ALEITAMENTO MATERNO

Saúde

Creches e escola de educação infantil devem promover aleitamento

© Fernando Frazão/Agência Brasil/Arquivo

Amamentação proporciona diminuição na ocorrência de diarreias.

Por Agência Brasil – Rio de Janeiro

No Agosto Dourado, mês de conscientização sobre a importância da amamentação, a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro derrubou, nessa terça-feira (27), o veto total do Poder Executivo ao projeto  de lei PL 2458/2023, que estabelece diretrizes para a oferta de leite materno nos Espaços de Desenvolvimento Infantil (EDIs) e nas creches públicas e particulares da cidade. O projeto segue agora para promulgação pela presidência da casa, quando passará a valer como lei.

O objetivo é facilitar a continuidade do aleitamento materno de crianças matriculadas nas instituições. Para isso, deverão ser viabilizadas condições adequadas para que o leite materno seja acondicionado de maneira segura antes de ser oferecido a uma criança. Pela não existência desta oferta, muitas mães se veem obrigadas a retornar do trabalho para amamentar seus filhos.

De acordo com a proposta, os Espaços de Desenvolvimento Infantil e as creches públicas e privadas – com ou sem berçário – ficam obrigadas a implantar ambiente adequado para manipulação, armazenamento e distribuição de leite ordenhado, incluindo recepção, limpeza, esterilização e distribuição de utensílios.

O leite humano é capaz de reduzir em até 14% a mortalidade de crianças menores de cinco anos por causas evitáveis. Além disso, a amamentação proporciona diminuição na ocorrência de diarreias, infecções respiratórias e alergias na infância, além de prevenir hipertensão, diabetes e obesidade em fases futuras da vida.

Prevenção

Para as mulheres, a amamentação contribui para a prevenção ao câncer de mama e de ovário, além de configurar uma prática fortalecedora do vínculo afetivo entre mãe e filho. A Organização Mundial de Saúde (OMS) escolheu a cor dourada para a campanha, que foi instituída no país pela Lei Federal 13.345/2017. 

A Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) recomenda que o aleitamento materno seja praticado até os dois anos de vida ou mais da criança, devendo ser o alimento exclusivo dos bebês nos primeiros seis meses.

Entretanto, a prevalência do Aleitamento Materno Exclusivo (AME) no Brasil ainda está abaixo das estimativas da OMS. Na região Sudeste, segundo o Estudo Nacional de Alimentação Infantil (Enani-2019), apenas 28,1% das crianças entre quatro e cinco meses têm aleitamento materno de forma exclusiva.

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Saúde

Amamentação: 10 formas de oferecer apoio a mãe e filho nessa fase

 

Das situações mais fáceis às mais desafiadoras, a chance de sucesso do aleitamento materno é maior quando a mulher tem as condições necessárias para se dedicar a ele

 

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Se para grande parte das mulheres amamentar envolve vários desafios, para outras pode parecer algo quase impossível – como, por exemplo, mães com filhos autistas ou com síndrome de Down, de recém-nascidos prematuros, com baixo peso, aquelas que fizeram cirurgias na mama, além dos casais LGBTQIA+ e das famílias que passaram por catástrofes ambientais. Neste ano, elas são o foco da Semana Mundial do Aleitamento Materno (SMAM), que acontece de 1º a 7 de agosto.

A data foi estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1992 após a Declaração de Innocenti, um documento que enfatiza ações para promover, proteger e apoiar o aleitamento materno. Ele foi assinado no dia 1º de agosto de 1990 por diversas organizações, incluindo a Organização Mundial Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). No Brasil, a celebração se estende por todo o mês, no chamado “Agosto Dourado”.

“O tema deste ano é apoiar a amamentação em todas as situações, pois nem sempre damos a devida importância a esses casos. Não estamos preparados para isso, fazemos políticas globais, mas faltam as ‘específicas’”, analisa a médica Marina Rea, que foi coordenadora das ações de aleitamento materno da OMS em Genebra, na Suíça, e participou da reunião que deu origem à Declaração de Innocenti em 1990. Rea também é fundadora da Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar – International Baby Food Action Network (IBFAN).

