Valinhos

Crise no Supermercado Caetano impacta negativamente o comércio do entorno

Desde o final de 2024 consumidores passaram a sentir falta de produtos e prateleiras vazias nas lojas da Avenida 11 de Agosto e na loja da Vila Santana. A Folha de Valinhos passou a receber vídeos e fotos do interior das lojas e tentou por duas vezes obter contato com a diretoria do Supermercados Caetano para que falassem sobre a situação da rede no município, mas até o fechamento desta edição não houve nenhum retorno. Queda no movimento já ultrapassa 50%, desde outubro quando a rede passou a enfrentar dificuldades para reposição de mercadorias e situação também passou a afetar comércio do entorno

Há quase 47 anos o Supermercados Caetano faz parte da história e rotina de Valinhos, sendo responsável desde então pelo grande do fluxo de tráfego na Avenida Onze de Agosto, região Central. No entanto, desde outubro do ano passado, a via onde está localizada a primeira loja da rede, está praticamente deserta para o desespero dos comerciantes do entorno.

Segundo apurou a reportagem da Folha de Valinhos nesta terça e quarta-feira (11 e 12), durante entrevistas com comerciantes da região, o desabastecimento da unidade Centro teve início em outubro do ano passado. Desde então, de acordo com os entrevistados, o movimento das vendas vem despencando e já ultrapassa a casa dos 50%.

“O movimento na minha loja está caindo como se estivesse em queda livre desde quando passaram a faltar as mercadorias nas prateleiras do Caetano. Nem no mês em dezembro as vendas foram boas, o que dirá agora em janeiro e fevereiro. É triste de ver essa situação. Tem dia que não entra ninguém na minha loja. O que tem me salvado são as vendas online”, relatou a proprietária da Dayortega Calçados, Renata Pereira dos Santos, 35 anos, que abriu o estabelecimento há dois anos, em frente ao supermercado.

Renata relatou que curiosamente tem dias que as vagas exclusivas para clientes do supermercado ficam com vários carros estacionados, sendo que a grande maioria dos respectivos motoristas não está fazendo compras. “Tenho percebido que várias pessoas que trabalham nas redondezas já estão ocupando as vagas. Muitos deixam os veículos estacionados o dia todo por aqui”, comentou.

A lojista ainda lamenta a falta de informações sobre o que está havendo com o Caetano e o que o futuro reserva para o estabelecimento. “Isso é muito chato, tanto para nós comerciantes, assim como para os funcionários e os poucos clientes que ainda restam no supermercado”, desabafa Renata.

INCERTEZAS

Na Lotérica Empório da Sorte, que há 20 anos funciona na avenida, o movimento caiu pela metade desde outubro, de acordo com a funcionária Tânia Oliveira, 56 anos. “O comentário diário aqui dos nossos clientes é sobre a falta de produtos na prateleira e a incerteza do que está acontecendo com o Caetano e o que está por vir. Essa falta de respostas por parte dos proprietários é muito ruim para todos”, ressalta Tânia.

A cliente da Lotérica e do Caetano, Rita de Cássia Ataíde Santos, 53 anos, contou que há seis anos desde que mudou para Valinhos era cliente assídua do supermercado. “Aqui tinha de tudo, sempre encontrava itens de qualidade e com bom preço. E agora não tem nada. Muito triste isso, assim como a falta de uma explicação para nós consumidores”, salienta a costureira.

As irmãs gêmeas, Amanda e Fernanda Santa Coimbra, 18 anos, assumiram no último Natal a direção da loja em frente ao Caetano, Coimbra Elegance, e dizem estar muito preocupadas com a situação. As lojistas, que moram próximo ao Caetano de Vinhedo, enfatizaram que naquela unidade a situação também é a mesma.

“Em dezembro ainda tivemos um movimento considerável aqui na nossa loja, pois alguns clientes seguiam frequentando o supermercado. No entanto, com as prateleiras cada vez mais vazias o fluxo de pessoas aqui na Avenida Onze de Agosto cai dia a dia de janeiro para cá”, explicou Amanda. Ela acrescenta que tem percebido a curiosa movimentação de alguns clientes que parecem vir ao supermercado para checar se o abastecimento retornou à normalidade e sem tem algum tipo de promoção com desconto de itens.

BAIXA NO MOVIMENTO

O proprietário da Monkey BarberShop, Fábio Condotta, 52 anos, também destacou a baixa no movimento em função do desabastecimento no Caetano. Ele apontou que a pior fase da barbearia, localizada na Avenida Onze de Agosto, foi durante a pandemia da Covid 19. No entanto, o barbeiro afirma que a situação com a crise do supermercado, já ultrapassa o prejuízo ocasionado quando a antiga Rigesa Westvaco do Brasil fechou a fábrica em Valinhos, deixando  de ter cerca de 2 mil funcionários diretos e indiretos usando o comércio da região.

“Muitos clientes, pais e mães, vinham fazer compras no Caetano e deixavam os filhos aqui barbearia neste intervalo. Agora ninguém mais vem ao supermercado. É triste essa situação. E pior, na minha opinião é uma falta de respeito essa desinformação para nós comerciantes e consumidores que tanto contribuímos com o fluxo de movimento do supermercado por anos e anos”, lamentou Condotta.

