Opnião

E a porta continua trancada.

Outro dia, fui em um supermercado da cidade para umas comprinhas, e entre uma pesquisa de preços aqui, uma conversa com amigos ali, me deu vontade de ir ao banheiro. A uns cinco metros, um adesivo numa porta, sinalizava a existência de um banheiro com acessibilidade para pessoas com deficiência (Tive pólio com dois anos de idade, daí o uso do tal banheiro), ao me dirigir ao dito cujo, percebi, que à porta estava trancada, fui até balcão de informações e pedir para abrirem o local.
Uma moça atenciosa que estava atendendo outras duas pessoas, pediu licença aos clientes e me perguntou? O senhor? Como posso ajuda – ló? Nesse momento, todo aquele barulho tradicional de um supermercado, se findou. Parecia que todos queriam saber, o que eu iria fazer no banheiro, número 01 ou número 02.  Olhei para as outras duas pessoas, que nesse momento só tinham olhos para mim, voltei o olhar para a moça atenciosa, que repetiu a pergunta. O senhor? Como posso ajuda – lo? Como já estava apertado, querem logo usar o banheiro, emendei de primeira.  Até que horas o mercado fica aberto.
Um misto de vergonha e falta de privacidade te acompanha nesse instante, pois, ir ao banheiro, se resume em algo muito íntimo, e ter que pedir para um terceiro, ter que abrir uma porta para você fazer suas necessidades fisiológicas é muito embaraçoso.
Por que a porta não fica destrancada, como nos toaletes para pessoas sem deficiência?
Conversando com um amigo que usa cadeira de rodas, e que frequenta o supermercado, ele me explicou, como funciona à logística para se usar o tal banheiro: Deu vontade?
Vá até o balcão de informações, uma pessoa faz a famosa pergunta “ Como posso ajuda – lo (a)? ”, você informa, a moça se dirige até outra pessoa, que imediatamente te olha de longe, a moça pega a chave, volta, vai até o banheiro, abre o banheiro, você entra, a moça fica de olho esperando você sair para fechar o banheiro novamente. Se a pessoa estiver muito apertada nesse meio tempo, melhor se enfiar em um outro banheiro. Como não utilizo cadeira de rodas, fui no banheiro para pessoas sem deficiência, mas uma pessoa na cadeira de rodas? Difícil.
Esse acontecimento, me fez começar a prestar atenção na dinâmica de outros locais e notei que na sua grande maioria dos locais públicos ou privados de uso coletivo, a porta também fica trancada! Em um dos estabelecimentos, fui conversar com a gerência, que me informou, ser uma atitude para garantir, que pessoas “sem deficiência”, não usem o WC.
Como consultor em acessibilidade e pessoa com deficiência, expliquei, que tais banheiros não devem ser de uso exclusivo para pessoas com deficiência, na verdade são diferentes, por terem portas largas e possuírem barras para sustentação e alguns têm trocador para criança e adultos (Sanitário familiar), se uma pessoa sem deficiência usar o banheiro, não tem problema algum. “Isso pode sim, viu Arnaldo”.
A pessoa com deficiência, quer autonomia, poder ir, vir e ficar em qualquer ambiente, com a maior liberdade possível preciso termos em mente a concepção do desenho universal e livrar a sociedade das barreiras físicas e atitudinais. 

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