Editorial
A bravura de um herói e o desafio da saúde mental

Valinhos está de luto. A trágica morte do Guarda Civil Municipal Leandro Pereira da Silva, aos 46 anos, após uma semana de luta pela vida na UTI do Hospital Irmãos Penteado, em Campinas, abalou profundamente nossa cidade. Leandro, um profissional dedicado e um ser humano exemplar, perdeu a vida no cumprimento do dever, em uma ocorrência que escancara não apenas os riscos inerentes à atuação das forças de segurança, mas também a crescente e alarmante crise da saúde mental em nossa sociedade.
No dia 7 de julho, Leandro foi acionado para apoiar uma equipe do CAPS em uma situação delicada: uma mulher de 59 anos, em surto psicótico, ameaçava a própria filha de 16 anos com uma faca. Em um ato de coragem inquestionável, visando salvar a jovem de uma tragédia iminente, Leandro interveio. Foi nesse momento que a agressora, em um ato de desespero e descontrole, jogou gasolina no GCM e ateou fogo, causando queimaduras graves em grande parte de seu corpo. A notícia de sua partida, na noite de quarta-feira, dia 16, reverberou por toda região em função da forma trágica como tudo aconteceu.
A morte de Leandro Pereira da Silva é um doloroso lembrete da importância vital do trabalho das forças policiais, em especial das Guardas Municipais. Esses homens e mulheres, muitas vezes subestimados, colocam suas vidas em risco diariamente para proteger a sociedade. São eles que, como Leandro, se veem diante de situações de extrema complexidade, onde a decisão de um segundo pode significar a diferença entre a vida e a morte, tanto para o cidadão quanto para o próprio agente.
O GCM Leandro, com seus 25 anos de serviço dedicados à corporação, incorporou o lema da GCM de Valinhos: “Honradez e disposição permanente de ser patrulheiro, protetor e amigo”. Ele foi um bravo, um verdadeiro herói que não hesitou em se colocar à frente do perigo para defender uma vida. Sua história, marcada pela paixão pela profissão e pela dedicação ao próximo, culminou em um ato de altruísmo que ficará para sempre gravado na memória de Valinhos.
Mas a tragédia que vitimou Leandro também nos força a encarar uma dura realidade: a sociedade está doente. O incidente com a mulher em surto psicótico, que levou à morte de um agente público, é um sintoma claro da urgência em se debater e, mais importante, em se agir sobre a questão da saúde mental. A cada dia, vemos mais pessoas sendo vitimadas pela ansiedade, depressão, estresse e outras condições que as levam a agir de maneiras insanas e extremas, colocando em risco não apenas suas próprias vidas, mas também a de familiares e terceiros.
É imperativo que o Poder Público e a sociedade como um todo se unam para desenvolver e implementar políticas públicas robustas e eficazes para lidar com essa crise. Não se trata apenas de oferecer tratamento àqueles que sofrem, mas de criar uma rede de apoio que previna o agravamento de quadros, que acolha as famílias e que, acima de tudo, proteja vidas. A ocorrência que levou à morte de Leandro é um triste exemplo de como a falta de estruturas adequadas de saúde mental pode ter consequências devastadoras.
A Guarda Civil Municipal de Valinhos, que perdeu um de seus mais valorosos integrantes, terá no exemplo de Leandro mais que um motivo para continuar atuando em defesa da vida. Seu nome e seu legado serão para sempre levados dentro da corporação, servindo de inspiração para que cada GCM siga em frente, com a mesma coragem e dedicação que Leandro demonstrou até seus últimos momentos. O luto oficial de três dias decretado pelo prefeito Franklin Duarte de Lima é um reconhecimento justo e necessário àquele que se doou por Valinhos.
Que a partida de Leandro Pereira da Silva não seja em vão. Que sua memória nos impulsione a valorizar ainda mais o trabalho incansável de nossas forças de segurança e, ao mesmo tempo, nos mobilize para enfrentar com seriedade e humanidade o desafio crescente da saúde mental em nossa comunidade. Valinhos presta suas últimas e sinceras homenagens a este herói.


