Opnião
O que vem após o diploma?
O trabalho tem ocupado papel central na sociedade contemporânea, pois é por meio dele que alcançamos estabilidade econômica, constituímos relações sociais e asseguramos uma identidade. Devido a essa supervalorização do trabalho, o sujeito desempregado vivencia o processo de desqualificação social e fracasso pessoal.
Historicamente, o desemprego despontou no século XX como um fenômeno fundamental para a garantia do exército de reserva de força de trabalho capaz de alimentar as demandas do sistema capitalista, o que, por sua vez, favoreceu a exploração da mão de obra. Diante desse cenário, é relevante refletir sobre o impacto desse fenômeno que tem se apresentado como um dos maiores obstáculos do homem contemporâneo, principalmente para os sujeitos jovens e, em especial, entre os recém-formados. Nos últimos anos, o crescimento da taxa de desocupação no grupo de jovens entre 18 a 24 anos tem se destacado de forma bastante significativa, contrariando a lógica que perdurou durante muito tempo que relacionava a alta taxa de desemprego com a baixa escolarização, anunciando que o diploma não oferece hoje a mesma estabilidade e segurança de antes.
Desde a escolha profissional realiza-se um investimento financeiro e pessoal e alimenta-se expectativas sobre a inserção no mercado de trabalho. Além disso, é necessário dar conta da pressão social e das cobrança por bons resultados, independência e satisfação pessoal. Ao perceber o término da graduação os jovens se veem em um movimento identitário no qual é preciso elaborar a transição entre o ser estudante e o ser profissional, momento esse propício para o surgimento de sentimentos de instabilidade, angústia, medo, insegurança e ansiedade em relação ao futuro incerto, caracterizado por um mercado de trabalho exigente, seletivo e incapaz de contemplar a todos. Soma-se a esse contexto a falta de apoio e preparo emocional, o que resulta em uma população universitária que tem adoecido, exibindo índices elevados de psicopatologias e comportamentos suicidas.
Como alternativa para evitar o desemprego, o recém-formado se vê diante de empregos com péssimas condições, como baixa remuneração, carga horária elevada e distanciamento da área de interesse, realidade esta que não corresponde ao investimento financeiro e pessoal empregados durante os anos de formação, mas que surge como oportunidade de adquirir experiência profissional.
Diante desse cenário complexo, torna-se difícil determinar caminhos para a mudança dessa realidade. Deixo aqui um apontamento do que a minha experiência enquanto recém-formada me permite compreender: nossas universidades têm se mostrado falhas e incapazes de oferecer suporte emocional adequado para seus estudantes. Há uma urgência por uma formação que consiga ir além da teoria apresentada em sala de aula e seja capaz de promover o desenvolvimento de competências para a formação integral do profissional, oferecendo apoio para que seus estudantes possam exercer a profissão. Precisamos promover espaços de informação e preparação para o enfrentamento criativo e resiliente das dificuldades específicas desse período de transição entre a universidade e o mercado de trabalho.
Paula Renara Silva Gomes
Psicóloga Residente em Saúde da Mulher/Hospital PUC-Campinas
paularenara.psico@gmail.com