ALIMENTAÇÃO

Saúde

Até que horas você pode tomar café sem afetar o sono? Estudo responde

Revisão de artigos aponta que a última xícara da bebida deve ser ingerida 8,8 horas antes de dormir para que os efeitos estimulantes da cafeína não interfiram no sono

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

Um dos benefícios indiscutíveis do café é o poder de estimular e aumentar a disposição – não à toa, ele é muito popular logo pela manhã e há quem tome a bebida durante o dia todo. Mas é preciso estar atento ao horário de consumo para não atrapalhar o sono. Uma revisão de estudos publicada na revista Sleep concluiu que, para evitar os efeitos deletérios da cafeína na hora de dormir, a última xícara deve ser consumida 8,8 horas antes de ir para a cama.

Isso significa que para uma pessoa que costuma dormir às 22h, o último cafezinho deve ser tomado logo após o almoço, por volta das 13h. “Esse resultado é de fato um dado novo”, observa a neurologista Letícia Soster, do Grupo Médico Assistencial do Sono do Hospital Israelita Albert Einstein. Segundo ela, a recomendação atual é que a última xícara seja consumida, em média, seis horas antes de dormir. “Se o indivíduo tem necessidade de tomar café mais tarde, pode ser que tenha alguma coisa acontecendo que precisa ser investigada”, alerta Soster.

Só que, apesar de existir um consenso sobre a recomendação do horário máximo de consumo do café, isso não se aplica para a quantidade a ser ingerida. O motivo, explica a médica, são as diferenças de metabolização da cafeína em cada organismo. No estudo, os autores ressaltam que consumir uma xícara de café próximo à hora de dormir diminui o tempo total de sono, e esse impacto é maior quanto mais próximo da hora de ir para a cama.

“Não falamos em quantidade, mas especialmente em evitar o horário de consumo. As pessoas são diferentes em relação à sensibilidade à cafeína e existe uma variação individual muito grande, que inclusive pode ser geneticamente determinada”, afirma a médica do Einstein.

Mais impactos

A revisão de estudos trouxe ainda outras conclusões: o consumo de cafeína mais perto da hora de dormir reduz em cerca de 45 minutos o tempo de sono, diminui a eficiência do descanso em 7%, encurta o tempo de sono profundo e aumenta o de sono leve.

“Isso é um grande problema. Imagine reduzir em 45 minutos o tempo de sono em cada noite. A soma disso ao final de sete dias resulta em uma privação de sono que a pessoa impôs por um hábito alimentar”, pontua Soster.

A neurologista considera que a diminuição em 7% da eficiência do sono também é um ponto de atenção. Para uma noite de sono ser considerada saudável, é preciso ter uma eficiência em torno de 85%. “Fazemos esse cálculo com base em exames de polissonografia. A eficiência é medida entre o tempo que a pessoa está na cama e o quanto desse tempo ela realmente conseguiu dormir”, explica a médica.

Como a cafeína age no organismo?

A substância inibe o sono por diminuir a ação da adenosina – um neurotransmissor associado à sensação de cansaço. Em uma situação normal, a pessoa acorda, gasta energia e libera moléculas de adenosina, manifestadas com cansaço, deixando as ações e reações mais lentas com o passar do dia.

Quando a cafeína é absorvida pelo organismo, ela toma o lugar da adenosina no cérebro. “Com isso, ao invés da adenosina agir no cérebro, promovendo o cansaço, a cafeína vai agir no lugar dela, estimulando o organismo”, detalha a neurologista. O problema é que, quando baixar o pico da ação do café, a pessoa vai sentir o cansaço acumulado de uma vez só, piorando a sensação e, possivelmente, consumindo mais café.

Segundo Soster, as recomendações do novo estudo são mais restritivas do que as usadas habitualmente, mas os resultados são importantes para que as pessoas tentem entender por que tomam café mais vezes e mais tarde para se manterem acordadas ou conseguirem trabalhar. “Existem outras coisas que levam a isso e o café talvez esteja disfarçando. Além disso, tem a questão da habituação: o cérebro daquela pessoa está acostumado a funcionar apenas dessa forma. Tudo isso precisa ser avaliado”, destaca.

A importância de dormir bem

O sono de qualidade é um componente essencial do bem-estar físico e emocional. As recomendações atuais descrevem a necessidade de adultos saudáveis ​​dormirem de sete a nove horas por noite (embora essa seja uma necessidade individual). Há muitos anos a ciência tem mostrado que o sono insuficiente é um desafio crescente, já que é cada vez mais comum as pessoas sofrerem com distúrbios do sono.

E isso é preocupante por diversos motivos. É durante o sono que o organismo realiza vários processos físicos e metabólicos importantes para seu bom funcionamento. Mas, muitas vezes, as pessoas abrem mão desse descanso por um “senso de urgência” para continuar produzindo ou fazer outras coisas, como assistir a uma série ou ficar no celular.

“Quando o corpo reclama, a pessoa vai e toma algum estimulante. Mas é importante entender que não somos máquinas, nosso corpo precisa de descanso. Noites maldormidas resultam em processos de estresse oxidativo, envelhecimento precoce, piora de níveis cardiovasculares e de índices glicêmicos. Esse é o contexto do preço que a falta de sono nos cobra lá na frente. Nós é que fazemos nossas escolhas”, afirma Letícia Soster.

