Opnião

O que você levará junto quando fugirmos para as montanhas?

Quantos de nós andam no limite desde o início da pandemia? Não podia esperar menos.

Da noite para o dia fomos obrigados a digerir e tomar partido de um caminhão de situações que sequer tínhamos cogitado no almoço de domingo. Desde março de 2020 tem sido assim: a incerteza a respeito de quase tudo nos fez presas fáceis da agonia, do medo, da tristeza, da perda e da desesperança.

A pandemia veio como um tsunami e revirou nossas vidas. No Brasil, recebeu um upgrade ao entrar para o debate político, aquecendo ânimos, dividindo as pessoas, as famílias, os amigos e o trabalho. Que tempos. Num momento de tantas incertezas, curiosamente chovem opiniões e certeza par quase tudo. Debate democrático e livre expressão de ideias, nem tanto.

Basta ir às redes sociais para ver a bola correndo solta no campo das animosidades que se instalou no país. Polemiza-se quase tudo, da vacina às decisões dos Ministros do Supremo Tribunal Federal. O comportamento de bolha do documentário “The Social Dilemma” se materializa a duras penas na pandemia. E é lamentável que a grande maioria siga revel aos fatos, simplesmente retroalimentando a manipulação da certeza. Morte ao debate!

Em meio a isso tudo, tenho ouvido cada vez mais pessoas sufocadas, dizendo que pensam em largar tudo e ir para o meio do mato. Talvez seja por fuga deste mundo de certezas e agressões diárias que estamos vivendo. Porque a vida no mato é simples. No mato se convive com as incertezas da colheita, da chuva e da criação. Ali, a natureza reina no papel principal, ensinando diariamente ao homem o valor da paciência, da humildade, da dúvida e do respeito.

Deus nunca foi implacável, é fato. Mas se Ele mudar de ideia e tivermos que fugir para as montanhas, para recomeçar do zero, se prepare. O céu vai chegar para avaliar o peso real das declarações, dos ataques, das insinuações e dos julgamentos. Da ostentação ao stalking de rede, na balança divina podem ser ouro de tolo e nada mais. Fica o questionamento de sustentabilidade.

Bandeira branca, pois não posso mais. Urge que sentemos pra tomar café e pra conversar. Pra jogar conversa fora e se interessar pelo outro. Encontrar mais semelhanças do que diferenças. E entender mais sobre algoritmos para não sermos tão reféns de notícias fabricadas e de bolhas de rede. Afinal, o ditado ensina que toda história tem três versões: a minha, a sua e a verdadeira. 

Os tempos estão difíceis, sim. Mas tempos difíceis criam homens fortes. Então sigamos com esperança, com a guarda baixa e focando no melhor – seu e do próximo. Nossa história revela que somos um povo das viradas. E sempre viramos com humildade, trabalho duro, fé inabalável, acolhimento e empatia.  Nenhum outro povo é assim. E ainda sorrimos. Pois a fórmula está dada há tempos e basta nos darmos as mãos. De mãos dadas seremos muito fortes se tivermos de ir para as montanhas. Ou para nos reconstruirmos daqui mesmo.

 

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