Economia
Lifestyle gospel vira mainstream e movimenta R$ 21,5 bilhões no Brasil

Igreja Lagoinha Alphaville (Reprodução Instagram @lagoinhaalphaville.sp)
O lifestyle gospel deixou de ser um fenômeno apenas religioso e assumiu papel central na cultura e no mercado brasileiro. Um novo relatório aponta que a fé evangélica influencia consumo, comportamento, estética, política e até formatos de entretenimento.
O estudo Gospel Power 2025, desenvolvido pela Zygon Adtech em parceria com a EIXO, mostra que o setor já movimenta R$ 21,5 bilhões por ano, segundo dados da ABEPROE. O valor supera o mercado nacional de influenciadores digitais, estimado em R$ 20 bilhões.
A pesquisa analisou 228 mil menções no TikTok, Instagram e Twitter. Também utilizou técnicas de netnografia, entrevistas com especialistas e monitoramento de tendências para entender o novo momento da comunidade evangélica no país.
O levantamento aponta que a expansão evangélica é consistente e deve mudar o mapa religioso brasileiro nas próximas décadas.
Segundo o Censo 2022, 26,9% da população (47,4 milhões de pessoas) se declara evangélica. Projeções da ENCE/IBGE indicam que o grupo superará os católicos até 2049.
O crescimento tem um perfil definido
Mulheres: 55,4%
Pessoas negras: 59%
Jovens e crianças: 60,5% do total
Entre adolescentes de 15 a 19 anos, evangélicos já representam 28,9%. Entre crianças de 10 a 14, chegam a 31,6%.
A presença jovem impulsiona uma estética moderna: cultos com LED, DJs, trap gospel, câmeras no palco e linguagem inspirada no entretenimento digital.
A digitalização acelerada pela pandemia consolidou um novo “púlpito”.
Hoje, evangélicos usam:
YouTube: 85%
TikTok: 65%
Instagram: 68%
Criadores como Deive Leonardo, Isadora Pompeo, Bispo Bruno Leonardo e Pastor Antônio Júnior passaram a ocupar espaço de celebridades nacionais, ultrapassando fronteiras religiosas.
O relatório identifica quatro dimensões em que o lifestyle gospel modifica o cotidiano brasileiro.
1. Comportamento
A moral cristã orienta rotinas familiares, lazer, moda, namoro e consumo de mídia.
2. Política
A fé aparece em 62,2% das conversas digitais. O debate é marcado por posições conservadoras, progressistas e proféticas, muitas vezes polarizadas.
3. Estética
Uma nova estética gospel surge entre os jovens:
streetwear com modéstia
cultos como experiências sensoriais
baladas gospel
o “coolto”, junção de culto e cultura pop
4. Consumo
A fé influencia escolhas econômicas. Segundo o estudo:
58% compram produtos alinhados à fé
58% pagariam mais por marcas com valores cristãos
52% não se sentem representados em campanhas
31% já boicotaram empresas por posição contrária à religião
A falta de produtos voltados ao público evangélico impulsionou um setor próprio: editoras, gravadoras, faculdades, festivais, missões, cruzeiros temáticos e moda gospel.
Dois movimentos ganham destaque:
Teologia da Prosperidade
Associa fé a conquistas materiais, sucesso e abundância.
Gospel Premium
Transforma a fé em produto cultural aspiracional, unindo propósito, estilo de vida e consumo de alto padrão.
Para Lucas Reis, fundador da Zygon Adtech, o fenômeno é profundo:
“Vemos uma comunidade que atua onde o Estado falha — em educação, assistência social e acolhimento. Esse legado molda decisões econômicas, políticas e culturais das novas gerações”.


