Valinhos
Valinhos se despede de Anélio Zanuchi, um exemplo de amor ao próximo

Fundador da Casa da Criança e do Adolescente de Valinhos, faleceu aos 76 anos, deixando um legado de amor ao próximo e dedicação às causas sociais.
Seu velório vai acontecer a partir das 9 horas no Cenitério São João Batista e seu sepultamento às 15 horas
Valinhos se despede de um de seus grandes personagens. Anélio Zanuchi, comerciante e notável líder social, faleceu na noite desta terça-feira, 15 de outubro, na Santa Casa de Misericórdia de Valinhos, após sofrer um infarto do miocárdio. Ele havia sido internado no dia anterior, mas, infelizmente, não resistiu.
Aos 76 anos, Anélio deixa sua esposa Sandra, os filhos adotivos Anderson e Cristiano, além de João, Cláudia, Gustavo e André, filhos de seu primeiro casamento. Seu velório está acontecendo no Velório do Cemitério São João Batista e seu sepultamento se dará às 15 horas.
Sua morte representa uma grande perda para a cidade e para o Terceiro Setor, do qual foi um dos maiores expoentes. Anélio sempre acreditou que não era preciso dinheiro para fazer o bem, mas sim ter ideias edificantes e justas e amigos fiéis. Seu exemplo irá para as futuras gerações, como uma prova viva de que sonhos podem ser transformados em realidade.
Nascido em uma família simples, Anélio Zanuchi iniciou sua trajetória como comerciante e proprietário do tradicional Bar Monte Castelo, conhecido por sua pizza e pelo atendimento especial que oferece. No entanto, foi nas obras sociais que ele deixou a sua maior marca.

Também era um homem de fé – espirita – Anélio aprendeu com o melhor. Seu mentor foi nada mais nada menos do que Chico Xavier. Se orgulhava muito de contar aos amigos sobre suas viagens até Uberaba – Minas Gerais – onde tinha o privilégio de ver o amigo Chico trabalhar e com quem teve várias conversas. Em Valinhos por anos atendeu milhares de pessoas vindas de diversas cidades do estado em busca de apoio, oração e cura para problemas dos mais diversos.
O legado de Anélio transcende sua fé e alcança sua paixão pelas causas sociais. Dedicou grande parte de sua vida ao atendimento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, sendo o fundador da Casa da Criança e do Adolescente de Valinhos, sua maior e mais importante obra. Ao longo dos seus 31 anos de existência, a instituição tornou-se referência regional no acolhimento de vítimas de maus-tratos. Com sua atuação, Anélio ajudou a construir um futuro melhor para centenas de crianças, oferecendo amor e acolhendo a quem mais precisa.
CASA DA CRIANÇA
No dia 19 de maio deste ano Anélio Zanuchi esteve na Câmara Municipal onde usou a Tribuna para abrir oficialmente a VIII Semana da Família Acolhedora Valinhense, projeto que abraçou a pedido da Promotoria da Infância e da Juventude e que hoje da bons frutos juntos a dezenas de famílias valinhenses que são preparadas para fazer o acolhimento de crianças que passam pelo serviço de abrigamento da Casa da Criança de Valinhos.
Quem o conheceu e conviveu com Anélio, sabia que havia naquele homem virtudes pouco cultivadas nos dias de hoje. Ele tinha um carinho especial pelas crianças e adolescentes antes mesmo da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA – em 1990. na decada de 1980 ele já abrigava os então chamados na época “meninos de rua” (hoje jovens e crianças em vulnerabilidade social) que eram tratados pelo Juizado de Menores e não pela Vara da infância e da Juventude como se convencionou a chamas a partir do ECA. Nessa época, era muito criticado por dar abrigo a esse tipo de desamparados. E foi além, apesar das criticas, também foi o responsável pelo acolhimento do José Vicente Camargo, um senhor muito conhecido de Valinhos, que perambulava pelas ruas da cidade sempre bem vestido e que precisava de cuidados especiais.

