Opnião

“Negro de alma branca” e “Negro de verdade”

O mês de julho, que se encaminha para o seu final, foi marcado por dois atos de racismo, desses que faz gelar os corações dos lutam pela igualdade e fim da discriminação racial no mundo.

Arnaldo Faria de Sá, vereador em São Paulo, usou ás expressões "negro de alma branca" e "negro de verdade" para se referir ao ex-prefeito Celso Pitta durante pronunciamento no plenário da Câmara Municipal da capital paulista.

Já no último sábado 17/07/21, o comentarista Vinícius Silva e o narrador Romes Xavier da Rádio Bandeirantes Goiânia, se referiram ao jogador do Londrina de forma preconceituosa onde o  narrador dizia que Celsinho (jogador do Londrina), estava com dificuldades para se levantar porque o cabelo (Estilo Black Power) devia pesar demais.

Na sequência, o comentarista fez comparações jocosas e concluiu dizendo se tratar de “um negócio imundo”. Disse o comentarista “Exatamente. Parece mais uma bandeira de feijão a cabeça dele do que um verdadeiro cabelo. Não é porque eu estou perdendo os cabelos que eu vou achar um negócio imundo desse bonito”.

Usando um jargão do futebol. O racismo “ATACANDO” novamente no seio da sociedade, desta vez em lugares que se espera o mínimo de igualdade.

Se deparar com atitudes como as citadas em um país onde 56,10% da população, se declaram negra (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) contínua do IBGE), seria no mínimo estranho não fosse o RACISMO estrutural construído no Brasil, desde os tempos em que os primeiros navios negreiros aportaram por aqui.
A quantidade nos números, (56,10% da população que se declaram negra), no entanto, ainda não se reflete na sociedade brasileira em termos de oportunidades para ás pessoas negras.
Pessoas negras são minorias nas posições de liderança no mercado de trabalho e entre os representantes políticos.
E de onde vem essa cultura de inferioridade dos negros? Um vídeo no YOUTUBE – Racismo estrutural | AD Junior | TEDxLaçador, explica um pouco dessa discriminação enraizada e estruturada em nossa sociedade.
No vídeo é traçada uma linha do tempo com algumas datas e fatos que mostram a Estrutura do racismo sendo construída durante os anos. Senão vejamos:
1824 – Negros são considerados seres semi – moventes e poderiam ser hipotecados;
1839 – Decreto no Rio de janeiro proíbe negros de frequentar escolas públicas;
1850 – Negros são proibidos adquirir Terras;
1870 – Com a imigração Europeia em franca expansão, os recém-chegados recebem privilégios nunca oferecidos aos negros brasileiros;
1888 – Lei Aurea, os negros são lançados à própria sorte;
1890 – Decreto 847 chamado de vadios e capoeira proíbe no Brasil e manifestação de religiões de matriz africana e proíbe a capoeira;
1911 – O Brasil participa do Congresso Mundial das Raças e cria a Lei 9.081 cotas para brancos e incentivos para que adquiram propriedades; excluindo pessoas negras.
1934 – A (constituição em seu artigo 138 letra b) estimular a educação eugênica, dificultar a entrada de negros em salas de aulas em que brancos frequentam.
1937 – A frente Negra brasileira (Entidade que representava os negros), é proibida de existir;
1968 – Lei 5465/68 (Lei do boi), 50%, das vagas das Universidades Agrícolas eram destinadas a filhos de sitiantes e fazendeiros.

Percebem a forte base que ampara e amparou o racismo por aqui. Apenas em 1988 com a Constituição, exatos 488 anos do descobrimento, 100 anos da Lei Aurea, que o racismo é reconhecido como crime no Brasil.

Outros 13 anos, foram necessários e apenas depois da Conferencia de Durban (2001), em que o Brasil foi cobrado para se criar Politicas de Igualdade Racial, que se criou em 2002 a Lei de Cotas, e foi ter sua aplicabilidade apenas em 2012.

O racismo no Brasil, não é Mimi, ele existe e foi alimentado por Leis, Decretos e até em Constituições passadas. Combater o racismo é necessário e apenas um movimento coletivo pode extirpar esse mal de nossa sociedade.

Usar a tribuna de uma Casa de leis ou o microfone de uma emissora de rádio (como nos casos citados) para proferir palavras de cunho racista, mostra o quando estamos atrasados em reparar os danos causados pela peste do racismo.

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