Opnião
Extremos do clima: alerta para uma nova realidade

Durante mais de uma semana, as equipes da Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Guarda Ambiental e brigadas civis travaram uma batalha incansável contra o fogo
O início da primavera de 2025 em Valinhos e em toda a Região Metropolitana de Campinas (RMC) foi marcado por uma sucessão de eventos extremos, que transformaram a paisagem da região em poucas horas. A transição abrupta de um longo período de estiagem para uma tempestade avassaladora serve como um alerta contundente sobre as mudanças climáticas e a urgência de uma resposta coordenada do poder público e da sociedade. O que vivemos nos últimos dias não foi apenas uma anomalia climática, mas um sinal claro de uma nova e mais perigosa realidade.
Durante mais de uma semana, as equipes da Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Guarda Ambiental e brigadas civis travaram uma batalha incansável contra o fogo. O incêndio na Serra dos Cocais, no trecho da Pedra do Urubu, na Fazenda Espírito Santo, e os focos de incêndio que, dias antes, atingiram a Estação Ecológica Mata da Tapera, mobilizaram todos os esforços. A cada dia, a esperança por um desfecho positivo era alimentada pela previsão da chegada da chuva. A expectativa por uma trégua na estiagem, no entanto, veio acompanhada de um desafio ainda maior.
Na terça-feira, 22 de setembro, a partir das 13h54, a Defesa Civil emitiu um alerta via SMS para celulares de moradores de grande parte do estado de São Paulo, avisando sobre a chegada de temporais. Ninguém poderia prever, no entanto, a intensidade da tempestade que se seguiu. A chuva, tão esperada para apagar o fogo, causou uma série de danos em diversas cidades, incluindo a destruição da fábrica da Toyota em Porto Feliz. Em Valinhos, o cenário mudou: o combate ao incêndio na Serra dos Cocais foi substituído por uma operação de emergência para sanar os problemas causados pelas chuvas, com registros de quedas de árvores e pontos de alagamento.
Esse episódio é um chamado à ação para os governantes. A natureza não negocia o seu destino; ela apenas responde às agressões. Anos de descaso e destruição do meio ambiente resultaram em uma “Emergência Climática” global, manifestada em desastres naturais cada vez mais frequentes. Como resposta a esse cenário, 194 nações assinaram o Acordo de Paris, criando a Agenda 2030, um compromisso para cumprir os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). É vital que Valinhos, assim como todas as cidades, grandes ou pequenas, faça sua parte para cumprir essa agenda e agir localmente no combate às mudanças climáticas.
Em Valinhos, a Prefeitura tem se movido na direção certa. Desde o início do ano, o município reforçou sua estrutura de Defesa Civil, ampliando a equipe, adquirindo equipamentos e implantando tecnologia de monitoramento. Em 19 de setembro, a cidade decretou Situação de Emergência em razão das queimadas, criando um Comitê Gestor para otimizar a resposta a desastres. O Plano de Contingência foi estruturado, e a Operação Estiagem foi lançada para prevenir e combater incêndios. A fiscalização de queimadas ilegais também foi intensificada, com dezenas de autuações.
Apesar dos esforços, a tempestade de terça-feira serve como um lembrete do que podemos esperar para a temporada de chuvas. O poder público precisa agir de forma rápida na organização de suas equipes e na resolução de problemas em áreas de risco, para que a população não sofra mais. O planejamento precisa ser contínuo e mais abrangente. Assim como a tragédia no Rio Grande do Sul em 2024 demonstrou, os animais também precisam ser incluídos no planejamento de operações de combate a incêndios e mitigação de danos causados por chuvas.
A vulnerabilidade de nossa cidade frente aos extremos climáticos é inegável. A resposta não pode ser apenas reativa, mas sim proativa, baseada em ciência e planejamento a longo prazo. É preciso investir em infraestrutura, educação e conscientização para que a população esteja preparada. O tempo de ignorar os sinais da natureza acabou. Os extremos vivenciados nesta semana são um aviso para que a sociedade e o poder público em Valinhos e em todo o mundo se unam e construam um futuro mais resiliente e seguro para todos.