“Com o manejo correto do aleitamento materno e uma forte rede de apoio, praticamente todas as mães que persistem e desejam conseguem ter sucesso”, reforça a pediatra Karina Rinaldo, do Hospital Israelita Albert Einstein e vice-presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

E o esforço vale a pena, já que os benefícios do leite materno são insuperáveis: “Nenhuma fórmula consegue substituí-lo”, lembra Rinaldo. Só para citar alguns, ele possui todos os nutrientes necessários ao desenvolvimento do bebê, se adapta a cada fase da vida e ajuda a prevenir doenças infectocontagiosas, má oclusão oral e condições crônicas como obesidade infantil e diabetes, além de estar sempre pronto e na temperatura correta e ser um alimento com custo zero para as famílias.

Ele também carrega os anticorpos produzidos pela mãe, o que fortalece seu sistema imunológico, e é rico em um tipo de gordura essencial ao desenvolvimento do sistema nervoso. Para a mulher, amamentar facilita a perda de peso e reduz o risco de diversos problemas, como hemorragia, depressão pós-parto, câncer de mama e ovário, obesidade e diabetes.

Veja 10 fatores que podem fazer toda a diferença na amamentação:

  1. Rede de apoio

“A recomendação mais básica, que vale para todas as situações, é ter a presença de alguém próximo no dia a dia”, diz Marina Rea. Pode ser marido, mulher, mãe, avó, um amigo — é preciso um apoio familiar no cotidiano para que a mãe possa se dedicar ao bebê enquanto alguém se ocupa de a lavar a louça, por exemplo, ou de coisas mais simples, como alcançar um copo de água. “O papel do parceiro ou da parceira nesse momento é fundamental”, reforça a pediatra do Einstein.

  1. Ajuda profissional

A amamentação envolve um aprendizado da mãe e da criança e cada detalhe importa, desde o posicionamento e a pega da mama pelo bebê até ouvir a mãe e compreender seu estado emocional. Se o pequeno não mama corretamente, podem surgir lesões nos mamilos, inflamação nas mamas, baixa produção de leite, entre outros problemas que dificultam a amamentação e vão agravando o cenário, num círculo vicioso.

“Apesar das dificuldades, com um bom manejo do aleitamento materno, a maioria desses problemas pode ser solucionado”, assegura a médica Karina Rinaldo. É preciso buscar apoio de profissionais — médico, pediatra, enfermeiro, consultora de amamentação, nutricionista — que tenham bom conhecimento do tema e que estejam atualizados.

  1. Local do parto

A amamentação tem mais chance de começar bem se o bebê nasce numa clínica ou hospital que adota práticas reconhecidas, os chamados 10 passos, que favorecem o aleitamento materno. Entre elas estão o alojamento conjunto para mãe e bebê, o estímulo à livre demanda (amamentar sem horários definidos) e que não ofereça chupeta ou mamadeira sem necessidade, explicando os riscos de causarem um desmame precoce ou até mesmo confusão de fluxo e de bicos.

  1. Condições de trabalho

Para as mães com trabalho remunerado, a volta da licença-maternidade costuma ser desafiadora. A legislação prevê que a mulher tenha direito a dois descansos de meia hora para amamentar ou fazer a ordenha até a criança completar seis meses de vida. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) também diz que estabelecimentos com pelo menos 30 trabalhadoras devem ter local adequado para as funcionárias deixarem os filhos no período da amamentação, como creche. Ainda assim, pode ser complicado continuar amamentando após o fim da licença.

Para mães que estão no mercado informal, a situação é ainda mais desafiadora. “Elas deveriam ter acesso facilitado a locais em que pudessem retirar seu leite”, diz Marina Rea. Karina Rinaldo concorda: “Toda sociedade deve apoiar a amamentação, incluindo gestores de empresas públicas e privadas.”

  1. Informação correta

“Hoje o grande vilão é a má informação no mundo digital”, observa Rea. São sites, contas de mídias sociais e influenciadores que, às vezes até com boas intenções, não apresentam um conteúdo correto ou mesmo isento. “Há um excesso de informação, mas não de qualidade”, avalia Karina Rinaldo. “Imagina essas mães de madrugada, com dor e fissuras, sem saber onde buscar orientação.”

Por isso, vale sempre procurar ajuda de profissionais capacitados e atualizados e em fontes confiáveis, como o Ministério da Saúde, ou instituições de referência, a exemplo da Rede Global de Bancos de Leite Humano.

  1. Acolhimento

“É preciso ouvir essas mães com ouvidos bem abertos, sem julgamentos”, diz a pediatra do Einstein. “Elas já trazem o que sabem, é preciso empatia e boa comunicação para entender suas angústias, medos, inseguranças e dúvidas. Só assim é possível dar a orientação adequada.”