CLIENTE FIEL

O aposentado Édson Madsen, 84 anos, sempre foi outro cliente fiel do Caetano, de ambas as unidades Centro e Vila Santana. Em entrevista à Folha de Valinhos ele contou que chegava ir no supermercado as vezes duas vez no mesmo dia. “O que eu mais gostava no Caetano era saber onde estava os produtos, além do atendimento humanizado, a praticidade do estacionamento. Eu também adorava o fato de conhecer as pessoas, funcionários e clientes, e encontrar vizinhos e amigos. Era um momento até de lazer para mim e uma tradição na minha vida”, contou Madsen que mora em Valinhos desde os 30 anos. “Sinto como se houvesse uma quebra na minha rotina”, lamentou.

Inauguração do primeiro Caetano foi noticiada pela Folha de Valinhos

A inauguração da primeira loja da Rede Supermercados Caetano, na Avenida Onze de Agosto, no dia 6 de maio de 1978, foi noticiada pela Folha de Valinhos, que cobriu o evento. A iniciativa foi do casal Silvestre e Maria Caetano Caetano, que teve a ideia de montar um mercado para seus seis filhos homens: Nelson, Sérgio, Antônio, Sinesio, José Carlos e Armando.

Em 1983, a unidade do Centro foi ampliada para 1.200 m² e área de vendas dobrou de tamanho, passando a oferecer maior variedade e diversidade de produtos, além de um espaço mais confortável para os seus fidelizados clientes. Há cerca de seis anos, a loja da Onze de Agosto, também passou por outra reforma, com a troca do piso e iluminação.

É possível afirmar que o Caetano do Centro sempre foi tido até como ponto de encontro de muitas famílias de Valinhos. Muitos avós, pais, filhos e netos, costumavam se cruzar pelos corredores da loja, que sempre priorizou a variedade, qualidade e bons preços em produtos. Além disso, o açougue do supermercado, assim como a padaria e confeitaria sempre foram tidos como referência para muitos clientes exigentes.

Outros atrativos da Rede Supermercados Caetano e que costumava atrair milhares de clientes era o Feirão Caetano com ofertas no hortifruti, de segunda a quarta-feira, além das promoções de quinta a domingo em diversos setores com o aplicativo Nosso Caetano.

A segunda loja da Rede Supermercados Caetano foi construída em 23 de agosto de 2002, no bairro Vila Santana, com uma área de 3.200 m² e estacionamento para 220 automóveis. O espaço acomoda também farmácia, lotérica e lojas com variedades.

Em 28 de agosto de 2018 foi inaugurada a terceira unidade da Rede Supermercados Caetano, na cidade de Vinhedo. A quarta loja está localizada em Campinas e foi aberta no 14 de dezembro de 2021. Já a quinta unidade fica no município de Itu e foi inaugurada em 13 de outubro de 2022.

De acordo com matérias jornalísticas publicada há cerca de sete anos, somando as lojas do Centro e da Vila Santana, a rede de supermercados no auge dos seus 40 anos, empregava 420 pessoas de forma direta e registrava uma média de 9.200 clientes por dia.

“GAROTA PROPAGANDA”
A dona de casa e moradora nas proximidades do Caetano Centro, Leonor Bertoluci Vitale, 85 anos, há cerca de oito anos foi “garota propaganda” da rede. Frequentadora assídua do supermercado ela pousou para fotos que ilustraram um folheto sobre a loja da Avenida Onze de Agosto.

Em entrevista exclusiva para a Folha de Valinhos ela disse emocionada: “Eu ia todo dia no Caetano, muitas vezes na parte da manhã para buscar uma mistura para o almoço e a tarde voltava para buscar pão. Estou muito triste com essa situação. Peço a Deus que toda essa crise passe e que o supermercado volte a funcionar como antes. Dá até um aperto no coração e andar pelos corredores vazios é desesperador”. Leonor enfatizou que é cliente do Caetano desde 1978 e que levava sua filha Tânia, na época com apenas seis anos, quando ia as compras.

Diretoria do Supermercado não se manifesta sobre a situação

Na última quarta-feira, dia 12, a reportagem da Folha de Valinhos tentou entrar em contato com a diretoria do Supermercado Caetano por volta das 12h25, por meio de ligação de WhatsApp, mas até o fechamento da edição não houve nenhum retorno.

Na ligação a reportagem foi atendida pelo supervisor operacional da Rede, Ferreira. O funcionário, que não se identificou com seu primeiro nome, disse que iria sugerir à diretoria que retornasse o contato para tratar do assunto. O prazo estipulado para o retorno foi até o final da tarde desta quarta-feira, o que acabou não ocorrendo.

Atualmente, a Rede Supermercados Caetano é administrada pelo presidente Guilherme Caetano, da terceira geração da família, e o vice-presidente, Marcos Caetano, da segunda geração.
Ao longo desses últimos meses correm boatos de que o Supermercados foi vendido ee ntreos compradores surgiram nomes como Savegnago, Covabra, Flex, entre outras. Mas não há nenhuma informação oficial a efetivação da venda.

 

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