Opnião

Outubro Rosa em Valinhos: É hora de agir

A ciência é clara: quando o câncer de mama é tratado adequadamente e em tempo oportuno, as chances de cura podem ser superiores a 95%

Com a chegada de Outubro, Valinhos se ilumina em tons de rosa, aderindo à mobilização mundial de conscientização e prevenção do câncer de mama. A iniciativa da Prefeitura de Valinhos, em parceria com o incansável Grupo Rosa e Amor, oferece um calendário robusto de ações, que vão desde mutirões de mamografia e exames de Papanicolau até palestras sobre saúde bucal, atividade física e autocuidado. É um esforço louvável que transforma o mês em uma janela de oportunidades para a saúde integral da mulher valinhense.

No entanto, em meio a essa onda de conscientização, o editorial da Folha de Valinhos precisa fazer um questionamento fundamental: a sociedade, e em especial as mulheres, estão, de fato, aproveitando essa chance? A fartura de dados e a crueza dos números nacionais sobre o câncer de mama nos obrigam a ir além da mera celebração da campanha. É preciso criticar a inércia e cobrar uma participação ativa e responsável.

Os dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e outras fontes (IBGE, DATASUS) lançam uma sombra preocupante sobre o cenário nacional. O Brasil deve registrar este ano cerca de 74 mil novos casos de câncer de mama. O que mais choca é a estatística da negligência: cerca de 24% das mulheres brasileiras na faixa etária de rastreamento nunca realizaram mamografia.

O câncer de mama já é a principal causa de mortalidade por câncer entre as mulheres no Brasil, tendo levado à morte 19.103 mulheres em 2022. Mas o maior grito de alerta reside no diagnóstico tardio. Cerca de 40% dos casos são descobertos em fase avançada, e mais da metade das pacientes no SUS iniciam o tratamento oncológico com atraso superior aos 60 dias previstos em lei. O que está por trás desses números não é apenas a falha do sistema – que, de fato, precisa de agilidade, especialmente para os 75% da população que depende exclusivamente do SUS – mas também a omissão individual.

A ciência é clara: quando o câncer de mama é tratado adequadamente e em tempo oportuno, as chances de cura podem ser superiores a 95%. A chave para essa taxa de sucesso é o diagnóstico precoce. É aqui que a mamografia se impõe como heroína, sendo o único exame capaz de identificar um nódulo suspeito antes mesmo de ser palpável. A recomendação do rastreamento anual, entre 40 e 74 anos, não é um mero protocolo, mas sim uma sentença de vida.

Em Valinhos, a Prefeitura e o Grupo Rosa e Amor estão derrubando barreiras de acesso com mutirões e horários estendidos nas UBS. Não há mais desculpas plausíveis. Os mutirões de mamografia no CEV 1, disponíveis em vários sábados (como 4, 11, 18 e 25 de Outubro, com agendamento simples via WhatsApp), e os exames de Papanicolau sem agendamento em diversas UBS são um convite direto à responsabilidade.

A programação local vai além do mamógrafo, abraçando o conceito de saúde integral da mulher, com foco na prevenção de fatores de risco. Palestras sobre a importância da atividade física (que pode evitar cerca de 17% dos casos), nutrição e autocuidado se somam a serviços odontológicos e a rodas de conversa com especialistas renomados, como na abertura oficial do Grupo Rosa e Amor.

A mulher precisa assumir o protagonismo de sua saúde. Não basta esperar por uma campanha anual. É preciso adotar hábitos de vida saudáveis — evitar o sedentarismo, a obesidade e o consumo de álcool — e, crucialmente, praticar o autoconhecimento das mamas. A maioria dos cânceres ainda é descoberta pela própria mulher, pela observação de sinais e sintomas. O Outubro Rosa, portanto, deve ser o catalisador de uma rotina de autocuidado que se estenda pelos outros 11 meses do ano.

O câncer de mama não é uma fatalidade, mas uma doença com alta chance de cura quando detectada cedo. A mobilização de Valinhos é um espelho do que é possível fazer quando o poder público e a sociedade civil (representada brilhantemente pelo Grupo Rosa e Amor) trabalham juntos.

No entanto, o sucesso desta campanha não será medido pela quantidade de laços rosas espalhados pela cidade, mas sim pelo aumento expressivo no número de agendamentos e pela mudança de comportamento da nossa população feminina.

O convite está feito, a estrutura está montada. Cabe a cada mulher de Valinhos, a cada familiar, a cada empregador, garantir que a prevenção seja uma prioridade inegociável. Não sejamos parte da estatística dos que negligenciam a própria vida.

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