Há aquelas que chegam ao consultório sem querer amamentar e outras que não conseguem por diversos motivos. “Qualquer tempo de aleitamento é melhor do que nenhum e já deixa benefícios para o bebê.”

  1. Consulta pré-natal com pediatra

Sempre que possível, é interessante fazer uma consulta com o pediatra antes mesmo do parto. Isso é importante para receber orientações básicas sobre o início da amamentação e ter um profissional a quem pedir ajuda. “Mas, embora seja recomendada pela Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Brasileira de Pediatria, infelizmente ainda não há grande adesão a essa prática”, diz Rinaldo. O pré-natal é um período importante para orientar sobre o início da amamentação e a enfermagem também deve fazê-lo.

  1. Evitar os acessórios como chupeta e mamadeira

Não se deve oferecer bicos, chupetas e mamadeiras ao bebê sem necessidade, pois eles podem levar à redução das mamadas e, portanto, à queda na produção de leite — o que está muito associado ao desmame precoce. Protetores de silicone para os seios também podem prejudicar a amamentação.

  1. Amamentação na sala de parto

O contato pele a pele na primeira hora de vida (a chamada golden hour) e o estímulo à amamentação na sala de parto são recomendados, independentemente da via de parto. Se o bebê nascer em boas condições e for possível, ficar com o bebê no colo logo após o nascimento traz inúmeros benefícios, como estimular o reflexo da mamada e a descida do leite (apojadura), acalmar e aquecer naturalmente o bebê e melhorar o vínculo entre mãe e filho, mesmo em partos cirúrgicos.

  1. Cuidar da saúde física e mental

É importante que a mulher entenda que está passando por uma transição hormonal, que é normal se sentir um pouco triste e que a falta de sono pode piorar o quadro. Por isso, é preciso descansar quando possível (tentar dormir quando o bebê dorme, por exemplo) e manter uma alimentação saudável, já que amamentar consome muitas calorias. Também é recomendado ter uma boa hidratação.

Fonte: Agência Einstein

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Saúde

Brasil quer chegar a 70% de aleitamento materno exclusivo até 2030

© José Cruz/Agência Brasil

Semana Mundial da Amamentação é celebrada de 1º a 7 de agosto

Por Paula Laboissière – Repórter da Agência Brasil – Brasília

Dados do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil, publicado em 2021, indicam que a prevalência de aleitamento materno exclusivo entre crianças menores de 6 meses no Brasil era de 45,8%. O índice, apesar de baixo, representa um avanço em relação às últimas décadas – em 1986, por exemplo, o percentual no país foi apenas 3%.

Nos anos de 1970, as crianças brasileiras eram amamentadas, em média, por dois meses e meio. Atualmente, a duração média é 16 meses, o equivalente a 1 ano e quatro meses de vida. A meta estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é que, até 2025, pelo menos 50% das crianças de até 6 meses sejam amamentadas exclusivamente.

Brasília (DF), 01-08-2024 - A ministra da Saúde, Nísia Trindade, anuncia novas ações de apoio à amamentação no país, durante a solenidade de lançamento da campanha da Semana Mundial da Amamentação 2024, que este ano tem como tema
Semana Mundial da Amamentação 2024, por José Cruz/Agência Brasil

A expectativa do governo brasileiro é que esse índice chegue a 70% até 2030. “Que melhoremos ainda mais esses números rumo à meta dos 70% de aleitamento materno exclusivo até os 6 meses. Que possamos dar esse exemplo a outros países”, avaliou a ministra da Saúde, Nísia Trindade. “O Brasil é referência naquilo que a saúde pública mais sabe fazer: unir conhecimento cientifico, gestão e mobilização social.”

Campanha

No primeiro dia da Semana Mundial da Amamentação, celebrada de 1º a 7 de agosto, o ministério reforçou que a amamentação é a forma de proteção mais econômica e eficaz para redução da mortalidade infantil, com grande impacto na saúde da criança, diminuindo a ocorrência de diarreias, afecções perinatais e infecções, principais causas de morte entre recém-nascidos.

Ao mesmo tempo, traz inúmeros benefícios para a saúde da mulher, como a redução das chances de desenvolver câncer de mama e de ovário. “A amamentação não deve ser tratada como um privilégio e sim como um direito de crianças e mães. Além de direito, ela é fundamental para a garantia da vida dessas crianças e dessas mães”, avaliou o secretário adjunto de Atenção Primária à Saúde, Jersey Timoteo.

