Brasil e Mundo

Morre Marcelo Beraba, mestre do jornalismo investigativo e fundador da Abraji

Amigos e colegas celebram o legado de um profissional que moldou gerações e defendeu a ética e a qualidade da informação no Brasil e na América Latina.

É com pesar que o jornalismo brasileiro se despede de Marcelo Beraba, que faleceu nesta segunda-feira, dia 28, aos 74 anos, no Rio de Janeiro, vítima de câncer no cérebro. Beraba, uma figura central na imprensa nacional por mais de 50 anos, foi o idealizador e fundador da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e um mentor para inúmeras gerações de repórteres.

Beraba deixa um legado inestimável, reconhecido por sua paixão pela apuração dos fatos, seu compromisso inabalável com a ética e a incansável busca pela qualidade da informação.

Ao longo de sua trajetória, Marcelo Beraba exerceu forte influência em algumas das maiores redações do país, como O Globo, Folha de S.Paulo, Jornal do Brasil, TV Globo e O Estado de S.Paulo. Nessas casas, ele se destacou por sua capacidade de formar equipes, identificar e nutrir novos talentos, e implementar as melhores práticas jornalísticas. Seu objetivo primordial era elevar o nível do jornalismo no Brasil, e para muitos, ele alcançou esse feito.

Sua visão se estendeu além das fronteiras brasileiras, alcançando o jornalismo latino-americano. Ricardo Uceda, diretor do Instituto Prensa y Sociedad (Peru), ressalta que Beraba foi um dos fundadores da Conferência Latino-Americana de Jornalismo Investigativo (COLPIN) e um jurado dedicado do seu Prêmio Latino-Americano por mais de uma década. “Seu papel foi decisivo na (consolidação da) relação entre jornalistas brasileiros e latino-americanos, inexistente até duas décadas atrás”, afirmou Uceda.

Rosental Calmon Alves, diretor do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, não hesita em afirmar que “sem Beraba não haveria Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo”. Ele enfatiza que a dedicação de Beraba foi crucial para que a Abraji se consolidasse como uma das maiores organizações de jornalismo investigativo do mundo, superando as expectativas de seus próprios fundadores.

Marcelo Beraba era um fervoroso defensor da liberdade de imprensa e um incansável promotor do jornalismo investigativo como ferramenta essencial para o fortalecimento da democracia. Sua crença era que o bom jornalismo dependia de bons jornalistas. Por isso, incentivou cursos de treinamento nas redações que comandou e, como presidente da Abraji, expandiu ainda mais essa visão.

Beraba tinha uma predileção especial pela reportagem e pelos bons repórteres. Ele mesmo confessava: “Já fui editor, fechei Primeira Página…, mas o que me deu mais prazer, deu mais motivação, foi trabalhar com produção de reportagens, com repórteres, fazer planejamento, a pauta”. Para ele, o jornalismo era mais que uma profissão; era uma vocação, uma forma de expressar sua criatividade e de contribuir para a sociedade.

Ele sempre priorizou a ética, a imparcialidade e a transparência, buscando garantir que a informação chegasse ao público de forma clara, precisa e completa. O jornalista Américo Martins, que trabalhou com Beraba na Folha, é categórico ao afirmar: “Mudou a minha vida. Foi um mestre para mim”. Beraba era conhecido por incentivar os jovens a aprofundarem seus conhecimentos, dominarem as técnicas de investigação e buscarem a verdade com rigor.

Beraba defendia que os fundamentos do jornalismo incluem pesquisar, obter e dominar o conhecimento, pois o “leitor, um telespectador [está] cada vez mais exigente”. Ele também criticava o jornalismo “de aspas”, declaratório, ressaltando a importância da observação.

Apelidado carinhosamente de “mestre” pelos amigos, Beraba usava essa mesma expressão para se dirigir aos colegas, um vício de linguagem que se tornou uma marca pessoal. Esse apelido refletia sua maestria em apostar em novos talentos e estimular reportagens investigativas.

Marcelo Beraba deixa a esposa, Elvira, duas filhas, dois enteados e três netos. A cerimônia de seu funeral ocorrerá nesta quarta-feira, 30 de julho, no memorial do Carmo, no Cemitério do Caju, das 12h30 às 15h30.

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