Fonte: Agência Einstein

 

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Saúde

Beterraba é aliada de mulheres na menopausa; saiba como consumir

Estudo mostra que o vegetal ajuda a blindar as artérias nessa fase, quando há um aumento no risco de doenças cardiovasculares; conheça outros benefícios

 

Por Regina Célia Pereira, da Agência Einstein

Mulheres na menopausa podem se beneficiar de um cardápio que inclua a beterraba. A conclusão é de um estudo publicado em junho no periódico científico Frontiers in Nutrition. Segundo o artigo, ela melhora a função endotelial, ou seja, auxilia na dilatação dos vasos. Isso porque acumula nitrato, substância precursora do óxido nítrico, um potente vasodilatador e que tem ação cardioprotetora.

Na análise, os pesquisadores dividiram um grupo de 24 mulheres na pós-menopausa. Uma parte das voluntárias recebeu, durante uma semana, suco concentrado de beterraba; a outra turma tomou placebo. Por meio de exames de imagem, os cientistas observaram impactos positivos da bebida no fluxo sanguíneo.

Vários experimentos já comprovaram que o nitrato, vindo da beterraba e transformado em óxido nítrico, contribui para a elasticidade das artérias e a circulação. Também há evidências de seu papel no combate à hipertensão arterial.

Embora tais benefícios sejam bem-vindos em todas as fases da vida, com a entrada na menopausa, eles são ainda mais importantes. “Nessa fase, ocorre um aumento no risco cardiovascular devido à queda dos níveis de estrógeno, hormônio que tem efeito protetor”, comenta a nutricionista Giuliana Modenezi, do Espaço Einstein Esporte e Reabilitação, do Hospital Israelita Albert Einstein.

Se o novo trabalho revela essa função, há tempos a raiz faz sucesso entre esportistas — e, nesse contexto, coleciona estudos na literatura científica. “O mesmo nitrato, convertido em óxido nítrico, melhora a oferta de oxigênio e de nutrientes para os músculos durante o exercício”, explica a nutricionista. Como resultado, o atleta ganha força e rendimento.

Mistura nutritiva

Ainda que reúna tantos atributos, nem só de nitrato se faz uma beterraba. O alimento, de nome científico Beta vulgaris, é nativo das regiões de clima temperado da Europa e do norte da África. Popularmente, é chamado de raiz tuberosa, uma designação comum aos vegetais que acumulam nutrientes numa estrutura embaixo da terra.

A beterraba oferece um mix de compostos que atuam em sinergia. Um dos destaques é a betalaína, pigmento responsável pela aparência exuberante. “Além de dar cor, tem ação antioxidante e anti-inflamatória”, comenta a nutricionista do Einstein.

No quesito sais minerais, a raiz oferece boas doses de potássio e magnésio. “Uma dupla essencial à saúde muscular e cardiovascular”, diz Modenezi. Também concentra vitaminas do complexo B, vitamina C e fibras, as guardiãs do intestino.

Como tirar proveito no dia a dia

Versátil, o vegetal aparece nas mais diversas preparações, começando pelo suco, testado e aprovado pela ciência. Crua, a beterraba também pode ser ralada e incluída no recheio de sanduíches, nas saladas, entre outros pratos. Inclusive, há quem use até a folhagem e os talos dela nas receitas, basta caprichar na higienização.

Na forma cozida fica ótima em sopas – caso da borscht, originária do Leste Europeu –, desfila em refogados, purês e chips. Incrementa ainda bolos, tortas, tapiocas e outras massas. “Para assegurar todos os nutrientes, sobretudo a vitamina C, a recomendação é assar ou cozinhar no vapor”, sugere a especialista.

No caso de esportistas que desejam melhorar o desempenho com auxílio da beterraba, vale consultar um nutricionista. O profissional vai ajudar a definir a quantidade, de acordo com a modalidade, e ajustar outros detalhes. “Algumas preparações muito concentradas podem até causar desconfortos intestinais capazes de prejudicar o rendimento nas provas”, alerta Giuliana Modenezi.

Por fim, aos que ainda não são tão fãs da raiz, mas que pretendem incluí-la no cardápio do dia a dia, a especialista avisa que mudanças no tom das fezes e da urina são esperadas após a ingestão. “A coloração rosa é um efeito colateral do consumo e é inofensivo”, explica.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

“Bulking e cutting”: 10 perguntas para entender essa estratégia alimentar

Método para ganhar massa muscular ou perder peso ganhou popularidade, mas não é para todo mundo e traz riscos se for feito sem orientação profissional

 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

A prática de comer em excesso e depois cortar radicalmente as calorias, conhecida como bulking e cutting, vem ganhando cada vez mais adeptos nas academias, inclusive entre adolescentes. O problema é que muita gente adota essa estratégia sem orientação ou necessidade, o que pode trazer vários riscos.

A seguir, confira 10 perguntas sobre essas práticas e a resposta de cada uma delas:

  1. O que são bulking e cutting?

Trata-se de uma estratégia que surgiu entre adeptos do fisiculturismo, com o objetivo de atingir uma composição corporal específica. Ela é dividida em duas fases: num primeiro momento, o foco é no ganho de massa muscular – bulking, termo derivado do inglês bulk, que significa volume ou massa – sem se preocupar com a gordura, para maximizar o ganho de músculo. Depois, vem o cutting (“cortar” em inglês), em que o objetivo é manter o máximo de massa magra possível enquanto se reduz o percentual de gordura.

“Isso permitiria alcançar uma mudança de composição corporal de forma rápida, visando uma data alvo para competição, no caso do fisiculturismo”, explica a nutricionista esportiva Gabriela Mieko, que faz parte da equipe da nutricionista Serena del Favero, do Espaço Einstein Esporte e Reabilitação do Hospital Israelita Albert Einstein.