Relato

Laís Costa é pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e mãe de duas crianças. Ela conta que, quando ambas as filhas nasceram, produziu bastante leite, mas, com a primogênita, saiu da maternidade com a fórmula prescrita, para que a bebê se alimentasse com leite artificial. Já com a segunda filha, Laís deixou a maternidade amamentando a criança.

“A grande diferença entre as minhas duas filhas é que a primogênita nasceu com síndrome de Down. Havia um pressuposto de que a doença a impediria de mamar. Isso é um mito. Famílias de crianças com síndrome de Down saem com fórmula prescrita, mas, quando chegam no banco de leite ou numa informação precisa, consegue garantir esse direito à vida.”

“Minha filha primogênita nasceu com uma cardiopatia e claro, que o leite humano – a gente já sabe disso – é o melhor alimento para todos os bebês, mas ele beneficia proporcionalmente ainda mais alguns. Ele protege ainda mais alguns que precisam de mais proteção. A pergunta é: por que, das minhas filhas, aquela que precisava de mais proteção foi aquela privada desse direito fundamental para a garantia da vida?”

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Saúde

OMS e Unicef promovem campanha mundial de amamentação

© Fernando Frazão/Agência Brasil

Leite materno é o alimento ideal para bebês, dizem entidades

Por Paula Laboissière – Repórter da Agência Brasil – Brasília

Reconhecer mães que amamentam, garantir que sejam vistas e ouvidas, partilhar experiências e a importância do apoio, em todos os seus níveis, ao aleitameneto materno. Essas são as propostas da Semana Mundial da Amamentação, que começa nesta quinta-feira, dia 1º, e segue até o próximo dia 7, encabeçada por entidades como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Em 2024, a iniciativa tem como tema Fechando a lacuna: apoio à amamentação para todas. A proposta é debater políticas que valorizem a mulher e a amamentação e sistemas de saúde favoráveis ao aleitamento materno, além de promover o respeito pela autonomia da mulher e pelo direito de amamentar a qualquer hora e em qualquer lugar.

“Existem ações que todos podemos realizar para ajudar as mulheres a amamentar durante o tempo que desejarem”, avalia a OMS.

“O apoio à amamentação assume muitas formas – desde o acolhimento pela equipe de trabalho até conselhos de profissionais de saúde e ações de proteção à maternidade por parte do governo. Tudo isso ajuda a proteger a saúde e os direitos de mulheres e bebês. Mulheres em todo o mundo têm direito a um aconselhamento respeitoso sobre amamentação por parte de prestadores de cuidados em saúde, bem como a leis e políticas como licença-maternidade”, completou a entidade.

Eficácia da amamentação

A OMS classifica a amamentação como uma das formas mais eficazes de garantir saúde ao longo de toda a infância. Ainda assim, menos de 50% das crianças com menos de seis meses de vida são exclusivamente amamentadas. Dentre diversas ações, a Semana Mundial da Amamentação defende:

– apoio a mulheres para que possam amamentar a qualquer hora e em qualquer lugar, de forma que o ato seja normalizado e não censurado em locais públicos;

– direitos eficazes relacionados à maternidade e que não obriguem as mulheres a escolher entre a família e o trabalho;

–  capacitação de profissionais de saúde para que possam fornecer apoio útil e respeitoso ao aleitamento materno;

– o fim da publicidade, de forma exploradora, de leite em pó ou fórmula em todos os contextos.

“O leite materno é o alimento ideal para bebês. É seguro, limpo e contém anticorpos que ajudam a proteger contra diversas doenças infantis comuns. Ele fornece toda a energia e os nutrientes que o bebê precisa durante os primeiros meses de vida, fornece pelo menos a metade das necessidades nutricionais de uma criança durante a segunda metade do primeiro ano de vida e até um terço das necessidades nutricionais durante o segundo ano de vida”, destaca a OMS.

A entidade acrescenta que “crianças amamentadas têm melhor desempenho em testes de inteligência, menos probabilidade de apresentar excesso de peso ou obesidade e são menos propensas a diabetes na vida adulta. Mulheres que amamentam também têm risco reduzido de câncer de mama e de ovário”, concluiu a OMS ao alertar que a comercialização inadequada de substitutos ao leite materno continua a minar os esforços para melhorar as taxas e a duração da amamentação em todo o mundo.