Anélio ao lado da Coordenadora da Casa da Criança, Adriana Simões:
Em 2022, por sua ação em prol do voluntariado Anélio Zanuchi, recebeu o Prêmio VOL, que elege os melhores programas de voluntariado, e que foi conferido à Casa da Criança e do Adolescente de Valinhos, pelo segundo ano consecutivo. Vencedora na categoria “Melhor Gestão de Programas de Voluntariado OSC’s”.
GINCANA NOSSA GENTE
Também tinha amor incondicional pelos pobres, e não deixava de ajudar aqueles que mais necessitavam. Sobretudo na época de Natal, onde reunia no Parque Municicpal “Monsenhor Bruno Nardini” milhares de famílias carentes para uma grandiosa festa, que só era possível graças ao trabalho de amigos e voluntários que se uniam para ajuda-lo nessa missão. O ápice dela foi a Gincana Nossa Gente, idealizada por ele e alguns amigos nos anos de 1990 e que tinham por objetivo a ampliação da sede da Casa da Criança. Naquela época Anélio já havia recebido por doação do Grupo Gente Novo Rumo a casa onde hoje funciona a Casa da Criança e do Adolescente de Valinhos. Mas ele queria mais, e assim teve a ideia de comprar o terreno ao lado para a construção de salas para futuros projetos sociais e da quadra para eventos que pudessem reunir a comunidade do entorno.
Foi com esse objetivo que um dia reuniu um grupo de jovens amigos na entidade e do muro da ‘Casa’ mostrou aqueles jovens o terreno e o sonho que teve e que desejava contar com eles. Nascia assim a Gincana Nossa Gente, um projeto social que envolvia a juventude da cidade. A Gincana era realizada anualmente sempre às véspera do Natal, buscando angariar alimentos que seriam transformados em Cestas de Natal e que depois entregues, juntamente com brinquedos e com direito a Papai Noel chegando de Helicóptero para centenas de famílias carentes da cidade na festa de Natal no Parque Municipal e depois diretamente na casa de algumas pessoas que não tinham condições de ir ao local da festa.
A Gincana Nossa Gente teve seis edições e premiava a equipe vencedora com uma moto que era doada pela empresa Madia Moto Sport. Mas havia um acordo entre as equipes, de que aquela que vencesse a gincana doaria a moto ao Anélio, que fazia uma rifa e angariava o dinheiro para a compra do tão sonhado terreno.
Foi com a quadra ainda sem acabamento que Anelio recebeu a proposta de transformar aquele lugar em um Ponto de Cultura, uma parceria entre a Prefeitura de Valinhos e o Ministério de Cultura. Nascia então o projeto Janela Aberta que faz um grandioso trabalho com mais de 200 jovens e adolescentes do entorno – Jardim América e Jurema – onde oferece cursos da dança, fotografia, artes, teatro, entre outros.
SONHO DA REPÚBLICA

Anélio era um sonhador realizador. Com seu jeito cativante envolvia pessoas simples e importantes e dava forma aos seus sonhos. O último dele era algo que havia nascido em seu coração quando a Casa da Criança e do Adolescente recebia seus primeiro abrigados, muitos deles acabavam ficando no abrigo até completar 18 anos.
Anélio tinha uma grande preocupação com o destino dos egressos da Casa, pois eram (ainda são, em função do ECA) obrigados à deixar o abrigo ao completar 18 anos. Para ele, esse era um momento dos mais importante na vida dos jovens e para isso sonhou na construção de um espaço que pudesse abriga-los após a saída da Casa.
Nascia ai o sonho da construção da República ‘José Vicente Camargo’, uma homenagem ao homem simples – sem família e sem destino que Anélio ao lado da sua companheira Sandra cuidou até os últimos dias. Para esse projeto Anélio, como presidente da Casa da Criança, recebeu em doação da Prefeitura um terreno na rua Wilson Roberto Solinski, próximo a sede da Casa da Criança onde o sonho já está praticamente pronto e é fruto de ações voluntarias e doações.
NATAL NA INSTITUIÇÃO
Homem de coração imenso e que tinha olhar especial para as crianças e adolescente e as famílias pobres, fazia questão de fazer do Natal um momento especial para centenas delas no Jardim Santa Elisa, São Pedro e no São Bento do Recreio, para onde, às vespera do Natal se dirigia em comboi de carros e caminhões e Papai Noel, para distribuir cestas de Natal e brinquedos.
O Natal era algo especial para Anélio e fazia questão de passar a Ceia junto das crianças e familiares que a Casa da Criança acolhe. Como o verdadeiro Papai Noel, lá estava Anélio sempre sorrindo e esperano o incio da festa.
Quando completou 70 anos, recebeu amigos em sua lanchonete para celebrar seu aniversário e resumiu sua trajetória em uma frase humilde e cativante:
“Tudo o que foi realizado, não foi Nélio, não fui eu. Eu fui apenas uma peça, um elo de uma corrente. Vocês foram os culpados de tudo o que existe até hoje. Não fui eu não. Eu fui fazendo e vocês vieram atrás”.
Seu espírito colaborativo e sua capacidade de mobilizar a comunidade em prol de causas sociais fizeram de Anélio uma figura inesquecível.
O impacto da vida de Anélio Zanuchi vai muito além de sua atuação em obras sociais. Seu carisma natural e sua disposição em sempre ajudar transformaram-no em um verdadeiro ícone de solidariedade. Não era raro vê-lo organizando campanhas de doação, eventos beneficentes ou buscando apoio junto a empresas para ampliar os projetos da Casa da Criança e do Adolescente de Valinhos.
O modo como Anélio engajava as pessoas ao seu redor era único. Ele possuía uma habilidade rara de criar laços de confiança, trazendo pessoas de diferentes áreas para trabalharem juntas por um objetivo comum. Empresários, políticos, voluntários e cidadãos comuns eram frequentemente convidados para contribuir de alguma forma com as causas sociais da cidade. E, na maioria das vezes, ninguém se recusava. Seu poder de persuasão foi ancorado no exemplo que ele próprio dava: o de alguém que não faz esforços midiáticos para melhorar a vida dos outros.
Valinhos perde um grande homem, mas o amor e o trabalho que ele semeou continuarão a florescer nas vidas de todos aqueles que ele tocou.
Que descanse em paz, Anélio Zanuchi, um homem que viveu para fazer o bem.


