Economia
Holding familiar pode gerar economia de até 155 mil em um patrimônio de 5 milhões

Simulação da Planejar mostra diferenças entre inventário judicial, inventário extrajudicial e constituição de holding patrimonial
Um levantamento elaborado pela Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar) demonstra como a definição antecipada da estratégia sucessória pode impactar de maneira significativa o patrimônio de uma família. A simulação utilizou como referência 5 milhões de reais, divididos igualmente entre imóveis e aplicações financeiras, e avaliou três alternativas de transmissão: inventário judicial, inventário extrajudicial e constituição de uma holding patrimonial. Os cálculos foram conduzidos por Carlos Castro, planejador financeiro CFP pela Planejar, que analisou tributos, taxas e honorários praticados em São Paulo. O objetivo consistiu em traduzir em valores concretos quanto pode ser preservado apenas com a escolha adequada do modelo sucessório, ampliando a visão sobre custos e prazos.
Na hipótese extrajudicial, viável quando todos os herdeiros são maiores de idade e concordam com a divisão, o custo total atingiu 530 mil reais. A soma incluiu ITCMD de 200 mil, emolumentos cartoriais de 15 mil, honorários advocatícios de 300 mil, 12,5 mil de registro de imóveis e 2,5 mil de taxas sobre investimentos. O especialista aponta que essa via deve atrair famílias pela rapidez e clareza dos desembolsos. “A condição essencial é que todos estejam alinhados e que a documentação esteja completa, caso contrário os gastos podem aumentar”, comenta Castro. O trâmite em cartório, segundo ele, pode ser concluído em meses e oferece maior previsibilidade quando comparado a outros processos sucessórios disponíveis no mercado.
Já no caminho judicial, os custos se ampliam e a conclusão tende a se prolongar. O levantamento considerou ITCMD de 200 mil, custas judiciais de 50 mil, honorários de 300 mil, além de 12,5 mil referentes ao registro de imóveis e 2,5 mil em taxas sobre aplicações, alcançando 565 mil reais. Para o planejador financeiro, a limitação principal recai sobre a demora.
“Esse processo costuma levar de um a três anos, mantendo o patrimônio indefinido e dificultando decisões importantes”, afirma. Em situações mais complexas, a insegurança aumenta e o montante de despesas pode superar os valores médios, comprometendo a gestão eficiente dos bens e desgastando os sucessores, que ficam sem acesso pleno ao patrimônio.
No cenário da holding patrimonial, as despesas iniciais foram estimadas em 30 mil reais para abertura, 75 mil para integralização de imóveis, 45 mil em imposto de renda sobre investimentos e 30 mil para manutenção contábil em dois anos. Também entraram no cálculo 30 mil pela sucessão das quotas e 200 mil de ITCMD, resultando em 410 mil reais.
“Quando colocamos todos os itens na ponta do lápis, percebemos que a holding pode ser mais competitiva, sobretudo em patrimônios relevantes”, explica o especialista. Para ele, a diferença de até 155 mil reais representa recursos preservados para os herdeiros, ao invés de consumidos por taxas e burocracias, mostrando a relevância do planejamento estruturado.
As premissas do estudo foram conservadoras para evitar comparações distorcidas. Na integralização dos imóveis, adotou-se ITBI de 3%, ainda que em determinadas condições esse tributo possa ser dispensado, como em holdings sem atividade preponderantemente imobiliária. No caso de investimentos, considerou-se a tributação de 15% sobre ganho de capital, hipótese que pode variar conforme a operação escolhida. “Foram aplicados os valores mais altos para que a comparação fosse justa com os inventários, evitando transmitir a ideia de economia artificial”, detalha Castro. Mesmo assim, a simulação demonstrou que a holding se mantém vantajosa em cenários de maior custo, preservando eficiência e reduzindo riscos de distorção nas estimativas apresentadas.
Os benefícios, no entanto, não se limitam à economia direta. A holding patrimonial pode assegurar previsibilidade no processo de sucessão, já que a transferência ocorre por meio de quotas, além de facilitar a definição de regras de governança. “A holding permite organizar previamente responsabilidades e reduzir potenciais disputas familiares, o que pode ser tão valioso quanto a diferença financeira”, avalia o planejador financeiro. A necessidade de manter escrituração contábil e disciplina administrativa existe, mas a estrutura empresarial oferece contrapartida de segurança e controle para os sucessores, permitindo que os bens sejam administrados de forma mais transparente e planejada.
Esse modelo também se trata de um instrumento de organização patrimonial. A empresa criada para centralizar os bens possibilita antecipar decisões administrativas, definir papéis e criar mecanismos de gestão ainda em vida do titular. “Essa antecipação traz mais clareza sobre as regras do jogo e evita conflitos em momentos delicados, quando os herdeiros podem estar emocionalmente fragilizados”, comenta Castro. Assim, a holding combina ganhos financeiros com fortalecimento da governança familiar, ampliando a estabilidade das relações e reduzindo a margem para litígios, fatores que pesam tanto quanto os números finais da simulação.
Em patrimônios mais elevados, a vantagem tende a se intensificar. O volume absoluto de economia aumenta, enquanto os custos fixos de manutenção representam peso proporcionalmente menor. Além disso, a possibilidade de estruturar a sucessão de acordo com a vontade do patriarca ou da matriarca assegura maior segurança jurídica e tranquilidade aos beneficiários. Para o especialista, essa prática deve se difundir no Brasil, especialmente entre famílias empresárias ou com carteira diversificada de ativos, consolidando-se como ferramenta relevante de planejamento, capaz de unir eficiência tributária e harmonia familiar no mesmo processo.
Ou seja, a decisão entre inventário judicial, extrajudicial ou holding patrimonial deve considerar não apenas custos imediatos, mas também prazos de tramitação, previsibilidade e nível de organização familiar desejado. O estudo da Planejar mostra que o processo sucessório não se limita à matemática: ele envolve também aspectos emocionais e de governança que impactam diretamente a experiência dos herdeiros. “Mais do que economizar, se trata de proteger o patrimônio e garantir que a transmissão ocorra com serenidade e previsibilidade”, conclui Castro. O levantamento sugere que planejar sucessão deve se tornar hábito tão essencial quanto investir, já que o legado não se resume a cifras, mas também à paz transmitida às próximas gerações.
Sobre a Planejar
A Planejar (Associação Brasileira de Planejamento Financeiro) é a única instituição no Brasil autorizada a conceder a certificação CFP® (Certified Financial Planner). É afiliada ao FPSB (Financial Planning Standards Board) entidade norte-americana responsável pela divulgação, gerenciamento e controle do uso das marcas CFP® fora dos Estados Unidos.
O Brasil é o quinto país com mais planejadores financeiros certificados, com mais de 11 mil profissionais. No mundo, são mais de 230 mil. A certificação CFP® é uma certificação de distinção que traz um diferencial para a carreira do profissional. Para obtê-la, além de comprovar conhecimentos técnicos por meio de avaliação específica, o candidato também precisa comprovar formação acadêmica, experiência profissional e adesão a um código de ética. Para manter a certificação, o profissional precisa ainda cumprir requisitos de educação continuada.


