Opnião

Se a pandemia acabar…

As minhas conversas recentes seguem o mesmo tom: O que planejamos fazer quando a pandemia da Covid-19 for controlada através da vacinação e, consequentemente, erradicada do nosso cotidiano. Acredito que esse é o grande anseio mundial nesse momento da história tendo em vista o que aconteceu em 2020. Além da contagem perturbadora de milhares de casos e de mortes pela Covid-19, o ano da pandemia também trouxe medo, apreensão, incerteza, angústia, ansiedade, dúvida, irritabilidade, depressão, pânico, solidão, estresse, desemprego, crise financeira, conflitos.

Definitivamente foi um ano que jamais imaginaríamos viver e que agora não vamos mais esquecer. As consequências têm sido drásticas e mudaram o nosso jeito de viver, de comprar, entreter e se relacionar. Todas as pessoas, sem exceção, enfrentam alguma dor. Até as pessoas que alcançaram sucesso em determinada área da vida tiveram algum tipo de restrição imposta pela pandemia, nem que seja a redução da liberdade de ir e vir que, por sinal, já é um fardo. Fomos obrigados a nos adaptar às circunstâncias, a sair da zona de conforto, a mudar, reinventar e a superar nossos limites. Tem sido desafiador!

No desejo de ver tudo isso acabar, você já deve ter se questionado em relação aos planos pós pandemia. Eu planejo sair com a família: viajar para o litoral e ir à praia, assistir um bom filme de comédia no cinema e desfrutar de um banquete no restaurante japonês. Meus planos são simples, mas significam muito nesse tempo em que a nossa liberdade de ir e vir foi prejudicada pelas restrições causadas pela pandemia. E quanto a você? Quais são os seus planos para o período pós pandemia? O que você pretende fazer? As respostas são as mais variadas possíveis. Desde os planos mais simples, baratos e acessíveis até os planos mais caros e ousados. O fato é que todas as pessoas aguardam ansiosamente o dia em que a vida voltará ao normal.

No entanto, de acordo com o andamento da pandemia, o ano de 2021 será tão desafiador quanto o ano de 2020. Embora tenhamos acesso à vacina e a esperança do controle da transmissão, ainda teremos casos confirmados, internações e mortes. O combate à pandemia continuará direcionado pela tensa disputa política. Meu objetivo não é criar pânico nem fazer alarde, mas convidá-lo para uma reflexão. O pensamento ‘Se a pandemia acabar, eu farei…’ é um exemplo de como a vida precisa ser diferente. Me refiro àquela vida do dia a dia que, às vezes, por causa da rotina passa desapercebida. Milagres diários que sistematicamente são ignorados e praticamente se tornam banais.

Os sentimentos de impotência e incapacidade que muitas vezes permearam nossas vidas em 2020 se repetirão nesse ano.  A pandemia nos levou a uma introspecção, a olhar para o nosso coração e reconhecer fraquezas e erros. A pandemia revelou nosso orgulho, egoísmo, autossuficiência e talvez tenha exposto o que há de pior em nós. A expectativa do ‘novo normal’ rapidamente se transformou e piorou, pois as pessoas estão mais intolerantes, agressivas e cheias de razão. A pandemia que, no primeiro momento, mostrou que não tínhamos nenhum controle sobre a vida e nos fez temer, se transformou na justificativa para um comportamento inaceitável. A consequência tem sido os problemas no casamento, na família, no trabalho, nos relacionamentos em geral. A vida está por um triz e por motivos fúteis estamos abrindo mão daquilo que realmente tem valor. Classifico como fúteis porque, geralmente, são. Respeito a dor alheia, mas enquanto brigamos para quem saber quem está certo, pessoas morrem ou perdem seus entes queridos, às vezes sem ter a possibilidade de se despedir.

Isso significa que precisamos aprender a conviver com nossas dores, frustrações e medos e parar de machucar as pessoas. Não podemos mais insistir em erros e continuar assistindo a família desmoronando, o trabalho sendo um peso e a sociedade um caos. Precisamos ser mais humildes, tolerantes e pacíficos para que a vida seja mais leve e para que haja mais compreensão, respeito e empatia. Precisamos chorar mais, mas chorar mais a dor do próximo. A pandemia endureceu nosso coração e roubou a nossa sensibilidade.

O ano de 2021 trará os seus desafios. Mas podemos – e precisamos – aprender e mudar para valorizarmos o que realmente importa. Que sejamos pessoas melhores a cada dia nesse novo ano. Se a pandemia for controlada e acabar planeje sair e desfrutar de tal liberdade. Mas enquanto essa liberdade não for restituída, invista em você. Enfrente os seus erros e se torne uma pessoa melhor. Cuide do corpo, da alma e do espírito. Desenvolva um coração grato, seja cauteloso com as palavras, seja um pacificador, leve o fardo de alguém, facilite a vida das pessoas ao seu redor, julgue menos e seja simples. Busque ser a melhor versão de você mesmo.
* Esmael Oliveira – marido, pai, cristão, jornalista, são paulino e pontepretano.

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