  1. Qual o princípio por trás dessa estratégia?

No bulking, há uma ingestão excessiva de alimentos a fim gerar um excedente calórico, necessário para a construção de músculo. No cutting, ocorre o contrário: corte de calorias para promover a queima de gordura acumulada.

No entanto, a eficácia dessas medidas depende de uma execução cuidadosa e de planejamento adequado, com orientação sobre a dieta, incluindo a escolha de alimentos nutritivos, e um programa de treinamento bem estruturado.

  1. Há consenso sobre sua eficácia?

Embora funcione na prática, ainda não há consenso científico de que seria a melhor estratégia, segundo Mieko.

  1. Para quem é indicada?

Essa estratégia é recomendada para quem tem uma base sólida de treinamento e objetivos específicos de alterar a composição corporal de forma acentuada. É o caso de atletas de fisiculturismo e outros esportes que se beneficiam do aumento da massa magra, mas que devem manter um peso alvo, como lutadores.

Também pode ser feita por praticantes avançados de musculação, que querem ganhar massa magra e têm boa adesão a um plano alimentar, com orientação de profissional especializado.

  1. Quem não deve fazer?

“Na realidade, não é a estratégia mais adequada para a maioria das pessoas”, responde Gabriela Mieko. “Iniciantes da musculação podem tirar proveito de um programa de treino e alimentação mais equilibrados e menos extremos.”

Além disso, algumas condições de saúde específicas, como diabetes, enxaqueca crônica, desconfortos gastrointestinais e transtornos alimentares, podem ser agravadas por mudanças drásticas na dieta.

Pessoas com dificuldade em manter uma relação saudável com a comida merecem atenção especial, já que, sem acompanhamento, essa estratégia pode levar a comportamentos alimentares desordenados.

  1. Adolescentes podem fazer?

Nessa faixa etária, a estratégia não é indicada pois o metabolismo já é favorável ao ganho de massa. “O acúmulo de gordura não seria interessante pensando na saúde e no metabolismo a longo prazo”, diz nutricionista. “Além disso, é uma fase em que ocorre a construção de hábitos alimentares de forma importante para a vida adulta, o que também influencia outras questões sociais que envolvem a comida e a relação saudável com a alimentação.”

  1. Há riscos?

Como qualquer estratégia de nutrição e treinamento, há riscos se não for feita corretamente. Pode haver ganho excessivo de gordura durante o bulking, se a ingestão calórica for muito alta, e perda de massa muscular no cutting, se o déficit for severo.

“Muitas pessoas se preocupam com as calorias e macronutrientes [carboidratos, gorduras e proteínas] e se esquecem dos micronutrientes [vitaminas e minerais], podendo levar a carências nutricionais principalmente durante o cutting”, explica a nutricionista. Também podem ocorrer problemas metabólicos e hormonais devido às mudanças drásticas na ingestão calórica entre ambas as fases.

  1. Quais cuidados tomar antes de começar?

Para uma prática segura e eficaz, é preciso consultar um nutricionista. Esse profissional pode avaliar a segurança e saber se é a melhor estratégia para aquela pessoa, além de estabelecer a duração do programa. O acompanhamento, feito em conjunto com o treinador, vai ajustar as necessidades individuais e monitorar o progresso.

  1. É preciso fazer ajustes na academia?

O treino deve ser adaptado conforme a fase (bulking ou cutting) e acompanhado de perto tanto pelo profissional de educação física e quanto o de nutrição.

  1. Bulking e cutting substituem outras estratégias para perder peso e ganhar massa?

“Elas são estratégias específicas e pontuais em um plano alimentar e de treinamento, visando um objetivo específico a curto prazo”, lembra Mieko. Portanto, não substituem uma dieta equilibrada e bem orientada.

Vale lembrar que uma alimentação saudável, com ingestão adequada de nutrientes, atividade física regular e sono de qualidade continuam sendo fundamentais para qualquer pessoa que busque uma boa saúde.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Com apoio da Fapesp, grupo identifica novos probióticos em queijos tradicionais

Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Alimentos encontraram três cepas de bactérias que podem beneficiar a saúde humana

Trabalho conduzido no Centro de Tecnologia de Laticínios (Tecnolat) do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), em Campinas (SP), identificou – em amostras de queijos tradicionais brasileiros – três cepas de bactérias do gênero Lactobacillus que, além de seguras, podem beneficiar a saúde humana com sua ação probiótica.

Os microrganismos foram selecionados no banco de cepas do Tecnolat, que abriga bactérias ácido-láticas (Bal) isoladas de queijos tradicionais brasileiros, como o prato e o minas, por exemplo. Bactérias desse grupo são reconhecidas por seu potencial probiótico e, atualmente, são amplamente utilizadas pela indústria alimentícia na elaboração de diversos produtos, como iogurte, queijo, kombucha e kefir.

“Para realizar essa escolha, fizemos uma revisão no banco de cepas com o objetivo de checar quais isolados tiveram melhores propriedades fermentativas, enzimáticas e sensoriais em estudos previamente desenvolvidos no Tecnolat”, conta o doutor em ciência e tecnologia de alimentos Cristian Mauricio Barreto, pesquisador do Ital que participou do trabalho.

O passo seguinte foi obter o genoma completo dos isolados para fazer sua correta identificação e avaliar suas propriedades funcionais e de segurança. Em seguida, foram feitos testes in vitro para confirmar a segurança das bactérias e suas propriedades consideradas probióticas.

