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ENTREVISTA – Fernando Meligeni

Nascimento: 12 de abril de 1971
Local de nascimento: Buenos Aires, Argentina
Instagram: @meligeni

“Transmitir o amor pelo esporte é o meu objetivo”

Um dos melhores tenistas da história do Brasil, Fernando Meligeni, mais conhecido como “Fino”, esteve em Valinhos no último final de semana para difundir sua paixão pelo esporte. Durante dois dias, a Academia Na Quadra, localizada no bairro Joapiranga, recebeu o projeto Clínicas Fernando Meligeni, uma oficina de tênis voltada a jogadores iniciantes e mais experientes onde o ex-tenista transmite, em uma dinâmica descontraída, o conhecimento adquirido em sua carreira. Campeão de três torneios de ATP de simples e de sete de duplas, Fino alcançou a 25ª posição do ranking da ATP. Também conquistou a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de 2003, foi quarto colocado nos Jogos Olímpicos de 1996 e semifinalista de Roland Garros em 1999. Foi ainda capitão brasileiro na Copa Davis por dois anos e comentarista de tênis dos canais ESPN. Recentemente, lançou o livro “Jogando Junto: 132 insights para te ajudar em quadra”, a terceira obra publicada por ele.

Com quantos anos você começou a jogar tênis?
O tênis surgiu na minha vida junto com o futebol, judô. Minha irmã (Paula, 4 anos mais velha) jogava e eu acompanhava ela quando íamos pro Clube. O grande responsável por eu me apaixonar pelo esporte foi meu primeiro professor (Jose Flavio Nunes) que me apresentou e me ensinou a amar este esporte.

Quando se deu conta (ou decidiu) que seguiria a carreira de atleta profissional?
Foi um processo natural, eu estava entre os melhores jogadores do mundo no último ano de juvenil, disputava os principais torneios (fui campeão do Banana Bowl, 1989) e terminei como 1º do mundo depois de perder na final do Orange Bowl (torneio tradicional disputado em Miami).

Quando se profissionalizou você teve que escolher qual bandeira representaria: Brasil ou Argentina. Considerando que a rivalidade esportiva entre os dois países é evidente, como foi fazer esta escolha e qual a sensação de jogar pelo Brasil?

Na verdade eu era o Argentino que morava no Brasil, e quando fui morar na Argentina com 15 anos era o Brasileiro que tinha ido para a Argentina. Depois de vários anos que já vivia no Brasil (cheguei com 4 anos) já me sentia um brasileiro, mesmo com a cultura familiar argentina. Na minha cabeça já tinha isso muito definido e quando falei ao meus pais a minha decisão a única coisa que eles colocaram foi “se você quer ser brasileiro tudo bem, mas não te ajudaremos no processo”.  A sensação de jogar pelo Brasil foi a de respeitar o país que me acolheu e acolheu minha família.

Há 20 anos, você fez história ao vencer o norte-americano Pete Sampras. Em declarações feitas à imprensa você afirmou ter vencido o jogo atacando mentalmente seu adversário. Fale sobre a estratégia adotada nessa disputa.
A vitória sobre o Sampras foi um marco importante na minha carreira, o Sampras era o melhor jogador do mundo na época e vencer ele como vencer o Federer hoje, mesmo sendo no saibro.
A estratégia que o Pardal (Ricardo Acioly, treinador) montou era minar ele mentalmente jogando pelo lado esquerdo, e foi isso que fiz durante o jogo todo. Quando saia um pouco da estratégia o Pardal me chamava a atenção para voltarmos ao que tínhamos combinado, que era jogar pela esquerda mesmo tendo a chance de definir o ponto pelo lado direito.

Ao relembrar este dia, qual a primeira frase que vem a sua mente?
Naquele dia eu entendi, pela primeira vez, o que tinha que fazer. Consegui entender a mágica do que é o esporte.

Você se aposentou em 2003 após vencer o chileno Marcelo Ríos e conquistar a medalha de ouro no Pan. Foi a chave de ouro que faltava para encerrar sua carreira?
Depois de perder uma medalha em 1996 onde tive 2 chances (perdi a semifinal pro Bruguera e a disputa de 3/4 para o Leander PAES), e quase chegar a uma final de Grand Slam em Roland Garros 1999, acho que os deuses do tênis depois de tanto me deixarem passar perto, me premiaram com a chance de ganhar a medalha de Ouro.
Também existia os boatos que o Marcelo se aposentaria, mas não era tão claro. Eu jogava o jogo da minha vida contra um jogador que tinha me vencido em todas as vezes que jogamos contra no circuito.
Tinha a minha estratégia definida e me mantive fiel a ela, não foi o jogo mais bonito, foi um jogo muito nervoso onde estive muito perto da derrota e depois de mais de 3 horas sai com a vitória.

Quais foram as principais dificuldades e os desafios enfrentados durante a sua carreira?
Ser atleta no Brasil não é nada fácil. Dificuldades você tem todos os dias e de todas as maneiras

Como você vê o incentivo ao esporte no Brasil?
Acho ainda muito pequeno. Quando existe dinheiro não existe organização. Uma pena.

“Jogando Junto” é o terceiro livro lançado em sua carreira. Qual o impacto que estas leituras podem trazer efetivamente para os jogadores dentro das quadras?
A ideia é ajudar o leitor e simplificar o esporte. Espero conseguir e que as pessoas gostem.

Qual sua expectativa com o lançamento do livro Jogando Junto?
Que ele possa chegar ao maior número de pessoas que gostam de tênis.

No último final de semana você esteve em Valinhos com o projeto Clínicas Fernando Meligeni. Como funciona o projeto? Quando surgiu e qual o objetivo?
A clínica é um projeto que tenho desde quando aposentei, em média são 25/30 eventos por ano. Existe a fórmula do que fizemos em Valinhos para divulgar a nova academia que abriram, existe a fórmula dos eventos corporativos em que uma empresa me contrata para jogar com seus clientes, e tem a fórmula do SESC que é mais para apresentar o esporte a pessoas que nunca tiveram contato com o tênis. O objetivo é o mesmo para as três: passar o meu amor pelo esporte e difundir o máximo possível.

Deixe uma mensagem para jovens atletas que sonham em seguir carreira profissional.
Acreditar no seu sonho, o esporte pode te proporcionar muitas coisas. 

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