Saúde

Anvisa aprova novo remédio para insônia com ação inédita no cérebro

Conheça o lemborexante, eleito o melhor remédio para insônia por Oxford, que chega ao Brasil com menor risco de dependência e efeitos colaterais

Uma nova alternativa para combater a insônia chegará em breve ao Brasil. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou recentemente o lemborexante, um novo medicamento da farmacêutica japonesa Eisai, vendido com o nome comercial de Dayvigo. O remédio se destaca por um mecanismo de ação inédito que, segundo estudos, parece gerar menos dependência e efeitos colaterais que as opções atuais no mercado.

Um estudo da Universidade de Oxford, no Reino Unido, elegeu o lemborexante como o melhor entre 36 alternativas avaliadas. O medicamento apresentou o melhor perfil de eficácia, aceitabilidade e tolerabilidade na pesquisa publicada na revista científica The Lancet.

A neurologista Dalva Poyares, professora de Medicina do Sono na Unifesp, explica que os medicamentos mais usados hoje, como os benzodiazepínicos e as drogas Z, têm um risco elevado de abuso e dependência. Em contrapartida, o lemborexante apresenta um risco baixo. A farmacêutica Eisai já se prepara para introduzir o medicamento no mercado brasileiro, mas a data de lançamento e o preço ainda não foram definidos. Nos Estados Unidos, a caixa com 30 comprimidos custa em média 300 dólares.

Como o Lemborexante age?

O lemborexante atua no cérebro de uma forma que difere dos remédios já conhecidos. Em vez de “desligar” o cérebro, ele age no sistema da vigília. O neurologista Lucio Huebra, do Hospital Sírio-Libanês, explica que o medicamento bloqueia o que nos mantém acordados, impedindo a ação do “combustível” que mantém o cérebro em estado de alerta.

A nova opção é importante porque os benzodiazepínicos, apesar de serem amplamente utilizados desde a década de 60, podem causar dependência e, a longo prazo, aumentar o risco de problemas cognitivos. As drogas Z, criadas para serem uma alternativa, também podem apresentar problemas como dependência e comportamentos anormais.

Felizmente, estudos clínicos sobre o lemborexante indicam um perfil mais seguro, sem risco evidente de insônia de rebote após a interrupção do uso. Para o psiquiatra Alexandre Pinto de Azevedo, do Hospital das Clínicas da USP, o lemborexante preenche uma lacuna terapêutica no mercado brasileiro. No entanto, ele pondera que outro medicamento, a eszopiclona, também possui um perfil de segurança favorável e, assim como o lemborexante, é uma das principais escolhas para o tratamento de insônia crônica.

Tratamento da Insônia: Além dos Remédios

A Associação Brasileira do Sono (ABS) estima que duas a cada três pessoas no país têm alguma dificuldade para dormir. Dados do Instituto do Sono mostram que 15% da população tem um diagnóstico formal de insônia crônica.

Os especialistas ressaltam que o tratamento inicial não envolve medicamentos. A primeira etapa inclui mudanças de hábitos, como praticar exercícios físicos, reduzir o uso de telas à noite, evitar cafeína e álcool, além de ajustar o ambiente do quarto, em uma rotina conhecida como higiene do sono. Outra abordagem recomendada é a Terapia Cognitivo-Comportamental para Insônia (TCC-I), considerada o padrão-ouro pelas diretrizes internacionais.

Ainda assim, o uso de remédios no Brasil é alto. Dados da Anvisa revelam que quase 16 milhões de caixas de zolpidem foram vendidas no ano passado, um aumento significativo em relação a uma década atrás. Os médicos indicam o tratamento medicamentoso apenas para pacientes com menos de seis horas de sono e que não respondem à terapia convencional. Nesse caso, o princípio é usar a menor dose eficaz pelo menor tempo necessário, sempre com acompanhamento médico.

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