“Com essas informações em mãos, passamos para a análise das propriedades tecnológicas dos isolados, elaborando queijos-piloto do tipo prato com a adição de cada uma das três cepas. Estudamos, então, as mudanças nos parâmetros físico-químicos dos queijos, nas comunidades bacterianas, no perfil de compostos voláteis [substâncias responsáveis pelo aroma e que contribuem para o sabor] e de ácidos graxos dos queijos durante a maturação”, explica Barreto.

Os microrganismos foram selecionados no banco de cepas do Tecnolat
Os microrganismos foram selecionados no banco de cepas do Tecnolat

Os resultados do estudo, que teve apoio da Fapesp, comprovaram que os três isolados de Lactobacillus são seguros para consumo e uso em alimentos, têm potencial como novos probióticos e apresentam forte efeito inibitório contra alguns patógenos que podem estar presentes em produtos lácteos. Além disso, as três cepas não produziram efeitos significativos na composição físico-química dos queijos produzidos com cada uma delas em relação ao perfil dos ácidos graxos e das proteínas.

“Também observamos uma diminuição de compostos voláteis indesejáveis durante períodos maiores de maturação dos queijos que continham as culturas, mas cada cepa produziu um perfil diferente nesse quesito”, conta Barreto. O pesquisador explicou que isso é importante do ponto de vista da diversificação, da qualidade e da vida na prateleira de queijos com mais de 25 dias de maturação. “Mas ainda precisamos nos aprofundar em alguns aspectos, como a possível redução de microrganismos deteriorantes e patogênicos nos queijos pela ação dos nossos Lactobacillus.”

Ele acrescenta que as conclusões foram ao encontro do objetivo do estudo, que era analisar Lactobacillus provenientes da biodiversidade brasileira com propriedades probióticas e tecnológicas interessantes para serem usadas na produção de queijo, favorecendo uma maior diversidade sensorial e qualidade microbiológica desse produto, além de benefícios à saúde dos consumidores.

“Esse tipo de microrganismo é de fácil produção industrial, o que favorece estudos voltados a otimizar sua produção com o uso de nutrientes de baixo custo, como o soro”, explica. “Pesquisas nessa linha são relevantes para as demandas do setor queijeiro, que apresenta uma grande perspectiva de crescimento e permanece preso a um mercado limitado de probióticos, dominado por grandes empresas multinacionais.”

De acordo com o pesquisador, embora a tecnologia de produção de culturas microbianas esteja muito bem estabelecida nas indústrias multinacionais fornecedoras de culturas para o Brasil, é necessário o desenvolvimento de empresas locais com a capacidade de produzir culturas nacionais para produtos tradicionais brasileiros que sejam competitivas e capazes de atender às demandas de pequenos e médios produtores por produtos diferenciados sensorialmente e de alta qualidade.

Mas, apesar de os estudos conduzidos pela equipe até agora terem apresentado bons resultados, ainda são necessárias mais pesquisas para que essas cepas possam, de fato, ser aplicadas na produção industrial e classificadas como probióticas. “Ainda precisamos efetuar testes em modelo animal e, posteriormente, ensaios clínicos para atender os requerimentos regulatórios. Essas análises são demoradas e de alto custo”, complementa Barreto.

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Saúde

O que o consumo de carboidratos tem a ver com o refluxo? Ciência investiga

 

Em estudo nos EUA, participantes que reduziram a ingestão de fontes de carboidratos simples (como massas e doces) tiveram crises menos frequentes do problema

 

Por Thais Szegö, da Agência Einstein

Médicos e cientistas têm investigado cada vez mais a relação entre o consumo de carboidratos simples e a piora do refluxo gastroesofágico em pessoas que sofrem com esse problema. Essa condição é caracterizada pelo retorno involuntário do alimento após chegar ao estômago — em vez de permanecer ali, a comida volta em direção ao esôfago. Entre os sintomas estão azia, dor e tosse seca, por exemplo.

Segundo alguns estudos, comer muitos alimentos fontes de carboidratos simples — como massas refinadas e doces — pode piorar esse quadro. Entre as pesquisas que analisaram esse elo está uma publicada no periódico The American Journal of Gastroenterology.

Para o estudo, cientistas dos Estados Unidos recrutaram 98 participantes, com idades entre 47 e 72 anos. Eles foram divididos aleatoriamente em quatro grupos conforme a dieta que seguiram nas nove semanas seguintes ao início do experimento: 1) ingestão alta de carboidratos totais e alta de carboidratos simples, considerado o grupo controle; 2) alta de carboidratos totais e baixa de carboidrato simples; 3) baixa de carboidratos totais e alta de simples; e 4) baixa de carboidratos totais e baixa de simples.

Após o período estipulado, os cientistas analisaram três fatores ligados ao refluxo gastroesofágico: o tempo de exposição do esôfago ao ácido gástrico, o número total de episódios de refluxo nos voluntários e a presença de sintomas da condição.

Os resultados mostraram que houve melhora do quadro em todos os grupos que reduziram a ingestão de carboidratos, totais ou simples (apenas o grupo controle permaneceu da mesma forma). Entretanto, a porção dos voluntários que comeu menos carboidratos totais e carboidratos simples foi a que obteve mais benefícios provenientes da alteração na dieta.

Ressalvas

Mas esses achados não significam que pessoas com refluxo devem cortar carboidratos da dieta. Muito menos por conta própria: além de serem nutrientes essenciais para o funcionamento do organismo, mais estudos são necessários para entender seu real impacto nessa condição gástrica.

