Opnião

Acolhimento: um ato revolucionário de amor e empatia

Feche os olhos por um minuto e tente lembrar de um momento em que foi acolhida na infância ou adolescência. Quem foi a pessoa que te acolheu? Qual era a situação? Se tiver mais um tempinho, sugiro que escreva sobre esse momento. Tenho certeza de que essa ação tornará seu dia um pouco mais leve.

Se você se considera uma pessoa pouco acolhedora, provavelmente não foi suficientemente acolhida quando mais precisou. Acolher é uma ação que se aprende na prática e, sem exemplos, fica difícil passar adiante.

A boa notícia é que, até o último dia de nossas vidas, estamos em fase de aprendizado e cuidar dos sentimentos daqueles que amamos é um verdadeiro prazer.

Quando criança, fui taxada de “sensível demais”, dramática e chorona. Passei muitos anos tentando reprimir o que sentia, para não “incomodar”. Saí da casa dos meus pais muito cedo e casei com a primeira pessoa que me deu algumas migalhas de atenção que, pouco tempo depois, se transformou em abuso.

Minha vida, em casa, era um verdadeiro inferno, mas no trabalho, em sala de aula, tinha o acolhimento dos meus alunos que, tão pequenininhos, faziam eu me sentir a pessoa mais amada do mundo. Eu me sentia importante.

O acolhimento era recíproco. Eu amava aqueles minis seres, que se sentavam em roda comigo, todo dia de manhã, como se fossem meus filhos. Construí uma relação de confiança com eles, e entendia quando diziam que, em casa, não estava tudo bem. Muitas vezes senti que eu era a única pessoa que parava para ouvir o que aquelas crianças tinham a dizer. E, por isso, sempre tive uma ótima relação com alunos tidos como “difíceis”.

Entendi que ouvir o que o outro tem a dizer –ouvir mesmo, de verdade, sem tentar encontrar formas de “defesa” para a dor do outro – é a maior demonstração de acolhimento que podemos oferecer àqueles que amamos.

Aprendi que, se queremos ser ouvidos, temos que ouvir primeiro. Assim, construímos uma relação baseada no diálogo verdadeiro. E é disso que estamos todos precisando. Mas para isso, o autoacolhimento é essencial.

Quando consegui me acolher, finalmente tive forças para sair daquele casamento que tinha acabado com minha autoestima. Entendi que teria que recomeçar do zero, que a única pessoa que estaria lá para me acolher, seria eu mesma.

Hoje estou aqui, escrevi meu primeiro romance e duas peças de teatro que já estão sendo ensaiadas. Tenho muito a dizer ao mundo. E ninguém, nunca mais, vai me calar.

*Vanessa Nascimento é pedagoga, roteirista e autora do livro “Todas as vidas de Tati”.

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