Opnião

Ocupar-se consigo mesmo

Cara leitora, caro leitor, somos mais inconscientes do que pensamos. Somos menos inconsequentes do que deveríamos ser. Racionalizamos.
Cada passo é um desequilíbrio rumo a um futuro incerto e distante. Esquecemos de acolher o presente e colher o presente, a dádiva. O que longe acontece, logo se esquece. O que no interior faz morada, é porque machucou, entorpece.
O que nos torna melhores é apenas nós mesmos queremos sê-lo. Não contra os outros, mas a favor de nós mesmos. Amanhã já deveríamos ser o que não somos hoje. Tudo de nós… e mais um pouco… Ou melhor, ainda nada de nós, e menos ainda.
Certas crenças e valores estão enraizadas nas mentes das pessoas que é inútil qualquer discussão: será apenas discussão e não debate passível de mudar a opinião, levar a um novo patamar. O estudo, a profundidade do intelectual, foram substituídos pela opinião; opina-se, fala-se, fala-se muito, com crença de isso ser ciência, mas é apenas um pensamento sem embasamento. Mais uma vez inútil discutir. Agarram-se a uma opinião na velocidade em que se frita um pastel e nunca mais se livram dela. Afinal, mudar pode exigir muito esforço e necessidade de assumir que o jeito de pensar anteriormente estava errado, aliás, nunca errado, apenas equivocado.
Pior ainda é no Brasil. Caímos de tal forma na ignorância intelectual de nossos pares que não somos capazes de perceber o quão ignorantes nos tornamos. Nossas conversinhas não vão além de amenidades do cotidiano, se fez frio, se esquentou, o que o presidente disse, o que se comprou, o que se ganhou vantagem, enfim, apenas o cachorro correndo atrás de seu próprio rabo, o homem da caverna de Platão, que enxergava apenas sua própria sombra e não percebia que a saída da caverna estava atrás de si. “É preciso ocupar-se consigo mesmo” era uma antiga sentença da cultura grega.
“A sociedade prega o bem, mas o sistema só alimenta o que é mal. Se a nossa cara é prosperar, o povo tem que evoluir também…” já cantou Charlie Brown Jr. Ainda estou esperando por tal evolução, mas pelo andar da carruagem, não há de acontecer.

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