“O número de participantes [da pesquisa] é pequeno e metade não tinha diagnóstico da doença do refluxo, que acontece quando os episódios de refluxo, que podem acontecer com qualquer um após uma refeição muito pesada, por exemplo, se repetem de forma crônica”, explica o gastroenterologista e hepatologista Rafael Ximenes, do Hospital Israelita Albert Einstein de Goiânia. “Isso é relevante porque, nesses casos, fatores que não são relacionados com a alimentação, como uma hérnia de hiato ou alterações na contração do esôfago, podem estar envolvidos.”

Já o gastroenterologista José Augusto Messias, professor titular de clínica médica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), destaca que os indivíduos analisados no estudo eram predominantemente homens e veteranos das forças armadas dos Estados Unidos. Isso é relevante porque, de acordo com o próprio artigo, a incidência de refluxo gastroesofágico é maior nessa população: entre 40% e 45%, contra 30% na população civil adulta estadunidense.

“Mas esses fatores não diminuem o valor dos resultados, que fazem parte de um estudo publicado no The American Journal of Gastroenterology, uma das mais prestigiosas revistas na área de gastroenterologia clínica do mundo e que é muito rigorosa no processo para selecionar os artigos que serão colocados em suas páginas”, observa Messias, que é membro titular da Academia Nacional de Medicina.

Entre os resultados de maior relevância da pesquisa, segundo o docente da UERJ, está a melhora dos sintomas e da presença de ácido clorídrico no esôfago dos voluntários. “Esse é um dos principais objetivos do tratamento da doença do refluxo esofágico”, pontua José Augusto Messias.

“Outro ponto importante a ser destacado é que as mudanças na alimentação propostas pelo estudo fizeram com que os participantes perdessem peso, o que sabidamente é uma forma de melhorar a doença do refluxo e suas complicações”, pontua Rafael Ximenes, do Einstein. Entre as complicações do quadro estão câncer de esôfago e esôfago de Barrett, que acontece quando células da parte final do esôfago são substituídas por células características do intestino, o que aumenta o risco de surgimento de um tumor.

Ainda assim, vale reforçar: nada de agir por conta própria. Os especialistas ressaltam que, em muitos casos, o tratamento medicamentoso é fundamental para tratar o refluxo. “Os remédios diminuem a produção de ácido pelo estômago, melhorando os sintomas e favorecendo a cicatrização de possíveis lesões provocadas no esôfago, que é a principal forma de prevenir as complicações da doença”, explica Ximenes.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Pesquisa mostra presença de álcool em pães de forma

© Marcelo Camargo/Agência Brasil


Levantamento foi feito pela Proteste

 

Por Bruno Bocchini – Repórter da Agência Brasil – São Paulo

Pesquisa da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), divulgada nesta quinta-feira (11), mostra que há presença de álcool em produtos de diversas marcas populares de pães de forma.

De acordo com o levantamento, se os pães fossem bebidas, os produtos de cinco marcas seriam considerados alcoólicos, ou seja, com teor de álcool superior a 0,5%: Visconti (teor alcoólico de 3,37%), Bauducco (1,17%), Wickbold 5 Zeros (0,89%), Wickbold Sem Glúten (0,66%), Wick Leve (0,52%), e Panco (0,51%).

Algumas marcas de pães também poderiam não passar no teste do bafômetro, dependendo da quantidade ingerida pelo consumidor. Considerando os índices do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), a quantidade segura de álcool no organismo (circulando no sangue) seria abaixo de 3,3 gramas (g) de álcool. De acordo com a pesquisa, duas fatias do pão de forma da marca Visconti teriam o equivalente a 1,69 g de álcool; da Bauducco, a 0,59 g; e da Wickbold 5 Zeros, a 0,45 g.

“Para grávidas e lactantes, a ingestão recorrente de álcool, mesmo que em baixas doses, pode afetar o aprendizado e ocasionar problemas de memória. A síndrome alcoólica fetal (SAF), ocasionada pela ingestão de álcool, é caracterizada por anormalidades no neurodesenvolvimento do sistema nervoso central, retardo de crescimento e problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade”, diz o texto da pesquisa.

O estudo mostra ainda que, caso os pães fossem medicamentos fitoterápicos, seria necessário haver advertências nas embalagens de oito marcas brasileiras. De acordo com as diretrizes pediátricas europeias, o valor limítrofe de advertência para a presença de álcool em medicamentos fitoterápicos é de 6 miligrama por quilo (mg/kg) de peso corporal para crianças. Considerando uma criança de 12,5 kg, a taxa limite seria de 75 mg.

Essa quantidade é superada, em uma única fatia de pão, nas marcas Visconti (843 mg de etanol), Bauducco (293 mg), Wickbold 5 Zeros (233 mg), Wickbold Sem Glúten (165 mg), Wickbold Leve (130 mg), Panco (128 mg), Seven Boys (125 mg), Wickbold (88 mg).

De acordo com o levantamento, a contaminação dos pães com o álcool pode ocorrer no momento de a indústria acrescentar conservantes nos produtos. “O álcool usado para diluição do conservante [colocado após o pão passar pelo forno] deve ser evaporado até o consumo em si do pão, mas se houver um abuso na quantidade do antimofo ou em sua diluição, isso pode não ocorrer e ocasionar em um pão com um teor de etanol muito elevado”, diz o texto da pesquisa.

