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PF investiga vice de Hortolândia por compras milionárias e fraude

O vice-prefeito de Hortolândia, Cafu Cesar (PSB), virou alvo central da Operação Coffee Break, da Polícia Federal, que apura fraudes em licitações de materiais escolares. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), documentos financeiros apontam compras de R$ 2,9 milhões em artigos de luxo e o pagamento de R$ 1,2 milhão em espécie por um imóvel.
A análise do Relatório de Inteligência Financeira indica um possível “enriquecimento sem causa”, tese que reforça a suspeita do envolvimento do vice-prefeito no esquema.
De acordo com o MPF, Cafu realizou 31 transações em espécie para adquirir artigos de luxo em marcas como Gucci e Burberry, somando pouco mais de R$ 2,93 milhões.
O relatório também aponta a compra, em dinheiro vivo, de um imóvel em Sumaré avaliado em R$ 1.299.065,00, realizada em conjunto com a ex-esposa do vice-prefeito.
Além disso, as investigações indicam que Cafu teria recebido R$ 2,5 milhões por meio de terceiros, distribuídos em 15 operações rastreadas pela PF.
O vice-prefeito também teria usufruído de uma BMW 320i Active Flex pertencente à Life Tecnologia Educacional, empresa apontada como peça-chave do esquema.
Anotações apreendidas com André Gonçalves Mariano, considerado líder da organização criminosa, fazem referência ao veículo com o número “320” associado ao nome de Cafu — indício, segundo o MPF, de que o benefício seria contrapartida pela defesa dos interesses da empresa no setor público.
Quem é Cafu Cesar
Carlos Augusto Cesar, o Cafu, tem 63 anos, é filiado ao PSB e foi eleito vice na chapa do prefeito Zezé Gomes (Republicanos) em 2024. Declarou ao TSE patrimônio de R$ 1,3 milhão e ensino superior incompleto.
Natural de Ponte Nova (MG), é aposentado e já enfrentou ação eleitoral que, embora tenha cassado seu mandato em primeira instância, foi revertida pelo Tribunal Regional Eleitoral em agosto de 2025.
O advogado Ralph Tórtima Filho afirma que trabalha para a soltura do vice-prefeito e critica a prisão preventiva. Segundo ele, Cafu ainda não foi ouvido pela PF, e eventuais “equívocos” no mérito serão esclarecidos durante a oitiva.
Como operava o esquema, segundo a PF
A PF aponta que o grupo atuava desde 2021, manipulando editais para que apenas produtos da Life fossem aprovados. O sobrepreço chegava a 35 vezes o valor real.
Após receber pagamentos superfaturados de prefeituras, a empresa distribuía os valores para empresas de fachada e operadores clandestinos (“doleiros”), que convertiam parte dos recursos em dinheiro vivo — apelidado de “café”.
Números da operação
50 mandados de busca e apreensão
6 prisões preventivas
5 pessoas presas até agora
24 investigados
Ações em SP, DF e PR
Na região de Campinas, foram 19 mandados de busca e 3 prisões
As investigações apontam que a Life recebeu R$ 128 milhões em transferências, quase todas provenientes de prefeituras paulistas.
Cafu permanece preso preventivamente enquanto a PF amplia a análise de documentos, extratos, mensagens e materiais apreendidos nos endereços dos investigados. A expectativa é que novas quebras de sigilo aprofundem as conexões entre agentes públicos e operadores financeiros do esquema.