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Saúde

Amamentar mais de um ano reduz risco de câncer de mama

© Fernando Frazão/Agência Brasil/Arquivo

Banco de Leite Humano recomenda aleitamento materno

Por Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil – Rio de Janeiro

Estudo publicado na Revista Cancer Medicine indicou que cada 12 meses de aleitamento materno pode reduzir em 4,3% a possibilidade de desenvolver câncer de mama. “E isso é cumulativo: a cada nascimento, esse risco reduz 7%”, disse à Agência Brasil a coordenadora de Assistência do Banco de Leite Humano do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira, da Fundação Oswaldo Cruz (IFF/Fiocruz), Maíra Domingues.

Segundo a pesquisa, isso acontece em mulheres de diferentes países, rendas, idades, entrada na menopausa, grupos étnicos e idade do primeiro parto em todo o mundo. “O que a gente tem são diversas evidências robustas que revelam esse dado de redução do câncer de mama”, explicou Maíra.

Ela informou que o Banco de Leite Humano sempre recomenda o aleitamento materno, como preconiza a Organização Mundial da Saúde (OMS), durante seis meses, de forma exclusiva e, após seis meses, até dois anos ou mais, de forma continuada.

“São justamente [com] esses dois anos ou mais [que se] ganha a proteção para o câncer de mama. Muitas famílias perguntam por que é preciso amamentar por dois anos ou mais se o bebê está fazendo alimentação em casa. Porque amamentar vai muito além de alimentar a criança. Amamentar é proteção não só para a criança, mas também para a mulher. Esses benefícios se estendem para ela”.

A coordenadora sustentou que a recomendação do IFF/Fiocruz é esta: que a criança pode ser amamentada por dois anos ou mais também para proteger contra o câncer de mama.

Ela reforçou que amamentar traz outros benefícios a curto, médio e longo prazos para mãe e a criança. Além do laço afetivo com o filho, a mulher se beneficia pela redução do risco de câncer de ovário, de ter diabetes e algumas doenças cardiovasculares.

Para as crianças, ela destacou a proteção contra doenças diarreicas e infecções respiratórias, como pneumonia; melhor formação e desenvolvimento da região orofacial; desenvolvimento da linguagem; redução do risco de má oclusão dentária; redução de doenças mais à frente, como obesidade e diabetes, entre outras.

Há, ainda, estudos que mostram que o leite humano tem células-tronco que trazem outra dimensão, inclusive, terapêutica. “O fato de o leite humano ter células-tronco mostra o quanto esse alimento tem um potencial enorme, que vai muito além da alimentação da criança”.

Risco relativo

Além de contribuir para o desenvolvimento do vínculo afetivo entre mãe e filho, amamentar gera diversos benefícios para a saúde infantil e materna, entre os quais está a diminuição do risco de ter câncer de mama.

O mastologista do Hospital do Coração, Afonso Nazário, esclareceu, entretanto, que esse não é um risco absoluto e individual, mas relativo para uma população. “Suponha que o risco de certa população, para ter câncer de mama, é de 100 casos para cada 100 mil mulheres. Quando o risco relativo diminui 4%, essa redução é sobre a população geral. Se o risco relativo de câncer de mama aumenta 20%, não é que ela, a pessoa, vai ter 20% mais de risco. É em relação à população geral. Se determinada população tem 100 casos de câncer para 100 mil mulheres, quando o risco aumenta 20%, vai ter 120 mulheres – 20 a mais – para cada 100 mil”, explicou.

Nazário esclareceu que mulheres que amamentam pelo menos um ano têm 4% menos risco em relação à população em geral. Se agregar um novo parto, essa dimensão aumenta mais 7%. Isso resultaria em 11%, mas não é um risco absoluto daquela mulher, mas em relação à população geral. O mastologista destacou que esse efeito protetor é quando a mulher está em idade jovem, abaixo de 35 anos e, principalmente, abaixo de 25 anos, porque o epitélio mamário é mais suscetível ao câncer nessa fase da vida. O especialista frisou que “tudo que aumenta o risco, quanto mais jovem a mulher, maior o impacto”, afirmou. Acima de 35 anos, o efeito protetor da amamentação deixa de existir.

Ao se tornar mãe antes dos 25 anos, o risco relativo de câncer de mama na pós-menopausa reduz em 35% em comparação com as mulheres que nunca tiveram filhos. Depois disso, as chances de desenvolver a doença passam a aumentar.

Afonso afirmou, contudo, que o efeito protetor da amamentação durante mais de um ano ocorre, inclusive, em formas agressivas de câncer de mama (caso de tumores triplo-negativos, quando detectados precocemente). O risco pode diminuir em cerca de 20%.