Em nota, a Pandurata Alimentos, responsável pela fabricação dos produtos Bauducco e Visconti, disse que que adota rigorosos padrões de segurança alimentar em todo seu processo produtivo e na cadeia de fornecimento. “A empresa possui a certificação BRCGS (British Retail Consortium Global Standard), reconhecida como referência global em boas práticas na indústria alimentícia, e segue toda a legislação e regulamentações vigentes.”

A Agência Brasil tenta contato com os demais fabricantes citados na pesquisa e está aberta para incluir seu posicionamento no texto.

Matéria alterada às 18h34 para corrigir informação no terceiro parágrafo. No caso da Wickbold 5 Zeros, a quantidade de álcool em duas fatias de pão é 0,45 g, e não 4,45 g, como informado anteriormente.

Texto novamente alterado às 18h49, para acréscimo do posicionamento da Pandurata Alimentos, responsável pela fabricação dos produtos Bauducco e Visconti.

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Saúde

USP: dieta à base de verduras e legumes pode ser benéfica para a saúde cognitiva

Especialista comenta modelo de dieta que tem como fundamento o bem-estar não só do individuo, mas do meio ambiente inteiro

 

Estudo da Faculdade de Medicina da USP revela que a adesão à dieta da saúde planetária pode desacelerar o declínio cognitivo. O artigo publicado na revista científica Nature Aging aponta uma associação entre a adesão e a renda dos participantes.

A professora Claudia Kimie Suemoto, da disciplina de Geriatria do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP, coordenadora do estudo, explica que a dieta planetária é pensada não só para a saúde do indivíduo, como de costume, mas para a saúde do planeta também.

“Ela traz uma ideia muito interessante, né? A gente sabe que dieta saudável é rica em frutas, vegetais e alimentos integrais. A dieta planetária traz mais um elemento: além de ser boa para cada um de nós é boa para o planeta. Por exemplo, a carne, se consumida em excesso, faz mal para o planeta. A criação exploratória do gado leva a vários impactos ambientais. Então a dieta planetária traz alimentos que são bons para o planeta. O nosso estudo apresenta a novidade que é a evidência em relação à melhora da cognição causada por essa dieta, e por isso que esse nosso estudo é atual”, relata.

A especialista explica que a alimentação vem se mostrando um fator decisivo para o envelhecimento saudável. “A gente está tentando entender o que fazer para envelhecer sem demência, um dos fatores que cada vez mais ganham notoriedade é a dieta. Como se alimentar para envelhecer bem do ponto de vista cognitivo? Um prato de almoço da dieta planetária teria metade de verduras e legumes, principalmente verduras escuras, uma porção pequena de proteína, de preferência que não envolva cultivos em larga escala, talvez, por exemplo, um peixe e alimentos integrais como feijão, fazer com que a proteína venha de outras fontes vegetais. Então a dieta brasileira, se a gente consumir carne com moderação, é uma dieta saudável para o planeta. A gente já tinha evidência de que alguns alimentos fariam bem para o indivíduo.”

Nível salarial

Segundo Claudia Suemoto, a adesão ao modelo de dieta está ligada ao nível de renda do indivíduo. “A gente sempre falava nas aulas para os alunos de medicina que, para prevenir doenças cognitivas, as pessoas deviam comer castanha, salmão, abusar  do azeite de oliva, que são evidências que a gente tinha previamente da dieta mediterrânea fazendo bem para a cognição. No entanto, esses alimentos são todos muito caros. Como aplicar essa dieta em pacientes mais pobres? A taxa de adesão a essa dieta é basicamente só em pacientes ricos. Nesse sentido, é preciso políticas públicas que permitam esse acesso.”

Além de indicar o que comer para um bom desenvolvimento cognitivo, o estudo aponta o que não comer. Os industrializados são apontados como alimentos prejudiciais. “Eu acho que educar a população é uma parte da solução do problema. A gente tem que gerar cada vez mais evidências sobre isso, mas é importante realmente mudar o ambiente e permitir o acesso socioeconômico. A gente tem um trabalho nosso mostrando que o consumo de ultraprocessados acelera o declínio cognitivo. Isso foi em 2022. Então, cada vez mais a gente tem montado esse cenário do que não faz bem para o cérebro do ponto de vista da cognição e cada vez mais a gente entende. Portanto, temos que montar uma dieta baseada em evidências científicas”, finaliza.

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Saúde

HSPE: veja como manter a alimentação saudável de crianças e adolescentes nas férias

Especialistas do Hospital do Servidor orientam sobre cuidados com hidratação e alimentação equilibrada durante as férias escolares

 

Definir horários e organizar o preparo de alimentos ajuda a manter a alimentação saudável de crianças e adolescentes durante as férias de julho. O ideal é manter o intervalo entre as refeições igual ao do período escolar e evitar o espaçamento entre elas, pois dificulta o consumo excessivo de comida e de produtos ultraprocessados, como bolachas e salgadinhos. Também auxilia na boa alimentação deixar frutas lavadas e lanches saudáveis prontos para o consumo.

No período de férias, os compromissos com hora marcada são substituídos por sessões de diversão e descanso. Com isso, também mudam os horários de acordar, dormir e, principalmente, comer. Porém, para manter a alimentação saudável, é essencial realizar as refeições com o mesmo intervalo de rotina. O ideal é se alimentar a cada três horas.

