Opnião

Mãe de Anjo: você sempre será mãe!

A morte de um filho antes ou logo depois do nascimento rompe com a ordem natural da vida, assim como interrompe os sonhos, as esperanças e as expectativas que normalmente são depositadas na criança que está por vir. Nas palavras de Torloni (2007, p. 297), “A morte de um feto é a morte de um sonho”.

Desejada ou não, a gravidez é um momento de fertilização, de criação de vida, que nada tem a ver com a perda, concreta e finita.

É possível afirmar que o relacionamento entre os pais e o bebê se inicia antes mesmo da fecundação. Essa relação aparece já nas brincadeiras da infância, quando a menina e o menino brincam de ser mãe e pai com as bonecas, dando “comidinha”, trocando fraldas, dando banho. Quando já na adolescência, meninas quando veem mulheres passeando com bebês, podem imaginar-se também nessa mesma situação, ou até mesmo em um desentendimento com os pais, prometendo a si mesmos que criarão seus filhos de forma diferente (Sanches & Freitas, 2017).

Os ultrassons realizados durante o pré-natal antecipam muitas informações acerca do bebê, favorecendo o vínculo, já que é possível ver as feições, ouvir o coração, ver o que o bebê está fazendo dentro da barriga, saber o gênero, etc. Durante a gestação, essa mãe vai construindo delicadamente uma nova identidade, a de mulher grávida, que a partir da perda sofre uma brusca interrupção.

A perda deixa em seu lugar um enorme vazio, que, muitas vezes, pode não ser percebido por aqueles que, por não compartilharem a história daquela gestação, encontram dificuldades em enxergar como bebê alguém que nem chegou a viver fora do útero da mãe.

Logo após a perda do bebê, a sensação que se tem é a de que o sofrimento nunca mais terá fim, por ser tão forte, forte o suficiente para invadir e tomar conta de todos os cantos da vida, que parece, então, tão destituída de sentido, tão vazia. Pergunta-se, então, se algum dia será diferente, se essa situação será esquecida. As respostas são sim e não. A passagem do tempo pode ajudar, fazendo com que essa dor imensa não seja mais paralisante, mas não acabará com as lembranças que envolvem o bebê. Estas serão perenes, porque não é o tempo que determina a intensidade do amor e do afeto que liga o bebê à família, e sim os sonhos, as expectativas e o mundo criado na imaginação familiar para a chegada e participação em sua história (Braga & Morsch, 2003).

Só há uma recomendação válida para todas as pessoas atingidas por uma perda significativa: nada pior do que sufocar a dor, porque esta provavelmente se manifestará de outra forma, tendendo a tornar-se crônica e a crescer, caso reprimida.

Para finalizar essa reflexão, gostaria de lembra-los que o luto é o preço do amor. É o preço que a gente paga por amar o outro.

"O amor vive e sempre viverá em cada mãe que perdeu seu filho". Larissa Rocha Lupi – fundadora do projeto Do Luto à Luta: Apoio à Perda Gestacional e Neonatal.
Pense nisso na próxima vez que se deparar com pais de anjinhos.

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