Psicoterapeuta e pastor Rui Mendes Faria, em entrevista à Folha de Valinhos, discute como ansiedade e estresse modernos corroem laços matrimoniais e aponta caminhos para superar conflitos e resgatar o diálogo e o amor

Os desafios impostos pelo século XXI têm reverberado intensamente na dinâmica familiar e, em Valinhos, a realidade não é diferente. A promessa do “felizes para sempre”, selada no altar com juras de amor “na alegria, na tristeza e na dor”, enfrenta provações severas diante da ansiedade e do estresse crônicos que marcam os tempos atuais. O diálogo sereno e a paciência mútua parecem ter perdido espaço para a raiva, a ira e, em casos extremos, um ressentimento que beira o ódio entre casais que um dia sonharam construir uma vida a dois.

O cotidiano acelerado, as pressões profissionais e financeiras, e a constante exposição a um ideal de perfeição muitas vezes inatingível, criam um caldo de cultura propício para o desgaste emocional. Casamentos que deveriam ser portos seguros transformam-se, para muitos, em campos de batalha silenciosos ou ruidosos, onde a comunicação falha e as feridas se aprofundam.

Para discutir essa complexa e delicada questão que afeta inúmeras famílias valinhenses, a Folha de Valinhos conversou com o psicoterapeuta e pastor Rui Mendes Faria. Reconhecido por sua abordagem humanizada e pela metodologia “Terapia das Emoções”, Faria tem se dedicado a auxiliar pessoas a encontrarem caminhos menos espinhosos para superar crises, especialmente as conjugais.

“Ela não queria gritar, mas gritou. Ele não queria sair, mas saiu batendo a porta.” É com essa imagem vívida que Rui Mendes Faria ilustra o início de muitos conflitos que atende. “São palavras afiadas, ditas no calor da raiva, que jamais deveriam ser ditas, abrindo feridas que o tempo, por si só, já não consegue esconder”, explica o psicoterapeuta. Ele descreve um cenário onde muitos lares vivem sob o mesmo teto, mas em universos paralelos, com “corações distantes” e um “silêncio que machuca mais do que mil palavras malditas”.

Faria alerta para a gravidade da situação quando o casamento se torna um lugar de dor constante. “Há pessoas vivendo em casamentos onde a alma grita por socorro. Mulheres que sofrem em silêncio. Homens que se sentem inúteis, sem chão”, pontua, ressaltando o impacto devastador na saúde mental dos indivíduos, que pode levar a sentimentos de fracasso, pânico e, em situações limite, até mesmo a pensamentos suicidas. “Há pessoas, neste exato momento, lendo essa coluna e segurando o choro. Porque estão no limite”, adverte.

Um dos aspectos mais preocupantes, segundo o pastor, é o impacto dessas crises sobre os filhos. “Eles veem. Eles ouvem. Eles carregam no corpo o que a alma dos pais não suporta mais”, lamenta. Crianças expostas a um ambiente de constante conflito parental tendem a crescer inseguras, sentindo-se culpadas e, por vezes, replicando padrões disfuncionais em suas próprias vidas. “Quando os pais se destroem, os filhos desmoronam por dentro.”

Apesar do quadro desafiador, Rui Mendes Faria traz uma mensagem de esperança e encorajamento.

“Com todo o meu amor pastoral e humano, eu escrevo a você que está vivendo esse drama: não desista antes de pedir ajuda”, afirma. Ele ressalta que “o esgotamento emocional e espiritual no casamento tem cura”, mas o primeiro passo é reconhecer a necessidade de reconstrução.

A “Terapia das Emoções” proposta por ele busca, justamente, oferecer ferramentas para que os casais possam revisitar suas dinâmicas, curar feridas e redescobrir o caminho do diálogo e do perdão. “Não se trata apenas de salvar o casamento — é sobre salvar vidas. Salve a sua. Salve a dos seus filhos. Salve o que ainda pode ser restaurado”, conclama Faria, incentivando a busca por aconselhamento e apoio. “Perdoe. Respire. Comece de novo. Sim, é possível. Porque Deus ainda acredita no amor que Ele mesmo criou.”

Para aqueles que se sentem com o coração quebrantado e o espírito abatido, a busca por auxílio profissional e espiritual, como a oferecida por terapeutas como Rui Mendes Faria, pode ser o farol necessário para reencontrar a paz e a harmonia no lar, reafirmando os votos que um dia uniram dois corações em Valinhos.