Alimentação saudável aumenta a disposição para praticar esportes e brincadeiras. Também está associada, a longo prazo, à diminuição das chances do desenvolvimento de obesidade infantil e outras comorbidades, como diabetes, hipertensão e índices elevados de colesterol e triglicerídeos no sangue. De acordo com o Atlas Mundial da Obesidade de 2024, até 2035, 50% das crianças de 5 a 19 anos terão o Índice de Massa Corporal (IMC) elevado, ou seja, estarão acima do peso.

O nutricionista do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE) Uerá do Couto explica que a alimentação saudável é um hábito construído. “O consumo de alimentos ricos em proteínas, vitaminas e minerais também é essencial para um desenvolvimento físico e mental adequado”, acrescenta.

Atenção à hidratação. Crianças costumam perder líquidos com mais facilidade do que os adultos e se esquecem de ingeri-los. O calcula da quantidade ideal é feito a partir da multiplicação: 35 ml de água versus o peso da criança.

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Saúde

Governo divulga lista de cafés torrados impróprios para consumo

Fiscalização encontrou impurezas ou elementos estranhos no produto

 

Por Paula Laboissière – Repórter da Agência Brasil – Brasília

O Ministério da Agricultura e Pecuária divulgou nesta segunda-feira (1º) uma lista com 14 marcas de café torrado que foram consideradas impróprias para consumo humano após a constatação de impurezas ou de elementos estranhos acima dos limites permitidos pela legislação.

Em nota, a pasta informou que os produtos que integram a lista devem ser recolhidos pelas empresas responsáveis. “A ação está respaldada pelo artigo 29-A do Decreto 6.268/2007, que prevê a aplicação do recolhimento em casos de risco à saúde pública, adulteração, fraude ou falsificação de produtos”, destacou.

No comunicado, o ministério detalhou ainda que o alerta faz parte de desdobramentos da Operação Valoriza, que contou com ações de fiscalização realizadas em todo o país entre os dias 18 e 28 de março, quando foram coletadas 168 amostras de café torrado.

“Aos consumidores que caso tenham adquiridos esses produtos, o ministério orienta que deixem de consumi-los, podendo solicitar sua substituição nos moldes determinados pelo Código de Defesa do Consumidor”.

Para quem encontrar alguma das marcas citadas na lista sendo comercializadas, a pasta pede para ser comunicada imediatamente por meio do canal oficial Fala.BR. É preciso informar o nome do estabelecimento e o endereço onde foi adquirido o produto.

Os parâmetros de qualidade definidos para o café torrado podem ser acessados na Portaria 570 de 2022;

 

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Saúde

Proteína: 7 perguntas e respostas para garantir um consumo adequado

Diante da maior oferta de produtos enriquecidos com o nutriente, veja quais são os riscos de exceder na quantidade ingerida diariamente

Por Regina Célia Pereira, da Agência Einstein

Passeie pelos corredores de um supermercado e certamente verá uma grande variedade de alimentos com alto teor de proteína. Do iogurte ao suco, passando por biscoitos, pães, salgadinhos de ervilhas e afins, há diversas opções disponíveis para aqueles que buscam praticidade aliada à promessa de um bom aporte proteico.

Na última década, o mercado brasileiro vem observando uma oferta cada vez maior de produtos enriquecidos com esse nutriente. Em 2019, alimentos com “alto teor de proteínas” representaram quase 5% de todos os lançamentos de bebidas e alimentos no país, segundo a ferramenta GNPD da Mintel, agência global de inteligência de mercado. A tendência segue em alta: somente neste ano, ainda de acordo com a Mintel, dentre os lançamentos “proteicos”, 35% foram na categoria de bebidas nutricionais, 26% de snacks/aperitivos e 8% de laticínios.

Além dos frequentadores de academia, há também opções que podem servir como alternativas para quem enfrenta dificuldade no consumo das fontes convencionais de proteína: carnes, ovos, laticínios e leguminosas. Mas é preciso um olhar minucioso ao rótulo, já que a maioria dos produtos é classificada como ultraprocessados. Prefira aqueles com lista de ingredientes enxuta e preste atenção às quantidades de açúcar, gordura, sódio e aditivos.

Outra recomendação é tomar cuidado com o tamanho das porções. Embora a proteína seja essencial para nosso organismo, exageros estão por trás de malefícios. Inclusive, um estudo publicado em fevereiro na revista Nature Metabolism desvendou um dos mecanismos envolvidos no risco cardiovascular.

Após pesquisas com humanos, estudiosos da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, fizeram experimentos com animais de laboratório. “O excesso [de proteína] leva ao aumento de aminoácidos na corrente sanguínea e pode interferir com a atividade dos macrófagos”, explica o cardiologista Babak Razani, professor na Universidade de Pittsburgh e líder da investigação.

No cenário identificado na pesquisa, essas células do sistema imunológico passam a atuar de maneira diferenciada, favorecendo inflamações nos vasos e contribuindo para a formação da placa de aterosclerose. Segundo Razani, a leucina, uma partícula proteica presente em carnes, castanhas e soja, por exemplo, parece ser a principal envolvida no processo.

Para o pesquisador dos EUA, embora sejam necessárias mais pesquisas, o trabalho chama a atenção para os riscos atrelados ao exagero. “Como cardiologista, sugiro que as pessoas adotem cardápios equilibrados, baseados na Dieta Mediterrânea”, indica Babak Razani.

A seguir, especialistas respondem a algumas das principais dúvidas sobre o consumo de proteína:

  1. Qual a função da proteína?

Do grupo dos macronutrientes (composto também por gorduras e carboidratos), a proteína tem papel fundamental na constituição dos órgãos e de todos os tecidos do corpo humano. Ela também age na produção de anticorpos e hormônios, além de contribuir para a integridade de unhas, cabelo e pele.

