Alternativa

O valinhense Adoniran Barbosa, o pai do samba paulista, completaria 110 anos

Um dos maiores compositores da história da música brasileira, João Rubinato – ou Adoniran Barbosa como era conhecido – completaria 110 anos na próxima quinta-feira, dia 6 de agosto.

Filho dos imigrantes Fernando Rubinato e Emma Rubita Riccini, o compositor – que ficou conhecido como o pai do samba paulista – nasceu no dia 6 de agosto de 1910, em Valinhos. Decidiu sair do município e foi morar Jundiaí, depois Santo André e, em 1928, chegou a São Paulo, cidade que se tornou palco principal de suas composições.

Foi tecelão, entregador de marmita, varredor de fábrica, pintor, balconista, e até garçom. No começo da década de 30, passou a frequentar os programas de calouros da rádio Cruzeiro do Sul de São Paulo.

Em 1933, depois de ser desclassificado inúmeras vezes devido à sua voz fanha, Adoniran conquistou o primeiro lugar no programa de Jorge Amaral cantando "Filosofia", de Noel Rosa. Em 1935, compôs, em parceria com o maestro e compositor J. Aimberê, sua primeira música "Dona Boa", eleita a melhor marcha do Carnaval de São Paulo naquele ano. Na rádio Cruzeiro do Sul ficou até 1940, transferindo-se, em 1941, para a rádio Record, a convite de Otávio Gabus Mendes. Ali começou sua carreira de ator participando de uma série de radioteatros intitulada "Serões Domingueiros".

O nome artístico veio em 1935, quando João Rubinato adotou Adoniran, de um amigo que trabalha nos Correios, e Barbosa do grande sambista Luiz Barbosa.

A maneira de compor sem se preocupar com a grafia correta tornou-se sua maior característica e lhe rendeu críticas de gente como o poeta e compositor Vinícius de Moraes. Adoniran não deu importância às declarações de Vinícius, tanto que musicou uma poesia do escritor carioca transformando-a na valsa "Bom Dia, Tristeza".

Às críticas que recebia Adoniran rebatia: "só faço samba pro povo. Por isso faço letras com erros de português, porquê é assim que o povo fala. Além disso, acho que o samba, assim, fica mais bonito de se cantar."

Na Record, Adoniran conheceu o produtor Osvaldo Moles, responsável pela criação e pelo texto dos principais tipos interpretados por ele. Os dois trabalharam juntos durante 26 anos. Dessa união nasceram, entre outros clássicos, "Tiro ao Álvaro" e "Pafúncia". Em 1945, Adoniran começou a atuar no cinema. Sua primeira participação foi no filme "Pif-Paf", seguido de "Caídos do Céu", em 1946, ambos dirigidos por Ademar Gonzaga. Em 1953, atuou em "O Cangaceiro", de Lima Barreto.

O impulso na carreira de compositor veio em 1951, quando o conjunto Demônios da Garoa saiu premiado do Carnaval paulista com o samba "Malvina", de sua autoria. No ano seguinte, eles repetiram o feito, agora, com a criação de Adoniran Barbosa e Osvaldo Moles, "Joga a Chave". Começava aí mais uma parceria de anos na vida do compositor.

As pequenas crônicas da vida paulistana criadas por Adoniran com sotaque peculiar, resultado da fusão das várias raças que escolheram a capital paulista como morada, tornaram-se conhecidas em todo Brasil na interpretação dos Demônios da Garoa. "Saudosa Maloca", que o próprio autor havia gravado sem sucesso em 1951, foi registrada por eles em 1955 e gravada por Elis Regina nos anos 70. Do mesmo ano é a gravação de "O Samba do Arnesto". Mas foi "Trem das Onze", de 1964, seu maior sucesso. Em 1965 a composição foi premiada no Carnaval do Rio de Janeiro. Além dos Demônios da Garoa, o samba recebeu uma versão da cantora baiana Gal Costa.

Os três discos levam apenas o nome Adoniran. Adoniran Barbosa morreu em 23 de novembro de 1982, aos 72 anos, pobre e quase esquecido. No momento de sua morte, estavam presentes apenas sua mulher, Matilde Luttif, e uma irmã dela. Boêmio, com direito a mesa cativa no salão principal do Bar Brahma, um dos mais tradicionais de São Paulo, Adoniran passou os últimos anos de sua vida triste, sem entender o que tinha acontecido à sua cidade. "Até a década de 60, São Paulo ainda existia, depois procurei mas não achei São Paulo. O Brás, cadê o Brás? E o Bexiga, cadê? Mandaram-me procurar a Sé. Não achei. Só vejo carros e cimento armado."

Adoniran – Meu Nome é João Rubinato

A vida e obra de Adoniran Barbosa foram retratadas longa-metragem “Adoniran – Meu Nome é João Rubinato”. Dirigido por Pedro Serrano, o filme – que foi lançado em janeiro deste ano – acompanha a trajetória de Adoniran Barbosa (1910-1982) por meio do acervo pessoal do artista, imagens de arquivo raras e depoimentos de amigos e familiares. Em Valinhos, cidade natal de Adoniran, o filme teve exibição especial na Câmara Municipal

Tendo a cidade como coadjuvante, o documentário traça um paralelo entre a metrópole de hoje e aquela vivida por Adoniran. Numa jornada por seu universo criativo, cheio de controvérsias alimentadas por ele mesmo, revela-se, por trás da figura pitoresca e de fala engraçada, um artista profundamente sensível às mazelas do povo.

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