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Da batuta à palheta de cores

A Orquestra Filarmônica de Valinhos se apresenta neste domingo, 1º de maio, às 16h, no Centro de Artes Cultura e Comércio (CACC) Adoniran Barbosa em um “momento histórico”, como define o músico e artista plástico Jerci Maccari.
Nesta entrevista, ele fala da atual fase da Orquestra, que realiza os ensaios na sede da APAE todos os sábados e diz que realiza concertos na entidade é uma forma de agradecimento.

Folha de Valinhos: Como nasceu a Orquestra Filarmônica de Valinhos?
jarci maccari:
A Orquestra Filarmônica de Valinhos nasceu de um grupo de alunos que estudava na casa da Cultura,  sob a direção do professor Luís Fernando Fischer Dutra, que  reunia,  aos  sábados, um  grupo pra tocar em conjunto. Desse grupo, com a saída de Luís  Fernando e a chegada do professor Luís Gualberto, começou-se a  formatar uma pequena orquestra. Em poucos, esse esse professor morreu e Ana Carolina Sacco assumiu. A orquestra estreou com cerca de 15 integrantes em setembro de 2004. Começou aí o embrião do que viria a ser a orquestra que é hoje.

Hoje ela tem quantos integrantes?
Atualmente, a Orquestra tem 45 músicos integrantes, mais estagiários e músicos convidados para completar os naipes de acordo com o programa a ser apresentado. E tem um corpo administrativo de 12 pessoas entre músicos e voluntários. Hoje, a orquestra conta com 60 pessoas, entre músicos, regentes, corpo administrativo e técnico para poder preparar cada programa.

Como é a captação de recursos para a manutenção dos trabalhos da Orquestra?
Até há pouco tempo, tínhamos parceria com uma produtora cultural que cuidava da formatação dos projetos e a captação dos recursos, que, por sinal, nesses 12 anos de atividades tivemos apenas três projetos parcialmente captados, o que dificulta muitíssimo a manutenção da Orquestra. Não fosse o empenho e dedicação de todos os integrantes, ela já teria se desfeito há muito tempo. Atualmente, a Orquestra montou sua própria equipe de formatadores e captadores, e espera, com isso, conseguir melhores resultados. Parte dos recursos mínimos necessários vem de ajuda de amigos, concertos com bilheteria, doações, pois temos despesas fixas, como lanches para os ensaios, montagem das pastas de ensaio a cada novo programa, sem contar que os músicos apenas recebem o rateio dos recursos conseguidos por bilheteria.

Existe diferença entre Orquestra Filarmônica e Orquestra Sinfônica?
Num passado não muito distante, Orquestra Sinfônica significava que era mantida pelo Poder Público e Orquestra Filarmônica era mantida  por  entidades privadas ou  pessoas físicas. Na sua formação artística, não há nenhuma diferença. Atualmente, já se encontram orquestras filarmônicas mantidas pelo Poder Público.

Como você analisa esse papel da Orquestra em popularizar a música clássica?
Há uma tendência mundial em que as Orquestras saiam dos grandes palcos e se apresentem em locais menos convencionais, como forma de ir ao encontro de um público pouco habituado aos grandes teatros ou palcos. Para evitar que apenas uma classe privilegiada usufrua dos concertos, as Orquestra estão mudando sua estratégia para ter suas salas cheias. Não é nada agradável  preparar um programa com imenso sacrifício e, em seguida, tocar para um auditório meio vazio. Tocar na APAE, como fazemos todos os anos, é nossa maneira de dizer-lhes ‘muito  brigado’. A Orquestra só existe ainda porque APAE nos acolhe todos os sábados, sedendo toda sua infraestrutura para que possamos fazer nossos ensaios. Usamos o auditório, às vezes o refeitório e o próprio quiosque.

"Não fosse o empenho e dedicação de todos os integrantes, ela já teria se desfeito há muito tempo

A Orquestra só existe ainda porque a APAE nos acolhe todos os sábados

 

Como é essa comunicação entre música e artes plásticas em sua vida?
Por 12 anos consecutivos como presidente da entidade, ora acumulando a diretoria administrativa e artística e agora o de diretor artístico, dividindo o tempo entre a gestão da Orquestra e a produção artística, conclui que não morro fácil de infarto. Administrar egos, melindres, descasos, frustrações, promessas não cumpridas, desânimos, falta de recursos, encontrar soluções, alternativas, pedir socorro aos céus e aos amigos para evitar o estrangulamento, já que a corda está no pescoço, sinto-me com o dever cumprido. Música e artes plásticas se confundem na sua essência. O artista rege sua palheta de cores e que é sua orquestra onde dá  o tom, o andamento, e rege o resultado de cada cor. O  Maestro de uma orquestra tem seus músicos que são as cores da palheta do artista e cabe a ele fazer com que cada naipe (tons primários) estejam em harmonia com os demais naipes e cada  integrante de naipes (tons secundários) não destoem dos demais. Maestro, músico e artista plástico trabalham com ferramentas diferentes para no final produzir uma obra de arte.

A Orquestra tem se apresentado mensalmente no Auditório Municipal. Como está sendo a presença do público nos domingos pela manhã?
Desde 2014 decidimos fazer os concertos dominicais, denominados Concertos Didáticos, em que o maestro dá uma rápida explicação sobre cada peça a ser executada. Isto tem despertado o interesse de muitas pessoas que não tinham oportunidade. A cada concerto se percebe o aumento de público.

O que dá para esperar do concerto deste final de semana no Valinhos In Concert?
Este será um momento histórico, pois esperamos que as autoridades municipais finalmente se convençam que a cidade possui uma Orquestra que não deixa nada a desejar em relação à Orquestra de Campinas. Foi-nos prometido transformá-la em corpo estável municipal e, dessa forma, receber subvenção municipal, uma  vez que a Orquestra está elevada à categoria de Entidade de Utilidade Pública Municipal e Estadual. Além disso, esperamos um público muito maior e mais diversificado, atraído pela maciça divulgação feita pela Prefeitura Municipal e a Secretaria de Cultura.

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