Esse nutriente participa ainda da construção e reparação muscular; e atua como fonte de energia e na manutenção e regulação do metabolismo. Sem contar que prolonga a sensação de saciedade, ajudando a controlar o apetite.

  1. Como saber a quantidade de proteína necessária por dia?

A sugestão de consumo muda conforme sua idade, perfil e atividades cotidianas. “Um adulto saudável deve consumir 0,8 grama de proteína por quilograma de peso corporal”, orienta nutricionista Giuliana Modenezi, do Espaço Einstein Esporte e Reabilitação, do Hospital Israelita Albert Einstein. Assim, uma pessoa de 80 quilos, por exemplo, precisa de 64 g do nutriente por dia.

“A Sociedade Internacional de Nutrição Esportiva (ISSN) recomenda de 1,4 a 2 g de proteína/kg/dia aos indivíduos que se exercitam diariamente, com variações a depender da modalidade e da intensidade do exercício”, comenta Modenezi.

As indicações para gestantes, bebês, crianças e adolescentes também são distintas e seguem diretrizes específicas. No caso de idosos, preconiza-se entre 1 e 1,5 g de proteína/kg/dia, quantidade que deve ser ajustada individualmente. “A proteína é essencial para prevenir ou tratar a sarcopenia, que é a perda de massa e da função musculoesquelética”, comenta a nutricionista.

  1. Quando é preciso suplementar?

“Em situações em que a ingestão proteica, por meio da alimentação, não atende às necessidades”, responde Modenezi. Atletas e praticantes de atividades físicas intensas costumam precisar de suplementação por conta da alta demanda na recuperação muscular.

Segundo a especialista, indivíduos com dietas restritivas, caso de veganos, intolerantes e alérgicos, assim como os idosos, também podem precisar suplementar. “A eficiência da síntese proteica diminui com a idade”, explica a nutricionista.

Outros grupos que podem demandar doses extras de proteína são gestantes, lactantes e pacientes em recuperação cirúrgica. Mas vale ressaltar que a determinação do tipo e a dosagem devem ser feitas junto a um nutricionista especializado.

Entre os suplementos proteicos mais populares estão a albumina, extraída da clara de ovo, a caseína e o whey protein, dupla oriunda do leite. “O whey protein é conhecido por sua rápida digestão e alta qualidade”, destaca Modenezi, que ressalta que há ainda opções de origem vegetal.

  1. Quais os riscos de consumir muita proteína?

Além do já mencionado risco cardiovascular — que também está relacionado à presença de gordura saturada nas fontes de proteína animal —, o exagero está por trás de males renais. “O excesso pode sobrecarregar os rins, já que eles são responsáveis por filtrar e excretar os resíduos metabólicos do organismo”, explica Modenezi.

Abusos no consumo de carnes também podem aumentar a excreção de cálcio na urina. “Esse mecanismo colabora para a formação de pedras nos rins, sobretudo em pessoas com predisposição”, avisa a nutricionista do Einstein.

  1. Quais são as principais fontes de proteína?

O destaque vai para carnes, aves, pescados, ovos e laticínios. “Há grandes fontes de origem vegetal também, especialmente as leguminosas”, observa a nutricionista Débora Donio, da Unidade de Check-Up do Hospital Israelita Albert Einstein. Ela se refere ao grupo que engloba feijões, ervilhas, lentilhas, grão-de-bico, soja e tremoço. Derivados como tofu e homus, por exemplo, também tendem a concentrar boas quantidades.

Outra turma que oferece o nutriente é a das oleaginosas, ou seja, castanhas, nozes, amêndoas, pistache e amendoim. “Já os cogumelos não oferecem quantidades interessantes, trata-se de um mito muito difundido por aí”, pontua Donio.

  1. Preciso comer carne para ter o aporte necessário?

“É possível adquirir proteína de alto valor biológico oriunda de vegetais”, garante Débora Donio. Para tanto, as leguminosas não podem ficar de fora do cardápio. Inclusive, rechear a dieta com esses grãos favorece a microbiota intestinal, num mecanismo que colabora para a absorção de diversos nutrientes.

Uma dica para aproveitar ao máximo é deixar o feijão de molho por cerca de 12 horas. “Mas é importante trocar a água antes de mandar para a panela”, avisa a nutricionista. A estratégia ajuda a diminuir o tempo de cozimento e reduz a quantidade dos chamados compostos antinutricionais, caso dos taninos.

  1. Existem combinações que melhoram a qualidade da proteína?

Sim, e um bom exemplo é a brasileiríssima mistura do arroz com feijão. “Nessa combinação, os aminoácidos que faltam em um aparecem no outro”, explica Donio. Aminoácidos são os pedacinhos de proteína que, juntos, se completam, desempenhando atividades de forma mais eficiente dentro do nosso organismo.

Embora a preferência nacional seja a do arroz branquinho com feijão-carioca, dá para variar os preparos. Que tal arroz 7 grãos com grão-de-bico? Ou arroz integral com salada de lentilha? Ou mesmo alternar entre os feijões preto, vermelho, fradinho… “Para garantir o aporte, a sugestão é optar por fontes variadas”, frisa Débora.

Outra recomendação é distribuir a ingestão proteica ao longo do dia. “O ideal é fracionar o consumo a fim de garantir seu melhor aproveitamento”, indica a nutricionista.

Fonte: Agência Einstein

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