É importante ter um grupo de pessoas com quem podemos contar quando precisamos de ajuda ou de um impulso extra, ou mesmo de uma dose a mais de motivação, porém é preciso ter consciência de que ter essa rede não significa depender dos outros para alcançar nossos objetivos.

Precisamos manter a nossa autonomia e a nossa responsabilidade pessoal por nossas escolhas e ações. A rede pode nos oferecer apoio, mas cabe a nós mesmos tomar as iniciativas, partir para a ação, aproveitar as oportunidades e enfrentar os desafios.

Janguiê Diniz – Fundador e presidente do Conselho de Administração do grupo Ser Educacional – Presidente do Instituto Êxito de Empreendedorismo

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Opnião

Deixe ao sucessor o que você gostaria de ter encontrado

O fim do período eleitoral representa também o início de um outro momento capital da vida política do país: a transição entre os governos que saem e aqueles que entram.

Se a alternância de poder é um dos fundamentos da democracia, a passagem de bastão ordenada, sem perda de ritmo, de continuidade e de comando administrativos constitui o seu complemento necessário. Trata-se do ato derradeiro de um ano já repleto de exigências legais para os prefeitos: para que os futuros gestores encontrem as finanças em ordem, aqueles que estão deixando o cargo precisam seguir uma série de normas nesse período, sobretudo aquelas contidas na Lei de Responsabilidade Fiscal.

Entretanto, a transição governamental, apesar de toda a sua importância, é algo relativamente novo no ambiente institucional do país. A primeira passagem organizada de governos ocorreu somente em 2002, entre os presidentes Fernando Henrique Cardoso e

Luiz Inácio Lula da Silva. Regulado pela lei 10.609/02 e pelo decreto 7.221/10, esse rito se tornou, desde então, um modelo a ser seguido por todos os gestores públicos.

Em linhas gerais, a transição nada mais é do que o processo pelo qual a gestão eleita, mas ainda não empossada, tem acesso a todas as informações necessárias para que não haja sobressaltos ou interrupções das atividades administrativas e da prestação de serviços públicos, em especial aqueles essenciais à população como saúde, educação e assistência social.

Para cumprir todas essas tarefas de forma rigorosa e transparente, o primeiro passo é a constituição de uma equipe de transição. Ela deve ser formada, prioritariamente, por especialistas e técnicos ligados tanto à gestão que se encerra como à que começará.

Recomenda-se também que todas as ações sejam formalizadas. Dessa forma, as entregas de documentos devem ser feitas por meio de ofícios e as reuniões registradas em atas.

Não são poucos os dados que precisam ser levantados para que a equipe da futura gestão possa ter um panorama completo do cenário econômico e institucional do município. Destacam-se, por exemplo, as informações referentes à situação financeira, como os demonstrativos dos saldos disponíveis, dos restos a pagar e das obrigações de longo prazo. Nesse tópico, também é fundamental listar os valores médios mensais recebidos a título de transferências constitucionais, o inventário de dívidas e haveres, e a comprovação de regularidade com a previdência.

Vale lembrar que o novo gestor receberá um Plano Plurianual vigente, inclusive a Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2025 já sancionada, com programas, projetos, atividades, metas e prioridades da gestão que termina. Ele, portanto, precisa estar familiarizado com o que foi programado anteriormente, até que venha a elaborar os novos instrumentos de planejamento com base em seu plano de governo.

A futura administração precisa, ainda, estar a par de todos os contratos de execução de obras, consórcios e convênios, bem como da relação atualizada dos bens patrimoniais e dos bens de consumo existentes no almoxarifado.

No plano das políticas públicas, deve-se fazer um levantamento das principais ações, projetos e programas em execução, mas também daqueles interrompidos, finalizados ou que aguardam a sua implementação, para que não ocorram interregnos. A continuidade de serviços, obras e outras melhorias necessárias é uma forma de respeito à população e à supremacia do interesse público.

Infelizmente, nem sempre esse ritual republicano é devidamente respeitado. Por questões partidárias ou até picuinhas pessoais, alguns municípios acabam enfrentando dificuldades na transição, o que constitui uma enorme falta de respeito com o resultado das urnas.

Não importa se o futuro gestor é um aliado ou um adversário político, o prefeito prestes a terminar o mandato deve deixar para o seu sucessor um município nas condições que ele desejaria ter recebido. Na política, como na vida, faça aos outros o que você gostaria que fizessem com você.

Dimas Ramalho é conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo.

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Vitória da democracia: cresce o número de mulheres eleitas

Um total de 727 cidades brasileiras será governado por mulheres em 2025. Elas correspondem a apenas 13% dos 5.570 municípios do país, mas, ainda assim, esse é um resultado que deve ser comemorado. Isso porque o percentual de mulheres eleitas para o Poder Executivo municipal bateu recorde em 2024.

Para termos uma ideia da evolução da presença feminina nas prefeituras, há duas décadas, nas eleições de 2004, os brasileiros colocaram mulheres no poder de apenas 7% das nossas cidades. Esse número foi crescendo de forma gradativa. Mais recentemente, nas eleições de 2016, as prefeitas representaram 11,5 % e, em 2020, foram 12,1% do total de eleitos.

Além disso, ao analisarmos a situação das capitais brasileiras, vemos que duas candidatas foram eleitas em 2024; em Aracaju e Campo Grande. Sim, ainda é pouco. Mas em 2020, 2016 e 2012, apenas uma capital elegeu mulheres para o comando das prefeituras.

O crescimento é tímido, mas é contínuo, e são vários os motivos que explicam esse fenômeno da maior representatividade feminina nos governos municipais. Entre eles, eu diria que está a mudança no comportamento do eleitor, como novos valores e menos preconceito contra as mulheres e minorias.

Além disso, as mulheres estão buscando esse tão merecido lugar na vida pública, com construção de trajetórias sólidas e eficientes, que são também inspiradoras para a estruturação de mais candidaturas femininas em todo país.

E a tendência é de que esse cenário de crescimento seja mantido nas próximas eleições, uma vez que a legislação avançou no sentido de garantir maior igualdade de gênero na política. Desde 2022, os partidos e coligações são obrigados a destinarem 30% do fundo eleitoral para candidaturas femininas.

Neste ano, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deu mais um passo nesse sentido e publicou a Súmula 73, que trata da fraude à cota de gênero. O texto vai nortear as demais instâncias da Justiça Eleitoral na caracterização de candidaturas fictícias.

Em minha opinião esse é o caminho certo para a proteção do direito democrático de participação das mulheres no processo eleitoral. Afinal, juntamente com as mudanças nas leis, é preciso haver também normatizações claras e punições rígidas.

É assim que as mulheres poderão ser estimuladas a ingressar na política e avançar cada vez mais para um campo bastante fértil ainda a ser explorado. A vitória é não apenas delas, mas da democracia brasileira, que ganha em representatividade e pluralidade.

*Wilson Pedroso é consultor eleitoral e analista político com MBA nas áreas de Gestão e Marketing

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