Nas mulheres com câncer de mama que apresentam mutações hereditárias, chamadas mutações BRCA1, a amamentação também reduz a manifestação da doença em cerca de 22% a 50%. “Mesmo nascendo com uma mutação agressiva, tem como diminuir esse risco”, disse. Amamentação e estilo de vida são fatores que contribuem para isso.

O médico do Hcor citou estudo feito pelas universidades federais de São Paulo (Unifesp) e do Amazonas (Ufam), no ano passado, com populações ribeirinhas e de Manaus. A pesquisa revelou que não existe taxa de mortalidade de câncer de mama nas populações indígenas.

Foram analisados vários dados, incluindo idade, gestação, parto e amamentação. “A única coisa que a gente achou como efeito protetor foi a amamentação”,  afirmou.

Os dados das mulheres indígenas foram comparados aos das mulheres de Manaus e o único fato diferente é que as indígenas amamentam durante cinco ou seis anos, em média. “Isso é muito maior do que a população não indígena. É um efeito protetor absurdo”, opinou. Mulheres da capital amazonense também amamentam os filhos, mas não chegam a esse número. Mesmo as indígenas que vão morar em Manaus mantêm a cultura de amamentar os filhos muito tempo e não têm câncer de mama.

Teorias

Membro da Comissão de Mastologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), o médico Guilherme Novita disse que as mulheres que amamentam têm menos câncer de mama do que as que não amamentam. Acredita-se que isso acontece por duas coisas. “Durante o período da amamentação, o ovário da mulher fica em uma fase de dormência em que não produz os hormônios do ciclo menstrual. Normalmente, quando a mulher está amamentando, não tem menstruação. A gente sabe que os hormônios do ciclo menstrual causam alterações nas células mamárias, do tipo proliferação de células e posterior descamação. E isso favorece que surja um câncer ali no meio”, opinou.

Outra teoria diz que, quando a mulher amamenta, em especial em uma fase mais jovem, ocorrem algumas modificações no nível das células mamárias que tornariam essa célula mais estável e menos suscetível a agentes ambientais oncológicos. Essa teoria é menos aceita, segundo Novita.

Banco de Leite Materno do Hospital Regional de Ceilândia (HRC). Fotos: Vinicius de Melo/Agência Brasília
Leite materno beneficia mães e filhos, afirmam  especialistas –  foto- Agência Brasília

A grande questão, segundo o médico, é que não se estudou mulheres que tiveram gravidez a termo e amamentaram. “Geralmente, eles separam o muito do muito pouco. Comparam mulheres que tenham tido vários filhos, acima de três, principalmente de comunidades rurais onde o acesso à prevenção de gravidez é mais difícil, que têm idade do primeiro parto mais cedo, com mulheres de cidades grandes, que têm mais acesso a métodos anticoncepcionais que, geralmente, não têm filhos em idade muito jovem e têm número menor de filhos ou que nunca tiveram filhos. Quando se faz essa comparação, você vê que as mulheres que tiveram mais filhos têm menos câncer de mama. A gravidez previne câncer de mama e a amamentação também previne. Quanto, a gente não sabe”, acentuou.

Benefícios

O médico estimou que estudos sobre benefícios da amamentação das mulheres têm que ser vistos com cuidado porque, muitas vezes, estão comparando mães de populações rurais, com hábitos e expectativas de vida diferentes, com populações urbanas.

“Se pegar um país em desenvolvimento, encontrará predomínio maior de uma população rural, gestações mais precoces, mais gestações, mais amamentação. E as pessoas não têm expectativa de vida longa por questões de falta de cuidados básicos, como saneamento, e acabam tendo menos câncer de mama”, frisou.

Na avaliação de Novita, ninguém defende que a mulher amamente exclusivamente para se prevenir de câncer de mama. “Não amamentar também não é um risco tão alto. O fato de não terem filhos ou não terem amamentado não muda tanto, principalmente se os filhos [vieram] após os 35 anos de idade. O maior benefício da amamentação é, realmente, a nutrição da criança, ainda mais em um país como o Brasil em que, em alguns lugares, há dificuldade de alimentar. É fundamental para o desenvolvimento e diminuição da mortalidade infantil”, acentuou.

Um benefício adicional da amamentação acaba sendo a redução do câncer de mama. Destacou, entretanto, que “é um benefício não tão fundamental assim. Não precisa você indicar amamentação para prevenção de câncer”. O especialista concordou, entretanto, que amamentar reduz o risco de câncer de mama, “mas transformar isso em números é muito difícil de ser feito. A gente sempre recomenda a amamentação”, finalizou.

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