Terceiro Setor

Oficina de Musicoterapia: alegria e aprendizado por meio da música

Música, alegria, ritmo, voz. Impossível não se contagiar com uma aula de música. Na maioria das vezes as pessoas se deixam levar pelas emoções e demonstram seus sentimentos mais profundos.Na Oficina de Musicoterapia da ACESA também é assim, mas com uma dose extra de aprendizado, carinho e muito amor.

Bárbara Virginia Cardoso Faria, musicoterapeura e responsável pela oficina, explica que a música ativa diferentes áreas do cérebro, relacionadas a fala e a motricidade, além de sistemas neurais únicos relacionados ao sistema límbico, responsável por desencadear uma série de emoções. “Quando um ser ouve a música que tem a ver com o contexto dele, já aciona o emocional. Então é mais impactante para ele se mover, chorar ou falar”, salienta Bárbara. Segundo a musicoterapeura é neste momento que as pessoas, que praticamente não falam, conseguem cantar.

Financiada pela UPL, com recursos da Lei Rouanet (PRONAC – 177566), a oficina de Musicoterapia iniciou em março, é aberta à comunidade e acontece na ACESA, às quintas, das 7h30 às 11h30 e das 13h às 17h. Além das aulas, são realizadas apresentações em mostras artísticas e culturais.

Entre os objetivos da oficina estão cantar, bater palmas em ritmos diversos, movimentar-se por meio da dança, ouvir vários tipos de melodias e ritmos, manusear instrumentos sonoros, reconhecer canções, participar de atividades musicais, aprender e criar histórias musicais, além de compor e criar canções.

 

Perfil: Bárbara Virginia Cardoso Faria

Gratidão e amor pela música

Você já deve ter ouvido falar que não se pode viver de música. Pois é, Bárbara Virginia Cardoso Faria também ouviu. Ainda na adolescência despertou o interesse e o gosto pela música, mas quase desistiu da carreira quando uma pessoa próxima lhe garantiu que ninguém é feliz sem conseguir pagar suas contas. Bárbara até tentou pensar em uma outra alternativa, como Educação Física, ou apostar em outra carreira, como Medicina. Porém, seu caminho já estava traçado. Os cursinhos e as tentativas de passar no vestibular de Medicina não tiveram sucesso e a Musicoterapia cruzou seu caminho.

Natural de Piracicaba, Bárbara tem 28 anos, mora em Paulínia, e é mãe do Raul, uma criança linda de 2 anos e 10 meses. Graduada em Musicoterapia pela UNESPAR-PR, campus Curitiba, pós-graduada em Neurociências com Ênfase em Música, pela CENSUPEG-SC, possui vários cursos e outras capacitações na área. Bárbara afirma que o canto e a vida artística sempre foram algo forte nela e hoje o foco é a ACESA. “Eu quero trazer música para estas pessoas, colocar eles no palco, empoderar, protagonizar e dar voz a eles”, enfatiza.

Como surgiu a oportunidade de ministrar a Oficina de Música na ACESA Capuava?

Eu conheci uma pessoa da ACESA. Nós trabalhávamos na mesma clínica aqui em Paulínia. Eu adicionei ela no Facebook e via as matérias da ACESA. A gente conversou e eu falei que queria conhecer este lugar, que é cheio de arte, cheio de colorido.  Um dia ela falou “Bárbara, estão precisando de musicoterapeuta lá e eu falei seu nome”.  Eu não conhecia e já me encantei. Aquelas paredes coloridas, aquelas exposições, em que a pessoa é alimentada artisticamente e esteticamente, é muito legal. Como diz a Presidente da ACESA, Fernanda Teixeira, “a eficiência dentro da deficiência”. A questão de que ali a criança e a pessoa adulta podem mostrar seu potencial. Ele não tem julgamento, mas tem possibilidades. Te dá apoio, potencial de ação.

Qual a importância da música para as pessoas com deficiência?

A música é muito potente. Ela auxilia na questão motora, no desenvolvimento da fala, na autoestima, no empoderamento, na aprendizagem e alfabetização, na socialização. Além disso, a música em grupo trabalha o contato visual por meio do outro e auxilia a reconhecer sua própria identidade. Colocar a voz deles não é música apenas, mas é o canto com a própria voz. Isso é algo ainda mais potente. Não só ouvir a música, receber, mas criar a própria canção. Colocar a voz na própria canção, fazer composições próprias com a identidade deles, com a realidade deles, como a gente fez com o hino da Capuava, com o calendário a partir do desenho. A gente está trabalhando realmente a potência da música. Esta musicalidade inerente a cada ser. A musicalidade que é a capacidade de ter melodia, de ter um significado, ter uma reação no seu corpo, um ritmo de uma melodia, de uma harmonia.

O que te motivou a trabalhar com este público?

O que me motivou é que eu vejo potencial e não sinto dó. Tem gente que olha e tem pena. É natural para mim. Meu estágio foi na área de educação especial e eu só tive coisas lindas. Eu não tenho medo de tocar aquela mão que é torta, aquele corpo ou abrir aquela mão. De tocá-lo, de me aproximar, de ouvir, de tentar entender mesmo com a linguagem deles, com a língua presa, com bastante dificuldade de articulação. O que motivou a trabalhar com este público é que eu vejo a potência deles e quero ser uma facilitadora deste potencial, através da musicalidade que eles têm.

O que tem sido mais desafiador?

É não ter 8 braços. É algo desafiador você tocar violão, lidar com as pessoas e querer potencializar elas a explorar e segurar os instrumentos. Então, basicamente, eu não consigo trabalhar sozinha. Eu preciso de pessoas. E pessoas que tenham um olhar parecido com o meu, um olhar de potencial. Outra coisa são os recursos. Às vezes você precisa de um tecido, precisa preparar coisas bem visuais, materiais concretos para eles passarem de um para o outro, para tocar. Isso é algo que é desafiador às vezes porque todo este material você leva em uma mala. Vejo que é uma questão de espaço apropriado e também as pessoas compreenderem que música não é só entretenimento. É uma forma de aprendizagem, é um canal para se conectar com seu autoconhecimento. São coisas desafiadoras e estruturais que envolvem financeiro. E a música, ela não é barata.  Um desafio também, às vezes, é ouvir eles. Fala muita gente ao mesmo tempo. Você tem a sua proposta e, muitas vezes, eles têm outra proposta. Então é algo desafiador. Tornar realmente eficiente. Eficiência e potencial é algo desafiador. É algo que tem ser trabalhado.

Até o momento, qual foi seu maior aprendizado?

O maior aprendizado é sempre levar alegria. O foco é a alegria. Tirar um sorriso deles ou eles sorrirem. A gente se divertir é o principal aprendizado. O que vale é isso. Independente se afinou ou desafinou, se organizou ou desorganizou, se entendeu a proposta ou não. E é se desprender às vezes de um ideal. Meu maior aprendizado mesmo é levar um sorriso, que eles possam se alegrar. Isso é bem estar. Isso é uma boa coisa sempre. Minha missão é esta a cada dia.

Quais resultados pretende alcançar ao término da oficina?

Eu espero é que eles possam cantar. Que eles cantem mais, sintam-se a vontade para cantar e para se apresentar. Que eles se conheçam pelo poder da própria voz e do cantar em conjunto. A questão rítmica também, mas principalmente, que eles coloquem mais a voz na vida e no canto. E, também, que eles se apropriem um pouco mais da forma musical, do cantar, do tocar, do dançar dentro da música propriamente dita, por eu ter ensinado um pouco de ritmo e tempo.

 

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